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Nova posição da AR sobre a Classificação Indicativa é ilegítima

http://i2.squidoocdn.com/resize/squidoo_images/-1/lens1926335_1231675034obey-giant.jpg Presidente da Associação dos Roteiristas, o autor da Record Marcílio Moraes, não permite o debate interno sobre o tema e transforma sua visão desinformada e contraditória em posição oficial da entidade.

Está no AR a novela da Posição Oficial da Associação dos Roteiristas sobre a Classificação Indicativa, que  passou do “somos A FAVOR da Classificação Indicativa, sabemos que é um direito do cidadão garantido na Constituição e concordamos que ela deve ser resultado de um debate permanente”, assinado por mais de uma centena de nomes e sustentada há quatro anos, para “somos CONTRA a classificação indicativa, acreditamos que ela é inconstitucional e nos recusamos a debatê-la” assinado apenas pela “Diretoria da AR” e sustentada há quatro dias.

A decisão de transformar a Associação dos Roteiristas na única entidade da sociedade organizada brasileira que se diz “contra a classificação indicativa”, não foi tomada baseada na opinião e vontade dos roteiristas brasileiros e dos membros da AR, apenas na interpretação da questão por um pequeno grupo de autores de novela da Globo e da Record. Marcílio Moraes, Walcyr Carrasco, Tiago Santiago e outros membros da Diretoria da AR, que de forma arbitrária, apresentam suas opiniões desinformadas, contraditórias e equivocadas como a posição oficial da entidade que comandam, sem legitimidade para tal, pois não tem respaldo dos membros da AR, e ferem decisão anterior do colegiado.

A decisão da Diretoria de publicar nova posição oficial sobre o assunto foi feita de forma apressada no dia 08/12/2010, no intuito de tentar esconder os equívocos e contradições das declarações de Marcílio Moraes e Walcyr Carrasco na imprensa, revelados por este blog. Na tentativa de confundir a opinião pública, censuram documento contra a censura que eles mesmos assinaram, criam outras contradições e expressam mais inverdades.

Diz a “nova posição pública da AR sobre a Classificação Indicativa” que “as posições proclamadas em manifesto pela AR, em 2007, contra a assinatura da Portaria que instituiu o chamado “Manual da Nova Classificação Indicativa” pelo Ministério da Justiça, não têm mais validade, já pelo fato da portaria ter sido assinada e estar em vigor (…). O manifesto continuou publicado no site da Associação apenas como referência histórica.”

E agora o documento não se encontra mais publicado no site nem como referência histórica. Pois então vou contextualizar o documento historicamente nas palavras do Presidente Marcílio Moraes, quando outro associado – não eu – questionou declarações de Marcílio para a imprensa no final de Julho deste ano:

Diz Marcílio Moraes para os membros da AR em 27/07/2010 sobre o Manifesto de 2007: “Lembrei a posição oficial da AR, corporificada neste manifesto, por causa da tua insinuação de que eu estaria “usando o nome da entidade para lastrear minhas posições e idéias”. (…)  Quanto à posição da AR, está sempre em aberto. Eu dei aquela declaração ao jornal, postei aqui na lista, e algumas pessoas, você entre elas, acharam por bem rediscutir. Nenhum problema. Mas para mudar a posição da entidade, só com votação.”

Dois dias depois, dia 29/07/2010, relatei as propostas de alguns colegas somadas com as minhas e coloquei para apreciação dos membros da AR. Era uma proposta de encaminhamento para uma nova posição oficial da AR sobre a classificação indicativa, que visasse um texto de consenso, que representasse a visão da maioria dos associados sobre o tema, e que foi apoiada por mais de uma dezena de membros – incluindo outros diretores – quando interferiu o Presidente:

Diz Marcílio para os membros da AR em 29/07/2010: “Amigos da AR, Vocês vão me desculpar, mas não há nada em votação. A proposta do Fernando, que é interessante, deve ser levada à assembléia. A AR já tem uma posição firmada sobre a Classificação Indicativa Obrigatória, difundida no seu site e por seus associados há anos. Não pode ser mudada assim, de sopetão, só porque o Sr. Secretário de Justiça resolveu telefonar para mim para dizer que não gostou do que eu disse à Folha de São Paulo. (…) Conforme for, se a gente detectar que existe real abertura para modificações, aí discutimos o assunto na assembléia e elaboramos uma proposta concreta. Nesse momento,  a sugestão do Fernando será de grande valia. Abraços. Marcilio

Na mesma data, 29/07/2010, Marcílio é citado na imprensa dizendo que “Sempre fomos contra a classificação indicativa“. No mesmo dia em que o Presidente diz para os membros da AR que “A AR já tem uma posição firmada sobre a Classificação Indicativa Obrigatória, difundida no seu site e por seus associados há anos“, posição claramente “a favor da classificação indicativa”, diz na imprensa, como Presidente da AR, que “nós sempre fomos contra a classificação indicativa.” demonstrando que ele nunca respeitou a Posição Oficial da AR firmada por seus colegas, assinada até por ele mesmo, Marcílio, e por Walcyr Carrasco e Tiago Santiago.

Duas semanas depois, enquanto os “poucos e mais expressivos” novelistas convocados não atendiam o telefone para marcar a tal reunião com o Secretário, o próprio dá mostra de que há “abertura para modificações” na Classificação Indicativa, dizendo ao Daniel Castro que “Governo admite alterar regras da classificação indicativa.”

Na qualidade de Diretor Regional da AR, coloquei novamente na mesa a proposta – originalmente de Romeu Di Sessa – de se “criar uma comissão voluntária, ou grupo, para debater o assunto em lista separada e elaborar um documento de consenso para apreciação do colegiado”. A resposta do Presidente foi “A diretoria se reuniu semana passada e considerou que a Classificação Indicativa não é uma questão oportuna para a gente discutir no momento”.

Tiago Santiago volta a citar o documento que naquela data – segundo sustenta o Marcílio hoje – já estava supostamente “expirado”, pra defender a decisão de não debater internamente a questão: “Concordo com o Marcílio que conversar com esse pessoal do MJ acaba por legitimar o atual trabalho deles. Como resposta ao Secretário, sou a favor de que a AR divulgue à Imprensa imediatamente o manifesto que está no site, contra a censura, contra a vinculação de horário, contra o cabresto que representa o Manual de CI, pura censura, sob pretexto de Classificação Indicativa”.

Walcyr Carrasco também concorda: “Eu também acho que continuar com essa discussão é inútil. As posições estão configuradas. A AR tem um posicionamento claro enquanto associação. Essa posição deve ser respeitada por todos os membros. (…) No caso dessa posição ser revista, isso deve ser feito dentro dos critérios da AR, com debate amplo em assembléias e votação, quorum e tudo mais.”

Passei cinco meses tentando criar uma comissão oficial da AR para debater internamente e mudar a posição oficial da entidade sobre a Classificação Indicativa, para que fosse um texto de consenso ainda maior do que o Manifesto de 2007, documento ao qual tenho críticas fundamentadas. Desejava mudar a posição da Associação dos Roteiristas para ela fosse inclusiva da maioria de nós autores-roteiristas do audiovisual, e numa canetada, durante a noite, Marcílio Moraes muda a posição oficial da entidade para uma visão que representa apenas a opinião dele e de alguns poucos mais expressivos autores e novela.

E afinal, algum roteirista brasileiro, ou membro da AR, concorda com a nova posição da AR? Quem aí, além de Marcílio, Walcyr e Tiago Santiago, é “contra a classificação indicativa”?

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Globo não admite beijo gay e autores de novela se calam

Beijo entre dois homens deveria ter ido ao ar ontem à noite na Globo, mas foi vetado pela Direção da emissora. Diretoria da Associação dos Roteiristas se cala sobre o assunto polêmico.

Dois dias depois de Walcyr Carrasco – autor da Globo e Vice-Presidente da Associação dos Roteiristas ser flagrado passando informações falsas sobre a Classificação Indicativa e o beijo day, série de João Falcão, Clandestinos, tenta levar ao ar um beijo entre dois homens, mas cena é cortada toscamente pela Globo para não mostrar o beijo.

A Direção da Globo já havia vetado um beijo gay gravado para América, de Glória Perez. Uma cena em que Bruno Garcia e Guilherme Weber se beijam na série “Queridos Amigos”, escrita por Maria Adelaide Amaral e Letícia Mey, foi ao ar em 2008.

O Ministério da Justiça já esclareceu há muito tempo que um beijo gay é irrelevante para a Classificação Indicativa,e diz que “comemoraria um beijo gay” em novelas.

As perguntas que ficam são a seguintes:

Por qual razão o Vice-Presidente da AR Walcyr Carrasco não admite que estava errado e corrige a informação equivocada que passou para seus seguidores no Twitter e para os leitores do Daniel Castro. E por qual razão a Diretoria da Associação dos Roteiristas, presidida pelo roteirista da Record, Marcílio Moraes, não comenta as declarações de seu vice presidente, e por que não critica as Emissoras de TV pela atitude de proibir certos conteúdos baseado em regras ultrapassadas, obscuras e secretas?

Marcílio já deu uma dica no blog do Daniel Castro meses atrás, quando anunciava – em nome dos autores – sua decisão pessoal e arbitrária de não debater a Classificação Indicativa:

“Não tem sentido nós, autores e roteiristas, negociarmos com o governo a classificação indicativa. Em primeiro lugar, porque não aceitamos, por princípio, que outras pessoas, das empresas ou do governo, saibam melhor do que nós o que é apropriado para o nosso público. Em segundo lugar, porque não somos nós os concessionários do Estado e, sim, as emissoras e os produtores. Deles, eventualmente, somos obrigados a aceitar interferências por força dos contratos”, informou ao blog o presidente da AR, Marcílio Moraes, autor de Ribeirão do Tempo.”

Anteontem, a Diretoria da Associação do Roteiristas censurou documento contra a censura, que mostra contradição na posição pública da AR sobre a Classificação Indicativa.

CENA COMPLETA INCLUINDO BEIJO CORTADO PELA GLOBO

CENA QUE FOI AO AR ONTEM NA GLOBO

UPDATE: NOTA OFICIAL DA GLOBO SOBRE O EPISÓDIO

Daniel Castro publicou a nota:

“O episódio exibido ontem em Clandestinos tinha como fio condutor a amizade entre Fábio (Fábio Enriquez) e Hugo (Hugo Leão). Para contar esta história, a Globo utilizou os recursos artísticos que achou mais adequados, incluindo a edição da cena que representou o reencontro dos dois”, diz a nota

VIDEO ORIGINAL NO VIMEO QUE CAIU

“Sorry, “Beijo Censurado de Clandestinos” was deleted at 9:57:40 Fri Dec 10, 2010. We have no more information about it on our mainframe or elsewhere.”

Usuário que postou também se encontra deletado. O video me foi enviado pelo Twitter por um fake.

Estranho.

Fontes: CENA G, MIX BRASIL, Maria Quitéria

COMENTÁRIOS NO TWITTER SOBRE BEIJO GAY

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Autores de novela censuram documento contra a censura

Marcílio Moraes, Walcyr Carrasco e Tiago Santiago tentam esconder contradição no discurso público da Associação dos Roteiristas sobre a Classificação Indicativa.

Um documento público assinado por dezenas de membros da Associação dos Roteiristas, incluindo o Presidente Marcílio Moraes, o atual Vice-Presidente Walcyr Carrasco, o atual Secretário do Audiovisual Newton Cannito, os diretores Tiago Santiago, Fernando Rebello, Denise Fontoura, entre outros, diz expressamente que a Associação dos Roteiristas “é a favor da classificação indicativa”.

Há meses tenho citado e linkado o documento dentro da Lista da Associação dos Roteiristas e desde que me desliguei da AR, ele foi bastante citado aqui neste blog.

Pois bem, na semana em que o mundo vira seus olhos pro WikiLeaks, num dia histórico em que hackers derrubam os principais servidores dos cartões de crédito em nome da liberdade de informação, a Diretoria da Associação dos Roteiristas tira do ar o documento oficial que comprova a contradição das declarações do Presidente da AR Marcílio Moraes e seu vice Walcyr Carrasco na imprensa e nas redes sociais sobre a Classificação Indicativa.

Documento censurado?A página original do documento foi tirada do ar pela Diretoria da AR.

Tenho sustentado há meses que as afirmações de Marcílio Moraes na imprensa, quando diz que “somos contra a classificação indicativa” é contraditória com o documento que ele assina e indica como posição oficial da AR, onde se lê que “somos a favor da classificação indicativa”. E quando a verdade começa a virar fato público e notório por causa de minha insistência e da atual exposição que seu vice Walcyr Carrasco trouxe ao falar besteiras em seu Twitter sobre a Classificação e o beijo gay, a Diretoria da AR decide que tirar do ar o documento assinado por eles e por mais uma centena de outras pessoas resolve a contradição.

Nós quem, cara pálida?

Ao invés de “admitirem” que se equivocaram ao dizer que a AR é “contra a classificação indicativa”, esclarecerem a posição da entidade perante a opinião pública, o grupo de “poucos mais expressivos autores de novela” do Presidente Marcílio de Moraes,  composto por Walcyr Carrasco, Tiago Santiago entre outros, acha mais inteligente tirar do ar o documento que eles outrora assinaram. Meus colegas censuram o documento onde dizem que  “lutam pela liberdade de expressão” e “repudiam a censura”.

Moraes reafirma sua posição contrária, sempre fomos contra a classificação.  NaTelinha.

Antes que alguém diga que a  página deletada pode ser apenas um problema técnico, acredito muito que não é o caso. A chamada do documento na página inicial do site da entidade foi removido, assim como uma caricatura de Ique que ilustrava essa chamada.

http://www.artv.art.br/informateca/escritos/atualidades/janeiro/manifesto.htm

Felizmente o mundo da informação livre digital hoje impede que medidas obscurantistas como a da Diretoria da AR impeça a livre circulação de informação. O texto do documento e suas 121 assinaturas – Incluindo Walcyr, Tiago, Marcilio – podem ser lidos no site abaixoassinado.org. A página original derrubada do site da AR ainda pode ser conferida no cache do google

UPDATE: A Diretoria da AR acaba de publicar outro documento sobre a Classificação Indicativa, datado de 08/12/2010 – apesar de só ter sido publicado dia 09 – onde arbitrariamente passa por cima da decisão do colegiado e emite uma nova Posição Oficial da AR sem respaldo do colegiado. Ninguém assina o novo documento, apenas um genérico Diretoria da AR.

CONTRA OU A FAVOR DA CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA

Que fique claro para todos que a Associação dos Roteiristas nunca foi contra a Classificação Indicativa. A AR é somente contra a vinculação de horário em televisão aberta. A maioria dos roteiristas, assim como a maioria dos cidadãos brasileiros é a favor da Classificação Indicativa, e por isso ela é direito assegurado na Constituição. A maioria dos roteiristas brasileiros reconhece o direito fundamental de toda criança, expresso em Convenção Internacional, de ser protegida contra conteúdos que possam afetar seu bem estar. A maioria dos Roteiristas Brasileiros, que também são cidadãos, com suas famílias, filhos, netos, sobrinhos, afilhados, e cuidam e prestam atenção no que eles assistem, usam informação da Classificação Indicativa e dependem dela para exercer seu pátrio poder com liberdade de escolha.

http://roteirodecinema.com.br/wp/wp-content/uploads/2010/12/Banksy__Mill_Rd__Cambridge_by_Roamerick_peq.jpgSer contra a “associação entre classificação indicativa e horário obrigatório de exibição de programa” é uma posição legítima da AR.

