Arquivo da categoria: John Truby

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Notas do Seminário de John Truby – parte 5/6

Em Setembro de 2009 participei do Seminário ‘22-Step Great Screenwriting‘, com John Truby, em Londres. Estou publicando aqui, em seis partes, as anotações que redigi durante as palestras. As quatro primeiras partes podem ser lidas aqui: Parte I, Parte II e Parte III e Parte IV.  Segue agora a quinta parte.

NOTAS DO SEMINÁRIO DE JOHN TRUBY – PARTE V

GÊNEROS

Gêneros são formas especificas de tramas.

Cada um tem 8 únicos ‘beats’ de estória e filosofias próprias sobre como viver uma boa vida.

HORROR

Pergunta chave: O que é humano e o que não é humano?
Desejo: Derrotar um monstro.

O Herói teme ver o que não é humano neles mesmos.

FANTASIA

Pergunta chave: Como viver com estilo e liberdade?
Desejo: Explorar um mundo imaginário.

Relacionado ao horror e a Ficção cientifica pois também é ficção especulativa.  A mais geométrica das formas da estoria, oposição entre local e personagem. A viagem ao mundo da fantasia deve solucionar a fraqueza e a necessidade do herói, quando ele volta ao seu mundo mundano ele o vê em uma nova luz.

SCI-FI

Pergunta chave: Como se cria um mundo melhor?
Desejo: Lidar com as ferramentas do mundo.

Filosofia social feita em forma de ficção.

A tecnologia é importante para o personagem, para a trama ou para ambos.

MITO

Pergunta Chave: Qual o seu destino?
Desejo: ir em uma jornada que por fim levará a si mesmo.

Quase sempre conectado a um ou dois ou mais gêneros, que ajudam a modernizar e unificar a estoria.

AÇÃO

Pergunta chave: Lutar ou fugir, a liberdade ou a vida?
Desejo: Entrar em combate.

Um homem deve fazer o quê um homem deve fazer.

AMOR

Pergunta chave: O quanto você pode amar?
Desejo: Se apaixonar.

Dois personagens principais. Apesar das diferenças e dos erros cometidos com o outro devem aprender a perdoar.

DETETIVE

Pergunta chave: Quem é culpado e quem é inocente?
Desejo: Descobri a verdade.

Um mundo da estória sinistro, corrupto e moralmente complexo.

CRIME

Pergunta chave: Quem é permitido viver acima da lei?
Crime: Pegar o criminoso.

Menos ênfase no aspecto de mistério do Detetive, e mais na batalha entre a Lei e o Crime.

THRILLER

Pergunta chave: Sua suspeita é justificada?
Desejo: Escapar do ataque.

Uma estória de crime onde um detetive (qualquer um) se transforma na vítima e fica em grande perigo.

COMÉDIA

Pergunta chave: Você mostra ou esconde seu verdadeiro “eu”?
Desejo: Ganhar amor ou sucesso com resultados cômicos.

Diversos sub-gêneros: Comédia de ação, buddy picture, comédia romântica, etc.

OBRA DE MESTRE

Não é um gênero propriamente dito, transcende o gênero e tem elementos narrativos avançados. Pergunta chave: Como viver sem ser escravizado em um sistema?

FIM DA PARTE V – LER TUDO, ou leia a Parte I , Parte  II , Parte III, Parte IV

Fernando Marés de Souza
Roteiro de Cinema, roteirodecinema.com.br

Foto por Fernando Marés de Souza

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Notas do Seminário de John Truby – parte 4/6

Em Setembro participei do Seminário ‘22-Step Great Screenwriting‘, com John Truby, em Londres. Estou publicando aqui, em seis partes, as anotações que redigi durante as palestras. As três primeiras partes podem ser lidas aqui: Parte I, Parte II e Parte III. Segue agora a quarta parte. 

NOTAS DO SEMINÁRIO DE JOHN TRUBY – PARTE IV

FORMAS DE ESTÓRIAS

A trama é uma série de eventos que criam uma linha em determinado formato.


LINEAR

A mais popular em Hollywood.  Narrativa simples e linear que segue um personagem até o final. O Herói intensamente atrás do desejo.

