nando
roteirodecinema
arte
CONCURSO DE ROTEIROS FILMA BRASIL
A empresa de consultoria especializada em projetos culturais MUZY CORP lançou em primeiro de Maio o concurso de roteiros FILMA BRASIL, que premiará dois roteiros - um de curta e outro de média-metragem - com R$ 40 mil e R$ 70 mil respectivamente. O tema é "qualidade de vida". Inscrições vão até o dia 31 de Agosto de 2009. Maiores informações e o Edital podem ser acessados no site do concurso: http://www.filmabrasil.com/
filma
FILMA BRASIL - POLÊMICA E CRÍTICAS

O Concurso de Roteiros FILMA BRASIL vem suscitando polêmicas e críticas em nosso Grupo de Discussão, na lista da Associação de Roteiristas, e pelas redes sociais na internet. Começando pelo mote do concurso, que se auto intitula o "maior concurso de ROTEIROS do país", ignorando outros concursos de roteiros com muito mais longevidade e maiores em volume de prêmios ou de candidatos, como os de Paulínia, do Roteirista.com, da Petrobrás, da RGE/RS, além do próprio Concurso de desenvolvimento de roteiros do MinC. Mas não são as únicas críticas e dúvidas que tem surgido.

VÍDEO PREVIEW

A maioria das críticas faz menção à obrigatoriedade de se enviar um vídeo "preview" do filme junto com o roteiro. A exigência partiria de uma visão equivocada de que somente o roteiro não é suficiente para se pré-visualizar um filme e exigiria do roteirista predicados que ele não possui. A organização do concurso se defende dizendo que o "preview" não terá caráter eliminatório, "apenas ajudará na votação que será realizada pela Internet por um público que não tem experiência para avaliar um roteiro, mas com a ajuda do 'preview' conseguirão visualizar melhor a 'idéia'". Na opinião de um membro do nosso Fórum, uma "storyline" de 10 linhas seria mais efetiva para o público leigo, além de fazer parte das atribuições de um roteirista.

FINALIZAÇÃO EM 35 MILÍMETROS

Outra crítica, já superada, era sobre a obrigatoriedade de finalização em 35mm. Exigência que além de ser anacrônica com a revolução digital, encareceria os custos de produção. O valor do prêmio, sob esta exigência, tornaria o montante, se não insuficiente, bem enxuto para realização do filme. Segundo a organização do concurso, a obrigatoriedade de se finalizar em 35mm seria "apenas para se cumprir o projeto que foi proposto junto ao MinC e devidamente aprovado pela comissão, e que o valor está plenamente ajustado para as pesquisas de preço que foram feitas para a composição do projeto". Porém, no que parece ter sido uma reunião extraordinária do comitê da organização do concurso, motivada pelas críticas presentes em nosso Fórum, decidiu-se "retornar o edital para formato 'Digital', para que os candidatos possam ter melhor conforto para participação no concurso".

VALOR DO PRÊMIO vs. VALOR DO PROJETO

Uma outra crítica ainda, talvez a mais séria, se dá ao fato da empresa que produz o evento ter captado 430 mil reais, disponibilizando apenas 110 mil reais para o prêmio, e deixando a pergunta do que foi feito com os 320 mil que sobraram em aberto. Um filme não seria mais custoso de se produzir que um concurso? A organização afirma que o dinheiro está sendo aplicado para "pagamento da equipe de produção, departamento jurídico, designer, construção do portal, hospedagem, alimentação, mídia em jornais, revistas, rádios e portais na Internet, assessoria de imprensa, correios, telefonemas, material de consumo, pagamento de impostos e todos os demais itens que compõem a produção de um projeto, e que todos os valores foram aprovados pelo MinC sem nenhum corte". Mas a produção de um filme também teria quase todas essas despesas, além de aluguel de equipamento de câmera, luz e som, estúdio de gravação, estúdio de edição, etc. Fica a pergunta: será que produzir um concurso de roteiros de curta-metragem, descontado o valor do prêmio, deveria ser 8 vezes mais caro que produzir um filme de curta-metragem?

Numa análise fria, se estes R$ 430 mil oriundos dos cofres públicos fossem captados diretamente para produtoras audiovisuais, para serem aplicados integralmente em projetos de obras audiovisuais, tomando o valor do prêmio como exemplo, poderiam ter sido realizados 10 curtas ou 6 médias, e no entanto apenas 1 de cada será realizado. Aparece então outra pergunta: qual a vantagem do concurso para o audiovisual brasileiro e para a sociedade como um todo? Para a organização do concurso seria a "democratização do acesso aos valores postos para premiação, atacando a dificuldade de se obter recursos para curtas e médias-metragens, oferecendo a garantia financeira para a execução dos projetos".