Ser “contra a Classificação Indicativa”, achar que ela não deve “existir” pode ser uma posição legítima do Walcyr Carrasco como roteirista e cidadão, mas Walcyr não pode falar em nome dos roteiristas ou da entidade que representa. A AR é a favor da Classificação Indicativa, ao menos até que o colegiado da AR se pronuncie de maneira diferente.

Parte dos autores de novela são contra a “vinculação de horário”, direito legítimo deles, mas em nome de um suposto direito de liberdade de criação de todos os roteiristas, brigam pelos direitos privados de sua Emissora de TV aberta, para que não tenham mais que dedicar a parte do dia para programas “Livres para Todos os Públicos” ou “10 Anos”, ou seja, para que na maior parte do dia a TV Aberta – que é uma concessão pública – possa ser usufruída por todos os cidadãos, incluindo as crianças, os adolescentes, os velhos, os deficientes mentais, e outros indivíduos mais suscetíveis à imagens de violência, sexo e drogas.

BEIJO GAY E CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA

O vice-presidente da (AR) Associação dos Roteiristas,  autor-roteirista Walcyr Carrasco encontra-se inibido por conta da Classificação Indicativa. Disse ao Daniel Castro que “A Classificação Indicativa inibe o beijo gay“.

Quando afirmei que a informação que ele havia publicado em seu Twitter: “a Classificação Indicativa não admite algumas coisas. Inclusive o beijo gay” não era verdadeira, respondeu que eu não havia entendido direito o que ele quis dizer, ele quis dizer que “a existência de uma classificação indicativa restringe a criatividade do autor, que não sente-se à vontade para debater temas polêmicos, como o beijo gay”. Diz que foi um mal entendido, talvez tenham sido as limitações criativas dos 140 caracteres máximos do Twitter.

O que deveria ser claro para todos, é que uma cena de beijo gay é completamente “admitida” pela classificação indicativa, não muda a faixa etária indicada da obra, não muda o que diz na capa do encarte ou no começo do programa, não muda a idade mínima que uma criança ou adolescente desacompanhada ou sem autorização formal pode entrar no cinema, não muda a faixa de horário de exibição na TV aberta.

A grande questão é que o Walcyr Carrasco não admite algumas coisas.

 
Não há nada nos atuais critérios escritos, públicos e expressos da Classificação Indicativa que impeça Walcyr Carrasco de criar uma cena de beijo gay, dela ser realizada e radiofundida por sua emissora. Em qualquer horário. Uma cena de beijo gay não seria novidade nenhuma para a televisão aberta brasileira, já rolou aos montes. O que não se vê é beijo gay nas novelas . E por qual razão não vemos beijo gay nas novelas? Segundo o Walcyr Carrasco, por causa da “existência de uma classificação indicativa  [que] restringe a criatividade do autor, que não sente-se à vontade para debater temas polêmicos, como o beijo gay”.

As normas e critérios que impedem uma cena de beijo gay ir ao ar em uma novela do Walcyr Carrasco não são os critérios escritos e públicos da Classificação Indicativa, são critérios obscuros e privados das direções das Emissoras de TV. Mas são também os critérios obscuros e privados do próprio autor, e de suas íntimas inibições.

Eu nunca me senti, como autor, inibido pela Classificação Indicativa. Já escrevi uma cena de beijo gay, meu diretor já filmou, e ela está sendo exibida hoje no Festival Internacional de Televisão. A Globo nunca exibiu um beijo gay em conteúdo próprio, mas talvez amanhã possa exibir. Literalmente amanhã.

Segundo informa o CENA G, O primeiro beijo gay da TV Globo pode ir ao ar na noite desta quinta (9) na série Clandestinos. O capítulo com o beijo gay foi gravado e vai ao ar se a Globo não vetar como o fez na novela América. A cena mostrará Hugo (Hugo Leão), em seu teste e Fábio (Fábio Enriquez), vai dar o beijo nele durante a cena. O diretor da atração, João Falcão, disse que o beijo levantará dúvidas sobre o que aconteceu com os dois rapazes, amigos de infância, durante a adolescência. Será que a Globo vai liberar?”

Espero que libere. Veremos amanhã. 

DEBATER TEMAS POLÊMICOS

Walcyr “não sente-se à vontade para debater temas polêmicos” por lhe faltar informação e não estar seguro de suas posições, nem das posições da entidade que representa. Não entende que “Classificação Indicativa” é algo muito maior que o horário de sua novela. Confunde Classificação Indicativa e vinculação de horário, e confunde também seus direitos individuais de expressão com os direitos corporativos de radiodifusão de sua Emissora. Confunde “controle” com “censura”, “informação” com “escravidão”. E no caminho confunde quem ler suas declarações públicas.

Publicando besteiras sobre a classificação indicativa para seus seguidores no Twitter e para a imprensa, Walcyr Carrasco, na qualidade de Vice-Presidente da Associação dos Roteiristas, demonstra a dificuldade do grupo que comanda a AR há 8 anos, presidido por Marcílio Moraes, de conseguir falar em nome dos roteiristas neste e em outros temas, por falta de informação e aprofundamento nos debates.

Walcyr Carrasco é a sexta assinatura no documento indicado pelo Presidente e acordado por todos os membros como posição oficial da AR sobre a Classificação Indicativa, que diz claramente que “somos a favor da Classificação Indicativa e sabemos que é direito do cidadão”. Mesmo assim Walcyr diz para todos, como Vice-Presidente da AR, que nós roteiristas “somos contra a Classificação Indicativa”, pois achamos que ela é “censura e escravidão” que “inibe o beijo gay”.

A existência de uma classificação indicativa restringe a criatividade do Walcyr, que não sente-se à vontade para debater temas polêmicos. Como a Classificação Indicativa existe – é escrita, pública, e qualquer um pode ver pra crer, ela restringe a criatividade de Walcyr, que não pode inventar que a Classificação não admite beijo gay por exemplo – por isso ele não se sente à vontade para debater o tema polêmico. Para Walcyr, a única solução para a questão da Classificação Indicativa, seria ela deixar de existir, assim  não precisamos vencer nossas inibições para debater temas polêmicos.

O problema é que para o bem ou para o mal a Classificação Indicativa existe, e o debate sobre o tema também. Porém, Walcyr apóia o ato institucional do Presidente Marcílio, que proíbe os roteiristas da AR de debater o tema da Classificação Indicativa, e retira a AR dos debates públicos com a sociedade organizada, com o Ministério da Justiça como relator de uma nova portaria unificada que vai entrar em vigor para substituir as quatro antigas.

A AR é contra o atual modelo de classificação indicativa, eu sou contra o atual modelo vigente, todo mundo deseja mudanças na classificação indicativa, por isso ela vai mudar. Então, se a AR se recusa a debater o tema, quem fala por nós roteiristas? Quem representa a visão e os interesses da nossa classe de roteiristas perante as esferas de negociação de uma questão que envolve direitos e interesses de toda a sociedade?


AS EMISSORAS DE TV


Marcílio Moraes, Presidente da AR, declarou ao Daniel Castro:

“Não tem sentido nós, autores e roteiristas, negociarmos com o governo a classificação indicativa. (…) não somos nós os concessionários do Estado e, sim, as emissoras e os produtores. Deles, eventualmente, somos obrigados a aceitar interferências por força dos contratos. (…) Se alguém deve negociar com o governo, devem ser eles [diretores de emissoras e produtores]. Nós preservamos a nossa liberdade de consciência, não vamos barganhar as limitações ao nosso próprio trabalho, o que  equivaleria a legitimar a interferência”, conclui o autor, que tem o respaldo de colegas como Silvio de Abreu e Walcyr Carrasco, da Globo.” – Daniel Castro, 25/09/2010

Concluímos o seguinte. Para o Presidente Marcilio Moraes e seu vice Walcyr Carrasco, nas negociações sobre normas e critérios públicos da Classificação Indicativa, cuja existência provoca inibições ao ponto deles não se sentirem à vontade para debater temas polêmicos, os meus interesses devem ser representados pelas Emissoras de TV, justamente por aqueles que baseados em critérios ultrapassados, obscuros e secretos não permitem o beijo gay na novela do Walcyr Carrasco, e que por serem corporações se movem por interesses prioritariamente econômicos ao invés de éticos ou estéticos, e de quem “por força de contrato” eles são “obrigados a aceitar interferências”, preservando assim suas “liberdades de consciência” e seus empregos.

É claro que Emissoras de TV e os produtores devem fazer parte do debate sobre a Classificação Indicativa, assim como exibidores de Cinema, os distribuidores de filmes, mas nós roteiristas é quem devemos representar nós mesmos, assim como todos os artistas e técnicos do audiovisual devem se informar e expressar suas opiniões.

LIMITAÇÕES CRIATIVAS

O único argumento apresentado por Walcyr contra a Classificação Indicativa na verdade é contra a vinculação de horário.  Walcyr diz para Daniel Castro, e que em parte o Daniel Castro parece concordar adicionando “atrelada a horário” à versão original de Walcyr, é que a “classificação indicativa inibe a criatividade do autor”.

Apesar de ser um argumento que na prática é irrelevante para o debate da Classificação Indicativa e da vinculação de horário – pois “horário em TV aberta” não diz respeito ao direito individual de criação do autor Walcyr Carrasco e sim ao direito corporativo de radiodifusão da emissora dele – é interessante se analisar o argumento do ponto de vista da dramaturgia.

Marcílio Moraes já usou de argumento similar no mesmo blog de Daniel Castro, então apenas adapto o que já escrevi para Marcílio na lista da AR para comentar a nova afirmação de Walcyr.

Na minha humilde opinião, adequar a obra que se está escrevendo a uma faixa etária específica expressa em critérios escritos e públicos nunca será “inibir a criatividade artística”. Aliás, como bem ensinaram todos os meus professores – Mckee, Truby, Taba, Doc, entre outros – as limitações criativas – de forma, gênero, orçamento ou faixa etária – não “inibem” a criatividade artística, pelo contrário, inspiram-na, assim como as limitações de estrofes, rimas e métrica inspiram a criatividade do poeta.

Trabalhar sem limitações criativas seria como “jogar tênis sem rede”, pois são as demandas auto-impostas e artificiais que mexem com a imaginação, dizia o falecido Robert Frost.  “O principio da Limitação Criativa pede uma liberdade dentro de um círculo de obstáculos”, diz Mckee. “Um roteirista bem sucedido é aquele que sabe trabalhar dentro dos limites auto-impostos e impostos pelo produtor ou diretor”, me disse Truby em Londres.


INFORMAÇÃO E DEBATE

Eu tenho um palpite forte que Walcyr Carrasco desconhece os critérios da Classificação Indicativa. Quando foi convocado em Julho para fazer parte do grupo de “poucos autores mais expressivos” da AR que Marcílio Moraes formou para debater com o governo, Walcyr escreveu para a Lista da AR que faria de tudo para estar presente na reunião com o Secretário Nacional de Justiça, porém disse: “Só gostaria de antes, se alguém tiver, ler o manual.” Marcílio respondeu para lista e as bravatas contra a censura seguiam e ninguém parecia se importar com o tal Manual ou indicá-lo para o Walcyr, até que Graziella Dantas, não por acaso hoje desligada da AR, enviou o Manual para Walcyr, que nunca agradeceu ou acusou o recebimento do Manual, e pelo jeito nunca leu. No semestre inteiro de debates sobre classificacão indicativa – onde acredito Walcyr também não tenha lido a maior parte das mensagens dos colegas – Walcyr não escreveu nenhum argumento sobre a Classificação Indicativa.

O único argumento de Walcyr no debate da Classificação Indicativa dentro da AR foi para rebater o pedido de Romeu Di Sessa para que Marcílio criasse uma comissão para “conduzir o debate de uma forma mais organizada e pragmática (…) que tenha como objetivo tirar uma posição consolidada da entidade”, proposta que deixou Walcyr indignado. Diz Walcyr: “não posso aceitar que você queira burocratizar a entidade, criando grupos de trabalho, discussões.”

Argumenta Walcyr Carrasco: “Se formos aprofundar a questão, posso parecer prepotente, mas preciso dizer: os associados que têm se pronunciado mais fortemente contra a forma como e´conduzida a Classificação Indicativa, são justamente os que lidam diariamente com ela. Somos nós, os autores de novela, como eu, o Thiago Santiago e o próprio Marcílio que vivemos os efeitos da Classificação Indicativa no dia a dia. (…) O presidente e a diretoria não teriam nenhuma função se não pudessem expressar os valores da entidade em cada situação que se apresenta.”

Walcyr é contra debater a Classificação Indicativa dentro da AR para chegarmos numa posição madura, bem informada e de consenso, é contra realizar uma ação pragmática que represente a vontade da maior parte dos roteiristas associados da AR, acha que as posições públicas da entidade devem ser decididas por ele e pelo Marcílio e seus “poucos autores expressivos”, não pelo colegiado de todos os membros da AR.

Walcyr não “parece prepotente”,  é prepotente. De braço dado com Marcílio Moraes, passam por cima dos direitos e opiniões de todos os roteiristas. Eu “vivo o efeito” da Classificãço Indicativa “no dia a dia”. Na minha atividade profissional de roteirista já tive várias obras reclassificadas pelo Ministério da Justiça.

E Walcyr usa o mandato de vice-presidente da AR para proclamar por aí que nós autores-roteiristas achamos que a “Classificação Indicativa” deve deixar existir?

Dizem por aí que acreditamos, que um direito constitucional e internacional das crianças, que também  “vivem o efeito” da Classificação Indicativa “no dia a dia”, seja revogado por completo da legislação brasileira, pois não há negociação possível. E enquanto a Classificação existir estaremos inibidos e não nos sentimos à vontade para debater esse tema polêmico.

Pois eu me sinto à vontade para debater qualquer tema polêmico. Inclusive a Classificação Indicativa. Pode ser liberdade de criação, expressão e comunicação, livre acesso à informação, democracia, limitações criativas, direitos internacionais da criança e beijo gay. Espero que Walcyr supere suas inibições e comece também a debater esses temas. Espero também que a Diretoria da AR supere suas inibições e esclareça a posição da entidade e suas próprias posições e ações.

AR LEAKS

——– Mensagem original ——–
Assunto:     RES: [assoc_roteiristas] classificação em foco
Data:     Tue, 27 Jul 2010 19:00:40 +0000
De:     marciliomoraes
Para:
assoc_roteiristas@yahoogrupos.com.br
 
Romeu, 

Não sei há quanto tempo você é sócio da AR. Não deve ser muito. Só posso te dizer o seguinte: quando você ia para o moinho, a gente já voltava com o fubá. 


A Classificaçã indicativa já foi fartamente discutida na AR. E a associação tomou, por imensa maioria, decisão firme e corajosa, como sempre. 

Basta acessar o nosso site: www.ar.art.br. Aliás, convido a todos a fazer o mesmo. Evitaria muita conversa jogada fora neste espaço e o emprego de adjetivos que depois ficam queimando na língua dos tagarelas. 

