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Porra, Mauricio – a bizarra história de um blog bizarro

Como contraponto à auto-entrevista irônica publicada com exclusividade no Interbarney, vou (ao menos tentar) escrever algo sério sobre o “Porra, Maurício”, até porque tem gente achando que aquela “auto-entrevista com graves indícios de insanidade” era para ser levada a sério.

Pra quem não conhece, o “Porra, Maurício” é um blog de humor criado por mim e desenvolvido pelo Pablo Peixoto, que brinca com a obra do cartunista Mauricio de Sousa e sua Turma da Mônica, de uma forma politicamente incorreta, e segundo muita gente: genial, sensacional, ou simplesmente engraçada.

Quando criei o blog – longínquos cinco dias atrás – nunca imaginei que ele se tornaria o maior fenômeno de todos os tempos da última semana num nicho específico de usuários de  redes sociais. Era para ser apenas uma brincadeira momentânea daquela manhã de terça, pra tirar um sarro na onda de indignação frente ao infame artigo do Dioclécio Luz no Observatório da Imprensa. Mal sabia que o bizarro “Tumblr” ganharia um status de “epic win”, e revolucionaria para sempre o humor na internet brasileira, castigado por um estilo ácido e crú, mas infelizmente sem graça.

Tá, menos. Vocês entenderam.

O fato é que a repercussão e a aceitação do blog foi muito maior, infinitamente maior, do que qualquer pessoa poderia prever. Muita gente gostou, deu risada e passou pra frente, numa progressão geométrica que envolveu rostos conhecidos e anônimos do universo dos quadrinhos, dos roteiros, das artes em geral, e da blogosfera brasileira.

Aos analistas de mídias sociais de plantão, é só seguir a trilha do “Porra, Mauricio” no pássaro azul, que começa com Arnaldo Branco (pra quem eu havia mostrado o blog privadamente) e percorre um longo mas rápido trajeto, passando por Alexandre Inagaki, Chico Barney, e diversos outros “Highly Influential Individuals“, incluindo os roteiristas da Turma da Mônica, Paulo Back e Emerson Abreu, até se transformar em meme definitivo, quando a própria filha do Mauricio, no dia seguinte, publica em seu Twitter a singela mensagem “Porra, pai“.

E apesar de eu não estar mais participando ativamente dos rumos do blog por absoluta falta de tempo – estou em plena pré-produção de um longa-metragem que começa a rodar em Abril, finalizando meu argumento pro Edital do MinC, finalizando uma seleção de roteiros originais pro Carlos Manga  – o também roteirista e parceiro de primeira hora (literalmente) do blog, Pablo Peixoto, assumiu de vez a editoria que vinha exercendo “de facto”, e parece que “a porra” veio pra ficar, ou pelo menos, que a piada ainda tem fôlego.

Gostaria de deixar claro – pois por incrível que pareça pessoas tem me congratulado pelo blog, jornalistas ligaram e mandaram e-mails pedindo informações, entrevistas – é que os louros pelo “Porra, Maurício” devem ser divididos entre três pessoas, e nenhuma delas sou eu. A primeira é o Pedro Leite, criador do “Porra” original, o “Porra, Felipe“, que junto com a referência do Superdickery, trazida posteriormente pelo Pablo, foi a principal fonte de inspiração para o estilo de humor do site. Outra, obviamente, é o Pablo Peixoto, roteirista de humor afiado, que pegou minha piada despretensiosa com poucas horas de vida (mas já considerada genial, sensacional, etc, por muita gente boa, inclusive ele, “I give me that”), e tocou o show dali pra frente, publicando compulsivamente e matando “meio twitter” de rir, inclusive eu. E “last but not least”, a mais importante de todas, o próprio Mauricio de Sousa, que junto com sua equipe criativa produziu nesses 50 anos de carreira um universo que faz parte do imaginário de várias gerações, e um manancial quase infinito de imagens para serem tiradas do contexto e impiedosamente sacaneadas.

Aproveito para elogiar o espírito esportivo apresentado pelo Mauricio, por sua filha Marina, e pelos roteiristas da Turma – Paulo Back e Emerson Abreu – diante da brincadeira politicamente incorreta. Acho que eu nem preciso frisar que a intenção sempre foi apenas fazer rir, sem desrespeito a obra ou aos autores. Pelo contrário, apesar da forma esquisita, tudo não passa de uma grande homenagem. Acredito que o cara que criou o Nico Demo não teve dificuldades de entender isso.

Vou também comentar um e-mail que recebi de uma colega roteirista, onde ela perguntava se eu, enquanto membro de entidades que lutam pelos direitos dos autores (AR e AC, no caso), não estaria dando mau exemplo desrespeitando o direito autoral do Mauricio de Sousa. Vale esclarecer que não há ofensa ao direito autoral no blog “Porra, Mauricio”, pois o uso das imagens se enquadram no Art. 46 da Lei 9.610, que limita o direito autoral no uso de passagens ou fragmentos para crítica, polêmica, comentário. É mais ou menos o que os americanos chamam de “fair use“, uso justo, corroborado por convenções internacionais de direito de autor.

Vale também esclarecer que diferente do que foi publicado no Vírgula-Uol, no Omelete, e em outros lugares, o Mauricio se pronunciou sim, tanto sobre o “Porra, Mauricio”, quanto sobre o artigo do Dioclécio Luz. Sobre o “Porra”, Mauricio disse que achou que “ficou curioso“. E mais importante, sobre o artigo do Observatório da Imprensa, Mauricio disse que Dioclécio “tem direito de expressar suas opiniões“, que o artigo é “exercício de liberdade de expressão“, e que também exerce essa liberdade, “escrevendo e desenhado livremente”.  É por essas e várias outras, que o Mauricio de Sousa é um sujeito realmente admirável.

Fernando Marés de Souza