SINUOSA

Associada com Mito. Um herói encontra diversos oponente durante a narrativa, numa jornada de desejo não não intenso, que cobre um largo terreno. Ex: Odisséia,  Dom Quixote, Huckelberry Finn.

ESPIRAL

Bons para Thrillers, o Herói enfrenta camadas de oponentes, se aprofundando em um mesmo mundo. Ex: Um Corpo que Cai, Blow-Up, A Conversação, Amnésia.

RAMOS

Múltiplos protagonistas, cada um indo atrás do seu próprio desejo. Exploram mundos em seqüencia, comparam personagens de uma sociedade. Ex: Viagens de Gulliver, Traffic, Nashville

No original: STORY SHAPES: Linear, Meander, Spiral e Branching. Outras são: Biography Window, Round, Chinese Boxes

FIM DA PARTE IV – LER TUDO, ou leia a Parte I , Parte  II , Parte III

Fernando Marés de Souza
Roteiro de Cinema, roteirodecinema.com.br

Ilustrações retiradas do livro ‘The anatomy of story
Foto por Fernando Marés de Souza

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Notas do Seminário de John Truby – parte 3/6

Em Setembro participei do Seminário ‘22-Step Great Screenwriting‘, com John Truby, em Londres. Estou publicando aqui, em seis partes, as anotações que redigi durante as palestras. As duas primeiras partes – Parte I e Parte II – são relativas a Premissa e Criação de Personagens. As demais serão sobre trama, gênero e diálogo. Segue agora a terceira parte, onde revelam-se os já famosos mas esotéricos ’22-steps':

NOTAS DO SEMINÁRIO DE JOHN TRUBY – PARTE III

Criação de tramas é mais complexa habilidade de um escritor.

Cada roteiro é diferente, então a ordem dos 22 passos  pode ser diferente. Os ’22-steps’ são uma ferramenta para escrever seu material. Não é uma formula rígida. Começando pelo final, para poder ‘enquadrar’ a trama:

1 – AUTO REVELAÇÃO/DESEJO

O que o Herói aprende no final da estória.

O que o Herói sabe no começo da estória.

Sobre o que o Herói está errado no da estória.

2 – FANTASMA E MUNDO DA ESTÓRIA

O Fantasma assombra a vida do Herói, porém o Fantasma não é possível se a estória começa em um mundo paradisíaco.

O Mundo da Estória é o ambiente que cerca o Herói, personagens secundários, arredores físicos.

O Mundo da Estória é a expressão do que o Herói é.

O Mundo da Estória não é a vida real. Numa estória tudo é sobre o personagem e o Mundo da Estória deve serví-lo.

O Mundo da escravidão deve ser uma expressão física da grande fraqueza do Herói.

3 – FRAQUEZA/NECESSIDADE

A falha que o Herói deve superar.

Algo que está faltando e deve ser preenchido no final.

Se for uma necessidade moral, devemos ver ações imorais contra alguém.

4 – EVENTO INCITANTE

Evento externo que cataliza a personagem para uma meta. O Herói acha que consegui resolver um problema, mas cria outros.

5 – DESEJO

Linha de desejo. Simples, específica e contínua até o final da estória.

6 – ALIADO(S)

Consciência do herói. Alguém com quem o Herói pode conversar. Alguém para comparar com o Herói.

Considere dar ao Aliado um desejo próprio.

7 – OPONENTE

Aquele que quer impedir o Herói de atingir sua meta.

Deve-se saber: o porquê, e o quê o Oponente quer. Quais são os valores do Oponente e como eles diferem dos valores do Herói.

8 – ALIADO FALSO – OPONENTE

Oponente que age como Aliado e às vezes acaba desejando que o Herói tenha sucesso.

9 – PRIMEIRA REVELAÇÃO E DECISÃO

O Herói consegue novo pedaço de informação, ajusta a linha de desejo e dá razão para sua meta.

A mudança da linha de desejo deve ser uma “entordada” e não uma quebra. Deve intensificar o desejo.

10 – PLANO

Normalmente não funciona de primeira.

11 – PLANO DO OPONENTE

Quanto melhor o plano do Oponente for, melhor a qualidade da trama.