Para facilitar, transcrevo o manifesto que lançamos, anos atrás, aí abaixo. 


Abraços. Marcilio

AUTORES, ROTEIRISTAS E ARTISTAS LUTAM POR LIBERDADE DE EXPRESSÃO E REPUDIAM O RESSURGIMENTO DA CENSURA

A A.R. (Associação de Roteiristas), através deste abaixo-assinado, afirma que não concorda com a Portaria tornando obrigatório o uso do chamado “Manual da Nova Classificação Indicativa”, elaborado pelo Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação e da ANDI – Agencia de Noticias dos Direitos da Infância.

Entendem os autores e roteiristas da A.R. que, mesmo deixando às emissoras a responsabilidade pela Classificação, a Portaria do Ministério da Justiça não contribui para a melhora do audiovisual brasileiro, tornando-se, pelo contrário, instrumento que pode inibir e censurar a atividade criativa.

Esclarece que é a favor da Classificação Indicativa de faixa etária dos programas de televisão. Sabe que essa classificação é um direito do cidadão,  garantido na constituição. E concorda com o documento quando afirma que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade.

Mas é contra a associação entre classificação indicativa e horário obrigatório de exibição do programa.
A classificação Indicativa permite ao cidadão escolher se quer ou não que sua família e seus filhos tomem contato com determinado conteúdo. Ser indicativo é ser democrático.

O horário obrigatório, ao contrário, não é democrático. Em tempos nos quais ondas de obscurantismo ditatorial avançam sobre as conquistas civilizatórias, a transparência deve ser sempre buscada, especialmente em relação a medidas que interfiram nos meios de comunicação, principal via para a construção da verdadeira democracia.

Forçar, por exemplo, um programa a ser exibido em horário avançado, impede o acesso de  parte da população e acaba prejudicando muitos  por determinação arbitrária de alguns, o que vem justamente a configurar censura.

Queremos deixar claro que nossa posição é distinta das emissoras de televisão. Por exemplo: quanto à diferença de fusos horários no país, que redunda em horários de exibição diferentes, opinamos que essa é uma questão puramente comercial ou técnica – fora do nosso foco – que deve ser resolvida pelas emissoras.

Nossa bandeira é a da liberdade de expressão. Não nos opomos ao controle social da programação televisiva.  Desejamos um controle democrático.

O controle, como entendemos, almeja a diversidade da programação, não interfere em conteúdos e aumenta o grau de liberdade e escolha do conjunto da sociedade. Temos o projeto de uma Nova Lei Geral para as Comunicações, prevendo apoio aos produtores independentes, a criação de uma cota de tela para a teledramaturgia nacional, a regionalização do audiovisual, entre outras medidas.


Ao obrigar o Estado a fazer classificação indicativa, a Constituição diz claramente que ela não pode ser imposta, tem de ser apenas indicativa. Com isso garante a liberdade de expressão nas obras artísticas e no entretenimento. 

A A.R. considera que é direito do cidadão, dos artistas e das emissoras de televisão (que são concessões públicas e democráticas) definir o horário que o programa será exibido, de acordo com critérios de interesse da maioria da população. Acredita que o critério para exibir um programa em determinado horário deve ser indicado pelos espectadores de televisão e não por decreto ou influência de algumas associações da sociedade civil.

Em suma, a A.R. concorda que fazer classificação indicativa é um dever do estado democrático e que esta deve ser promovida em diálogo com a sociedade civil, incluindo os criadores de televisão e as emissoras. Mas está convicta de que obrigar a exibição de um programa em determinado horário é uma forma de censura.

Como representante de autores, roteiristas e criadores de programas, a 
A.R é a favor da liberdade de expressão e contra qualquer espécie de censura.

A AR foi fundada há cerca de seis anos e conta com mais de 200 membros, entre eles os principais autores da teledramaturgia atual, roteiristas de cinema e de todas as mídias.

Convidamos todos os artistas a assinarem nosso Manifesto clicando no link:

http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/59

Marcilio Moraes – Presidente AR
Newton Cannito, Vice-Presidente

secretaria@ar.art.br
www.ar.art.br

On Ter 27/07/10 16:03 , “Romeu di Sessa” sent:

Só pra eu entender, essa discussão que estamos levando agora não serve pra nada, isso não pode mudar a posição da AR, ela já está consolidada, é isso?

Romeu di Sessa

Assunto:     RES: [assoc_roteiristas] classificação em foco
Data:     Tue, 27 Jul 2010 20:18:26 +0000
De:     marciliomoraes
Responder a: assoc_roteiristas@yahoogrupos.com.br
Para:    

Romeu querido,

Lembrei a posição oficial da AR, corporificada neste manifesto, por causa da tua insinuação de que eu estaria “usando o nome da entidade para lastrear minhas posições e idéias”. Como você vê, não é assim. Antes de tudo porque, falei como autor.
Agora, mesmo que eu tivesse feito aquelas declarações “ad referendum” dos associados da AR, tenho certeza de que a maioria absoluta do pessoal me respaldaria, a posteriori.
Quanto à posição da AR, está sempre em aberto. Eu dei aquela declaração ao jornal, postei aqui na lista, e algumas pessoas, você entre elas, acharam por bem rediscutir. Nenhum problema. Mas para mudar a positção da entidade, só com votação.
Abraços. Marcilio


——– Mensagem original ——–
Assunto:     [assoc_roteiristas] POSIÇÃO OFICIAL DA AR SOBRE A CLASSIFICAÇÃO INDICATIVAo Indicativa
Data:     Wed, 18 Aug 2010 19:29:49 -0300
De:     Tiago Santiago
Responder a:     assoc_roteiristas@yahoogrupos.com.br

Prezados, está no site e foi bem discutida a posição oficial da AR sobre a Classificação Indicativa. Vejam abaixo:

AUTORES E ROTEIRISTAS LUTAM POR LIBERDADE DE EXPRESSÃO E REPUDIAM O RESSURGIMENTO DA CENSURA

A A. R. (Associação dos Roteiristas) vem de público afirmar que não concorda com a Portaria a ser assinada pelo Ministro da Justiça tornando obrigatório o uso do chamado “Manual da Nova Classificação Indicativa”, elaborado pelo Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação e da ANDI – Agencia de Noticias dos Direitos da Infância.

            Considera que o Documento dá margem ao ressurgimento da censura.

            Esclarece que é a favor da classificação indicativa de faixa etária dos programas de televisão. Sabe que essa classificação é um direito do cidadão,  garantido na Constituição. E concorda com o documento quando afirma que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade.

            Mas é contra a associação entre classificação indicativa e horário obrigatório de exibição do programa.

            A classificação Indicativa permite ao cidadão escolher se quer ou não que sua família e seus filhos tomem contato com determinado conteúdo. Ser indicativo é ser democrático.

           O horário obrigatório, ao contrário, não é democrático. Em tempos nos quais ondas de obscurantismo ditatorial avançam sobre as conquistas civilizatórias, a transparência deve ser sempre buscada, especialmente em relação a medidas que interfiram nos meios de comunicação, principal via para a construção da verdadeira democracia.

           A A.R. deixa claro seu repúdio a todo tipo de retrocesso nos direitos democráticos conquistados pelos brasileiros, não aceitando medida punitiva ou restritiva no acesso de todo cidadão aos produtos culturais, sejam ficcionais ou não.

          Forçar, por exemplo, um programa a ser exibido em horário avançado, impede o acesso de  parte da população e acaba prejudicando muitos  por determinação arbitrária de alguns, o que vem justamente a configurar censura

          Ao obrigar o Estado a fazer classificação indicativa, a Constituição diz claramente que ela não pode ser imposta, tem de ser apenas indicativa. Com isso garante a liberdade de expressão nas obras artísticas e no entretenimento.

           A A. R. considera que é direito do cidadão, dos artistas e das emissoras de televisão (que são concessões públicas e democráticas) definir o horário que o programa será exibido, de acordo com critérios de interesse da maioria da população. Acredita que o critério para exibir um programa em determinado horário deve ser indicado pelos espectadores de televisão e não por decreto ou influência de algumas associações da sociedade civil.

          Em suma, a A.R. concorda que fazer classificação indicativa é um dever do estado democrático e que esta deve ser promovida em diálogo com a sociedade civil, incluindo os criadores de televisão e as emissoras. Mas está convicta de que obrigar a exibição de um programa em determinado horário é uma forma de censura.

Como representante de autores, roteiristas e criadores de programas, a A. R. é a favor da liberdade de expressão e contra qualquer espécie de censura.

Assinado
AR – Associação de Roteiristas

——– Mensagem original ——–
Assunto:     Re: [assoc_roteiristas] ENCERRANDO
Data:     Mon, 23 Aug 2010 02:12:24 -0300
De:     Walcyr Carrasco
Responder a:     assoc_roteiristas@yahoogrupos.com.br
Para:    

Amigos

Eu também acho que continuar com essa discussão é inútil. As posições estão configuradas. A AR tem um posicionamento claro enquanto associação. Essa posição deve ser respeitada por todos os membros. E em nenhuma hipótese deve haver conteúdo emocional ao se discutir uma posição onde o que importa são os rumos da associação e não os pessoais.
No caso dessa posição ser revista, isso deve ser feito dentro dos critérios da AR, com debate amplo em assembléias e votação, quorum e tudo mais.

Um abraço
Walcyr Carrasco

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Walcyr Carrasco e o beijo gay não admitido

Walcyr Carrasco responde através do blog do Daniel Castro que EU, Fernando Marés de Souza, que não entendi o que ele escreveu no Twitter.

Quando ele disse que “a Classificação Indicativa não admite algumas coisas. Inclusive o beijo gay”, quis dizer que “a existência de uma classificação indicativa restringe a criatividade do autor, que não sente-se à vontade para debater temas polêmicos, como o beijo gay”.

E eu digo que ele continua “falando besteira“. Se Walcyr “não se sente à vontade para debater temas polêmicos” é por desinformação e falta de coragem.

Se alguém aí como eu ao ler que “a Classificação Indicativa não admite algumas coisas. Inclusive o beijo gay”, entendeu que a Classificação Indicativa não admite algumas coisas, inclusive o beijo gay, talvez tenha sido só a dificuldade que você tem para entender o que Walcyr quis dizer.

Sou um pouco surdo mas não sou burro,  o que consegui entender foi que “a Classificação Indicativa não admite algumas coisas. Inclusive o beijo gay”. Talvez porque Walcyr escreveu exatamente isso, e pelo jeito não vai admitir que falou besteira. Cada um entende o que quiser. Numa dessa eu que sou chato mesmo. Acho que “a grande questão é” o Walcyr Carrasco “que não admite algumas coisas”. Inclusive que falou besteira. É assunto federal.

A verdade é que são as emissoras que nunca permitiram a veiculação de beijo gay. Os critérios da Classificação Indicativa não fazem diferenciação entre amor ou sexo homo ou hetero, e nunca devem fazer.

O Ministério da Justiça diz que comemoraria um beijo gay em novela. Eu também. De fato, na última minissérie que escrevi, CWB, dirigida pelo Fernando Coelho e que estréia depois de amanhã no Festival Internacional de Televisão, escrevemos e exibiremos um beijo gay. Na verdade já exibimos, pois a cena se encontra no trailer.

Daniel diz – baseado em informação do Walcyr – que “Carrasco foi eleito recentemente vice-presidente da AR (Associação dos Roteiristas), entidade que é contra a classificação indicativa”

Corrijo a informação. A AR não é “contra a classificação indicativa”, cito o próprio blog do Daniel Castro de alguns meses atrás como fonte para contradizer a informação: “Os autores fazem questão de frisar que não são contra a classificação indicativa das obras audiovisuais”, na matéria de 9 de Agosto de 2010, Autores de novelas pedem fim da reclassificação indicativa.

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A posição oficial da AR “esclarece que é a favor da classificação indicativa de faixa etária dos programas de televisão. Sabe que essa classificação é um direito do cidadão, garantido na Constituição. E (…) afirma que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade.”

Afinal, alguém da Diretoria da AR pode esclarecer as posições da entidade sobre a Classificação Indicativa? Alguém vai comentar as declarações do vice-presidente?

Walcyr vai corrigir a informação equivocada que postou em seu twitter e que levou diversos de seus festejados 100.000 seguidores a acreditar que quem não permite um beijo gay em novela é a Classificação Indicativa?

Fiquem ligados nos próximos capítulos….

Fernando Marés de Souza
Heterossexual, especialista em beijo gay no audiovisual

Matéria original de Daniel Castro veiculada em seu blog no R7.

Classificação indicativa inibe beijo gay, diz Walcyr Carrasco

Autor de Xica da Silva (Manchete), Alma Gêmea e Caras e Bocas (Globo), entre outras novelas, Walcyr Carrasco fez sérias críticas ao sistema de classificação indicativa do Ministério da Justiça.

No Twitter, Carrasco classificou a classificação indicativa de “censura” e a comparou à escravidão.”As leis existem para serem mudadas. A escravidão já foi lei”, afirmou.

O escritor se declarou totalmente contrário ao fato de o governo ter o poder de determinar o horário em que programas de TV vão ao ar. Polêmico, afirmou que a classificação indicativa “não admite algumas coisas”, “inclusive o beijo gay” em novelas, que seria um “assunto federal”.

Carrasco foi eleito recentemente vice-presidente da AR (Associação dos Roteiristas), entidade que é contra a classificação indicativa. Como autor de novelas das seis e das sete, ele já teve problemas com cenas não aprovadas pela autocensura da Globo.

“Não vejo problema no beijo gay, que está liberado nas ruas. Uma criança pode ver um beijo gay no shopping, mas não na novela!”, afirmou Carrasco no Twitter. “A questão da classificação indicativa é que vivemos em um país onde o Estado é que deve tutelar o cidadão. A pessoa não pode decidir o que vê. Por exemplo, eu acho que os pais e as mães têm o direito de decidir o que o filho deve ver ou não. Mas o Estado proíbe em nome da criança”, disparou o novelista.
As regras de classificação indicativa estão atualmente sendo revistas pelo Ministério da Justiça, mas a AR optou por não participar dos debates, por uma questão de princípio (não concorda com a interferência do Estado no conteúdo televisivo) e porque considera o assunto de competência das emissoras.

Falando besteira

As declarações de Walcyr Carrasco no Twitter foram contestadas pelo roteirista Fernando Marés de Souza. Em seu blog, Souza, que há pouco se desligou da AR, escreveu que Carrasco está “falando besteira sobre classificação indicativa”.
“Walcyr desinforma seu público sobre a classificação indicativa, publicando em seu Twitter que “a grande questão é a classificação indicativa que não admite algumas coisas. Inclusive o beijo gay”, afirmou Souza no blog.

“Isso não é verdade. Primeiro, que a classificação indicativa ‘admite’ qualquer coisa, apenas classifica a faixa etária indicada, e na atual portaria, vincula essa faixa a um horário. Segundo, que ‘beijo gay’ não é nem nunca foi critério de classificação. As atuais regras da classificação indicativa não fazem distinção entre beijo gay e beijo hetero”, escreveu o roteirista.

Ao R7, Carrasco disse que Souza não entendeu o que ele escreveu no Twitter.

