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Ministra Ana de Hollanda acha justificável cachê de R$ 600 mil para Bethânia

A Ministra da Cultura Ana de Hollanda, que mesmo antes de assumir já estava envolta em polêmicas por fazer um discurso de defesa incondicional do ECAD, e logo ao assumir retirar a licença Creative Commons do site do Ministério, mandar trazer de volta o projeto de reforma dos direitos autorais da Casa Civil – e dizer que nem é o caso dela ler o projeto pois ela é só a Ministra – talvez tenha finalmente selado seu destino no comando da pasta ao não enxergar “nada de mais” na aprovação pelo CNIC do milionário projeto de Blog de poesias de Maria Bethânia.

Há alguns dias o Ministério da Cultura já havia confundido as Leis ao publicar uma nota de esclarecimento que nada esclarece, e hoje, segundo informa a Folha de São Paulo, a ministra justifica o alto custo do blog  pelos “trabalhos” e pelas “filmagens” que o blog exigirá. “Está tudo justificado lá na planilha”, afirmou a ministra, que ainda disse que a aprovação “não tem nada de mais”.

Pois a planilha vazou na web (MinCleaks?) e foi publicada no blog do Pablo Villaça, aqui no blog, e depois de eu indicar o projeto ao implicante Gravataí Merengue, foi parar na Veja e nos principais veículos de comunicação do Brasil. A planilha indica que Bethânia receberia um cachê de R$ 600 mil pela realização do projeto, e as filmagens estão orçadas em R$ 365 mil. O mais absurdo é que o projeto, que foi diligenciado ano passado, sofreu cortes de R$ 440 mil para se adequar e ser aprovado este ano pela nova composição do CNIC, mas nenhum centavo do cachê de Bethânia foi cortado, apenas houve uma manobra pra dividir seu cachê em diversas funções.

Até agora ninguém envolvido no projeto havia conseguido justificar o alto custo, e pelo andar da carruagem ninguém vai conseguir aplacar a ira popular despertada pela notícia da aprovação do projeto de blog milionário feito com dinheiro público. Quando a planilha claramente demonstra que a soma do cachê da Artista Maria Bethânia (R$ 600 mil) e do Coordenador Editorial Hermano Vianna (R$ 120 mil) ultrapassa mais da metade do custo total de 1,3 milhão do projeto, a Ministra vir a público dizer que o alto custo é justificado por  “trabalhos” e “filmagens” é uma ofensa à inteligência da opinião pública.

Quem havia defendido o projeto começa a fazer mea culpa. Jorge Furtado, autor do artigo mais reproduzido e compartilhado por defensores da cantora e do projeto, escreveu novo artigo hoje onde diz: “Na hipótese de ser verdadeira a informação divulgada hoje de que o cachê da Bethânia para trabalhar no blog seria de quase metade do orçamento do projeto, me parece ter havido um erro de avaliação do Minc em aprová-lo nesses termos. Não acredito em quase nada que sai nos jornais e espero esclarecimentos dos produtores sobre o assunto.”

Eu também espero esclarecimento dos produtores. Conversei ontem com a assessora de Bethânia e ainda aguardo resposta. Mas espero também esclarecimentos do CNIC, a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura que aprovou o projeto, e principalmente espero esclarecimentos da Ministra Ana de Hollanda, que diz que viu a planilha e não acha nada de mais, acha tudo justificado.

Fernando Marés de Souza
Foto:Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

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Blog da Bethânia: envolvidos falham em tentar justificar alto custo

Hermano Vianna e Andrucha Waddington dizem que orçamento de blog de poesias é alto por causa da produção de vídeos, mas cachê de Bethânia seria maior que todo montante previsto para realização audiovisual.

Hermano Vianna, o idealizador do blog (ou videolog) da Betânia “O mundo precisa de poesia”, aprovado para captação pelo CNIC e que gerou polêmica pelo orçamento milionário, escreveu um artigo hoje no Globo defendendo o projeto, e tenta explicar o alto custo do Blog:

“Há custos altos sim, e justificados: é trabalho diário de um ano, com 365 vídeos de alta qualidade a produzir, negociações de direitos autorais, contratação de gente para escrever sobre cada poeta, DJs etc. Nada é simples, ou fácil.”, diz o antropólogo.

