Enquanto se completa uma semana do movimento de ocupação pacífica de Wall Street chamado OccupyWallStreet, onde centenas de pessoas acampam na “Liberty Plaza” em NY, cerca de 100 foram presas pela polícia novaiorquina nesta tarde do dia 24 de setembro, no coração do império financeiro global, quando milhares de pessoas marcharam em protesto contra a ganância das corporações corruptas e sua influência nefasta sobre os governos.
Assista aos vídeos das prisões arbitrárias e violentas abaixo.
O prefeito de Nova York Michael Bloomberg, bilionário dono de um conglomerado de mídia, sabia das manifestações e declarou, dia 17, através das páginas de seu próprio veículo de comunicação que “o povo tem o direito de protestar” na cidade. Porém, numa entrevista de rádio, compartilhou a preocupação com o risco de “distúrbios (riots)” se a economia não melhorar logo, e num ato falho, ao invés de citar “distúrbios” como os violentos saques e incêndios de Londres em agosto, disse temer algo como os movimentos por democracia no Egito (#jan25) e por democracia real na Espanha (#15M): “Foi o que aconteceu em Cairo. Foi o que aconteceu em Madrid. Não queremos estes tipos de distúrbios aqui“.
Relatos do local e as imagens publicadas na internet (alguns exemplos abaixo) não deixam dúvida que a polícia de Bloomberg desrespeitou os direitos civis dos manifestantes e – amparada pelo ‘Patriot Act’ – tenta através de prisões arbitrárias e sem acusação formal intimidar o povo nas ruas, que desta vez – diferente de protestos do passado – não realiza apenas um protesto em um dia determinado, mas – como aconteceu em Cairo e em Madrid – ocupa o espaço público em um evento que não tem data para terminar. O que intriga parte da imprensa americana – e o que em parte explica o blecaute midiático sobre estes acontecimentos nas ruas de Nova York e do mundo – é que ao invés do alvo dos ativistas ser o governo, os militares ou a Casa Branca como de costume, os alvos são os verdadeiros donos do poder: os bancos e as grandes corporações.
No momento há ocupações ocorrendo em pelo menos 12 grandes cidades americanas, e dezenas de outras cidades se organizam para tomar praças e ruas em solidariedade aos manifestantes de Wall Street. Dia 6 de outubro ativistas pretendem ocupar Washington (#oct6) e dia 15 de outubro (#15O/#oct15) o movimento pretende alcançar todas as grandes cidades mundo.
É a Revolução Global de 2011, a resistência a um futuro distópico. Um amigo fotógrafo, veterano do 11 de setembro de 1973 chileno e de várias outras andarilhagens históricas pelo mundo vaticina: “Quando essa coisa explodir , maio de 68 vai ser brincadeira de criança.” Anonymous já alerta faz tempo: “Expect Us”.
UPDATE: Ativistas informam que ainda hoje, 25/09, cerca de 30 pessoas continuam presas.
Cenas da brutalidade policial em NY dia 24/09/2011 que a mídia corporativa esconde do mundo:
Ocupação da “LIBERTY PLAZA” já dura uma semana.
Assista AO VIVO através do GlobalRevolution, streaming live from Lyberty Plaza:
Enquanto cresce o escândalo envolvendo a Revista Veja – acusada de plantar ilegalmente câmeras no Hotel Naoum e tentar invadir o domicilio temporário do dirigente petista José Dirceu – líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, diz não ver nenhum indício de ilegalidade na obtenção e publicação das imagens do corredor do Hotel, acredita que são apenas “detalhes saborosos”, e ainda acha que repórter acusado pelo hotel de tentar invadir quarto do ex-ministro “é corajoso”.
Diz o senador sobre a polêmica reportagem: “…traz detalhes saborosos: podemos ver as imagens das “autoridades” que vão até o “gabinete” de Dirceu, montado no Naoum, um hotel de luxo de Brasília…”
O caso Veja/Naoum tem paralelos com o “Watergate” (arapongagem em hotel); Strauss-Kahn (envolve uma camareira); e News of the World (métodos ilegais e invasão de privacidade para conseguir informações exclusivas). Gerente do Hotel Naoum diz que já acionou a polícia e que “alguém vai pagar” pelo crime. Ironicamente foi Álvaro Dias quem propôs criar uma “CPI dos grampos”, baseado em indícios muito menos sólidos, denunciados pela revista Veja.