“O que eu disse, e que ele  não conseguiu entender, foi que a existência de uma classificação indicativa restringe a criatividade do autor, que não sente-se à vontade para debater temas polêmicos, como o beijo gay”, afirmou o autor da Globo.

Fonte: Daniel Castro, 07/12/10

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O Silêncio dos Incoerentes – Roteiristas e Classificação Indicativa


A Associação dos Roteiristas (AR) é a principal entidade que representa os roteiristas brasileiros. A outra entidade de roteiristas, a Autores de Cinema (AC), é mais exclusiva, composta apenas por roteiristas de cinema que tem longas metragens dirigidos por terceiros. Consta que sou membro das duas entidades, pois apesar de ter me desligado da AR, até o presente momento, meu nome continua como associado na lista pública do site da entidade.

Desde a última Assembléia da Associação de Roteiristas de Televisão, Cinema e Outras Mídias, realizada dia 23 de Novembro de 2010, a entidade não fez nenhum comunicado público, nem ao menos atualizou a página da diretoria em seu website – mas meu nome removeram – ou divulgou qualquer comunicado sobre a diretoria eleita. Apenas em notas de coluna de celebridades, focadas na figura do novo vice-presidente Walcyr Carrasco, podemos encontrar informações sobre a atual situação da AR:

“Associação de Roteiristas: Ainda sob o impacto dos últimos acontecimentos e que determinaram a saída de Lauro César Muniz da entidade, em assembleia anual a Associação de Roteiristas tem agora Walcyr Carrasco como novo vice-presidente. Walcyr ocupará o lugar de Renê Belmonte, que passou para a diretoria executiva, ao lado de Tiago Santiago, Denise Fontoura, Fernando Rebello, Ana Paul, Silvia Palma e Iara Sydensriker. Marcílio Moraes continua na presidência da A.R.” – Vários blogues, 25/11/10

Marcílio Moraes “continua na presidência da AR”. Mesmo “sob o impacto dos últimos acontecimentos e que determinaram a saída de Lauro César Muniz da entidade”. Mas quais seriam esses “últimos acontecimentos  que determinaram a saída de Lauro César Muniz da entidade”. Patricia Kogut tenta responder.

“Assembleia: Amanhã tem a assembleia anual da Associação de Roteiristas, presidida atualmente por Marcílio Moraes. Entre os temas da pauta, o posicionamento em relação à classificação indicativa. …geral  Aliás, é preciso dizer: o clima na Associação ultimamente não é dos melhores. Lauro César Muniz abandonou a entidade recentemente depois de se desentender com outros autores.” – Patricia Kogut, 22/11/2010

Lauro César Muniz corrigiu a informação no dia seguinte:

“O que diz Lauro César, que deixou a AR: Lauro César Muniz escreve sobre sua saída da Associação de Roteiristas: “Não me desentendi com vários autores. Ao contrário, recebi e tenho ainda recebido várias manifestações de solidariedade dos colegas. Deixei a Associação por total incompatibilidade com a política que Marcílio Moraes, o presidente, vem seguindo (…). Culminou o conflito quando Marcílio, em e-mail agressivo em nossa lista, chegou ao nível do desrespeito comigo”. – Patricia Kogut, 23/11/2010

O fato é que Lauro César Muniz é um dos muitos roteiristas que deixaram a AR “por total incompatibilidade com a política que Marcílio Moraes, o presidente, vem seguindo” nos últimos 8 anos em que preside a Associação dos Roteiristas. Uma política autoritária, centralizadora, anti-democrática e informal. Marcílio se considera ungido por um mandato totalitário, onde pode definir os rumos da entidade, suas posições públicas, baseado apenas em sua “consciência individual concreta”.

Segue como exemplo a maneira que ele trata um tema público e de interesse de todos os roteiristas, e de toda a sociedade: a Classificação Indicativa.

Dia 21/07/10, diz o Marcílio em mensagem para a lista aberta: “CENSURA: (…) A propósito da minha declaração (…) à Folha de São Paulo, hoje, acabo de receber um telefonema do Secretário Nacional de Justiça, Pedro Abromovay. Eu propus fazermos uma reunião com ele. Uma reunião de alguns autores com ele. Ele topou. Poucas pessoas, claro, entre as mais expressivas, aqui no Rio ou São Paulo.”

Nessa época eu era Diretor da AR, e a Classificação Indicativa não era pauta de ação da AR – a pauta era a reforma do direito autoral, o tema da Classificação Indicativa não era debatido pelo colegiado ou pela diretoria desde 2007, e em nenhum momento o Presidente conversou com sua Diretoria sobre as declarações que iria dar para a Folha. E para a reunião que marca com o Secretário Nacional de Justiça, ao invés de convocar uma Comissão Oficial para debater o tema, encontrar um discurso de consenso e representar todos os membros da AR, convoca “poucos autores mais expressivos”.

O irônico e trágico deste ato administrativo irregular e anti-democrático é que os “poucos autores expressivos convocados”, Walcyr Carrasco, Tiago Santiago, Ricardo Hofstetter entre outros, estavam – e ainda estão – completamente desinformados sobre o tema da Classificação Indicativa, nunca leram o manual, nunca leram as portarias, não entendem de lei, não conhecem a constituição, não conhecem as práticas e modelos internacionais, e pelo jeito, não lêem nem os documentos que eles próprios assinam, pois declaram na imprensa que “nós autores somos contra a classificação indicativa” apesar da Associação dos Roteiristas afirmar expressamente como entidade, em documento oficial publicado em seu site, onde se lê sem sombra de dúvidas que a AR “esclarece que é a favor da classificação indicativa de faixa etária dos programas de televisão. Sabe que essa classificação é um direito do cidadão, garantido na Constituição. E (…) afirma que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade.”

Na questão da reforma do direito autoral, Marcílio nunca trouxe o debate para o colegiado, e a  “posição oficial da AR sobre o direito autoral” é escrita na primeira pessoa do autor Marcílio Moraes, guiada apenas pela sua “verdade individual”.
A outra questão que levou a saída  de tantos roteiristas da entidade é o “desrespeito” do presidente na “lista de e-mails da entidade”. O Presidante da AR usa a lista para desopilar, xingar servidores públicos anônimos na internet, mantém o tom do debate no mais baixo nível possível, é desinformado sobre os assuntos que opina, e como exemplo cito novamente a mensagem insultuosa do Presidente em lista aberta, no princípio dos debates sobre a Classificação Indicativa aos roteiristas da AR, desinformando os colegas sobre o verdadeiro processo de auto-classificação e reclassificação, e ofendendo gratuitamente servidores públicos e membros da sociedade organizada que redigiram o Manual de Classificação:

Diz Marcílio Moraes para todos os membros da AR: “(…) O processo é o seguinte. De início, a emissora tem que mandar para o Ministério da Justiça a sinopse da novela com uma sugestão de classificação, tipo, livre, ou para maiores de dez anos, etc.  Os bacanas lá de Brasília lêem o negócio e podem concordar ou não. Geralmente concordam. Aí a novela começa a ir ao ar. Se eles acharem que está tudo bem, fica mantida aquela classificação. Se não, eles têm o poder de alterar como decidirem.  Minha novela teve a sugestão inicial de ser livre. A emissora que falou isso, eu não disse nada. Os burocratas de Brasília aceitaram. Ela foi ao ar  e agora eles se assustaram e reclassificaram para dez e depois para 14 anos. É assim que funciona. Sobre os “jovens bem nascidos”, acho que o Salvá respondeu à perfeição.  Você acha que aos 65 anos, depois de tanta porrada vida a fora, eu vou aceitar que alguém, jovem ou velho, gênio ou babaca, venha me dizer o que é adequado para o público que eu escrevo? Este é o argumento fundamental. Não me importa se é bom ou mau, quero que se foda, posso ser obrigado a me submeter, mas aceitar de bom grado, jamais. Não vou me negar como escritor, como intelectual, como ser humano por causa das normas que algum paspalho resolveu que refletem o bem comum.  Ainda que refletissem: foda-se o bem comum! Mais vale a minha consciência individual concreta que qualquer conceito coletivo abstrato. Abração. Marcilio ” – Lista da AR, 22/07/2010

No final das contas o Presidente decidiu que debater Classificação Indicativa era contra seus princípios fundamentais e contra os princípios fundamentais da AR.A novela de sua posição pública dinâmica – organizador de encontro pra debater, sujeito ocupado pra debater, deixa pra debater ano que vem por causa da eleição, debater vai contra os meus princípios e finalmente debater vai contra os princípios da AR – pode ser acompanhados no Blog do Daniel Castro.
A declaração final de Marcílio para Daniel Castro é essa:

“Não tem sentido nós, autores e roteiristas, negociarmos com o governo a classificação indicativa. Em primeiro lugar, porque não aceitamos, por princípio, que outras pessoas, das empresas ou do governo, saibam melhor do que nós o que é apropriado para o nosso público. Em segundo lugar, porque não somos nós os concessionários do Estado e, sim, as emissoras e os produtores. Deles, eventualmente, somos obrigados a aceitar interferências por força dos contratos”, informou ao blog o presidente da AR, Marcílio Moraes, autor de Ribeirão do Tempo. “Logo, se alguém deve negociar com o governo, devem ser eles [diretores de emissoras e produtores]. Nós preservamos a nossa liberdade de consciência, não vamos barganhar as limitações ao nosso próprio trabalho, o que  equivaleria a legitimar a interferência”, conclui o autor, que tem o respaldo de colegas como Silvio de Abreu e Walcyr Carrasco, da Globo.” – Daniel Castro, 25/09/2010
Se dependêssemos de Marcílio ou da Record, Ribeirão do Tempo, novela madura do Presidente da AR, que contem sexo, drogas, rock’n roll, abuso sexual, violência e assassinato, seria “Livre para Todos os Públicos, ou apenas não informaria nada. A posição de Marcílio, irredutível ao dialogo por causa da tal “vinculação de horário”, ignora todos os outros roteiristas que não são autores de novela. Ignora as salas de cinema, os dvds, os jogos de computador. Na questão da Classificação Indicativa – e em outras – a consciência individual concreta de Marcílio Moraes e outros novelistas enxerga apenas o seu próprio umbigo e o horário de sua novela.

A atitude da Record de auto-classificar a novela madura Ribeirão do Tempo como “Livre para todos os públicos”, e a de Marcílio Moraes de ir na imprensa choramingar que estava sendo censurado por causa da reclassificação correta, levando junto a AR,  em nome de todos os roteiristas, decidindo por fim  que não debater nem negociar nunca com o governo é o caminho, causa um prejuízo moral para toda a classe de roteiristas brasileiros. Marcílio  Moraes faz um desserviço aos roteiristas brasileiros e deve urgentemente explicações sobre a questão.

O Presidente precisa ao menos responder uma pergunta:

Caro Presidente da AR Marcílio Moraes, o senhor considera que sua novela Ribeirão do Tempo é adequada para ser exibida para crianças?

Outra pergunta pertinente é: o senhor reconhece o direito de todo pai ser informado sobre conteúdos que podem considerar inadequados para seus filhos?

Que fique claro que a posição pública do Marcílio não representa a opinião da maioria dos roteiristas que conheço. Não é a minha posição, nem de diversos colegas da AR, principalmente dos que trabalham com teledramaturgia infantil ou cinema infantil. Somos a favor da classificação indicativa, todos desejamos mudanças no atual modelo, normas e critérios, alguns desejam o fim da vinculação de horário na TV aberta, outros, como eu, acham que essa prática – comum em todo o mundo – é positiva e visa “proteger a criança contra toda informação e material prejudiciais ao seu bem-estar”, como determina a Convenção Internacional do Direito da Criança, do qual o Brasil é signatário. Sempre deixei claro que sou a favor da classificação indicativa em um modelo auto-regulamentado, mas até chegar lá temos um longo caminho, e a lei, a constituição e o direito de todo cidadão deve ser levado em consideração, ainda mais quando se trata de TV aberta, que é concessão pública e utiliza nosso espectro eletromagnético, um bem comum, e as emissoras ainda não fazem sua parte, criando conselhos e códigos escritos públicos. Continuam proibindo beijo gay e mantendo seus critérios na surdina.

Marcílio não tem direito nem legitimidade para dar as declarações que deu em nome da AR, pois a decisão de “ser contra a classificação” e “não debater jamais com o governo” nunca foi votada pelo colegiado ou sequer pela diretoria, e fere decisão do colegiado da AR de  “ser a favor da classificação que deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade”. As palavras e ações do Marcílio com relação à classificação indicativa contradizem a posição oficial da entidade, extrapolam seus poderes de Presidente e violam o Estatuto da AR.

Assim como Lauro César Muniz, eu também fui desrespeitado na lista de discussão da AR, e de uma maneira extrema. Seguindo o cadafalso já pisado por Wilson Alves, que foi expulso injustamente da AR em 2003, por Doc Comparato, suspenso injustamente da AR em 2007, a Diretoria me suspendeu indeterminadamete em um processo injusto, irregular e criminoso, apenas por ter escrito palavras em meu Twitter, e enquanto estava suspenso, correram espalhar mentiras ao meu respeito. Com a palavra Tiago Santiago:

“Prezados, quero lembrar que a suspensão do associado Fernando Marés da lista não se baseia apenas nos Estatutos da AR, mas pelo fato de ter desrespeitado normas de listas yahoo, mandando mensagem ofensiva ao Marcílio, para diversos membros da lista, além de tentar tornar pública uma discussão interna da AR. O Ricardo Hoffstetter está corretíssimo em sua avaliação. Qualquer tentativa de fazer valer a vontade do associado em questão, em detrimento de uma decisão soberana da Diretoria da AR, parece-me inútil e despropositada. E prezado Lauro, será que você ainda não entendeu que o Marés não dá mostras de desejar PAZ com o Marcílio?! Aliás, como pode haver paz entre uma pessoa que quer legitimar a Classificação Indicativa com vinculação de horário e uma Associação que se bate pelo contrário? Vamos sim mudar o disco, por favor! Deixe-o esbravejar em sua solidão, e que vá para Justiça, se assim o desejar, porque haveremos de nos defender. Abraços do Tiago Santiago” – Lista da AR, 04/10/2010

A “vontade  do associado em questão” era ser acusado formalmente de algo para que pudesse se defender, mesmo depois de punido indeterminadamente sem acusação formal. Só não fui jogado numa Guantanamo virtual por interferência dos justos colegas Lauro Cesar Muniz,  Kito Mello e Romeu Di Sessa entre outros.

Mas a turma da inquisição não se rendeu, Tiago Santiago inventou a mentira de que “violei os Termos de Serviço do Yahoo” tempos depois de que eu já estava suspenso, punido e sentenciado, e na falta de melhor justificativa para minha punição, esse ficou o delito ficcional que justifica minha suspensão em notificação oficial póstuma.

Tiago Santiago nunca leu os termos de serviço do Yahoo, nunca leu termos de serviço algum. Os “Termos de Serviço do Yahoo” não protegem o Marcílio de “ser ofendido”, Marcílio assinou que “reconhece e concorda que poderá ficar exposto a Conteúdo ofensivo, imoral ou censurável.” Os Termos do Yahoo não protegem o Marcílio de “conteúdo ofensivo”, protegem o Yahoo de ter que lidar com os danos causados por “conteúdo ofensivo”. E Tiago não pode querer determinar violações do Termo de Serviço do Yahoo, tem apenas o poder de denunciar abusos para o Yahoo.