Quem não leu o projeto pode até engolir, mas depois que o projeto e sua planilha de custos se tornou pública – através deste blog e do blog do Pablo Villaça – é impossível corroborar a informação de Vianna. No projeto não há previsão de verba para direitos autorais, diz que a “Nova Fronteira se encaregará (sic) da liberação dos direitos dos poemas (ela já tem muitos poetas essenciais em seu vasto catálogo).” Também não há previsão de verba para DJ’s, e a “contratação de gente para escrever” sobre cada poeta deve sair dos R$ 120 mil reservados pra “Cooordenação Editorial”, menos de 10% do valor do projeto.

Andrucha Waddington também cita a produção dos 365 vídeos, em reportagem do blog de Bob Fernandes:

“É uma equipe que vai ter fotógrafo, produtor, maquiador, figurinista, equipamentos… Cada programa está custando R$ 3.562. São 365 programas. Um programa por dia. Trabalho de um ano. A gente vai produzir mais de 600 minutos – ou seja, o equivalente a cinco longas-metragens. No Brasil, um longa-metragem está custando entre quatro e sete, oito milhões de reais, tirando “Tropa de Elite”

Chega a ser desonesto comparar vlog de poesia com produções de cinema, que envolve finalização em película, grande elenco, equipe com centenas de pessoa. E a maioria dos longas brasileiros é realizado com menos de 1,3 milhão. Meu último longa, por exemplo, custou R$ 180 mil. Em todo caso, o valor reservado aos vídeos no projeto é de apenas R$ 365 mil reais, incluindo aí – supõe-se pois o projeto não é claro – o cachê de Andrucha.

A verdade é que o projeto é caro porque R$ 600 mil são reservados para pagar Maria Bethânia. Se Bethânia recebesse um valor mais condizente com o mercado e mais proporcional ao que recebe o restante da equipe, digamos R$ 100 mil, o orçamento do blog já cairia quase pela metade. Numa rápida análise com um colega produtor executivo, e utilizando minha experiência em cinema e internet, enxugando todos os cachês – inclusive os R$ 120 mil reservados pra Viana – despesas super-dimensionadas, e fazendo um cronograma de filmagem pra filmar todo material de uma vez, chegamos a conclusão que seria possível realizar o mesmo projeto com cerca de R$ 300 mil reais, pagando todo mundo nos valores de mercado, inclusive os direitos autorais dos poetas declamados.

Mas daí, na ótica de alguns, talvez não valesse a pena para os principais envolvidos, coordenador, diretor e artista, que ganhariam “apenas” cerca de R$ 20.000 reais cada um, pois enquanto eles dizem que o “mundo precisa de poesia”, seu mundinho particular precisa é de dinheiro. E pelo jeito, pouco dinheiro não basta.

O mais triste é ver pessoas defendendo o valor obsceno cobrado por Bethânia. Zé de Abreu me disse: “o mundo artístico tem castas. Ela está no 1o time, merece”. “O cachê dela é esse, ué!”, disse Fábio Porchat, emendando: “Eu acho sim que o cachê da Bethânia é alto. Mas ela cobra quanto ela quiser.”

Não é bem assim, Bethânia não pode “cobrar o quanto quiser”, é dinheiro público que paga o cachê dela. E o cachê de Bethânia é imoral, e se não for irregular pelos critérios de avaliação do CNIC, a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, há algo de muito errado com os critérios do CNIC.

Se os realizadores do projeto desejam mesmo acabar com a polêmica, devem tentar uma abordagem honesta sobre o assunto, reconhecer os problemas do projeto, ao invés de tentar enganar a opinião pública com dados falsos ou meias verdades. Consultada pelo blog, a assessoria de imprensa de Maria Bethânia disse que não irá se pronunciar, ainda, sobre o valor do cachê no projeto.