12 – ROTA

Série de ações que o Herói realiza para alcançar a meta, atrás de seu desejo. São ações imorais.

13 – ATAQUE PELO ALIADO

O Aliado questiona os métodos do Herói.

14 – DERROTA APARENTE

Momento explosivo onde o Herói parece vencido.

15 – SEGUNDA REVELAÇÃO E DECISÃO

Correção no desejo e motivo. Leva a Rota Obsessiva.

16 – REVELAÇÃO PARA O PÚBLICO

Nova informação para o público mas não para o Herói. Público descobre que Aliado trabalha para o Oponente.

17 – TERCEIRA REVELAÇÃO E DECISÃO

Nova correção no desejo e motivo.

18 – PORTÃO, CORREDOR POLONÊS E VISITA À MORTE

Proximidade do Herói com a morte.

19 – BATALHA

Convergência de todos os personagens, ações e espaços. “Insight” sobre o tema.

20 – AUTO-REVELAÇÃO

Repentina e estilhaçante rompante de emoção

21 – DECISÃO MORAL

O Herói se dá conta que tem agido errado e toma uma decisão que prova que ele mudou.

22 – NOVO EQUILÍBRIO

Nível maior ou menor. Numa obra-prima, é uma revelação temática.

Seja flexível, mas mude os passos por seu próprio risco.

A tradução é livre e de minha autoria.

Os conceitos originais podem ser lidos na Parte I.

FIM DA PARTE III – Leia a Parte I e a Parte  II

Fernando Marés de Souza
Roteiro de Cinema, roteirodecinema.com.br

Foto por Fernando Marés de Souza 

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Notas do Seminário de John Truby – parte 2/6

Dias 12 e 13 de Setembro participei do Seminário ‘22-Step Great Screenwriting‘, com John Truby, promovido pelo Raindance Film Festival em Londres. Estou publicando aqui as anotações que redigi durante as palestras, segue agora a segunda parte:

NOTAS DO SEMINÁRIO DE JOHN TRUBY – PARTE II

Decidindo a Premissa.

PREMISSA é a forma mais reduzida da estória, trama e personagem em uma só linha.

Temos que descobrir quem é o nosso personagem principal.

Sempre devemos aplicar o padrão de escrever estórias que podem mudar nossas vidas.

EXERCÍCIO DE AUTO-EXPLORAÇÃO:

Fazer uma lista de tudo que desejaria ver na tela.
Listar todas premissas que você já pensou e procurar por elementos em comum. Determinar qual o personagem mais interessante que você tem.
Determinar um conflito central, quem luta com quem sobre o quê.
Identificar a linha de causalidade.
Determinar a transformação do personagem.

No final, determinar a escolha moral do personagem. Uma estória é a expressão da visão moral de seu autor. A escolha do personagem deve ser entre dois positivos e dois negativos. Uma escolha entre um positivo e um negativo é uma falsa escolha.

Perguntar a si mesmo: Essa simples ‘storyline’ é original o suficiente para interessar os outros?

TEIA DE PERSONAGENS:

Como é a comparação entre os personagens de sua estória: fraquezas, psicologia, necessidades, necessidades morais, desejos, valores, poder, status ou habilidades, argumento moral.

Todo personagem de uma mesma estória  é a variação sobre um mesmo tema. Uma abordagem diferente sobre o problema moral central da estória.

Definir o Herói e focar nele. Determinar sua transformação, seu desenvolvimento. Sua transformação é um processo que deve começar na primeira cena, não deve ocorrer apenas no final.

O escopo da mudança: quanto menor a transformação, menor o interesse.

Sucesso pessoal, superação de doença ou vício, se tornar emotivo NÃO SÃO TRANSFORMAÇÃO. Questionar e mudar crenças básicas levando a novas ações morais é que é a verdadeira transformação.

Exemplos arquetípicos:

Animal para Humano
Criança para Adulto
Adulto para Líder
Líder para Tirano (mudança negativa)
Líder para Visionário

CONSTRUINDO A TRANSFORMAÇÃO:

Definir o quadro estrutural: Primeiro o fim, depois o começo.

Criar  a auto-revelação baseada na fraqueza/necessidade. Revelar uma falsa idéia de si mesmo.