Minha defesa de 11 argumentos poderia ter apenas um:

1.    Não “violei os Termos de Serviços do Yahoo!”, e não cabe à Diretoria determinar se houve violação dos Termos, isso é prerrogativa exclusiva do Yahoo e de seus representantes legais.

Nunca violei nenhum Termo de Serviço, nunca ofendi o senhor Marcílio. Se o Marcílio se sentiu “ofendido” pela mensagem que enviei –  contendo a frase “vai tomar no meio do cu da tua consciência individual concreta” – lembro que por se tratar de conteúdo inadequado para todos os públicos, a mensagem foi para lista privada da Diretoria, com cópia para o Conselho, usando o serviço do Google Groups e do Terra, que não estão sujeitos aos Termos de Serviço do Yahoo, ou seja, Tiago Santiago não passa de um “paspalho” que inventa mentiras ao meu respeito e não tem a honra de se retratar.. Tiago é um hipócrita que diz  lutar pela liberdade de expressão dos autores e é o primeiro a querer calar discursos que não gosta  de ouvir dentro da AR. Foi assim comigo este ano, foi assim com Wilson Alves em 2003.

O interessante é que eles podiam ter me punido regularmente pelo Estatuto da AR, mas para isso precisavam me acusar pelo critério bem subjetivo e expresso no Estatuto de violar os “VI. Bons Costumes”, e teriam também que respeitar os princípios fundamentais de um processo legal, me acusar formalmente, ouvir minha defesa, para então sentenciar, publicar e punir.

As acusações oficiais que a diretoria da AR usou para cercear minha liberdade de expressão são infundadas, o processo foi um exemplo de desrespeito aos direitos humanos fundamentais da presunção de inocência, da ampla defesa e contraditório. Minhas defesas – póstumas – nunca foram respondidas, para – segundo a Diretoria da AR – não “prolongar a discussão”. Pois então saí da AR e trago a discussão para ser “prolongada” aqui fora, sob os olhos do mundo.

A Diretoria da AR, senhores Marcílio Moraes, Walcyr Carrasco, Tiago Santiago, Renê Belmonte, Denise Fontoura, Fernando Rebello, Ana Paul, Silvia Palma e Iara Sydensriker, devem a todos os roteiristas, a toda a sociedade e opinião pública, esclarecimentos sobre os fatos relatados acima e em outros artigos deste blog.

Nosso blog está aberto para qualquer um deles publicar sua resposta contestando qualquer informação ou afirmação publicada aqui.

A Associação dos Roteiristas deve esclarecer sua posição sobre a Classificação Indicativa e responder por qual razão decidiu não participar dos debates públicos que acontecem no momento.

Reclamações e questões para: secretaria@artv.art.br

Ontem o Walcyr Carrasco falou besteira sobre a Classificação Indicativa em seu Twitter e ainda não corrigiu as informações equivocadas que postou. Numa prova que minha afirmação sobre os “autores mais expressivos” estarem desinformados sobre o assunto, disse que a Classificação Indicativa “não admitia o Beijo Gay”, enquanto a verdade é que são as emissoras que não permitiram a veiculação de cenas escritas e gravadas de beijo gay. Os atuais critérios da Classificação Indicativa não fazem diferenciação entre amor ou sexo homo ou hetero, e nunca devem fazer. O Ministério da Justiça diz que comemoraria um beijo gay em novela. Eu também. De fato, na última minissérie que escrevi, CWB, dirigida pelo Fernando Coelho e que estréia depois de amanhã no Festival Internacional de Televisão, escrevemos e exibiremos um beijo gay. Na verdade já exibimos, pois a cena se encontra no trailer.

 

UPDATE: Walcyr Carrasco responde através do blog do Daniel Castro que EU não entendi o que ele escreveu no Twitter, que ao dizer que “a Classificação Indicativa não admite algumas coisas. Inclusive o beijo gay”, quis dizer que “a existência de uma classificação indicativa restringe a criatividade do autor, que não sente-se à vontade para debater temas polêmicos, como o beijo gay”. E eu digo que ele continua “falando besteira”. Se Walcyr “não se sente à vontade para debater temas polêmicos” é por desinformação e falta de coragem. Se alguém aí também ao ler que “a Classificação Indicativa não admite algumas coisas. Inclusive o beijo gay” entendeu que a Classificação Indicativa não admite algumas coisas, inclusive o beijo gay, foi só a dificuldade que você tem para entender o que o autor quis dizer. [11:30]

Do senhor Marcílio Moraes, e dos senhores Fernando Rebello e Tiago Santiago, ainda espero retratação pública das difamações que andaram espalhando por aí,  e que constam inclusive em documentos oficiais da AR. Do senhor Leonardo de Moraes, ex-diretor da AR e moderador do GRTV, espero respostas e correções das informações equivocadas que publicou sobre o caso da AR em seu grupo de discussão. Ou que ao menos permita que minhas respostas sejam publicadas dentro do grupo.

Do resto dos membros da AR, espero ainda que apresentem uma nova diretoria realmente comprometida com o respeito aos princípios fundamentais de justiça, democracia e liberdade de expressão, comunicação e informação. Os colegas que dizem representá-los estão comprometidos apenas com suas “verdades individuais”. Mesmo que elas sejam flagrantemente mentiras aos olhos coletivos.

Beijo na bunda que não é mais segunda,
Fernando Marés de Souza

“Como são paspalhos os homens, não usam as liberdades que têm, e querem reclamar por liberdades que não tem.” ~ Søren Aabye Kierkegaard

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Walcyr Carrasco fala besteira sobre Classificação Indicativa

Há mais de um mês, um pouco antes de me desligar da AR, Associação dos Roteiristas Brasileiros, eu disse que o Presidente da AR, Marcílio Moraes, falava “besteira” sobre a Classificação Indicativa na imprensa. Walcyr Carrasco ficou indignado com a minha frase e escreveu a seguinte mensagem:

Só agora li a mensagem do Fernando onde ele diz  que o Marcílio fala  “besteira”. Quero expressar meu profundo constrangimento pelo uso dessa palavra a respeito do presidente da AR há tantos anos — e também, nunca é excessivo lembrar, um dos maiores autores de telenovelas e seriados do país. Independente de qualquer divergência, acho o uso dessa palavra de mau gosto e desrespeitoso. De nenhuma maneira deve ser admitida entre os membros de uma associação como a AR.” – Walcyr Carrasco

Respondendo a essa mensagem de Walcyr, Thiago Santiago chegou a pedir que eu fosse expulso da entidade. Pois bem, quando eu acusava o Marcílio Moraes de falar “besteira” sobre a Classificação Indicativa na imprensa, era porque ele realmente falava besteira, e em mais um indício de que eu estava certo, agora quem vem a público falar besteira sobre a Classificação Indicativa é o próprio Walcyr, recém empossado Vice-Presidente da Associação dos Roteiristas.

Walcyr desinforma seu público sobre a Classificação Indicativa, publicando em seu Twitter que “A grande questão é a Classificação Indicativa que não admite algumas coisas. Inclusive o beijo gay.”

Isso não é verdade. Primeiro, que a Classificação Indicativa “admite” qualquer coisa, apenas Classifica a faixa etária indicada, e na atual portaria, vincula essa faixa a um horário. Segundo, que “beijo gay” não é nem nunca foi critério de classificação. As atuais regras da Classificação Indicativa não fazem distinção entre beijo gay e beijo hetero.

Walcyr é tão desinformado que não sabe que essa informação sobre o “beijo gay” já foi refutada até pelo presidente da Associação dos Roteiristas na lista da AR, quando Ricardo Linhares fez afirmação similar e foi corrigido pelo Secretário Nacional de Justiça: Saiu matéria na Folha. “Ministério diz que autores usam classificação indicativa como desculpa para não exibir beijo gay.” que Marcílio comentou dizendo: “quem impediu o beijo gay em novelas foram as direções das emissoras.”

Porém, essa não é a única “besteira” sobre a Classificação Indicativa proferida por Walcyr em seu Twitter na noite de ontem. Assim como Marcílio Moraes, Walcyr diz que “nós autores somos contra a Classificação Indicativa”. Walcyr não pode falar pelos roteiristas da entidade que representa, pois os membros da AR deixaram claro que não são contra a Classificação Indicativa.

Em manifesto assinado por dezenas de membros da AR e até pelo próprio Walcyr Carrasco, publicado no site da AR, a entidade “esclarece que é a favor da classificação indicativa de faixa etária dos programas de televisão. Sabe que essa classificação é um direito do cidadão, garantido na Constituição. E (…) afirma que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade.”
http://www.ar.art.br/informateca/escritos/atualidades/janeiro/manifesto.htm

Em suas primeiras declarações como Vice-presidente da atual diretoria da AR, Walcyr desinforma seus leitores sobre a Classificação Indicativa e sobre a posição dos autores da entidade que representa.

É realmente “clara a posição da AR” e quem ler o Manifesto constata que a entidade é apenas “contra a associação entre classificação indicativa e horário obrigatório de exibição do programa”, ou seja, contra a chamada “vinculação de horário”, e ao se pronunciar – em nome dos roteiristas – dizendo que “nós autores somos contra a classificação indicativa”, desrespeita os roteiristas brasileiros, desrespeita os membros da AR, e inclusive comete um ato punível com expulsão dos quadros da AR, por desrespeitar decisões do colegiado.

Walcyr ainda afirma: “Pois é, mas para mudar a Classificação Indicativa, só com pressão popular.” O que não diz é que a Associação da qual é vice-presidente se recusa a participar dos debates que estão acontecendo entre a sociedade organizada e o Ministério da Justiça para alterar a portaria que regulamenta a Classificação Indicativa. A Classificação Indicativa VAI MUDAR, mas por decisão arbitrária da Diretoria da qual Walcyr faz parte, não vai levar em conta a opinião dos roteiristas da AR.

A posição da AR nessa questão, através das declarações públicas do Presidente Marcílio Moraes tem sido contraditórias. Sem consultar sua diretoria ou seu colegiado o Presidente foi na imprensa “reafirmar sua posição contrária a classificação”, dizer que nós “sempre fomos contra a classificação” e afirmar que estava sendo “censurado” por não poder dizer que sua novela Ribeirão do Tempo era Livre para todos os públicos, mesmo sendo uma novela de conteúdo maduro, e mesmo sem que a reclassificação tivesse interferido no horário ou no conteúdo da novela, pois ela passa tarde da noite.

Novamente sem consultar sua diretoria ou seu colegiado, o Presidente marcou publicamente através da imprensa um encontro com o Secretário Nacional de Justiça para debater a classificação, e convidou para participar com ele, o que definiu em suas palavras públicas como “poucos autores mais expressivos”.

Semanas depois – quando viu que não tinha condições de debater a classificação pois não sabia nada do assunto  – se arrependeu e começou a dizer na imprensa que os autores estavam muito ocupados com suas novelas para se reunir com o Secretário, depois disse que a época de eleição não era boa pra debater, e que iríamos deixar para o ano que vem, e por fim, decidiu sozinho e comunicou para a imprensa que debater a classificação era contra seus princípios e contra os princípios fundamentais da AR. Ou seja, a incoerência é flagrante.

Recomendo que todos se informem sobre a Classificação Indicativa e tomem cuidado com o que lêem por aí. A sociedade está reunida debatendo a Classificação Indicativa – que é imperfeita e deve se aprimorar – e o Ministério da Justiça mantém um blog para debater o assunto: http://culturadigital.br/classind/

Walcyr Carrasco acha que minha frase que diz que “o Presidente da AR fala besteira”, “não deve ser admitida”, e publica a mentira de que a Classificação Indicativa “não admite beijo gay”. Só mais uma ironia vinda do pequeno grupo de autores de novela auto-denominados defensores da liberdade de expressão- Marcílio Moraes, Thiago Santiago, Walcyr Carrasco e Ricardo Hofstetter – que no semestre passado gritava “censura” contra a classificação indicativa, e que confrontados com as contradições e hipocrisias de seus discursos, terminou cerceando minha liberdade de expressão na lista de discussão da AR, com uma suspensão autoritária, ilegítima, e ilegal, em nome da “preservação da intituição”.

Se explique pra galera aí, Walcyr… e “admita” que “falou besteira”…

Fernando Marés de Souza
Apenas um dos muitos ex-associados da AR

Leia também:

Corrigindo informações equivocadas do Leonardo de Moraes no GRTV

Prezado Otavio Chamorro e leitores do GRTV,

Comento as afirmações do Leonardo de Moraes em mensagem para Otavio Chamorro, que considero serrem equivocadas e não condizerem com a verdade.

Leonardo diz que a AR assumiu uma determinada postura em relação à classificação indicativa “que é o contrário à classificação indicativa” e isso não é verdade.

A AR se posiciona desde 2007 através de manifesto público assinado pelo Presidente Marcílio Moraes e dezenas de associados onde “Esclarece que é a favor da classificação indicativa de faixa etária dos programas de televisão. Sabe que essa classificação é um direito do cidadão,  garantido na Constituição. E concorda (…) que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade. Mas é contra a associação entre classificação indicativa e horário obrigatório de exibição do programa.
http://www.ar.art.br/informateca/escritos/atualidades/janeiro/manifesto.htm

A AR só é contra a “associação entre classificação indicativa e horário obrigatório de exibição”, a AR é “a favor da classificação”, que fique claro. Ser contra a “vinculação de horário” é uma posição legitima da AR, mas “basta analisar a história mundial” para perceber que a “vinculação de horário” é prática adotada – seja ela exercida pelo Estado ou em modelo auto-regulamentado – na Europa, nos EUA, em outros países da América Latina, e em quase todos os países civilizados.

Porém, mesmo a AR se posicionando oficiamente “a favor da classificação indicativa”, ou seja, a favor do direito de todo pai ser informado sobre conteúdos que possam considerar inadequados para seus filhos em obras audiovisuais, o Presidente da AR foi na imprensa dizer que “nós sempre fomos contra a classificação”, e atacar a classificação indicativa – não a vinculação de horário – junto com um grupo novelistas que ele chamou de “poucos autores mais expressivos”, não por acaso, contrários à classificação indicativa, não somente contrários à vinculação.

Diz Leonardo: “Certa ou errada, é tem sido a posição oficial da AR enquanto instituição, expressada pelo presidente Marcílio Moraes. Ele e a Diretoria tem mantido sua coerência no tema e, enquanto os associados assim os legitimarem, essa será a posição oficial da AR.”

Coerência é uma palavra que não pode ser usada para descrever a trajetória das posições do Presidente da AR sobre a classificação indicativa. Em 2007 assina um documento público dizendo ser “a favor da classificação indicativa pois sabe que é um direito constitucional do cidadão e que a classificação deve ser resultado de um debate permanente com a sociedade “.