OPINIÃO DO EDITOR DO ROTEIRO DE CINEMA

Do meu ponto de vista, o conceito geral do concurso é equivocado. Se é um concurso de roteiros, o prêmio em dinheiro deveria ir para o bolso do roteirista, e a exposição do roteiro com o prêmio cuidaria de sua viabilização. É assim nos mais importantes concursos de roteiros do mundo. Agora, se é um concurso de projetos de filmes, visando prover recursos para sua viabilização, além do roteiro, orçamento, cronograma de filmagem, cronograma de desembolso, currículo dos proponentes, currículo da equipe e desenho de produção deveriam ser obrigatórios e estar no mérito da avaliação.

Com a experiência acumulada em mais de uma década na profissão, sendo inúmeras vezes concorrente ou jurado de concursos de roteiros, sei que este é o tipo de concurso que não interessa ao Roteirista, seja ele profissional, diletante ou amador. Ao impor um tema específico - no caso "qualidade de vida" - obriga-se a maioria dos roteiristas a ter que escrever material novo para contemplar o tema do concurso. Material que provavelmente será descartado por quem não ganhar o prêmio. Um concurso inteligente deve trazer também benefícios aos que não são contemplados com o prêmio, até porque o número de premiados é irrisório. O que ganhará quem não for contemplado? Nada, somente terá desperdiçado precioso tempo de escrita, em que poderia estar desenvolvendo material próprio, sobre o tema que bem lhe interessasse.

Com esse formato, estimula-se a prática deplorável onde o roteirista é obrigado a escrever material para terceiros de graça, só recebendo alguma coisa se o material for aprovado. Ora, se a empresa produtora quer roteiros com o tema "qualidade de vida", que contrate e pague um roteirista para escrevê-los. Mas se a intenção é promover novos talentos, deixe que estes escrevam sobre o que bem entenderem, ou possibilite que estes possam inscrever suas obras primas já criadas.

Infelizmente os organizadores deste concurso não aprenderam com a experiência de concursos similares, que fracassaram em tentar transformar bons roteiristas em bons produtores de cinema. Exigir que um bom roteirista pegue 40 mil reais e transforme seu roteiro em um curta-metragem finalizado pode ser um presente de grego. A falta de orçamento e planejamento no critério de avalização pode inviabilizar a realização do filme, e complicar a vida do Roteirista, que se falhar e não conseguir entregar o produto finalizado em 120 dias - irrevogáveis segundo o edital do Filma Brasil - deverá devolver o dinheiro que recebeu. Não sem antes já ter gastado uma boa parcela dele tentando produzir a obra. Pra ilustrar, relembro uma história do Marcos Jorge, competente cineasta, marido e sócio de Cláudia da Natividade, jurada do FILMA BRASIL, que em 1998 ganhou um concurso similar - o Prêmio Estímulo Copel. Só conseguiu entregar o filme em 2002, quatro anos depois, mesmo assim, descartando o roteiro vencedor e começando um novo do zero.

O concurso promove este equívoco muito difundido de se achar que Cinema é obra de um só profissional, o tal do "cineasta". Não leva em conta que a divisão especializada do trabalho é fundamental para a prática Cinematográfica. Roteirista não é produtor. Não é responsabilidade do roteirista produzir "vídeo preview", quanto mais pegar os recursos e transformar em obra finalizada. E se é um produtor quem concorre ao prêmio - o que acho difícil - provavelmente não investirá dinheiro do bolso para pagar um roteirista, o fará trabalhar de graça condicionando a remuneração a premiação, prática que fere o Código de Ética dos Roteiristas. O concurso é então um exemplo modelo do que NÃO deveria ser o mercado audiovisual brasileiro.

Por todos os motivos mencionados acima, e outros nem citados, acredito que o Concurso de Roteiros FILMA BRASIL presta um desserviço ao audiovisual nacional, e principalmente ao Roteirista brasileiro. Amador ou profissional. Não há ganho algum para o nosso audiovisual em um projeto como esse, nem para os trabalhadores do setor e muito menos para aqueles que aspiram nele trabalhar. Dentre as centenas de obras audiovisuais produzidas todo ano, este concurso proporcionará a realização de apenas mais dois títulos. O que agrava a situação é que isto é feito com um custo super-inflado pelo aparato construído para escolhê-los. Melhor seria se o concurso não existisse. Ao contrário de uma opinião condescendeste e solitária em nosso fórum, não acredito que qualquer iniciativa que vise estimular o cinema nacional seja louvável. Acho que apenas são louváveis aquelas que são efetivas. As contra-producentes, no meu ponto de vista, são iniciativas condenáveis.

