Corrigindo informações equivocadas do Leonardo de Moraes no GRTV

Prezado Otavio Chamorro e leitores do GRTV,

Comento as afirmações do Leonardo de Moraes em mensagem para Otavio Chamorro, que considero serrem equivocadas e não condizerem com a verdade.

Leonardo diz que a AR assumiu uma determinada postura em relação à classificação indicativa “que é o contrário à classificação indicativa” e isso não é verdade.

A AR se posiciona desde 2007 através de manifesto público assinado pelo Presidente Marcílio Moraes e dezenas de associados onde “Esclarece que é a favor da classificação indicativa de faixa etária dos programas de televisão. Sabe que essa classificação é um direito do cidadão,  garantido na Constituição. E concorda (…) que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade. Mas é contra a associação entre classificação indicativa e horário obrigatório de exibição do programa.
http://www.ar.art.br/informateca/escritos/atualidades/janeiro/manifesto.htm

A AR só é contra a “associação entre classificação indicativa e horário obrigatório de exibição”, a AR é “a favor da classificação”, que fique claro. Ser contra a “vinculação de horário” é uma posição legitima da AR, mas “basta analisar a história mundial” para perceber que a “vinculação de horário” é prática adotada – seja ela exercida pelo Estado ou em modelo auto-regulamentado – na Europa, nos EUA, em outros países da América Latina, e em quase todos os países civilizados.

Porém, mesmo a AR se posicionando oficiamente “a favor da classificação indicativa”, ou seja, a favor do direito de todo pai ser informado sobre conteúdos que possam considerar inadequados para seus filhos em obras audiovisuais, o Presidente da AR foi na imprensa dizer que “nós sempre fomos contra a classificação”, e atacar a classificação indicativa – não a vinculação de horário – junto com um grupo novelistas que ele chamou de “poucos autores mais expressivos”, não por acaso, contrários à classificação indicativa, não somente contrários à vinculação.

Diz Leonardo: “Certa ou errada, é tem sido a posição oficial da AR enquanto instituição, expressada pelo presidente Marcílio Moraes. Ele e a Diretoria tem mantido sua coerência no tema e, enquanto os associados assim os legitimarem, essa será a posição oficial da AR.”

Coerência é uma palavra que não pode ser usada para descrever a trajetória das posições do Presidente da AR sobre a classificação indicativa. Em 2007 assina um documento público dizendo ser “a favor da classificação indicativa pois sabe que é um direito constitucional do cidadão e que a classificação deve ser resultado de um debate permanente com a sociedade “.

Em 2010, sem consultar sua diretoria ou seu colegiado o Presidente vai na imprensa “reafirmar sua posição contrária a classificação”, dizer que nós “sempre fomos contra a classificação” e afirmar que estava sendo “censurado” por não poder dizer que sua novela Ribeirão do Tempo era Livre para todos os públicos, mesmo sendo uma novela de conteúdo maduro, e mesmo sem que a reclassificação tivesse interferido no horário ou no conteúdo da novela, pois ela passa tarde da noite. Novamente sem consultar sua diretoria ou seu colegiado, o Presidente marcou publicamente através da imprensa um encontro com o Secretário Nacional de Justiça para debater a classificação, e convidou para participar com ele, o que definiu em suas palavras públicas como “poucos autores mais expressivos”. Semanas depois – quando viu que não tinha condições de debater a classificação pois não sabia nada do assunto  – se arrependeu e começou a dizer na imprensa que os autores estavam muito ocupados com suas novelas para se reunir com o Secretário, depois disse que a época de eleição não era boa pra debater, e que iríamos deixar para o ano que vem, e por fim, decidiu sozinho e comunicou para a imprensa que debater a classificação era contra seus princípios e contra os princípios fundamentais da AR. Ou seja, a incoerência é flagrante.

Diz Leonardo:  “Estamos em uma democraria, cuja sabedoria é a seguinte: vence a maioria.”

E a maioria é “a favor da classificação indicativa de faixa etária dos programas de televisão. Sabe que essa classificação é um direito do cidadão,  garantido na Constituição. E concorda (…) que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade.”

Leonardo me acusa sem me citar: “As discussões que surgiram nos últimos meses decorrem da postura dos discordantes.”