Em 2010, sem consultar sua diretoria ou seu colegiado o Presidente vai na imprensa “reafirmar sua posição contrária a classificação”, dizer que nós “sempre fomos contra a classificação” e afirmar que estava sendo “censurado” por não poder dizer que sua novela Ribeirão do Tempo era Livre para todos os públicos, mesmo sendo uma novela de conteúdo maduro, e mesmo sem que a reclassificação tivesse interferido no horário ou no conteúdo da novela, pois ela passa tarde da noite. Novamente sem consultar sua diretoria ou seu colegiado, o Presidente marcou publicamente através da imprensa um encontro com o Secretário Nacional de Justiça para debater a classificação, e convidou para participar com ele, o que definiu em suas palavras públicas como “poucos autores mais expressivos”. Semanas depois – quando viu que não tinha condições de debater a classificação pois não sabia nada do assunto  – se arrependeu e começou a dizer na imprensa que os autores estavam muito ocupados com suas novelas para se reunir com o Secretário, depois disse que a época de eleição não era boa pra debater, e que iríamos deixar para o ano que vem, e por fim, decidiu sozinho e comunicou para a imprensa que debater a classificação era contra seus princípios e contra os princípios fundamentais da AR. Ou seja, a incoerência é flagrante.

Diz Leonardo:  “Estamos em uma democraria, cuja sabedoria é a seguinte: vence a maioria.”

E a maioria é “a favor da classificação indicativa de faixa etária dos programas de televisão. Sabe que essa classificação é um direito do cidadão,  garantido na Constituição. E concorda (…) que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade.”

Leonardo me acusa sem me citar: “As discussões que surgiram nos últimos meses decorrem da postura dos discordantes.”

Eu só entrei na discussão mais tarde. Antes de eu entrar na discussão, o Presidente já havia dado o tom do debate com essa singela mensagem onde descreve o processo de classificação e seus envolvidos”:

“(…) O processo é o seguinte. De início, a emissora tem que mandar para o Ministério da Justiça a sinopse da novela com uma sugestão de classificação, tipo, livre, ou para maiores de dez anos, etc.  Os bacanas lá de Brasília lêem o negócio e podem concordar ou não. Geralmente concordam. Aí a novela começa a ir ao ar. Se eles acharem que está tudo bem, fica mantida aquela classificação. Se não, eles têm o poder de alterar como decidirem.  Minha novela teve a sugestão inicial de ser livre. A emissora que falou isso, eu não disse nada. Os burocratas de Brasília aceitaram. Ela foi ao ar  e agora eles se assustaram e reclassificaram para dez e depois para 14 anos. É assim que funciona. Sobre os “jovens bem nascidos”, acho que o Salvá respondeu à perfeição.  Você acha que aos 65 anos, depois de tanta porrada vida a fora, eu vou aceitar que alguém, jovem ou velho, gênio ou babaca, venha me dizer o que é adequado para o público que eu escrevo? Este é o argumento fundamental. Não me importa se é bom ou mau, quero que se foda, posso ser obrigado a me submeter, mas aceitar de bom grado, jamais. Não vou me negar como escritor, como intelectual, como ser humano por causa das normas que algum paspalho resolveu que refletem o bem comum.  Ainda que refletissem: foda-se o bem comum! Mais vale a minha consciência individual concreta que qualquer conceito coletivo abstrato.
Abração. Marcilio “
http://br.groups.yahoo.com/group/assoc_roteiristas/message/29933 (22/07/2010)

Eu, pelo contrário, sempre tentei mover o debate para algo produtivo, e fiz propostas concretas de encaminhamento. Está tudo documentado. Uma semana depois da mensagem insultuosa e contraproducente do Presidente, fiz uma proposta de documento de consenso para ser publicado chamado “proposta para mudar a classificação indicativa da televisão aberta” que recebeu imediatamente 4 votos a favor, inclusive de outros membros da diretoria, e apenas um contrário, mas o Presidente Marcílio – mesmo achando a proposta “interessante” – barrou o processo dizendo que não havia “nada em votação.” Como Diretor da AR endossei a proposta de criação de uma comissão Oficial da AR para debater o tema, criei o canal do Yahoo para isso, mas o Presidente não permitiu que a comissão fosse criada por achar – apesar de ter sido ele quem trouxe a pauta – que não era uma “questão oportuna para a gente discutir no momento”.

Leonardo diz: “Ao invés de montarem uma chapa de representantes para a próxima assembléia da AR, preferiram vazar o conteúdo das discussões internas para a mídia.”

Essa afirmação é absurda. Por várias vezes meu ex-colega de diretoria – afinal até meu desligamento eu sempre fui o Diretor Regional Sul da AR – repete que eu deveria “montar chapa” para resolver qualquer questão. É sintomático do autoritarismo e da percepção equivocada que o direito do colegiado e dos membros do colegidado é de alguma maneira inferior do que o da diretoria. “Eu já sou chapa, véio”, diriam meus colegas do movimento estudantil. Minhas ações e palavras visaram sempre defender os interesses de todo o colegiado da AR, e essa também deveria ser a postura do nobre colega diretor.

Pelo Presidente da AR, por alguns de meus colegas de diretoria, pelo Conselheiro Tiago Santiago, fui acusado de um monte de coisas. Fui sentenciado oficialmente – sem ser ouvido e sem nunca terem respondido duas defesas para duas peças acusatórias diferentes que me foram enviadas – pelo crime de “violar os termos de serviço do yahoo”, sendo o yahoo diz que nunca violei termo algum. A acusação que o Doutor Leonardo de Moraes faz no momento: de que eu teria cometido o ato de “vazar o conteúdo das discussões internas para a mídia” é ridículo, tão ridículo, que eu nem vou dar ao trabalho de me defender. Só explico o fato: publiquei no twitter do site, grupo, comunidade, blog roteirodecinema.com.br que eu edito, a seguinte frase, retirada de comunicação interpessoal escrita e pública entre Fernando Marés de Souza e Marcílio Eiras Moraes:

“Marcilio Moraes disse aos colegas “foda-se o bem comum”. Eu respondi: “vai tomar no meio do cu da tua consciência individual concreta”.

Escrever essa frase no Twitter é meu direito legítimo. É meu direito de associado da AR, meu direito de membro da lista de discussão do AR, é meu direito de roteirista, de cidadão, de editor, de ser humano. Ao cometer esse ato não infringi nenhuma regra, lei, termo ou norma. Mesmo assim, a o Presidente Marcílio Moraes me suspendeu indeterminadamente da entidade alguns minutos depois de eu ter publicado a frase. Me desligou da lista da Diretoria e do Colegiado, publicou sentença me acusando de “violar sigilo” sem me notificar, sem me ouvir, sem que eu tivesse o direito à ampla defesa e ao contraditório, e mesmo assim permitiu que eu fosse covardemente atacado com xingamentos, ofensas e acusações difamatórias sobre minha pessoa durante minha ausência na lista.

Diz Leonardo:  “No meu ponto de vista, esse tipo de postura é contrária ao fairplay. É como um time que, ao perceber que está perdendo, resolve dizer “não quero mais jogar”, paraliza o jogo e sai por aí xingando o juiz.”

Pergunto: que Juiz, Doutor Leonardo? Nesse jogo tem dois times e nenhum juiz. Eu saio xingando porque fui xingado. E saio xingando o dono da campinho que me expulsou do jogo sem eu ter cometido falta. Eu clamo por justiça, Doutor Leonardo, para que as acusações difamatórias imputadas a minha pessoa, que eu teria “violado termos”, “quebrado sigilos” sejam esclarecidas. Em nome da verdade e da justiça. E do bem da AR, que tem dezenas de esqueletos no armário desses últimos anos que precisam ser passados à limpo. Só nesse semestre, uma dezena de roteiristas se desligaram da Associação por acreditar que Marcílio não os representava com justiça.

Não é uma questão de discordar de opinião, mas sim de atitudes e de princípios. O Marcílio, como Presidente da AR, não é o Rei da AR. Seus direitos de Presidente são limitados – como de todo presidente não ditador – às decisões do Colegiado, da maioria dos associados. E as decisões do colegiado tem sido desrespeitadas pelo Presidente.

Agora eu te pergunto: isso é válido?”

Concordo com o Leonardo que se deve conhecer trabalho da AR, e a melhor maneira é lendo o Roteiro de Cinema. Ou era, mas talvez um dia volte a ser. Mas para isso é preciso que a AR tenha um presidente que respeite a liberdade de acesso a informação, a liberdade de expressão e de comunicação.

Eu sempre trabalhei pela AR e pela união dos Roteiristas, e todos que me conhecem pessoalmente ou virtualmente sabem disso. A AR como união de todos os roteiristas nasce de fato de uma mensagem minha “O Futuro da ARTV”. E é por acreditar que no atual momento a Diretoria da AR fere esses princípios, que me desliguei da entidade, para que minha situação na AR seja esclarecida, esperando talvez que a futura diretoria tenha ao menos a honra de responder minhas defesas e se julgar que as acusações que me imputaram são falsas, emitir uma retratação pública limpando meu nome.

Procurem se informar,

Fernando Marés de Souza

Otavio,

a classificação indicativa não é um problema por si só,
não fosse o fato de estar atrelada a uma obrigatoriedade de
horários. Um programa que contenha determinados conteúdos,
entendidos pelo MJ como inapropriados, é proibido de ser veiculado
nesse ou naquele horário na TV aberta. Isso pode ser considerado – e
é considerado por muitos – como uma espécie de censura de
conteúdo. Por que? Porque as análises de pertinência e
adequação de uma obra são feitas por pessoas que não
necessariamente têm capacidade para analisar subtextos, profundidade
artística ou relevância dos temas discutidos. O MJ elaborou uma
espécie de cartilha, onde tenta criar critérios objetivos para a
tal classificação indicativa. Acontece que impor critérios
objetivos na arte é sempre um desserviço, basta analisar a
história mundial…

Enfim, o assunto da classificação indicativa é polêmico. A AR
sabe disso e se posicionou. Assumiu uma determinada postura com
relação ao assunto – que é o contrário à classificação
indicativa, a obrigatoriedade de horários e a consequente análise
de pertinência das obras audiovisuais – e tem procurado se manter
nessa linha.

Por isso que a AR tem procurado se abster dos encontros que debatem o
dueto Classificação Indicativa/Obrigato

ridade de horários. Como
debater critérios operacionais de algo que se é contra a
própria implantação? Certa ou errada, é tem sido a posição
oficial da AR enquanto instituição, expressada pelo presidente
Marcílio Moraes. Ele e a Diretoria tem mantido sua coerência no
tema e, enquanto os associados assim os legitimarem, essa será a
posição oficial da AR. Estamos em uma democraria, cuja sabedoria é
a seguinte: vence a maioria.

As discussões que surgiram nos últimos meses decorrem da postura
dos discordantes. Ao invés de montarem uma chapa de representantes
para a próxima assembléia da AR, preferiram vazar o conteúdo
das discussões internas para a mídia. Ao invés de procurarem a
representatividade da classe, acabaram fazendo de tudo para abalar a
credibilidade do atual presidente da AR e da própria instituição.
Agora eu te pergunto: isso é válido?

No meu ponto de vista, esse tipo de postura é contrária ao
fairplay. É como um time que, ao perceber que está perdendo,
resolve dizer “não quero mais jogar”, paraliza o jogo e sai por aí
xingando o juiz.

Mas, independentemente dessa situação toda, repito: vale a pena
conhecer o trabalho da AR e vale a pena procurar se envolver com a
situação política do roteirista no nosso país. Unidos,
conseguiremos mais respeito como profissionais da escrita.

Grande abraço,

Leonardo

Mensagem ao Leonardo de Moraes do GRTV

Reproduzo uma mensagem até hoje não respondida que enviei ao Leonardo de Moraes – moderador e owner do GRTV e diretor da AR – através da lista da AR.

Gostaria de lembrar que sempre promovi o GRTV no Roteiro de Cinema e as novidades do blog do Leonardo estão incorporadas neste blog na barra direita.

Como Leonardo anda escrevendo coisas equivocadas sobre meu caso na AR em seu grupo de discussão e não permite que eu apresente ali minha versão e conteste suas afirmações, peço que os membros do GRTV cobrem que ele responda as perguntas da minha mensagem enviada dia 21/10/2010

As perguntas são:

Os fatos imputados à minha pessoa feitas no comunicado público de 29 de Setembro e da Notificação do dia 05 Outubro são verdadeiros?

Você sustenta a afirmação que diz que “O afastamento da lista de discussão aberta a todos os associados se deve à quebra de sigilo, à utilização de linguagem chula e à provocação sistemática dos membros da diretoria, violando assim ao que preleciona o Termo de Serviço do Yahoo! Groups, em especial os itens um e seis do referido documento disponível através do site HTTP://info.yahoo.com/legal/br/yahoo/utos/utos-173.html

Você confirma que o texto acima confere com a verdade, doutor? O doutor leu os Termos de Serviço do Yahoo, e pode me indicar onde estão “prelecionadas” as razões alegadas para meu afastamento?

Por qual razão minhas defesas nunca foram respondidas?

O doutor já leu “Eumênides”, de Ésquilo?

E uma pergunta bem simples que fiz na mensagem anterior, que o amigo Leonardo nunca respondeu: “Você contesta algum argumento meu que usei alguma vez em minha vida? 

Responda minhas perguntas, conteste meus argumentos, responda minha defesa, conteste e refute as acusações que fiz ao Presidente da AR, doutor Leonardo. Esclareça as acusações públicas que pesam sobre a Diretoria da AR ou renuncie ao seu cargo de Diretor, nobre colega.

Espero sua resposta. Resposta pública.

Seguem as mensagens na íntegra.

===

Em 10/21/2010 16:06, Fernando Mares escreveu:

Prezado Mestre Leonardo,

Você se equivoca e parece desconhecer o que se passou. Eu acuso o Marcílio de desrespeitar decisões coletivas expressas no Manifesto de 2007, o que fere o Estatuto da AR, e acuso a Diretoria de me difamar e escrever mentiras sobre minha pessoa – afirmações que nunca foram contestadas – minha indignação é justa e legítima, e sempre agi dentro da lei. O Presidente não pode falar pela AR se o que fala contradiz decisão do colegiado, simples assim. E se minhas revindicações não foram atendidas, deveriam ser ao menos respondidas ou contestadas.

E você dissimula, me julga novamente, faz ilações, e não esclarece os pontos que questiono, então vou ser bem claro em minhas perguntas:

Os fatos imputados à minha pessoa feitas no comunicado público de 29 de Setembro e da Notificação do dia 05 Outubro são verdadeiros?

Você sustenta a afirmação que diz que “O afastamento da lista de discussão aberta a todos os associados se deve à quebra de sigilo, à utilização de linguagem chula e à provocação sistemática dos membros da diretoria, violando assim ao que preleciona o Termo de Serviço do Yahoo! Groups, em especial os itens um e seis do referido documento disponível através do site HTTP://info.yahoo.com/legal/br/yahoo/utos/utos-173.html

Você confirma que o texto acima confere com a verdade, doutor? O doutor leu os Termos de Serviço do Yahoo, e pode me indicar onde estão “prelecionadas” as razões alegadas para meu afastamento?

Por qual razão minhas defesas nunca foram respondidas?