Leia excertos do que o Senador escreveu em seu blog e Twitter:
PS: No mesmo dia em que o escândalo estourou, o Senador havia publicado um post em seu blog dando conta que um jornalista português publicaria – na revista Visão – denúncias contra Zé Dirceu, mas depois de seis horas no ar, apagou o post porque teria se dado “conta de que poderia prejudicar o trabalho do jornalista”.
Em fevereiro demonstrei aqui que o colunista do Estadão Marcos Guterman estava mal informado – no mínimo – ao afirmar que não se sabia “de alguma valente ‘flotilha da liberdade’ despachada para ajudar as vítimas” da guerra civil na Líbia. Guterman passa por cima dos fatos e evidências em um discurso que visa desmoralizar as entidades humanitárias que tentam ajudar palestinos, numa retórica – falsa – de que as entidades que organizaram a flotilha da liberdade agem apenas por motivações anti-israelenses e não se importam com outras catástrofes humanitárias.
Pois bem, não só uma, mas várias flotilhas da liberdade já partiram para a Somália, organizadas pela mesma IHH turca – Foundation for Human Rights and Freedoms and Humanitarian Relief – entidade humanitária que organizou a Flotilha da Liberdade para Gaza, que Guterman tanto gosta de citar em vão.
Um dos barcos da IHH que parte para a Somália chama-se Gaza.
Agora pergunto: se Guterman não se retratou ou corrigiu as informações – ou a falta de – na primeira vez que errou, será que irá se corrigir desta vez?
“Os princípios editoriais da Globo não valem o que o gato enterra.” Mensagem de um Anonymous deixada no perfil crackeado do Arnaldo Jabor. https://twitter.com/#!/realjabor/status/104421995994824704 A mensagem – que reflete o inconsciente coletivo cibernético – é obra de um coletivo chamado “Script Kiddies”, adolescentes ingleses usando tradutor automático movidos “just for the lulz”.
O termo “Arnaldo Jabor” está sendo um dos mais discutidos na rede social chegando aos “trending topics” do Twitter na manhã de hoje, mas foi rapidamente suprimido da lista pela empresa, que costuma censurar este tipo de informação dinâmica quando ela desagrada os seus interesses ou de parceiros. http://twitter.com/#!/NosTTs/status/104546133145174016
Relatei no artigo original: “Em uma matéria sobre a presença de veneno em merenda escolar no RS, a âncora Fátima Bernardes afirma: “Está foragida a merendeira que pôs veneno de rato na comida de crianças e professores de uma escola pública de Porto Alegre” – enquanto mostra a foto da acusada na tela. Mas como pode a jornalista afirmar como fato algo que ainda não foi comprovado? A merendeira é SUSPEITA de ter colocado veneno, ACUSADA de ter colocado veneno, Fátima Bernardes não pode apresentar como fato que a “merendeira pôs veneno de rato na comida de crianças”. Mesmo que haja uma suposta confissão da merendeira, o advogado da acusada afirma que ela não colocou veneno algum e que se apresentará segunda-feira, informação que o Jornal Nacional não traz em sua reportagem. A matéria fere os princípios descritos nos itens 1-v, 1-x, e 1-z dos princípios editoriais, desrespeita o princípio do contraditório e qualquer senso básico de justiça.”
Porém, mais grave que desrespeitar seus princípios editoriais, os jornalistas responsáveis pela matéria – em especial o editor-chefe William Bonner e o diretor da central de jornalismo Ali Kamel – violam os direitos humanos da cidadã brasileira Wanuzi Mendes Machado, violam a Constituição Federal e o Código de Ética dos Jornalistas brasileiros:
1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
Art 9º A presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística.
Art. 12. O jornalista deve: I – (…) ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objeto de acusações não suficientemente demonstradas ou verificadas;
Então fica a pergunta: até quando o Jornal Nacional e o jornalismo da Globo se sentirão acima de todas as regras, sejam elas públicas ou privadas?
Vale ressaltar que não está em discussão a inocência ou culpa da cidadã Wanusi, pois isso só será determinado após o devido processo legal. Não é uma questão sobre este caso específico. É uma questão de princípios.
OUTRO LADO:
A Central Globo de Comunicação foi procurada mas ainda não se pronunciou. A resposta será publicada aqui neste espaço.
UPDATE: Apesar de ainda não ter recebido resposta da CGCOM, a edição de hoje do Jornal Nacional trouxe um desdobramento sobre o caso. Os jornalistas deram voz ao contraditório, apresentaram a tese do advogado da merendeira, passaram a chamá-la de “suspeita” e ao final, fizeram uma retratação: “Ao tratar desse caso policial no último sábado (6), por uma falha de edição, o Jornal Nacional não mencionou a alegação do advogado de defesa que contestava a confissão da cliente. Foi, obviamente uma falha, que foi corrigida nesta reportagem.”