Eu só entrei na discussão mais tarde. Antes de eu entrar na discussão, o Presidente já havia dado o tom do debate com essa singela mensagem onde descreve o processo de classificação e seus envolvidos”:

“(…) O processo é o seguinte. De início, a emissora tem que mandar para o Ministério da Justiça a sinopse da novela com uma sugestão de classificação, tipo, livre, ou para maiores de dez anos, etc.  Os bacanas lá de Brasília lêem o negócio e podem concordar ou não. Geralmente concordam. Aí a novela começa a ir ao ar. Se eles acharem que está tudo bem, fica mantida aquela classificação. Se não, eles têm o poder de alterar como decidirem.  Minha novela teve a sugestão inicial de ser livre. A emissora que falou isso, eu não disse nada. Os burocratas de Brasília aceitaram. Ela foi ao ar  e agora eles se assustaram e reclassificaram para dez e depois para 14 anos. É assim que funciona. Sobre os “jovens bem nascidos”, acho que o Salvá respondeu à perfeição.  Você acha que aos 65 anos, depois de tanta porrada vida a fora, eu vou aceitar que alguém, jovem ou velho, gênio ou babaca, venha me dizer o que é adequado para o público que eu escrevo? Este é o argumento fundamental. Não me importa se é bom ou mau, quero que se foda, posso ser obrigado a me submeter, mas aceitar de bom grado, jamais. Não vou me negar como escritor, como intelectual, como ser humano por causa das normas que algum paspalho resolveu que refletem o bem comum.  Ainda que refletissem: foda-se o bem comum! Mais vale a minha consciência individual concreta que qualquer conceito coletivo abstrato.
Abração. Marcilio “
http://br.groups.yahoo.com/group/assoc_roteiristas/message/29933 (22/07/2010)

Eu, pelo contrário, sempre tentei mover o debate para algo produtivo, e fiz propostas concretas de encaminhamento. Está tudo documentado. Uma semana depois da mensagem insultuosa e contraproducente do Presidente, fiz uma proposta de documento de consenso para ser publicado chamado “proposta para mudar a classificação indicativa da televisão aberta” que recebeu imediatamente 4 votos a favor, inclusive de outros membros da diretoria, e apenas um contrário, mas o Presidente Marcílio – mesmo achando a proposta “interessante” – barrou o processo dizendo que não havia “nada em votação.” Como Diretor da AR endossei a proposta de criação de uma comissão Oficial da AR para debater o tema, criei o canal do Yahoo para isso, mas o Presidente não permitiu que a comissão fosse criada por achar – apesar de ter sido ele quem trouxe a pauta – que não era uma “questão oportuna para a gente discutir no momento”.

Leonardo diz: “Ao invés de montarem uma chapa de representantes para a próxima assembléia da AR, preferiram vazar o conteúdo das discussões internas para a mídia.”

Essa afirmação é absurda. Por várias vezes meu ex-colega de diretoria – afinal até meu desligamento eu sempre fui o Diretor Regional Sul da AR – repete que eu deveria “montar chapa” para resolver qualquer questão. É sintomático do autoritarismo e da percepção equivocada que o direito do colegiado e dos membros do colegidado é de alguma maneira inferior do que o da diretoria. “Eu já sou chapa, véio”, diriam meus colegas do movimento estudantil. Minhas ações e palavras visaram sempre defender os interesses de todo o colegiado da AR, e essa também deveria ser a postura do nobre colega diretor.

Pelo Presidente da AR, por alguns de meus colegas de diretoria, pelo Conselheiro Tiago Santiago, fui acusado de um monte de coisas. Fui sentenciado oficialmente – sem ser ouvido e sem nunca terem respondido duas defesas para duas peças acusatórias diferentes que me foram enviadas – pelo crime de “violar os termos de serviço do yahoo”, sendo o yahoo diz que nunca violei termo algum. A acusação que o Doutor Leonardo de Moraes faz no momento: de que eu teria cometido o ato de “vazar o conteúdo das discussões internas para a mídia” é ridículo, tão ridículo, que eu nem vou dar ao trabalho de me defender. Só explico o fato: publiquei no twitter do site, grupo, comunidade, blog roteirodecinema.com.br que eu edito, a seguinte frase, retirada de comunicação interpessoal escrita e pública entre Fernando Marés de Souza e Marcílio Eiras Moraes:

“Marcilio Moraes disse aos colegas “foda-se o bem comum”. Eu respondi: “vai tomar no meio do cu da tua consciência individual concreta”.

Escrever essa frase no Twitter é meu direito legítimo. É meu direito de associado da AR, meu direito de membro da lista de discussão do AR, é meu direito de roteirista, de cidadão, de editor, de ser humano. Ao cometer esse ato não infringi nenhuma regra, lei, termo ou norma. Mesmo assim, a o Presidente Marcílio Moraes me suspendeu indeterminadamente da entidade alguns minutos depois de eu ter publicado a frase. Me desligou da lista da Diretoria e do Colegiado, publicou sentença me acusando de “violar sigilo” sem me notificar, sem me ouvir, sem que eu tivesse o direito à ampla defesa e ao contraditório, e mesmo assim permitiu que eu fosse covardemente atacado com xingamentos, ofensas e acusações difamatórias sobre minha pessoa durante minha ausência na lista.