Ao contrário do Marcílio, não me calo com ameaça de processo, então nem adianta tentar doutor, ainda mais fazendo ameaças de ter maior poder econômico, que o foro é no Rio, etc, em minha vida já entrei em litígio com o Governo Brasileiro e com o Exército Brasileiro, para ganrantir meu direito de ser cidadão brasileiro, e com grandes corporações privadas internacionais para garantir meu direito de livre expressão e manifestação artística, incluindo grupos privados de mercenários armados, que ganham dinheiro matando pessoas, então note que eu não funciono pelo Temor, e sim pela Reverência. Uma diferença bem grande entre eu e o Presidente.

Eu já parei de “vazar” as mensagens para imprensa, pois agora existe uma regra que proíbe isso, ao contrário de antes, quando estava em meu direito, e se tem uma coisa que eu respeito, são normas escritas que visam refletir o bem comum.

E quem deve encerrar esse assunto é a Diretoria, se retratando formalmente e se desculpando formalmente do que fez comigo, não eu.

Se eu escrevi para você em lista aberta é por razões óbvias, pois foi em lista aberta que você insinua que causei “incômodo” e sou um diretor entre aspas. Por isso aguardo sua resposta pública – e respondendo as questões que faço – em lista aberta, para onde respondo essa mensagem, dentro da lei e das regras da lista da AR.

Vale lembra que a opinião sobre “perder o caso criminal” é só sua opinião, e é diferente da opinião do Delegado, diferente da opinião de um amigo que trabalha no Ministério Público, e de um importante Juiz de direito, que é inclusive cotado para assumir a vaga do Grau no Supremo, pra quem trabalhei como office boy há 20 anos, e para quem pedi aconselhamento, que ficou tão indignado com a situação – e quando leu que o Presidente escreveu “foda-se o bem comum”, que quis escrever um artigo sobre o respeito aos princípios fundamentais de justiça, ao direito do próximo e ao bem comum na revista da OAB local, criticando o Presidente da AR, mas eu demovi ele da ideia. Em nome da “preservação da instituição”. Ele riu e se contentou em soltar uns palavrões adjetivando nosso presidente.

A lista com 26 pontos básicos que precisam ser esclarecidos é o MEU chamado à razão, doutor. E eu ainda não endento um monte de coisa, então pode ter certeza que não estamos entendidos.

E já que você gosta de citações de Nietszche, segue outra de O Crepúculo dos Ídolos: “Que importa que eu tenha a razão! Disponho de excesso de razão. — E ri melhor hoje quem ri por último.”

E uma última pergunta: o doutor já leu “Eumênides”, de Ésquilo?

Fernando Marés de Souza
Diretor Regional Sul da AR

Em 10/21/2010 10:34, Leonardo de Moraes escreveu:

Fernando,
sempre admirei o seu trabalho à frente do “Roteiros de Cinema”, as divulgações na web, twitter e cia. Posso dizer que, há alguns anos, teu site me ajudou muito e também, até há pouco, estava contente de ver o seu engajamento e trabalho na AR.
Infelizmente, diante de uma diferença de opiniões políticas – nada mais comum que isso dentro de associações e sindicatos – o que eu e os demais associados testemunhamos foram ataques pessoais e uma campanha para descredenciamento da própria associação e seus representantes.
Se você possuía suas razões, deveria ter procurado representatividade, entrado em contato com os demais colegas associados e, porque não, com o próprio Marcílio – que é o atual presidente, mas jamais se negou ao diálogo aberto. Você deveria ter lançado uma outra chapa para as eleições, onde, quem sabe, você poderia assumir a responsabilidade de falar pela própria AR. Isso sim seria a via democrática, responsável e madura de se proceder e – claro – mudar todas as situações das quais discorda. Afinal, não era esse o seu objetivo?
Infelizmente, em algum momento dessa história toda os teus objetivos se tornaram secundários. Prosperou a indignação pessoal, o orgulho de não ter suas opiniões atendidas prontamente… Ora, meu amigo, quem é ouvido prontamente nesse mundo? Nem Cristo foi.
Falo com franqueza, peço que me ouça. Não estou aqui para apontar os teus defeitos, mesmo porque não o conheço pessoalmente. Posso te passar o meu ponto de vista, compartilhado pela maioria dos associados da AR. E se deseja ser escutado, é importante que também escute.
E-mail a e-mail, as razões de fundo que, eventualmente, você poderia ter, foram se diluindo. Se havia alguém interessado na sua opinião sobre, p.ex. classificação indicativa, isso agora é passado. Hoje, a imagem que tem perante os demais associados é a seguinte: você levou discussões políticas para o pessoal, incitou brigas, provocou despropositadamente, usou da imprensa para resolver questões internas, exagerou no sarcasmo, ironia e chulices… E pareceu contente ao incitar a própria desagregação da AR. Se foi essa sua intenção? Não sei, ninguém sabe. Na verdade, isso já não importa mais, porque a essa altura, o cansaço tomou conta de todos. As coisas acabam se tornando o que parecem ser.
Veja só como a sua postura é complicada…
Esse email que você mandou para mim, é para conversar comigo, esclarecer alguns pontos, ou para tornar pública uma vez mais a sua indignação? Para que copiou a lista da AR, quando desejava falar exclusivamente comigo?
Não quero discutir com você.
Mas estou nesta história para ajudar na preservação da AR.
Nesse papel que me comprometi a desempenhar, te faço um lembrete: não caminhe em direção às ameaças jurídicas, meu amigo.
Além e muito antes de ser roteirista, também sou advogado atuante. Sou sócio de um dos maiores escritórios de advocacia de São Paulo, formado e mestre pela USP, professor da pós do Mackenzie, trabalhei na assessoria jurídica do governador do Estado de São Paulo… Enfim, não cabe aqui enumerar meu currículo. Mas quero dizer que tenho experiência de sobra pra afirmar o seguinte: você irá perder caso tente mover um processo-crime contra a AR, ou mesmo contra a pessoa física do Marcílio. Te falo numa boa – não estou ameaçando. As provas, sejam documentais ou testemunhais, estão a favor da associação. Os próprios associados estão contra a sua postura. Perder significa, além de tudo, perder muito dinheiro. Lembre-se disso…
Te aconselho a parar com os “vazamentos” na imprensa. Já existem elementos de sobra para a própria AR entrar com uma ação de indenização por danos morais, seja em defesa da Diretoria, seja da própria instituição. Vale lembrar que a associação já tem uma assessoria contratada, e os custos de um processo para a AR são mais suportáveis que no caso de uma pessoa sozinha. Volto a dizer: não estou aqui te ameaçando, mas tentando chamá-lo à razão.
E um conselho: encerre esse assunto e, caso deseje realmente mudar a postura pública da AR perante diversos assuntos, vá atrás de representatividade e não atrás da desagregação da própria Associação.
No mais, estamos entendidos. Por favor, não vamos eternizar réplicas e tréplicas.
Grande abraço,
Leonardo de Moraes 


De: Fernando Mares
Para: assoc_roteiristas@yahoogrupos.com.br
Enviadas: Quinta-feira, 21 de Outubro de 2010 1:54:19
Assunto: Re: [assoc_roteiristas] Re: Pedido de esclarecimento para a Diretoria

Prezado Rapaz de Família,

É você quem usa “rapaz” no nome, eu não sou mais um rapaz, quem me dera, já tenho alguns cabelos brancos e uma filha já grandinha que me conta mitologia grega e discorre sobre a obra de Miró e Frida Kahlo com desenvoltura, mesmo sofrendo com condições neurológicas que atrapalham um pouco seu aprendizado.

Estive presente em algumas Assembleias da AR, inclusive a mais importante depois da fundação da ARTV, na qual criamos a AR, e sou Diretor da AR por quase meia década. E eu não causei incômodo nenhum, quem causou incômodo foram vocês, Presidente e colegas de Diretoria, agindo com autoritarismo e ilegitimidade.

Acho que a baixa taxa de comparecimento não se deve ao fato de que “poucos se dispõe a firmar compromisso pela AR”, mas porque a data é marcada sempre em cima da hora, um mês da Assembléia, e como somos profissionais com agenda ocupada, é difícil remanejar um compromisso, viagem, ou plano de filmagem inteiro de véspera. Nas datas das últimas Assembléias eu não pude comparecer por ter compromissos contratuais pré-estabelecidos – filmando – ou por estar fora do país. Fica a sugestão de se marcar a data da próxima Assembléia Geral na própria Assembléia Geral que está sendo realizada, para que possamos nos agendar com antecedência e dedicar a data para a AR.

Sempre estive presente – física e virtualmente – à serviço da AR, só pra citar alguns casos dos dois últimos anos:  realizei o Estudo sobre o Edital de Desenvolvimento de Roteiros do MinC, que pode ser encontrado na capa de nosso site, viabilizei o apoio da AR ao curso do Robert Mckee, onde diversos associados cursaram de graça, coloquei a Denise no Conselho Consultivo da SAv, no último dia que isso seria legalmente possível, estive presente representando a AR no I Encontro de Roteiristas do Senac e da Revista de Cinema, onde apesar de eu ser da AC, defendi as posições da AR junto com a Ana e o Romeu, esclarecendo nossas posições e contestando afirmações de colegas da outra entidade, representei a AR no Festival de Brasília, a lista é grande, rapaz…

Fora isso, em meu veículo de comunicação, promovi a AR todo dia, 24 horas por dia, cubri a ida do Presidente à I Conferência Mundial de Autores-Roteristas, divulguei o encontro da Fedala – não fui ao evento, apesar de estar elencado para a mesa de direitos autorais porque minha filha pegou caxumba – promovi o trabalho dos associados, cursos, livros, estreias, etc, tudo isso no pequeno tempo livre que disponho, que poderia dedicar ao meu lazer e família.

Meu compromisso com a AR foi firmado há quase uma década, e se a AR é hoje uma entidade representativa e importante, não tenha dúvida que meu trabalho contribuiu muito para isso, e se alguém disser o contrário, está enganado ou mentindo.

Também acredito que é hora de união do colegiado. Vamos trazer de volta a Graziella, o Tairone, o Izaías, que saíram por causa de atitudes e palavras do Presidente. Não vamos permitir que o lauro nos deixe, motivado por ações e palavras do Presidente. Vamos fazer um compromisso em respeitar o bem comum de todos os roteiristas, e pelo espírito de fraternidade acima do individualismo.

Se eu e o Presidente estamos atravancando o caminho da união, por estarmos em extremos opostos, por mim, sairemos os dois de cena. Acho que a alternância de poder é salutar, e ouso inferir que o “incômodo” na verdade foi um “acômodo”, de muito tempo do Marcílio na Presidência, se embebedou com o poder e esqueceu de respeitar as decisões coletivas e o direito alheio, mas não tem problema, que ele saia de cena com dignidade e ganhe uma cadeira de conselheiro vitalício, para usar a lista e a imprensa do jeito que gosta, como um Pedro de Lara, como um resmungão que só acredita em sua verdade individual e que se dane o direito dos outros.

Com meu destino na AR eu não me importo, volto a ser apenas um associado, como fui por muitos anos, e não será por isso que deixarei de trabalhar pela AR, mas não tenha dúvida que lutarei sempre pra que as decisões coletivas sejam respeitadas, e os princípios civilizatórios também. E se esse Presidente ou o próximo desrespeitar o Estatuto, as decisões de Assembléia ou Manifestos públicos, terá que ouvir meu brado ou me calar, e graças a maturidade que chegamos, ninguém nunca mais será calado aqui dentro.

A AR é muito importante para mim, e mesmo nesse “incômodo” ao qual você se refere, que não foi causado por mim, mas por atitudes equivocadas e precipitadas do Presidente, sempre tive a AR em primeiro lugar, e em minha reação ao abuso e a arbitrariedade, me sacrifiquei em nome da AR, e nunca quis matá-la como alegam alguns, apenas deixá-la mais forte e justa. E não duvido que ela sairá mais forte e justa desse “incômodo”. Pelo menos acredito que as suspensões e exclusões sumárias, ilegítimas e autoritárias que aconteceram com vários associados no passado, nunca mais vão se repetir, e que os princípios que você deveria defender como advogado – e não defende – serão respeitados.

Não sei se vou conseguir ir à Assembleia, eu tenho compromissos contratuais dia 23 de novembro, bem longe do Rio, mas estou tentando negociar com meu produtor.

A frase que seu avô falaria, adaptação de Nietszche para uma citação latina em O Crepúsculo dos Ídolos, – virescit volnere virtus – teria uma versão mais precisa e mais apropriada para o nosso “incômodo”, na seguinte opção, vertida por mim do original em latim: a virtude floresce através da ferida…

E eu ainda me encontro ferido por algumas palavras mentirosas que circulam por aí, nobre colega, e se você não acha isso, ajude a Diretoria, da qual você faz parte, a esclarecer os 26 pontos desta mensagem à qual você respondeu, mesmo sem responder nenhuma dúvida, somente usando a resposta para me atacar, num argumentum ad hominem claro e triste. Admito que joguei pesado contra o Marcílio – mas sempre fui justo – sempre argumentei, e mesmo as adjetivações sempre foram coerentes com o argumento. Joguei suas próprias palavras contra ele. Você contesta isso? Você contesta algum argumento meu que usei alguma vez em minha vida?

Você se considera um rapaz justo, Leonardo? Acha que o que foi feito comigo – e continua sendo feito, pois me encontro moderado, banido da lista da diretoria e difamado em documento oficial da AR – é justo?

Você tem cumprido seu juramento de advogado, de “defender a Constituição, a Ordem Jurídica do Estado Democrático, os Direitos Humanos, a Justiça Social, a boa aplicação das leis, a rápida administração da  Justiça e o aperfeiçoamento da Cultura e das Instituições Jurídicas.”?