Porém, apesar da retratação ser um avanço – apresentando o contraditório e admitindo um erro – o veículo ainda não admitiu que errou ao afirmar que a merendeira “pôs veneno de rato na comida de crianças” sem que esta tese estivesse comprovada.
O documento foi recebido com ironia, ceticismo e críticas nas redes sociais, alcançando rapidamente os “trending topics” do Twitter.
Blogueiros especulam que a divulgação do documento veio em resposta às acusações do jornalista Rodrigo Vianna – ex-funcionário da Globo – de que a direção da emissora emitiu ordem expressa para que seus jornalistas atacassem o novo Ministro da Defesa Celso Amorim.
As ligações de Teixeira com a Globo são estreitas e antigas e as críticas ao monopólio exercido pela Globo na transmissão do futebol brasileiro recorrentes, porém recentemente uma nova denúncia grave surgiu: as Organizações Globo receberam 30 milhões de recursos públicos dos cofres da Prefeitura e do Governo do Rio através de sua subsidiária Geo Eventos para organizar o sorteio das preliminares da Copa mês passado. A escolha da empresa foi feita pelo Comitê Organizador Local, presidido por – surpresa! – Ricardo Teixeira.
Com interesses econômicos diretos na Copa do Mundo do Brasil, o jornalismo da Globo também faz vista grossa para as crescentes denúncias de violação de direitos humanos e ilegalidades cometidas na remoção de famílias para construção de infra-estrutura do evento, relatadas inclusive pela ONU.
Mas como pode a jornalista afirmar como fato algo que ainda não foi comprovado? A merendeira é SUSPEITA de ter colocado veneno, ACUSADA de ter colocado veneno, Fátima Bernardes não pode apresentar como fato que a “merendeira pôs veneno de rato na comida de crianças”. Mesmo que haja uma suposta confissão da merendeira, o advogado da acusada afirma que ela não colocou veneno algum e que se apresentará segunda-feira, informação que o Jornal Nacional não traz em sua reportagem. A matéria fere os princípios descritos nos ítens1-v, 1-x, e 1-z dos princípios editoriais, desrespeita o princípio do contraditório e qualquer senso básico de justiça.
A maneira como o jornalismo da Globo lida com suspeitos de crimes é – sob minha ótica – um dos principais desvios éticos da organização. O veículo tem um caráter justiceiro, se coloca acima do judiciário e do devido processo legal, acima do princípio – não descrito no documento da Globo, mas sim na Declaração Universal dos Direitos do Homem – de que todos são inocentes até que se prove o contrário.
A Globo trata suspeitos e investigados como culpados sentenciados, sem autoridade moral ou legal para isso, assume como verdade inequívoca teses não comprovadas de agentes policiais, provocando tragédias como a do calvário do jornalista José Cleves, vítima de uma reportagem sensacionalista do Fantástico em 2001 que – baseado apenas na palavra de um delegado que queria incriminar o jornalista que investigava a corrupção policial – julgou e condenou o réu por antecedência no caso do assassinato de sua esposa. Cleves ficou anos encarcerado, mas posteriormente foi inocentado pelo STF, após intervenção da Comissão Nacional de Direitos Humanos. A matéria do Fantástico havia sido apresentada como prova pela promotoria. O Fantástico nunca se retratou do erro ou citou novamente o nome de Cleves.
Relata José Cleves: “A maldade da polícia, no meu caso, foi reparada pela Justiça, que me absolveu à unanimidade ao acatar a tese de meu advogado de que a arma, apontada pela polícia (e a imprensa que a copiou) como a do crime, fora plantada no local do assalto para incriminar-me. A mesma reparação não tive da imprensa. O espetáculo jornalístico causou um estrago tão grande na minha família que perdi as esperanças de um dia ficar livre desse pesadelo.”
Outro caso de hipocrisia, agravado pelo recebimento indevido de recursos públicos, se deu na tragédia da região serrana do Rio. Enquanto os editoriais das Organizações Globo responsabilizavam membros do governo federal e estadual por não terem realizado os investimentos para conter as enchentes, escondiam o fato de que a Fundação Roberto Marinho embolsou parte do dinheiro público do Fundo Estadual de Conservação do Meio Ambiente, que deveria ser destinado para a prevenção de enchentes e contenção de encostas, e usou na construção de um museu na área urbana do Rio.