Necessidade moral: de que maneira o herói está causando sofrimento a alguém no começo da estória.

Linha de desejo: Um único e específico desejo durante toda a trama.

ESTÁGIOS  SOCIAIS:

SELVAGEM – O herói é um super-herói ou deus. Pequenos grupos, nômades. Principal oponente é a natureza. Valores de vida ou morte.

VILA – O herói é um guerreiro. Grupos sedentários na vila cercada. Oponentes são estrangeiros, bárbaros. Valores Marciais. Diferença marcante entre o bem e o mal.

CIDADE – O herói é um homem comum. Muitas pessoas, diversas camadas sociais. Divisões étnicas, de dinheiro e de poder. O Herói deseja fazer parte de uma comunidade, deseja justiça, escapar da escravidão da burocracia. Valores de tolerância, decência, igualdade e cooperação.

CIDADE OPRESSIVA –  O herói é um anti-herói. A cidade cresceu tanto, com tantas camadas, tecnologias dominantes, que se tornou um lugar de escravidão total.

Depois da cidade opressiva, o caos leva a destruição, que leva ao primeiro estágio novamente.

Uma estória pode ser localizada entre dois estágios, quando o personagem tem de se adequar em seu tempo, antes que seja destruído.

OPONENTE:

Cada personagem deve ter seus fortes e suas falhas. O oponente deve atacar todas as falhas do herói. Deve ser humano.

FIM DA PARTE II – Ler a Parte I

Fernando Marés de Souza
Roteiro de Cinema, roteirodecinema.com.br

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Notas do Seminário de John Truby – parte 1/6

Dias 12 e 13 de Setembro participei do Seminário ‘22-Step Great Screenwriting‘, com John Truby, autor de ‘The Anatomy Of Story’, promovido pelo Raindance Film Festival na Universidade de Westminster em Londres. Publicarei aqui as anotações que redigi durante as palestras, sobre ALGUNS PONTOS CHAVES dos ensinamentos de Truby. Dividirei o artigo em seis partes. Segue agora a primeira:

NOTAS DO SEMINÁRIO DE JOHN TRUBY – PARTE I

Toda estória é uma seqüência de eventos que leva a transformação de um personagem. Uma transformação moral.

A diferença entre Psicologia e Moral de personagem, é que o aspecto Psicológico só afeta a personagem, enquanto o aspecto Moral afeta os outros personagens.

Não existe diferenças entre trama e personagem, um está intrinsecamente ligado ao outro. Trama são as ações do personagem e eventos que o afetam. Por outro lado, o personagem é definido pelas ações e revelado através da trama.

Truby afirma que toda estória compartilha uma estrutura clássica com 7 estágios em comum:

Fraqueza/Necessidade
                           Desejo
                                 Oponente
                                           Plano
                                               Batalha
                                                  Auto-revelação
                                                      Novo Equilíbrio

NECESSIDADE E DESEJO são duas coisas diferentes. Desejo é o que o personagem quer, e Necessidade é o que ele precisa, para ter uma vida melhor. Por exemplo: se um alcoólatra diz que “necessita” de uma bebida, ele na verdade “deseja” uma bebida. O que ele necessita mesmo é parar de beber. Em muitos casos o Herói não tem conhecimento de sua necessidade.

OPONENTE é a pessoa que está impedindo o personagem de alcançar sua meta. Em quase a totalidade dos casos, herói e oponente desejam a mesma meta, e a competição por ela gera o conflito. Mas para entender isso é preciso olhar atrás das aparências. Exemplo de conflito: Uma filha adolescente pede ao pai para sair com o namorado numa terça feira e o pai nega. Não é que o pai também deseje sair com o namorado da filha. O que eles disputam é o controle da vida da menina.

PLANO pode ser desde as detalhadas etapas para ladrões roubarem um banco, até a ida de uma dona de casa comprar frutas. Podem ser simples ou complexos, e na maioria das vezes, não funcionam de primeira.

BATALHA entre o Herói e o Oponente principal, pode parecer ação, mas a verdadeira ação é somente a resolução da batalha.

