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Blog da Bethânia: envolvidos falham em tentar justificar alto custo

Hermano Vianna e Andrucha Waddington dizem que orçamento de blog de poesias é alto por causa da produção de vídeos, mas cachê de Bethânia seria maior que todo montante previsto para realização audiovisual.

Hermano Vianna, o idealizador do blog (ou videolog) da Betânia “O mundo precisa de poesia”, aprovado para captação pelo CNIC e que gerou polêmica pelo orçamento milionário, escreveu um artigo hoje no Globo defendendo o projeto, e tenta explicar o alto custo do Blog:

“Há custos altos sim, e justificados: é trabalho diário de um ano, com 365 vídeos de alta qualidade a produzir, negociações de direitos autorais, contratação de gente para escrever sobre cada poeta, DJs etc. Nada é simples, ou fácil.”, diz o antropólogo.

Quem não leu o projeto pode até engolir, mas depois que o projeto e sua planilha de custos se tornou pública – através deste blog e do blog do Pablo Villaça – é impossível corroborar a informação de Vianna. No projeto não há previsão de verba para direitos autorais, diz que a “Nova Fronteira se encaregará (sic) da liberação dos direitos dos poemas (ela já tem muitos poetas essenciais em seu vasto catálogo).” Também não há previsão de verba para DJ’s, e a “contratação de gente para escrever” sobre cada poeta deve sair dos R$ 120 mil reservados pra “Cooordenação Editorial”, menos de 10% do valor do projeto.

Andrucha Waddington também cita a produção dos 365 vídeos, em reportagem do blog de Bob Fernandes:

“É uma equipe que vai ter fotógrafo, produtor, maquiador, figurinista, equipamentos… Cada programa está custando R$ 3.562. São 365 programas. Um programa por dia. Trabalho de um ano. A gente vai produzir mais de 600 minutos – ou seja, o equivalente a cinco longas-metragens. No Brasil, um longa-metragem está custando entre quatro e sete, oito milhões de reais, tirando “Tropa de Elite”

Chega a ser desonesto comparar vlog de poesia com produções de cinema, que envolve finalização em película, grande elenco, equipe com centenas de pessoa. E a maioria dos longas brasileiros é realizado com menos de 1,3 milhão. Meu último longa, por exemplo, custou R$ 180 mil. Em todo caso, o valor reservado aos vídeos no projeto é de apenas R$ 365 mil reais, incluindo aí – supõe-se pois o projeto não é claro – o cachê de Andrucha.

A verdade é que o projeto é caro porque R$ 600 mil são reservados para pagar Maria Bethânia. Se Bethânia recebesse um valor mais condizente com o mercado e mais proporcional ao que recebe o restante da equipe, digamos R$ 100 mil, o orçamento do blog já cairia quase pela metade. Numa rápida análise com um colega produtor executivo, e utilizando minha experiência em cinema e internet, enxugando todos os cachês – inclusive os R$ 120 mil reservados pra Viana – despesas super-dimensionadas, e fazendo um cronograma de filmagem pra filmar todo material de uma vez, chegamos a conclusão que seria possível realizar o mesmo projeto com cerca de R$ 300 mil reais, pagando todo mundo nos valores de mercado, inclusive os direitos autorais dos poetas declamados.

Mas daí, na ótica de alguns, talvez não valesse a pena para os principais envolvidos, coordenador, diretor e artista, que ganhariam “apenas” cerca de R$ 20.000 reais cada um, pois enquanto eles dizem que o “mundo precisa de poesia”, seu mundinho particular precisa é de dinheiro. E pelo jeito, pouco dinheiro não basta.

O mais triste é ver pessoas defendendo o valor obsceno cobrado por Bethânia. Zé de Abreu me disse: “o mundo artístico tem castas. Ela está no 1o time, merece”. “O cachê dela é esse, ué!”, disse Fábio Porchat, emendando: “Eu acho sim que o cachê da Bethânia é alto. Mas ela cobra quanto ela quiser.”

Não é bem assim, Bethânia não pode “cobrar o quanto quiser”, é dinheiro público que paga o cachê dela. E o cachê de Bethânia é imoral, e se não for irregular pelos critérios de avaliação do CNIC, a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, há algo de muito errado com os critérios do CNIC.

Se os realizadores do projeto desejam mesmo acabar com a polêmica, devem tentar uma abordagem honesta sobre o assunto, reconhecer os problemas do projeto, ao invés de tentar enganar a opinião pública com dados falsos ou meias verdades. Consultada pelo blog, a assessoria de imprensa de Maria Bethânia disse que não irá se pronunciar, ainda, sobre o valor do cachê no projeto.

Muita gente dizendo por aí que o problema não é a Bethânia, é a Lei Rouanet. Concordo em parte, a lei precisa urgentemente de reformas. Mas nesse caso específico, o problema não é a lei. É a ganância. E a cara de pau.

Fernando Marés de Souza

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5 opiniões sobre “Blog da Bethânia: envolvidos falham em tentar justificar alto custo”

  1. Não há nenhuma justificativa para que uma lei de3 incentivo à cultura “incentive” quem já tem nome.

    Ela é bem capaz de levantar dinheiro por conta própria. O dinheiro público deve ser direcionado a quem precisa realmente de incentivo, oras.

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