No quesito “correção”, o documento diz que “Os erros devem ser corrigidos, sem subterfúgios e com destaque. Não há erro maior do que deixar os que ocorrem sem a devida correção”.
O Blog do Noblat, publicação que faz parte das Organizações Globo e que também reproduziu a informação falsa, nunca se seu ao trabalho de corrigi-la e mantém a informação falsa no ar.
Outra vez fica claro que o documento das Organizações Globo é apenas uma vaga declaração de intenções, e não um código de conduta.
Uma afirmação do documento que chega a provocar risos é a de que “As Organizações Globo são laicas”. Isso vindo de uma emissora que transmite a “Santa Missa” católica nas manhãs de domingo – sem ônus para o Vaticano – e que trata como fato o “milagre” de Irmã Dulce.
Mensagem que corre nas redes sociais contra a homofobia traz informações falsas e argumentos falaciosos que não ajudam a diminuir a homofobia ou aumentar a aceitação da homossexualidade.
Uma mensagem está correndo as redes sociais que – com algumas pequenas variações – traz a seguinte informação: “Homossexualidade é encontrada em mais de 450 espécies de animais. Homofobia apenas em uma. Qual é a antinatural?”
Muitas trazem o pedido para disseminar a informação: “RT se você é contra a homofobia”, ou “Coloque isso no seu mural se você é contra a homofobia”, ou até “Reblogue se você é contra a homofobia”. Eu sou contra a homofobia, mas também sou contra a disseminação de desinformação, não importa para que fins. E a mensagem está se disseminando com bastante força. Só um tweet do ator José de Abreu, gerou mais de 430 retweets. Li a mensagem em diversos murais de amigos e parentes bem intencionados no Facebook. Mas alguém parou pra checar se a informação é verdadeira, ou parou pra pensar se é relevante, antes de repassar?
O fato é que o mesmo estudo de onde foi tirada a informação de que a “homossexualidade foi encontrada em mais de 450 espécies”, o livro “Biological Exuberance: Animal Homosexuality and Natural Diversity“, de Bruce Bagemihl, mostra também que a homofobia está presente entre outras espécies além da humana. O autor discorre, por exemplo, sobre o comportamento homofóbico de grupos de Caricus, ou “white-tailed deer” (Odocoileus virginianus), que assediam, atacam, e expulsam espécimes transgêneros de sua área.
“Non-transgendered White-tails (both does and bucks of all ages, even fawns) threaten velvet-horns who try to aproach them – forcing them to remain no less than ten feet away – while bucks may actively charge velvet-horns to drive them away.” (Bagemihl, p.380)
Em outro livro, “Homosexual behaviour in animals: an evolutionary perspective“, Volker Sommer descreve patrulhas de Macacos-japonês machos (Macaca fuscata) que atacam fêmeas que estão engajadas em sexo homossexual entre si. Conta também que certos grupos de Antílopes apresentam comportamento parecido.
Então a segunda parte da mensagem está incorreta, a homofobia está sim presente na natureza, em outras espécies além da humana. E a primeira parte é incompleta, pois o livro de Bagemihl diz que o comportamento homossexual já foi observado em mais de 1500 espécies, o número de 450 é o de espécies documentadas por ele.
Mas não é só a falha factual que compromete o argumento. O argumento em si é uma falácia, conhecida como “falácia da natureza” ou “apelo à natureza” (“Argumentum ad Naturam“), que funciona assim: “N é natural, então N é bom ou certo. U não é natural, então U não é bom ou não é certo”. Ou: “comportamento X é natural, então comportamento X é moralmente aceitável”.
Não é porque é “natural”, que um comportamento é moralmente aceitável ou bom. O mesmo estudo de Bagemihl mostra que “incesto” e “estupro” também estão presentes no comportamento sexual da grande maioria das espécies estudadas, e nem por isso são moralmente aceitáveis para a humanidade.
O que precisa ficar claro, é que “natural” ou “antinatural” não tem nada a ver com a questão. A questão é que a homofobia é moralmente inaceitável, socialmente maléfica, pois quer ingerir sobre o comportamento sexual e afetivo dos outros, e causa dor e sofrimento em seres humanos, enquanto a homossexualidade, por sua vez, é moralmente aceitável e socialmente benéfica, pois é fruto do amor e do desejo individual e não causa mal a ninguém.
Homosexual behaviour in animals: an evolutionary perspective. Cambridge, 2006.