AUTO-REVELAÇÃO é o momento de descoberta do Herói sobre como suas ações tem afetado outras pessoas.

NOVO EQUILÍBRIO pode ser alto ou baixo, baseado na experiência narrada na estória vivida pelo personagem

Um versão expandida da estrutura clássica pode conter também estes elementos, os quais não estão sempre presentes em todas as estória:

FANTASMA: Evento do passado do personagem que ainda o assombra no presente. Oponente interno da Personagem.

MUNDO DA ESTÓRIA: Detalhes do ambiente e sociedade, regras, hierarquias onde se insere o personagem.

INCIDENTE INCITANTE: Evento externo que cataliza a personagem para uma meta.

TREINAMENTO: É o momento que o Herói adquire os conhecimentos necessários para derrotar o oponente. Pode também ser o momento ele reúne os aliados.

ROTA OBSESSIVA: Quando o Herói realiza seqüência de ações, muitas imorais, para conseguir sua meta

DERROTA APARENTE: Fundo do poço para o Herói, que o deixa mais obcecado.

PORTÃO, CORREDOR POLONÊS, VISITA À MORTE: Quando o Herói se dá conta de sua mortalidade, e age para dar um sentido a vida.

REVERSO DUPLO: Quando o Herói aprende com o Oponente e cresce. Muito comum em Estórias de Amor.

Existem 3 variações de narrativas clássicas: MITO, CONTO DE FADAS e DRAMA.

Estórias modernas são normalmente mistura de 2 ou 3 variações.

MITO é uma estória circular, e se caracteriza por ser uma Jornada externa onde o Herói combate vários oponentes em seqüência. A revelação não é só uma auto-revelação, mas sim uma revelação pública, com o herói descobrindo ser uma espécie de rei. Pode haver também revelações cósmicas, onde o Herói descobre como a sociedade deve agir para viver melhor no futuro. Ao final, o herói retorna para casa, profundamente transformado e descobrindo seu verdadeiro potencial. O destino é mais importante que as escolhas.

CONTO DE FADAS usa divisões simplistas entre o bem e o mal, maniqueísta. Linhas extremas de desejo que sempre terminam em absoluto sucesso. Os conflitos são familiares, com ênfase em relações pessoais, onde o mais novo é geralmente o Herói. Enfatiza um segredo que o personagem tem que descobrir para se libertar da escravidão, muitas vezes no sentido literal. Presença de um estranho bondoso que ajuda o herói. Soluções simples para problemas complexos, usa Deus Ex-machina. O destino é mais importante que as escolhas.

DRAMA é baseado na causalidade e escolha, não no destino. Personagens mais complexos. Quase nunca é uma jornada física e sim íntima. Os oponentes são íntimos. Leva a grandes decisões morais. As revelações são pessoais e não públicas. A solução final é baseada na escolha, e não no destino.

A tradução é livre e de minha autoria. Os conceitos originais são os seguintes:

FRAQUEZA/NECESSIDADE = Weakness/Need
DESEJO = Desire
OPONENTE = Opponent
PLANO = Plan
BATALHA = Battle
AUTO-REVELAÇÃO = Self-revelation
NOVO EQUILÍBRIO = New Equilibrium
FANTASMA = Ghost
MUNDO DA ESTÓRIA = Story World
INCIDENTE INCITANTE = Inciting Event
TREINAMENTO = Training
ROTA OBSESSIVA = Obsessive Drive
DERROTA APARENTE = Apparent Defeat
PORTÃO, CORREDOR POLONÊS, VISITA À MORTE = Gate, Gaunlet, Visit to Death
REVERSO DUPLO = Double Reversal

FIM DA PARTE I

Fernando Marés de Souza
Roteiro de Cinema, roteirodecinema.com.br

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John Truby recomenda: escrevam estórias que mudem vidas

Toda grande estória é a jornada de aprendizado moral de um personagem, diz o professor.

O roteirista, professor e consultor de roteiros John Truby tem uma abordagem moral sobre as estórias. Diz que toda grande estória é uma seqüência de eventos que leva a transformação de um personagem. Uma transformação moral. Há uma diferença clara entre mudança psicológica e mudança moral. O aspecto psicológico só afeta o personagem, enquanto o aspecto moral, afeta os outros personagens da estória também.