A intenção dos organizadores pode até ter sido boa, mas é no mínimo ingênua ao achar que o concurso de alguma maneira contribui para "democratizar o acesso aos recursos" disponíveis para o audiovisual. O concurso é somente um oneroso filtro, que consome 75% dos recursos com a própria máquina criada, e espreme os 25% restantes para obrigar dois roteiristas a produzir filmes de interesse da empresa organizadora, tendo que gerenciar orçamentos apertados e não especificados. O acesso aos recursos da renúncia fiscal direcionados a cultura não se tornarão mais democráticos devido a iniciativas como esta. O que falta ao "novo talento" é justamente a informação de como se dá o processo para acessar estes recursos, como se elabora projetos culturais, como se aprova no MinC, e como afinal se capta dinheiro. E essa é justamente a especialidade da empresa que produz o evento. Mas ao invés de disseminar a informação - iniciativa que aí sim poderia ajudar a democratizar o acesso aos recursos - capta ela mesma estes recursos, retendo a maior parte e distribuindo em um concurso mal formulado uma pequena porcentagem para dois incautos ganhadores fazerem seus filmes. Simplesmente inverte o princípio legal em que o captador deveria ficar com no máximo 10% dos recursos captados.

Na lógica do Filma Brasil, a gorjeta é pra fazer o filme.

FERNANDO MARÉS DE SOUZA
Editor, Roteiro de Cinema


RESPOSTA DA MUZY CORP AO ARTIGO DO ROTEIRO DE CINEMA

Prezados Senhores e Senhoras,

Durante este final de semana o FILMA BRASIL foi alvo de alguns comentários na Internet, entre eles elogios ao propor algo novo, críticas ao formato - as quais acatamos algumas sugestões que deixam nosso projeto ainda melhor e, infelizmente, ataques sobre a idoneidade da Muzy Corp, da minha pessoa e de uma das juradas, a Sra. Solange Lima, presidente da ABD Nacional. É no sentido de lhes dar ciência e esclarecer os pontos levantados por parcela da comunidade de roteiristas que escrevo.

A Muzy Corp sempre soube que o novo causa polêmica e, para algumas pessoas que estão acostumadas a um determinado modelo, esta situação nem sempre é fácil de ser compreendida. As críticas e comentários, portanto, mesmo que não expressados de maneira elegante e sóbria, são e sempre serão levadas em consideração por qualquer projeto desenvolvido pela nossa organização, bem como elogios. Tanto são bem recebidas que todas foram analisadas cuidadosamente pelo Comitê Organizador. Abaixo, uma lista das principais reivindicações veiculadas neste final de semana, bem como as deliberações do Comitê.

a) “Filme Preview ”: a queixa básica é que o apenas o roteiro deveria servir para que o júri pudesse escolher. Foi explicado exaustivamente que a necessidade do “preview”, que pode ser feito em qualquer formato de mídia digital, inclusive celulares, é um diferencial do concurso, idealizada não para preterir o roteiro, mas para ajudar o público (internautas) que não tem habilidades técnicas de avaliação a compreender melhor as intenções dos candidatos. O FILMA BRASIL, como sabem, foi concebido para ser acessado por todas as camadas da população e todos os tipos de profissionais, amadores ou especialistas. Não há intenção de atender entendimentos específicos de algumas pessoas em detrimento do que o Comitê Organizador entende como melhor para o leigo escolher, inclusive aproveitando os recursos da Internet. Esta sugestão foi indeferida pelo Comitê.

b) Finalização em 35 mm ou 16 mm: apesar da finalização em 35mm ser é exigência da maioria dos outros editais públicos, ouvindo a outros internautas sobre a dificuldade da finalização em película, a proposta já foi absorvida, que é a finalização em digital. Pois diante das explicações ficou evidente as dificuldades dos Estados para chegarem ao laboratório de finalização. Estas explicações foram o bastante para não só entendemos, mas sermos solidários e acolhemos a sugestão retirando do edital a exigência da finalização em película tanto para o curta quando para o média-metragem. A proposta de filme em formato digital foi acatada pelo Comitê Organizador.