Em seu livro, Bagemihl nos lembra que a informação de que o comportamento homosexual nos animais existe não é nova, e ela sempre foi usada para caracterizar a homossexualidade como algo deplorável, algo animalesco, seja pelos puritanos da Nova Inglaterra do século dezoito, por nazistas alemães, ou na cruzada anti-gay de Anita Bryant nos anos 70. Animais onde o comportamento homossexual pode ser facilmente observado, várias espécies de primatas, são também as espécies que cometem infanticídio, geralmente não formam casais duradouros, apresentam um comportamento promíscuo e violento.
Nos Estados Unidos, na Suprema Corte do Colorado, o debate sobre a homossexualidade ser inata ou não, do ponto de vista biológico, levou a interpretações equivocadas de que a homossexualidade seria apenas um “estilo de vida”, uma escolha pessoal, não cabendo então proteção legal contra a discriminação no âmbito dos direitos civis.
Em suma, a existência da homossexualidade entre certos grupos de animais e as características naturais, biológicas e zoológicas do sexo entre indivíduos do mesmo sexo, tem sido mais usada para gerar homofobia do que para combatê-la.
“Usar informações sobre comportamento animal para justificar ideologias políticas ou sociais é um equívoco. Se a homossexualidade nos animais é generalizada ou ocasional, se ocorre mais em uma espécie que em outras, isso não deve influenciar nossas decisões sobre as políticas públicas de proteção legal de homossexuais contra a discriminação. (…) Virtualmente todos os pesquisadores sobre homossexualidade animal concordam com isso. Incluindo Bagemihl.” (Zuk, p. 176)
Aos amigos que usam suas contas em redes sociais para divulgar causas, duas dicas: nunca passem para frente informações que vocês não conhecem de fonte primária. E existe uma regra na internet que serve para tudo: se uma mensagem traz o apelo para você passar ela adiante, não passe.
A Ministra Ana de Hollanda justificou a retirada da licença Creative Commons do site do ministério diante de uma platéia de músicos na Funarte com a seguinte argumentação:
“Pra você colocar alguma entidade privada que está, vamos dizer, induzindo ao uso de um serviço privado teríamos que fazer uma licitação. Foi uma medida de precaução. Eu tenho que zelar pela transparência e uma das preocupações era essa. É uma entidade privada, era uma propaganda sim, que induzia a usar essa forma de licenciamento.”
A íntegra da declaração da Ministra pode ser conferida no vídeo abaixo, publicado no canal ciberativismo.
Segundo a ministra, para usar o serviço gratuito de licenciamento do Creative Commons era preciso fazer licitação. Pois bem, então denuncio que o Ministério da Cultura está usando diversos outros serviços de entidades privadas sem licitação, induzindo ao uso destes serviços, fazendo propaganda no site do Ministério. Um escândalo:
O uso de outros serviços – inclusive induzindo ao uso destes – de entidades privadas como Twitter, Flickr e Youtube no site do Ministério se dá sem licitação, até que se prove o contrário. A declaração da ministra Ana de Hollanda de que retirou o CC do site “por precaução”, já que “não houve licitação”, só nos deixa duas opções: ou a ministra é incompetente por não zelar direito pela transparência fazendo propaganda de entidades privadas no site do Ministério, ou é mentirosa por proferir falsidades para ocultar a verdadeira razão da retirada do Creative Commons do site. (update. Um leitor fanfarrão diz que há uma terceira possibilidade: a ministra seria realmente “meio autista”…)
Se é verdade o que nos diz a ministra, ela coloca também em suspeição a lisura do site da chefe dela, pois o blog oficial da Presidente Dilma Roussef utiliza a licença sem ter realizado nenhum processo licitatório.
A licença atual usada pelo site do ministério, em substituição ao Creative Commons, é de apenas uma linha genérica: “O conteúdo deste site, produzido pelo Ministério da Cultura, pode ser reproduzido, desde que citada a fonte.” A assessoria de comunicação do MinC foi consultada e não soube responder o que isso significava de fato, se está autorizada também a publicação dos textos – reprodução e publicação são conceitos jurídicos diferentes – ou se é permitido o uso comercial do conteúdo, etc. Para entender melhor como a atual licença é falha, leia o que diz o próprio Creative Commons sobre o caso.
A retirada do Creative Commons foi uma medida catastrófica. Não só sinaliza o alinhamento da Ministra com uma mentalidade arcaica, meramente mercantilista da cultura, que vê no Creative Commons e na internet apenas uma ameaça aos seus rendimentos, mas também demonstra que a gestão atual desconhece o Direito Autoral e seus conceitos jurídicos. E é dessa gestão atual que deveria sair a Reforma da Lei do Direito Autoral. A Ministra da Cultura perde cada vez mais sua credibilidade, e enquanto a Presidente Dilma Roussef silencia sobre os rumos tomados no MinC com relação ao Creative Commons, reforma da LDA, e Marco Civil da internet, a credibilidade de Dilma vai se esvaindo também.