Seguindo o exemplo de Joseph Campbell, Truby desenvolveu seu próprio “monomito”, baseado na narrativa cinematográfica contemporânea, e não na mitologia antiga. Ele chama esta fórmula de 22  passos para um grande roteiro, e essa é sua marca registrada. Literalmente. São 22 dois blocos de eventos que não são rígidos e podem ser moldados dependendo da combinação de gêneros, e principalmente, do que a estória pede.

Muitos colegas roteiristas são avessos a qualquer coisa que pareça dizer que há fórmulas para contar estórias. Mas nenhum pode negar que elas existem. Sistemas, Formas, Fórmulas, Fundamentos, Métodos, os nomes podem variar. Muitos acham que estes sistemas empobrecem a escrita, limitam a criatividade. Nunca entendi esta aversão ao estudo de padrões de narrativa. Em todas as artes, a técnica envolve padrões e conhecimentos sistematizados. Apenas uma pessoa ignorante não desejaria ao menos conhecer a tese de uma pessoa que estuda a arte e a técnica do ofício que ela exerce.

Os estudos de Truby valem a pena conhecer e refletir. Ele sistematiza conceitos, padrões, formas narrativas e gêneros, apresentando suas características, forças e fraquezas, e mostra que quando misturados, geram obras primas. Coloca ênfase na mudança e aprendizado do personagem dentro do arco da estória. Diz que não é preciso usar o método dele para escrever, mas deve-se usar  sempre um método, e que seja no mínimo, tão detalhado como o dele. Criar redigindo páginas de roteiro é a marca de um amador. Um profissional esmiuça sua estória por meses em diversos tipos de documentos. Truby criou um software para isso, o Blockbuster, que ele usa para  ilustrar seu método.

Em breve o Roteiro de Cinema publicará uma série de artigos detalhando os ensinamentos de John Truby.

Porém, adianto que o principal ensinamento de Truby é que sempre tentemos escrever a estória que pode mudar nossa própria vida. Se o roteiro não conseguir chegar as telas, pelo menos valeu para algo.

De Londres
Fernando Marés de Souza
Roteiro de Cinema, roteirodecinema.com.br

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John Truby adverte: o paradigma em três atos irá matar o seu roteiro.

Roteirista e Professor de roteiro coloca em xeque a fórmula mais difundida da dramaturgia audiovisual.

Sem sombra de dúvida, a mais popular teoria de roteiro para cinema de todos os tempos é o paradigma em três atos de Syd Field.

Segundo Field, a estrutura de roteiros bem sucedidos teria invariavelmente a forma: 

Ato I Apresentação– Ponto de Virada 1 – Ato II  Confrontação– Ponto de Virada Dois – Ato III Resoluão

Desde a publicação do primeiro livro de Field em 1979, muitos autores, roteiristas e professores assimilaram e difundiram este paradigma.

Alguns outros, como Robert Mckee, apenas o ignoraram e continuaram a mostrar que estruturas de roteiros podem ter 3, 4, 5, ou até 8 atos, não dando muita bola para o assunto.

Porém, muitos poucos se deram ao trabalho de tentar combater a teoria, de mostrar suas falhas e incongruências. Destes poucos, John Truby é a voz mais ativa e influente.

Segundo Truby, a estrutura em três atos é o maior e mais destrutivo mito difundido entre roteiristas. Não  poderíamos nem dizer que ela está obsoleta, pois isso implicaria em dizer que um dia ela teria funcionado. Para Truby, ela sempre foi um engodo.

O paradigma só existiria porque Syd Field, um analista de roteiro, o inventou quando notou que coisas importantes aconteciam perto das páginas 27 e 87. Field chamou essas coisas de “pontos de virada.” e afirmou que baseado nisso, todo roteiro tinha três atos, e incrivelmente, muitos acreditaram. Truby contabiliza em mais de cem títulos, os livros que se seguiram difundido essa idéia.

Alguns teriam ido além e dito que toda forma de ficção se utiliza de três atos, e que foi Aristóteles quem originalmente desenvolveu essa teoria. Truby argumenta que Aristóteles nunca disse nada sobre três atos, apenas disse que toda estória deve ter começo, meio e fim, o que é completamente diferente.