Muita gente dizendo por aí que o problema não é a Bethânia, é a Lei Rouanet. Concordo em parte, a lei precisa urgentemente de reformas. Mas nesse caso específico, o problema não é a lei. É a ganância. E a cara de pau.

Fernando Marés de Souza

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Furtado deveria ler o projeto de Bethânia antes de criticar quem critica

Jorge Furtado pisou na bola ao defender um projeto que não leu e acusar de ignorante e mau caráter  uma crítica legítima à aprovação pelo CNIC de um projeto milionário de vlog de poesias de Maria Bethânia, reduzindo um fato preocupante da nova gestão do Minc e seu recém empossado CNIC, como mero “furor udenista que almeja manchetes moralizadoras”.

Sempre admirei o Furtado como roteirista e pensador da política pública para a cultura, e o celébre cineasta gaúcho já foi meu quase parente, num breve período quando namorei sua sobrinha, coincidentemente chamada Betânia, competente profissional do cinema por quem ainda nutro muito carinho e adimiração.

Mas Furtado erra feio desta vez. Poderia refutar seu artigo em diversos pontos, mas o Pablo Villaça, que vem fazendo a melhor cobertura sobre o Bethâniagate, já fez isso com propriedade no sexto de sete updates sobre o caso. Update: E Furtado respondeu com propriedade alguns deles.

Então faço apenas uma pergunta ao nobre colega Furtado: se eu fizer um projeto de vídeo orçado em 1,3 milhão, e dentro dele reservar um cachê de 600 mil para você, você assina o projeto para enviarmos ao Ministério da Cultura? Ou cachê super inflado só vale pra Maria Bethânia, que afinal é “uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos”?

Ninguém me demove da idéia de que o proponente levar como cachê quase metade da bolada prevista para um projeto cultural, que segundo o diretor Andrucha envolve “uma equipe que vai ter fotógrafo, produtor, maquiador, figurinista, equipamentos”, é imoral e não pode ser aceito como uma coisa normal. O antigo CNIC enxergava isso e havia reprovado o projeto. O novo CNIC aprovou.

O CNIC deve imediatamente rever o projeto do blog de Bethânia. E o Jorge Furtado também.

UPDATE: Furtado ainda não leu o projeto, mas leu as manchetes que relatam o cachê de R$ 600 mil e escreveu novo artigo sobre o caso onde diz: “Na hipótese de ser verdadeira a informação divulgada hoje de que o cachê da Bethânia para trabalhar no blog seria de quase metade do orçamento do projeto, me parece ter havido um erro de avaliação do Minc em aprová-lo nesses termos”

Fernando Marés de Souza

“Participei de um encontro em Gramado para discutir a lei. Foi interrompido por Norma Benguel, aos gritos, dizendo que não aceitava um teto na captação de recursos, que ela queria filmar “O Guarani” e precisava de muitos milhões, uma orquestra e veludo de verdade. Usava em defesa de sua tese um argumento irrespondível: “Eu sou Norma Benguel”. Está provado que era mesmo. A lei foi claramente feita de modo a permitir o uso que dela fazem, seguindo os princípios éticos revelados pela argumentação de Diogo Mainardi: “Se lhe oferecessem 800 000 mil reais, restituindo a metade por baixo do pano, você aceitaria? Aceitaria, claro”. Claro? Mas isso não é crime? Se não é, devia ser. E se devia ser e não é, a lei está errada. Tire estes 50% de “custo-cinema-Brasil” e o preço médio dos nossos filmes já se equipara aos da Espanha. ” – Jorge  Furtado, nao-til 64

01-Mar.-16-15.07

Maria Bethânia cobra R$ 600 mil pra declamar poesia no Youtube

Planilha de custos comprova que do total de 1,3 milhão de reais aprovados, 600 mil iriam para o bolso de Bethânia. Projeto de blog de poesias havia sido reprovado ano passado, mas agora foi aprovado pela nova gestão do CNIC, mesmo sem cortes no cachê da cantora.

O diretor Andrucha Waddington chamou de “patrulhamento idiota” as criticas ao projeto de vlog de poesia milionário que ele, a cantora Maria Bethânia, e Hermano Vianna pretendem realizar com recursos da Lei Rouanet.