Ana de Hollanda vêm fazendo o contrário do que prometeu Dilma aos cyberativistas, quando falou na Campus Party em 2010. A pergunta que fica é a seguinte: Ana de Hollanda vem traindo o projeto de Dilma, ou Dilma enganou todos nós?
O aguardado filme dirigido por Toniko Melo com roteiro de Bráulio Mantovani e Thiago Dottori estreou nos cinemas em todo o Brasil.
VIPs, da O2 Filmes, traz Wagner Moura no papel de um golpista cujo maior prazer é imitar as pessoas e se passar pelos outros. “Alimentando o sonho de aprender a voar e tornar-se piloto como o pai, Marcelo foge da casa da mãe e começa a maior aventura de sua vida, cada vez se passando por uma pessoa diferente. Até dar o maior golpe de sua vida: fazer-se passar pelo empresário Henrique Constantino, filho do dono da companhia aérea Gol, em uma grande festa no Recife”.
O argumento de Toniko e Bráulio é inspirado na vida de Marcelo da Rocha, narrada no livro “VIPS – Histórias Reais de um Mentiroso”, escrito por Mariana Caltabiano, mas Toniko faz questão de frisar que o filme é pura ficção, “onde a ‘realidade’ é usada apenas como uma desculpa para investigarmos a nós mesmos”. Thiago Dottori entrou no projeto, inicialmente, como assistente de Bráulio Mantovani. O trabalho dos dois, aos poucos, evoluiu para uma parceria, e Thiago passou a assinar como coautor do roteiro.
Thiago escreveu a série “Trago Comigo”, dirigida por Tata Amaral, pelo qual foi indicado ao prêmio Qualidade Brasil na categoria de melhor autor de minissérie. Bráulio escreveu o roteiros de “Cidade de Deus”, premiado pela Academia Brasileira de Cinema e indicado ao Oscar pela AMPAS americana, da qual Bráulio é membro, e é um dos mais prolíficos e populares roteiristas brasileiros, trabalhando em obras como “Última Parada 174”, “Tropa de Elite”, “Linha de Passe” e “O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias”. Thiago e Bráulio são membros da associação de “Autores de Cinema“.
Thiago Dottori à esquerda e Bráulio Mantovani à direita.
Um produto da O2 Filmes, assinado por Fernando Meirelles, Paulo Morelli, e Bel Berlinck, VIPs foi o grande vencedor do Festival de Cinema do Rio ano passado, recebendo o Redentor de Melhor Filme, além de Melhor Ator para Wagner Moura, Melhor Ator Coadjuvante para Jorge D’Elia, Melhor Atriz Coadjuvante para Gisele Fróes. É a estréia do diretor em longa-metragens, Toniko Melo dirige publicidade desde 1989, e dirigiu episódios da série “Som & Fúria” também produzido pela O2, exibido pela Globo.
Entrevista com os roteiristas Bráulio Mantovani e Thiago Dottori pelo blog oficial do filme.
Originada de um primeiro ensaio de roteiro sobre o farsante que se fez passar pelo dono de uma companhia aérea brasileira durante o carnaval do Recife, a ideia para a trama de VIPs ganhou um novo enfoque a partir da construção de seu argumento. O objetivo do diretor Toniko Melo era transformar em ficção a história real, buscando um viés mais aprofundado, que fosse além dos golpes dados por Marcelo da Rocha. Coube a Bráulio Mantovani e Thiago Dottori delinear os primeiros contornos do Marcelo ficcional: um personagem forte, cujos traços psicológicos deveriam ser explorados em toda sua complexidade.
Hoje, só aqui no blog, você conhece mais sobre esse processo de conversão do real em ficção. Confira abaixo a entrevista com a brilhante dupla responsável pelo roteiro de VIPs: Bráulio Mantovani e Thiago Dottori.
Como foi o processo de adaptação do livro da Mariana Caltabiano? Você diria que é baseado no livro, ou livremente inspirado?
Bráulio – O processo de adaptação foi um pouco complicado. A vida do verdadeiro Marcelo é repleta de acontecimentos. São tantos os golpes (e muitos deles tão interessantes) que foi difícil escapar à tentação de contar todos. Outros roteiristas tentaram isso antes de o Thiago Dottori e eu entrarmos no processo. Lemos esses roteiros anteriores, todos muito bons, e percebemos que a quantidade de golpes do Marcelo que aconteceram na realidade – tão saborosos quando lidos no livro da Mariana – acabavam produzindo, no roteiro, um efeito de cansaço e repetição, por mais que os roteiros estivessem bem escritos.