Mas afinal, o que seriam os Atos? O conceito vem do teatro, quando as cortinas se abrem e se fecham. Como isso se aplicaria ao cinema, um meio muito mais fluído? 

Os termos padrões dessa estrutura – atos, pontos de virada reversão, clímax, resolução – são tão genéricos que nada significariam. E isso quer dizer que eles são difíceis de aplicar em uma determinada trama ou personagem. Truby exemplifica: Digamos que seu personagem está sendo perseguido pelos bandidos num beco escuro. Isso é um ponto de virada, uma reversão, o clímax, ou apenas mais uma cena? Os conceitos são as ferramentas do roteirista e se elas forem imprecisas, o roteirista fica na mão.

A Estrutura em três atos também seria falha por não enfatizar a construção do personagem. Nenhum de seus conceitos padrões é tem qualquer relação com personagem. Isso resultaria em roteiros com personagens rasos. 

Para Truby, estruturar o roteiro pelo paradigma de três atos de Field, invariavelmente  gera roteiros com tramas fracas, pois este  prega que um roteiro precisa de apenas dois ou três pontos de virada. No cinema atual, que usa história com  tramas super amarradas, roteiros tem usado até 12 viradas da estória. O paradigma de três atos geraria roteiros  que falham no meio, pois o paradigma não diz o que deve conter ali.

Por último, diz Truby, a estrutura em três atos não funcionaria simplesmente porque é arbitrária. Se você mostrar um roteiro para dez pessoas diferentes, e perguntar onde estão as divisões dos atos e e os pontos de virada, ouvirá dez respostas diferentes. E todas estarão corretas. Divisões de atos estão onde você disser que estão. Então, por que não dizer que todos os roteiros são divididos em quatro atos, ou cinco, ou seis. O veterano Preston Sturges, dividia seus roteiros em oito atos.

Para Truby, roteiros profissionais não envolvem estruturas simplistas em três atos. Roteiristas que se guiam  pelo paradigma de Field, criam roteiros ruins e falhos. Ao invés da forma “tamanho universal” do paradigma em três atos, deve-se procurar uma forma que sirva à sua estória, e ao  gênero em que ela se insere.
 
Roteiristas profissionais necessitam de ferramentas e conceitos mais úteis e precisos para encarar a página em branco. Amanhã, no auditório da Universidade de Westminster, John Truby começa a ensinar as dele.

De Londres
Fernando Marés de Souza
Roteiro de Cinema, roteirodecinema.com.br

Para ir além:
Leia o Artigo em inglês: Why 3 Act Will Kill Your Writing

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Roteiro de Cinema no Curso de John Truby em Londres

Fernando Marés de Souza, Roteirista e Editor do site e do blog Roteiro de Cinema, estará na capital inglesa para atividades do Raindance Film Festival.

Neste final de semana – dias 12 e 13 de Setembro – será realizado em Londres o Curso ‘22-Step Great Screenwriting‘, com John Truby, autor de ‘The Anatomy Of Story’, que será promovido pelo Raindance Film Festival na Universidade de Westminster.

Truby pode ser descrito como o arqui-inimigo de Syd Field, pois combate a teoria do paradigma estrutural em três atos, e claro, propõe seu próprio modelo de estrutura, os tais 22 passos.

Menos erudito que Robert Mckee, suas teses são mais voltadas ao resultado comercial. Pelo que conheço do ministrante, não se deve esperar nada de profundo, mas bons insights e análises sobre modelos estruturais de roteiros clássicos de filmes americanos.

Homem-empresa, Truby também é autor de um software de criação, ‘Blockbuster’, e comercializa seus produtos e idéias em seu site truby.com.

O Roteiro de Cinema irá acompanhar de perto e trará em breve a cobertura completa do evento.

Em tempo: Findada as atividades, vou tirar merecidas férias de duas semanas por solo europeu. Enquanto isso, a atualização do Blog e do Twitter devem ficar mais raras. Aproveitem para respirar um pouco de ar puro lá fora.

Fernando Marés de Souza
Roteiro de Cinema, roteirodecinema.com.br