Grande parte dos ataques podem mesmo ter partido de idiotas usando argumentos idiotas, mas há uma crítica contundente e fundamentada contra o projeto, além de uma acusação séria de ser um projeto irregular aprovado pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, que não podem ser ignoradas e confundidas com “trollagem” e “schadenfreude”.

Está em jogo a reputação de competência e lisura da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura – CNIC, empossada em janeiro pela Ministra da Cultura Ana de Hollanda, com mandato de dois anos, para o Biênio 2011/2012. Em fevereiro o Conselho aprovou centenas de projetos para captação de recursos oriundos de renúncia fiscal, dinheiro público, por isso o processo deve ser bem transparente.

O projeto de Bethânia, que havia sido reprovado ano passado e foi agora aprovado depois de cortes orçamentários, suscita perguntas ainda não respondidas. O MinC já publicou uma nota de esclarecimento que não esclarece nada. Ainda deve explicações.

Andrucha tenta explicar o alto custo: “É uma equipe que vai ter fotógrafo, produtor, maquiador, figurinista, equipamentos… Cada programa está custando R$ 3.562. São 365 programas.” Diz reportagem do blog de Bob Fernandes: “Ele afirma que não se trata apenas de ‘um blog’. Haverá postagens no YouTube e a divulgação do material, de junho de 2011 a junho de 2012.”

O diretor parece desconhecer o projeto. O escandaloso não é o gasto estimado com a produção dos vídeos, e sim que quase metade do orçamento previsto, R$ 600 mil, iriam para o bolso de Bethânia. É uma desproporcionalidade evidente que não é compatível com os valores de mercado e nem pode ser compatível com os critérios e limites de custos que regem a aprovação de projetos culturais.

O FATO:

Mônica Bergamo publicou na Folha que “Maria Bethânia poderá ter R$ 1,3 milhão para criar blog“, repercurtindo como uma bomba nas redes sociais, com muita desinformação entre detratores e defensores. O blogueiro, crítico de cinema, diretor e roteirista Pablo Villaça fez a melhor cobertura do caso, publicou o projeto original, teve acesso às modificações do projeto aprovado, e concluiu o óbvio que os pareceristas do MinC deveriam ter concluído: o valor de 600 mil reais para Maria Bethânia é inaceitável.

Relata Pablo: “Há várias modificações feitas em função do valor menor aprovado (cerca de 500 mil reais), mas o que mais me chamou a atenção é que o valor destinado à própria Maria Bethânia, inacreditáveis 600 mil reais, permaneceu inalterado. A justificativa apresentada no projeto que recebi:”Segundo resposta à diligência: De forma a readequar o orçamento, propomos novos valores para a remuneração da artista Maria Bethânia (antes designadas somente como direção artística total R$ 600.000,00), da seguinte forma: Direção artística: R$ 100.000,00; Seleção de textos e pesquisa: R$ 135.000,00; Atuação em vídeos (365 videos): R$ 365.000,00; (Total: R$ 600.000,00)”.

E o projeto, que segundo assessoria da cantora é para “divulgar a leitura, a poesia”, ainda falha não especificando qual valor vai destinar para os direitos autorais dos poetas declamados. O projeto é mal elaborado, superautoestimado e superfaturado. A relação custo/benefício do projeto no âmbito cultural precisa ser analisada com imparcialidade.

O que a moralidade pública recomenda é uma revisão imediata da aprovação do projeto, e o CNIC e Ministra Ana de Hollanda devem  explicar se de fato o alto valor aprovado para o cachê de Bethânia está dentro dos “critérios e limites de custos estabelecidos pelo Ministério da Cultura”, previsto na Instrução Normativa. Se o MinC insistir que está, são os critérios e limites que devem ser imediatamente revistos.

Bethânia já disse que não vai falar sobre o caso, direito dela, mas os membros da Comissão do MinC não podem simplesmente se calar. E já está mais do que na hora de se trazer a discussão de uma reforma pra valer da Lei Rouanet. Assim não dá mais.

Fernando Marés de Souza