Foi então que, ainda no processo do argumento (que desenvolvi em parceria com o diretor Toniko Melo), procuramos exaustivamente um outro viés para o filme. Percebi que o que de fato havia seduzido o Toniko na história real não eram os golpes do Marcelo, mas os traços psicológicos do golpista. Especialmente a característica que diferenciava o Marcelo de outros golpistas (famigerados ou não): ele se deixou prender, no Rio de Janeiro, depois de se fazer passar por Henrique Constantino no Recife.
Thiago - Acho que as inúmeras histórias vividas por Marcelo causam uma espécie de encantamento em quem toma contato com elas. E por isso mesmo havia ali uma armadilha para ser desmontada; era preciso perceber o que havia por trás disso tudo. No roteiro, demos um mergulho atrás desse sujeito, do tipo: “Você pode ter enganado muita gente, mas a nós, escritores e diretor do filme, você não vai conseguir enganar. Mostre sua cara”. Nesse movimento, nós criamos um outro personagem que, hoje, me parece bem diferente do personagem real. Essa descoberta da motivação do Marcelo foi sempre o que nos norteou na construção do roteiro.
Como foi a definição do Marcelo como personagem de ficção? Houve alguns contornos da personalidade dele que foram adaptados para o roteiro?
Bráulio – O Marcelo do roteiro não existiria se não existisse o Marcelo da realidade. Porém, o Marcelo da ficção é muito diferente do Marcelo que se fez passar por dono da Gol e hoje está preso. Muitas das coisas que aconteceram na realidade acontecem também no roteiro. Porém, essas mesmas ações e peripécias possuem uma outra verdade: a verdade do personagem ficcional.
Thiago – Há um aspecto curioso sobre isso. Lembro que enquanto trabalhávamos no roteiro, já bastante distantes do material original (as entrevistas e o livro de Mariana), soubemos que haveria uma matéria na TV sobre o Marcelo. Obviamente, eu e o Bráulio assistimos à matéria, que foi veiculada num domingo à noite. Fiquei um pouco intrigado com o que vi. Algo ali me incomodava. Logo depois meu telefone tocou; era o Bráulio. A primeira coisa que ele me disse foi: “Nós não estamos fazendo o filme sobre esse cara. Esse não é o personagem do nosso roteiro”. Foi quando eu finalmente consegui me desapegar do real e partir de vez para a ficção.
E os outros personagens? São todos “radicalmente inventados” (por exemplo, a Sandra – Arieta Corrêa –, a única que percebe que o Marcelo não é o Henrique Constantino)?
Bráulio – Quase todos os personagens do filme saíram, de alguma maneira, da história real. Todos, porém, foram radicalmente reinventados para compor o universo do protagonista que nós inventamos. Como eu disse antes, a realidade forneceu os nutrientes para alimentar a nossa criação. O DNA de todos os personagens, porém, é pura ficção. Vale ressaltar aqui que a personagem da mãe do Marcelo (que não tem nada a ver com a mãe real) ganhou no filme uma dimensão muito mais interessante em relação ao roteiro graças à interpretação de Gisele Froes. Essa atriz maravilhosa fez a personagem crescer. Ela soube potencializar o que estava apenas insinuado no roteiro. Interpretações como a de Gisele são um presente para qualquer escritor.
Thiago - Aliás, se tem um aspecto que realmente salta aos olhos no filme foram as escolhas de elenco feitas pelo Toniko Melo e pela Cecília Homem de Mello. Além da maravilhosa interpretação da Gisele Froes, citada pelo Bráulio, há muitos personagens, e todos estão muito bem interpretados pelos atores. A personagem da Sandra, vivida pela Arieta Corrêa, por exemplo, era um tremendo desafio, porque ela precisava se estabelecer muito rapidamente; em poucos planos, era necessário que ela se destacasse do universo ao seu redor. Acho que ela foi muito feliz, não só nisso, mas também na cumplicidade que ela conseguiu estabelecer com o personagem do Marcelo. Tudo isso ilumina a história que a gente escreveu, muitas vezes revelando aspectos que a gente não tinha pensado.
Quais foram os temas da história de Marcelo que mais te interessaram para o roteiro? Há uma crítica ao mundo de aparências dos chamados VIPs, um mundo do qual o Marcelo revela toda a superficialidade.
