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Notas do Seminário de John Truby – parte 2/6

Dias 12 e 13 de Setembro participei do Seminário ‘22-Step Great Screenwriting‘, com John Truby, promovido pelo Raindance Film Festival em Londres. Estou publicando aqui as anotações que redigi durante as palestras, segue agora a segunda parte:

NOTAS DO SEMINÁRIO DE JOHN TRUBY – PARTE II

Decidindo a Premissa.

PREMISSA é a forma mais reduzida da estória, trama e personagem em uma só linha.

Temos que descobrir quem é o nosso personagem principal.

Sempre devemos aplicar o padrão de escrever estórias que podem mudar nossas vidas.

EXERCÍCIO DE AUTO-EXPLORAÇÃO:

Fazer uma lista de tudo que desejaria ver na tela.
Listar todas premissas que você já pensou e procurar por elementos em comum. Determinar qual o personagem mais interessante que você tem.
Determinar um conflito central, quem luta com quem sobre o quê.
Identificar a linha de causalidade.
Determinar a transformação do personagem.

No final, determinar a escolha moral do personagem. Uma estória é a expressão da visão moral de seu autor. A escolha do personagem deve ser entre dois positivos e dois negativos. Uma escolha entre um positivo e um negativo é uma falsa escolha.

Perguntar a si mesmo: Essa simples ‘storyline’ é original o suficiente para interessar os outros?

TEIA DE PERSONAGENS:

Como é a comparação entre os personagens de sua estória: fraquezas, psicologia, necessidades, necessidades morais, desejos, valores, poder, status ou habilidades, argumento moral.

Todo personagem de uma mesma estória  é a variação sobre um mesmo tema. Uma abordagem diferente sobre o problema moral central da estória.

Definir o Herói e focar nele. Determinar sua transformação, seu desenvolvimento. Sua transformação é um processo que deve começar na primeira cena, não deve ocorrer apenas no final.

O escopo da mudança: quanto menor a transformação, menor o interesse.

Sucesso pessoal, superação de doença ou vício, se tornar emotivo NÃO SÃO TRANSFORMAÇÃO. Questionar e mudar crenças básicas levando a novas ações morais é que é a verdadeira transformação.

Exemplos arquetípicos:

Animal para Humano
Criança para Adulto
Adulto para Líder
Líder para Tirano (mudança negativa)
Líder para Visionário

CONSTRUINDO A TRANSFORMAÇÃO:

Definir o quadro estrutural: Primeiro o fim, depois o começo.

Criar  a auto-revelação baseada na fraqueza/necessidade. Revelar uma falsa idéia de si mesmo.

Necessidade moral: de que maneira o herói está causando sofrimento a alguém no começo da estória.

Linha de desejo: Um único e específico desejo durante toda a trama.

ESTÁGIOS  SOCIAIS:

SELVAGEM – O herói é um super-herói ou deus. Pequenos grupos, nômades. Principal oponente é a natureza. Valores de vida ou morte.

VILA – O herói é um guerreiro. Grupos sedentários na vila cercada. Oponentes são estrangeiros, bárbaros. Valores Marciais. Diferença marcante entre o bem e o mal.

CIDADE – O herói é um homem comum. Muitas pessoas, diversas camadas sociais. Divisões étnicas, de dinheiro e de poder. O Herói deseja fazer parte de uma comunidade, deseja justiça, escapar da escravidão da burocracia. Valores de tolerância, decência, igualdade e cooperação.

CIDADE OPRESSIVA –  O herói é um anti-herói. A cidade cresceu tanto, com tantas camadas, tecnologias dominantes, que se tornou um lugar de escravidão total.

Depois da cidade opressiva, o caos leva a destruição, que leva ao primeiro estágio novamente.

Uma estória pode ser localizada entre dois estágios, quando o personagem tem de se adequar em seu tempo, antes que seja destruído.

OPONENTE:

Cada personagem deve ter seus fortes e suas falhas. O oponente deve atacar todas as falhas do herói. Deve ser humano.

FIM DA PARTE II – Ler a Parte I

Fernando Marés de Souza
Roteiro de Cinema, roteirodecinema.com.br

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Notas do Seminário de John Truby – parte 1/6

Dias 12 e 13 de Setembro participei do Seminário ‘22-Step Great Screenwriting‘, com John Truby, autor de ‘The Anatomy Of Story’, promovido pelo Raindance Film Festival na Universidade de Westminster em Londres. Publicarei aqui as anotações que redigi durante as palestras, sobre ALGUNS PONTOS CHAVES dos ensinamentos de Truby. Dividirei o artigo em seis partes. Segue agora a primeira:

NOTAS DO SEMINÁRIO DE JOHN TRUBY – PARTE I

Toda estória é uma seqüência de eventos que leva a transformação de um personagem. Uma transformação moral.

A diferença entre Psicologia e Moral de personagem, é que o aspecto Psicológico só afeta a personagem, enquanto o aspecto Moral afeta os outros personagens.

Não existe diferenças entre trama e personagem, um está intrinsecamente ligado ao outro. Trama são as ações do personagem e eventos que o afetam. Por outro lado, o personagem é definido pelas ações e revelado através da trama.