Diz Leonardo:  “No meu ponto de vista, esse tipo de postura é contrária ao fairplay. É como um time que, ao perceber que está perdendo, resolve dizer “não quero mais jogar”, paraliza o jogo e sai por aí xingando o juiz.”

Pergunto: que Juiz, Doutor Leonardo? Nesse jogo tem dois times e nenhum juiz. Eu saio xingando porque fui xingado. E saio xingando o dono da campinho que me expulsou do jogo sem eu ter cometido falta. Eu clamo por justiça, Doutor Leonardo, para que as acusações difamatórias imputadas a minha pessoa, que eu teria “violado termos”, “quebrado sigilos” sejam esclarecidas. Em nome da verdade e da justiça. E do bem da AR, que tem dezenas de esqueletos no armário desses últimos anos que precisam ser passados à limpo. Só nesse semestre, uma dezena de roteiristas se desligaram da Associação por acreditar que Marcílio não os representava com justiça.

Não é uma questão de discordar de opinião, mas sim de atitudes e de princípios. O Marcílio, como Presidente da AR, não é o Rei da AR. Seus direitos de Presidente são limitados – como de todo presidente não ditador – às decisões do Colegiado, da maioria dos associados. E as decisões do colegiado tem sido desrespeitadas pelo Presidente.

Agora eu te pergunto: isso é válido?”

Concordo com o Leonardo que se deve conhecer trabalho da AR, e a melhor maneira é lendo o Roteiro de Cinema. Ou era, mas talvez um dia volte a ser. Mas para isso é preciso que a AR tenha um presidente que respeite a liberdade de acesso a informação, a liberdade de expressão e de comunicação.

Eu sempre trabalhei pela AR e pela união dos Roteiristas, e todos que me conhecem pessoalmente ou virtualmente sabem disso. A AR como união de todos os roteiristas nasce de fato de uma mensagem minha “O Futuro da ARTV”. E é por acreditar que no atual momento a Diretoria da AR fere esses princípios, que me desliguei da entidade, para que minha situação na AR seja esclarecida, esperando talvez que a futura diretoria tenha ao menos a honra de responder minhas defesas e se julgar que as acusações que me imputaram são falsas, emitir uma retratação pública limpando meu nome.

Procurem se informar,

Fernando Marés de Souza

Otavio,

a classificação indicativa não é um problema por si só,
não fosse o fato de estar atrelada a uma obrigatoriedade de
horários. Um programa que contenha determinados conteúdos,
entendidos pelo MJ como inapropriados, é proibido de ser veiculado
nesse ou naquele horário na TV aberta. Isso pode ser considerado – e
é considerado por muitos – como uma espécie de censura de
conteúdo. Por que? Porque as análises de pertinência e
adequação de uma obra são feitas por pessoas que não
necessariamente têm capacidade para analisar subtextos, profundidade
artística ou relevância dos temas discutidos. O MJ elaborou uma
espécie de cartilha, onde tenta criar critérios objetivos para a
tal classificação indicativa. Acontece que impor critérios
objetivos na arte é sempre um desserviço, basta analisar a
história mundial…

Enfim, o assunto da classificação indicativa é polêmico. A AR
sabe disso e se posicionou. Assumiu uma determinada postura com
relação ao assunto – que é o contrário à classificação
indicativa, a obrigatoriedade de horários e a consequente análise
de pertinência das obras audiovisuais – e tem procurado se manter
nessa linha.

Por isso que a AR tem procurado se abster dos encontros que debatem o
dueto Classificação Indicativa/Obrigato

ridade de horários. Como
debater critérios operacionais de algo que se é contra a
própria implantação? Certa ou errada, é tem sido a posição
oficial da AR enquanto instituição, expressada pelo presidente
Marcílio Moraes. Ele e a Diretoria tem mantido sua coerência no
tema e, enquanto os associados assim os legitimarem, essa será a
posição oficial da AR. Estamos em uma democraria, cuja sabedoria é
a seguinte: vence a maioria.

As discussões que surgiram nos últimos meses decorrem da postura
dos discordantes. Ao invés de montarem uma chapa de representantes
para a próxima assembléia da AR, preferiram vazar o conteúdo
das discussões internas para a mídia. Ao invés de procurarem a
representatividade da classe, acabaram fazendo de tudo para abalar a
credibilidade do atual presidente da AR e da própria instituição.
Agora eu te pergunto: isso é válido?

No meu ponto de vista, esse tipo de postura é contrária ao
fairplay. É como um time que, ao perceber que está perdendo,
resolve dizer “não quero mais jogar”, paraliza o jogo e sai por aí
xingando o juiz.

Mas, independentemente dessa situação toda, repito: vale a pena
conhecer o trabalho da AR e vale a pena procurar se envolver com a
situação política do roteirista no nosso país. Unidos,
conseguiremos mais respeito como profissionais da escrita.

Grande abraço,

Leonardo

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