Bráulio – Para mim, essa questão do mundo das celebridades é quase periférica no roteiro. O que me interessa mais é o personagem que nós criamos. Ele tem uma singularidade original. O mundo das aparências povoado por celebridades é apenas um palco onde a fantasia de Marcelo ganha uma verdade assustadora. A crítica ao universo VIP que, acredito, está presente no filme é apenas uma camada a mais da história. A subjetividade enviesada de Marcelo é, na minha opinião, o foco central do filme.
Thiago – Além dos temas levantados pelo Bráulio, há um tema que me interessa bastante nessa história: a questão da identidade. Eu me identifico com um sujeito em busca da sua própria identidade. Acho que é uma questão com que todos nós nos deparamos em algum momento. Outra coisa que me interessa é perceber o quanto as pessoas que cercam o Marcelo, de alguma maneira, precisam da sua presença ali. É como se a chegada dele trouxesse uma relevância para aquele ambiente que até então não existia. Acho que é nesse flanco que ele atua, é por isso que as pessoas se deixam levar por sujeitos como ele, acreditando na sua fantasia como um espelho.
VIPs
Produtora: O2 Filmes Direção: Toniko Melo Produção: Fernando Meirelles, Paulo Morelli, Bel Berlinck Argumento: Toniko Melo e Bráulio Mantovani, A.C. Roteiro: Bráulio Mantovani, A.C. e Thiago Dottori, A.C. Baseado no livro “VIPS – Histórias Reais de um Mentiroso” escrito por Mariana Caltabiano Direção de Fotografia: Mauro Pinheiro Jr., ABC Direção de Arte: Frederico Pinto Direção de Produção: Rodrigo Castellar Produção de Elenco: Cecília Homem de Mello Montagem: Gustavo Giani Música: Antonio Pinto Supervisão de Pós Produção: Hugo Gurgel Supervisão de Edição de Som: Alessandro Laroca Mixagem: Armando Torres Jr. Som Direto: Romeu Quinto, ABC Figurino: Verônica Julian Maquiagem: Donna Meirelles
A Ministra da Cultura Ana de Hollanda, que mesmo antes de assumir já estava envolta em polêmicas por fazer um discurso de defesa incondicional do ECAD, e logo ao assumir retirar a licença Creative Commons do site do Ministério, mandar trazer de volta o projeto de reforma dos direitos autorais da Casa Civil – e dizer que nem é o caso dela ler o projeto pois ela é só a Ministra – talvez tenha finalmente selado seu destino no comando da pasta ao não enxergar “nada de mais” na aprovação pelo CNIC do milionário projeto de Blog de poesias de Maria Bethânia.
Há alguns dias o Ministério da Cultura já havia confundido as Leis ao publicar uma nota de esclarecimento que nada esclarece, e hoje, segundo informa a Folha de São Paulo, a ministra justifica o alto custo do blog pelos “trabalhos” e pelas “filmagens” que o blog exigirá. “Está tudo justificado lá na planilha”, afirmou a ministra, que ainda disse que a aprovação “não tem nada de mais”.
Até agora ninguém envolvido no projeto havia conseguido justificar o alto custo, e pelo andar da carruagem ninguém vai conseguir aplacar a ira popular despertada pela notícia da aprovação do projeto de blog milionário feito com dinheiro público. Quando a planilha claramente demonstra que a soma do cachê da Artista Maria Bethânia (R$ 600 mil) e do Coordenador Editorial Hermano Vianna (R$ 120 mil) ultrapassa mais da metade do custo total de 1,3 milhão do projeto, a Ministra vir a público dizer que o alto custo é justificado por “trabalhos” e “filmagens” é uma ofensa à inteligência da opinião pública.
Quem havia defendido o projeto começa a fazer mea culpa. Jorge Furtado, autor do artigo mais reproduzido e compartilhado por defensores da cantora e do projeto, escreveu novo artigo hoje onde diz: “Na hipótese de ser verdadeira a informação divulgada hoje de que o cachê da Bethânia para trabalhar no blog seria de quase metade do orçamento do projeto, me parece ter havido um erro de avaliação do Minc em aprová-lo nesses termos. Não acredito em quase nada que sai nos jornais e espero esclarecimentos dos produtores sobre o assunto.”
Eu também espero esclarecimento dos produtores. Conversei ontem com a assessora de Bethânia e ainda aguardo resposta. Mas espero também esclarecimentos do CNIC, a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura que aprovou o projeto, e principalmente espero esclarecimentos da Ministra Ana de Hollanda, que diz que viu a planilha e não acha nada de mais, acha tudo justificado.