c) Exigência de entrega de filme: aqui se misturam dois pontos, O primeiro deles é que o roteirista não é produtor ou diretor e, portanto, não caberia ao roteirista entregar o filme. E a segunda critica é que os valores dos prêmios não são suficientes para realizá-los, principalmente se houvesse obrigação de finalizar em 16mm ou 35 mm. O Comitê Organizador fez mais uma consulta com roteiristas, professores, produtores e diretores experientes e as respostas foram as mesmas das colhidas na época da elaboração do projeto: se mantida a exigência de finalizar em película, apesar de possível, o orçamento é apertado; se for no formato digital, é perfeitamente factível. O outro ponto, sobre a obrigatoriedade de entregar o filme, uma vez que é possível fazê-lo em formato digital e que a idéia é que roteirista participe ativamente da formulação de um filme, o Comitê Organizador entendeu exigência como dentro da proposta do FILMA BRASIL e que não é empecilho. O entendimento é que alguns internautas defendem um modelo, enquanto outros estão mais abertos para novas idéias. O Comitê entende o ponto de vista dos que reclamaram, mas esta exigência é fundamental para que as obras sejam exibidas e que a população tenha acesso a elas – razão mais do que fundamental para indeferir o pedido.

d) Temática “Qualidade de Vida”: alguns internautas estão reclamando de que, ao propor um tema, mesmo que absurdamente amplo como “qualidade de vida”, haveria interferência na liberdade criativa. O Comitê entende que não há nenhuma interferência e que os candidatos são livres para fazer a abordagem que entenderem. A idéia, portanto, foi indeferida, por esta e outras razões, como a importância social de se passar uma mensagem de algo caro para qualquer cidadão.

e) Outras reclamações: também tivemos queixas como “quem não ganhar fica sem nada” ou “vou doar meu tempo e se não ganhar não terá valido a pena” etc. Nestes casos, o Comitê entende que não há nada para ser avaliado, uma vez que a participação é voluntária e que o FILMA BRASIL não é instrumento de fomento, e sim incentivador, não cabendo ao concurso – como qualquer outro – premiar quem não ganha.

Com relação à reclamação sobre Valores Arrecadados x Valor dos Prêmios: O projeto FILMA BRASIL possui dezenas de linhas em seu orçamento que são de domínio público, imune de qualquer questionamento por parte do MinC e da CNIC, uma vez que foi aprovado em sua integralidade sem um único centavo de corte, tamanha a perfeição da proposta.

Muitas pessoas imaginam que construir um projeto deste alcance é barato e fácil. Fosse assim, não haveria tamanha carência de projetos culturais para roteiristas. De qualquer forma, o FILMA BRASIL prevê em seu orçamento, além dos valores para premiação: produtor Executivo, Produtor, Assistente de Produção, Curadoria, Controller, Contador, Jurídico, Designer gráfico, Web designer, Redator, Assessoria de imprensa, Transporte local, Hospedagem, Alimentação, Passagens aéreas, Locação de espaço para produção, Locação de computadores, Serviços de internet, Lançamento, Folder, Cartaz, Banner, Convite, Camisetas, Vinheta, Mídia Radiofônica - Produção e Veiculação, Mídia Jornal - Produção e Veiculação, Veiculações em sites especializados, Site com estrutura para inscrições, Gerenciamento, Cópias (xerox), Correios/Entregas/Courrier, Telefone, Material de consumo, Impostos e Elaboração & Agenciamento. Lembramos que o projeto originalmente aprovado pela CNIC abrangeria apenas o Rio de Janeiro, mas devido a tecnologia empregada e aporte de recursos próprios da Muzy Corp o concurso terá abrangência nacional, com o mesmo orçamento aprovado pelo MinC.

Ressaltamos o respeito que temos pela diversidade de opiniões, tanto é que, apenas para ilustrar, o Sr. Fernando Mares, que apesar das criticas mais tem ajudado a divulgar o prêmio, jamais fez qualquer ataque a idoneidade das pessoas envolvidas, pelo contrário: suas críticas encorajaram uma revisão dos pontos apontados acima. Ele discorda do formato, e o Comitê Organizador discorda de algumas opiniões dele. É assim na democracia: as opiniões divergentes convivem e sobrevivem.

Estamos à disposição para esclarecer quaisquer pontos que ainda não tenham ficado claros o suficiente e, assim, continuar a dar impulso ao FILMA BRASIL.

JORGE MARTINS MUZY
Filma Brasil - Diretoria


COMENTÁRIOS
http://www.roteirodecinema.com.br/
(cc) 2003-2010 - Alguns direitos reservados

ar
ac
ROTEIRISTA, FILIE-SE À ASSOCIAÇÃO DOS ROTEIRISTAS E A AUTORES DE CINEMA