Truby afirma que toda estória compartilha uma estrutura clássica com 7 estágios em comum:

Fraqueza/Necessidade
                           Desejo
                                 Oponente
                                           Plano
                                               Batalha
                                                  Auto-revelação
                                                      Novo Equilíbrio

NECESSIDADE E DESEJO são duas coisas diferentes. Desejo é o que o personagem quer, e Necessidade é o que ele precisa, para ter uma vida melhor. Por exemplo: se um alcoólatra diz que “necessita” de uma bebida, ele na verdade “deseja” uma bebida. O que ele necessita mesmo é parar de beber. Em muitos casos o Herói não tem conhecimento de sua necessidade.

OPONENTE é a pessoa que está impedindo o personagem de alcançar sua meta. Em quase a totalidade dos casos, herói e oponente desejam a mesma meta, e a competição por ela gera o conflito. Mas para entender isso é preciso olhar atrás das aparências. Exemplo de conflito: Uma filha adolescente pede ao pai para sair com o namorado numa terça feira e o pai nega. Não é que o pai também deseje sair com o namorado da filha. O que eles disputam é o controle da vida da menina.

PLANO pode ser desde as detalhadas etapas para ladrões roubarem um banco, até a ida de uma dona de casa comprar frutas. Podem ser simples ou complexos, e na maioria das vezes, não funcionam de primeira.

BATALHA entre o Herói e o Oponente principal, pode parecer ação, mas a verdadeira ação é somente a resolução da batalha.

AUTO-REVELAÇÃO é o momento de descoberta do Herói sobre como suas ações tem afetado outras pessoas.

NOVO EQUILÍBRIO pode ser alto ou baixo, baseado na experiência narrada na estória vivida pelo personagem

Um versão expandida da estrutura clássica pode conter também estes elementos, os quais não estão sempre presentes em todas as estória:

FANTASMA: Evento do passado do personagem que ainda o assombra no presente. Oponente interno da Personagem.

MUNDO DA ESTÓRIA: Detalhes do ambiente e sociedade, regras, hierarquias onde se insere o personagem.

INCIDENTE INCITANTE: Evento externo que cataliza a personagem para uma meta.

TREINAMENTO: É o momento que o Herói adquire os conhecimentos necessários para derrotar o oponente. Pode também ser o momento ele reúne os aliados.

ROTA OBSESSIVA: Quando o Herói realiza seqüência de ações, muitas imorais, para conseguir sua meta

DERROTA APARENTE: Fundo do poço para o Herói, que o deixa mais obcecado.

PORTÃO, CORREDOR POLONÊS, VISITA À MORTE: Quando o Herói se dá conta de sua mortalidade, e age para dar um sentido a vida.

REVERSO DUPLO: Quando o Herói aprende com o Oponente e cresce. Muito comum em Estórias de Amor.

Existem 3 variações de narrativas clássicas: MITO, CONTO DE FADAS e DRAMA.

Estórias modernas são normalmente mistura de 2 ou 3 variações.

MITO é uma estória circular, e se caracteriza por ser uma Jornada externa onde o Herói combate vários oponentes em seqüência. A revelação não é só uma auto-revelação, mas sim uma revelação pública, com o herói descobrindo ser uma espécie de rei. Pode haver também revelações cósmicas, onde o Herói descobre como a sociedade deve agir para viver melhor no futuro. Ao final, o herói retorna para casa, profundamente transformado e descobrindo seu verdadeiro potencial. O destino é mais importante que as escolhas.

CONTO DE FADAS usa divisões simplistas entre o bem e o mal, maniqueísta. Linhas extremas de desejo que sempre terminam em absoluto sucesso. Os conflitos são familiares, com ênfase em relações pessoais, onde o mais novo é geralmente o Herói. Enfatiza um segredo que o personagem tem que descobrir para se libertar da escravidão, muitas vezes no sentido literal. Presença de um estranho bondoso que ajuda o herói. Soluções simples para problemas complexos, usa Deus Ex-machina. O destino é mais importante que as escolhas.

DRAMA é baseado na causalidade e escolha, não no destino. Personagens mais complexos. Quase nunca é uma jornada física e sim íntima. Os oponentes são íntimos. Leva a grandes decisões morais. As revelações são pessoais e não públicas. A solução final é baseada na escolha, e não no destino.

A tradução é livre e de minha autoria. Os conceitos originais são os seguintes:

FRAQUEZA/NECESSIDADE = Weakness/Need
DESEJO = Desire
OPONENTE = Opponent
PLANO = Plan
BATALHA = Battle
AUTO-REVELAÇÃO = Self-revelation
NOVO EQUILÍBRIO = New Equilibrium
FANTASMA = Ghost
MUNDO DA ESTÓRIA = Story World
INCIDENTE INCITANTE = Inciting Event
TREINAMENTO = Training
ROTA OBSESSIVA = Obsessive Drive
DERROTA APARENTE = Apparent Defeat
PORTÃO, CORREDOR POLONÊS, VISITA À MORTE = Gate, Gaunlet, Visit to Death
REVERSO DUPLO = Double Reversal

FIM DA PARTE I

Fernando Marés de Souza
Roteiro de Cinema, roteirodecinema.com.br

Clipping de Setembro de 2009

Resumo das Notícias de Setembro
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