Grande abraço,

Fernando Marés de Souza

Em 10/20/2010 12:45, Ragazzo di Famiglia escreveu:

 
Já que o rapaz tocou no assunto sobre “fazer parte da Diretoria”, vale lembrar aos colegas que dia 23 de novembro haverá a próxima Assembléia Geral, oportunidade para confirmar ou repudiar quem atualmente nos representa na associação.
Sou de SP, mas estive presente nas duas últimas assembléias no RJ. Sei que são poucos os que se dispõe a firmar compromisso pela AR.
Vamos aproveitar o incômodo causado por este “diretor”, e transformá-lo em motivo de união.
Como diria meu avô, “o que não mata, fortalece”.
Grande abraço,
Leonardo de Moraes

— Em assoc_roteiristas@yahoogrupos.com.br, Fernando Mares escreveu
>
> Prezada Dr. Kátia,
>
> Basicamente, gostaria que a Diretoria da AR – da qual creio que ainda
> faço parte – prestasse os seguintes esclarecimentos:
>
> 1. Por qual razão estou moderado na lista dos associados desde o dia
> que regressei para ela, e se alguma mensagem minha deixou de ser
> enviada.
> 2. Por qual razão estou impedido de usar a lista da Diretoria, mesmo
> sendo Diretor.
> 3. Se a Diretoria tem conhecimento que eu alguma vez desrespeitei o
> Estatuto, a Lei, ou os Termos de Serviço de alguma empresa.
> 4. Por qual razão fui suspenso da lista geral da AR, visto que
> demonstrei que todas as acusações alegadas para meu afastamento
> eram falsas e não havia fundamentação em nenhuma regra, Lei ou Termo.
> 5. Por qual razão foi comunicado publicamente dia 29 de setembro que
> fui suspenso indeterminadamente sem que eu fosse antes ouvido, sem
> que eu fosse notificado, sem ter tido direito de prévia defesa e
> ao contraditório.
> 6. Por qual razão foi permitido que Associados me ofendessem na lista
> aberta durante meu afastamento, sem que nada fosse feito pela
> Diretoria para coibir as mensagens, sendo que várias mensagens
> ofensivas eram inclusive de membros da Diretoria e do Conselho.
> 7. Por qual razão o Conselheiro Tiago Santiago falou que eu estava
> sendo suspenso baseado no Estatuto da AR, e por que razão ele não
> se retratou do que disse quando isso se demonstrou uma inverdade.
> 8. Por qual razão o Conselheiro Tiago Santiago falou que eu estava
> sendo suspenso por violar as normas do Yahoo, mesmo antes de eu
> ser acusado formalmente disso.
> 9. Por qual razão foi emitido uma notificação dia 05 de outubro, seis
> dias após minha suspensão, contendo falsas alegações para o meu
> afastamento.
> 10. Por qual razão a Diretoria não apreciou minha defesa do dia 03 de
> Outubro, nem respondeu a defesa da notificação do dia 05 de outubro.
> 11. Por qual razão a acusação inicial que levou à minha suspensão, a
> “reprodução não autorizada de trechos copiados da lista geral e da
> lista privativa da diretoria no twitter do associado” desapareceu
> da notificação do dia 05 de outubro.
> 12. Por qual razão novas alegações falsas foram criadas no documento
> de 05 de outubro para tentar legitimar meu afastamento.
> 13. Por qual razão o Presidente da AR nunca foi punido por usar
> palavra chula em mensagem e eu sim.
> 14. A Diretoria ainda sustenta que eu “violei os Termos de serviço do
> Yahoo”?
> 15. A Diretoria ainda sustenta que eu “quebrei sigilo”?
> 16. A Diretoria ainda sustenta que eu ” “reproduzi sem autorização
> trechos copiados da lista geral e da lista privativa da diretoria
> em meu twitter”?
> 17. A Diretoria reconhece meu direito legítimo de fazer oposição às
> ações do Presidente, ações que considero ilegítimas e que
> “provocações sistemáticas”, no sentido linguístico, é a base de um
> conversação duradoura?
> 18. A Diretoria reconhece que eu tenho direito que se provem as
> acusações antes da aplicação da pena, pois o ônus da prova cabe a
> quem acusa, e que em minha defesa demonstrei não ter realizado
> nenhum ato que me foi imputado, e que a minha suspensão não foi
> baseada em nenhum regulamento, norma, lei ou termo?
> 19. A Diretoria reconhece que deve corrigir as informações falsas
> sobre minha pessoa comunicadas em documento oficial da AR para
> todos os Associados?
> 20. Sério que eu preciso listar para a Diretoria as irregularidades e
> dúvidas suscitadas no processo de meu afastamento?
> 21. O Presidente da AR finalmente pode dizer que agora conhece o
> Estatuto da AR?
> 22. Os Diretores podem afirmar que conhecem o Estatuto da AR?
> 23. O Estatuto da AR está publicado em algum lugar?
> 24. A Diretoria é comprometida em cumprir a Lei brasileira e a
> Declaração Universal dos Direitos do Homem?
> 25. A Diretoria reconhece que ao me suspender da lista, no mínimo,
> agiu de forma equivocada?
> 26. A Diretoria se acha em condições para continuar dirigindo a AR?
>
> É basicamente isso que desejo esclarecido por parte da Diretoria,
> Doutora Kátia.
>
> Por fim, umas perguntas pessoais para a Doutora, afinal, a senhora é
> nossa consultora jurídica e preciso conhecê-la melhor:
>
> 1. Gostaria de saber se a senhora acredita em normas que visam
> refletir o bem comum.
> 2. Qual sua opinião sobre a importância das regras escritas para a
> manutenção de nossa civilização.
> 3. Qual o princípio fundador de nossa civilização, na opinião da Doutora.
> 4. A liberdade individual está acima dos direitos coletivos?
> 5. A senhora já leu “Eumênides”, de Ésquilo?
>
>
> Atenciosamente,
>
> Fernando Marés de Souza
> Diretor Regional Sul da AR
>

Minha última mensagem para a AR

 Enviada dia 23/10/2010

Caros,

Aproveito que a eficiência da Diretoria para me desligar desta lista mesmo sob meu pedido expresso está sendo muito menor que a do dia 29 de Setembro, quando me desligou arbitrariamente em questão de minutos, e somado ao fato de minha filha agora estar dormindo e eu sofrendo de insônia, comento a recente mensagem de Marcílio Eiras Moraes para a lista da AR.

É sintomático que o Presidente da AR volte a escrever na lista da AR depois de dias, justamente minutos depois que declarei que minha mensagem enviada seria a última que enviaria. Foi mal Marcílio, me retrato do que disse. A última deve ser esta. Marcílio teme o debate, teme ser refutado, mas infelizmente, Marcílio, esse teu texto vai ser respondido, quer você goste ou não.

É sintomático também, que ao invés de esclarecer alguma coisa em busca da verdade, Marcílio tenta confundir ainda mais os fatos que se passaram por aqui nessas últimas semanas.

O Presidente diz: “Um tumulto foi provocado a pretexto da minha frase: “f… o bem comum”. Não é verdade, a pretexto de sua frase “foda-se o bem comum”, dita há meses, travamos um debate que aconteceu há meses, aliás, debate não, pois o Presidente nunca contesta nenhum argumento meu, então, travei um monólogo com o Presidente sobre o bem comum, onde respondi legitimamente através da lista privada da Diretoria com cópia para o Conselho: “Foda-se o bem comum? Vai tomar no meio do cu da tua consciência individual concreta”. A mensagem integral segue no final. Nenhum tumulto se deu na época, e ninguém mais falou nisso durante um bom tempo.

O Presidente tem o direito legítimo de dizer “foda-se o bem comum”, desde que concorde em ouvir um “vai tomar no meio do cu da tua consciência individual concreta” em retorno. Ninguém vai levar o presidente ao tribunal por falar isso, como ele insinua tentando confundir os associados, e ninguém nunca disse que levaria ele ao tribunal por isso.

Ao tribunal, o Marcílio vai ter que ir para explicar as difamações que a Diretoria da AR faz ao meu nome em documentos públicos e oficiais da entidade, onde me condena e sentencia alegando fatos que não cometi, e sem base em fundamentação legal alguma.

O “tumulto” que o Presidente se refere, aconteceu há cerca de 25 dias, quando eu fui suspenso desta lista, meses depois dele ter dito a frase, suspensão motivada – alega a primeira acusação, mas não a segunda – por eu contar aos meus leitores que o Presidente declarou “foda-se o bem comum” ao seu colegiado, fato público e verdadeiro, e é meu direito como associado e cidadão contar para quem eu quiser esse fato, e ao fazer isso, não desrespeito nenhuma Lei, Termo ou regra escrita.

Notem que a comparação com Bento de Espinoza sendo expulso da Sinagoga de Amsterdan cabe ao que aconteceu comigo aqui na AR.  Foi o Presidente quem me puniu com um “Chérem”, tentou me “Excomungar” da AR por palavras que escrevi, num dia 29 de Setembro, data em que o Vaticano comera a excomunhão do Imperador do Sacro-Império Romano Frederic II pelo Papa Gregório XI.

Enquanto o Presidente delira em ser condenado por “difamar o bem comum”, e reproduz a condenação de Espinosa, onde se lê “por meio desse documento ficam todos avisados de que ninguém poderá manter conversação com ele… e de que ninguém poderá ler qualquer papel ditado por ele ou escrito por sua mão”, incrivelmente não se dá conta que a AR produziu documento muito similar, a notificação pública do dia 05 de outubro, que diz o seguinte: “O afastamento da lista de discussão afeta a todos os membros do grupo de discussão da AR, estando, portanto, vedada a retransmissão de qualquer mensagem de outro associado que esteja sob moderação, sob pena de afastamento pela Diretoria Executiva da AR do grupo em período a ser determinado.”

A história da tentativa de me silenciar na lista da AR – por gente que bradava contra a censura e qualquer cerceamento à liberdade de expressão – produziu dezenas de momentos irônicos – e ridículos – como este acima. Fico feliz que estejam todos bem documentados e guardados, e se um dia essas mensagens forem olhadas com atenção por alguém que queira estudar a história da AR através das discussão em seu fórum público, eu não me envergonho de nada que escrevi aqui até hoje.

Marcílio Eiras Moraes fugiu sempre do debate comigo, sempre usou falácias e tergiversou, e fica claro nessa mensagem, talvez a última que vou ler aqui dentro, que ele não tem senso do ridículo ao que se expõe, que sua contradição é flagrante, nem tenho certeza se sua “consciência individual concreta” consegue entender que essa lista de discussão é documento histórico e legal da AR, está arquivada em servidores privados e centenas de computadores pessoais, que aqui não é seu recôndito privado, e sim nosso “areópago” virtual. Sinal dos tempos, bem vindo ao mundo da internet, Marcílio.

Então peço aos colegas que se atenham aos fatos, e para isso produzo uma lista simples do que eu acuso o Presidente e a Diretoria, para que eles possam responder e parar de falar besteira tentando desvirtuar o assunto

1. Acuso o Presidente da AR de violar o Estatuto da AR por dizer na imprensa que “nós sempre fomos contra” a Classificação Indicativa contrariando decisão coletiva ratificada em Assembleia que determina em manifesto público que diz “somos a favor da Classificação Indicativa”.

2. Acuso o Presidente da AR de violar o Estatuto da AR por determinar que nos retirássemos dos debates organizados pelo MJ com a sociedade organizada contrariando decisão coletiva ratificada em Assembleia que determina em manifesto público “que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade.”

3. Acuso o Presidente da AR de violar o Estatuto da AR, os Direitos Humanos e a Constituição Brasileira por aplicar punição a um associado da AR sem que este tivesse direito a defesa prévia e ao contraditório antes da aplicação da pena e da publicação da sentença.

4. Acuso a Diretoria Executiva e o Presidente da AR de difamarem minha reputação ao imputar fatos não verdadeiros à minha pessoa em documentos públicos e oficiais da AR datados dos dias 29 de Setembro e 05 de Outubro.

5. Acuso a Diretoria Executiva e o Presidente da AR de até hoje não responder, deferir, indeferir, contestar ou refutar minhas defesas enviadas nos dias 03 de Outubro e 10 de Outubro, onde questiono as alegações feitas para tentar legitimar minha suspensão e que acredito provar minha inocência do que me acusaram.

6. Acuso a Diretoria Executiva e o Presidente da AR de extinguir a lista da Diretoria para apagar os arquivos que demonstrariam como se deu a decisão por minha suspensão no dia 29 de Setembro.

7. Acuso o Presidente da AR de não responder se considera sua novela Ribeirão do Tempo adequada para minha filha de 07 anos, mesmo dizendo que “sabe melhor o que é apropriado para o seu público.”

8. Acuso o Presidente da AR de ser um bundão, ou seja, covarde, por dizer que se cala diante de ameaças quando deveria dar o exemplo como Presidente e nunca se calar diante de ameaças.

9. Acuso o Presidente da AR de ser injusto por não respeitar os princípios fundamentais da Justiça, da ampla defessa e do contraditório, e de ter realizado julgamento sumário à revelia.

10. Acuso o Presidente da AR de desconhecer o Estatuto da AR, por admitir que “Se nesta ação, deixou de atender a alguma formalidade técnica , estatutária ou legal não foi por má fé mas por mero desconhecimento das normas.”

11. Acuso o Presidente da AR de não respeitar normas escritas por sempre achar que são feitas por paspalhos.

12. Acuso o Presidente da AR de ser hipócrita por se dizer defensor da liberdade de expressão e atentar contra minha liberdade de expressão no Fórum da AR.

13. Acuso o Presidente da AR de ser desagregador e causar a saída de Tairone Feitosa, Graziella Dantas e Izaías Almada da AR.

14. Acuso o Presidente da AR de ser omisso no atentado da Record contra o direito constitucional de todo cidadão brasileiro ao autoclassificar a novela Ribeirão do Tempo como “Livre para todos os públicos”.

15. Acuso o Presidente da AR de não respeitar o direito de livre acesso à informação dos leitores do Roteiro de Cinema ao querer me punir por eles ficarem sabendo de fatos públicos e notórios.

16. Acuso o Presidente da AR de ser desinformado e irresponsável por acreditar que a lista da AR é seu recôndito privado e não a lista pública de todos os associados da AR.

17. Acuso o Presidente da AR de se hipócrita de me punir por usar palavra chula e não se auto-punir por também usar palavra chula.

18. Acuso o Presidente da AR de usar a AR para emitir suas opiniões pessoais na imprensa em nome da entidade sem ter legitimidade para isso.

19. Acuso o Presidente da AR de me obrigar a ter que fazer listas de acusações para deixar claro o do que eu acusei ele todos esses meses quando eu deveria é estar dormindo para poder ficar bem descansado amanhã para ir no parque.

20. Acuso o Presidente da AR de nunca ter lido Eumênides de Ésquilo, ou se de fato leu, não ter entendido porra nenhuma.

Fernando Marés de Souza
Ex-Diretor Regional Sul da AR

Remember the ghost of Wilson Alves…

Em 10/22/2010 22:27, marciliomoraes escreveu:

 
Amigos da AR,
Um tumulto foi provocado a pretexto da minha frase: “f… o bem comum”. Já esclareci o sentido em que foi empregada. Mas explico de outra forma.
Admito que o uso do verbo chulo foi inadequado. Eu poderia ter empregado “dane-se”, por exemplo. Mas naquela altura julgava estar entre amigos e nunca imaginei que em seguida entraríamos num clima de porta de cadeia.
No meu entender, “bem comum” é uma expressão do campo semântico de outras como  “lugar comum”, “senso comum”, etc. Pertence ao universo do clichê, ou seja, tudo aquilo que um escritor que se preze deve evitar.
Quando me acusam de ter proferido “Dane-se o bem comum”, a acusação me soa como paradoxo. É como acusar um médico de dizer “danem-se as mezinhas, porque eu sou um médico profissional”.
Se alguém quiser me fazer um bem (individual), por favor, me leve aos tribunais por ter pronunciado a frase (na versão original). Eu adoraria me ver diante de um Juiz e ser acusado de difamar o “bem comum”. Digo mais, seria honroso para mim ser condenado por tal afirmação.
Devidamente agrilhoado, me imprecariam maldições  semelhantes às que ouviu  Espinosa quando foi expulso da sinagoga de Amsterdã:
“Que o Senhor nunca mais o perdoe ou aceite… Por meio desse documento ficam todos avisados de que ninguém poderá manter conversação com ele… e de que ninguém poderá ler qualquer papel ditado por ele ou escrito por sua mão”.
E quando eu fosse conduzido para uma cela comum, um guarda mal encarado ainda me diria: “Isso é pra tu aprender, escritor de fezes. O bem comum não é pra qualquer um”.
Abraços. Marcilio

__._,_.___
Em 08/18/2010 19:28, Fernando Mares escreveu:

Prezado Presidente Marcílio Eiras Moraes,

Prezado Presidente do Conselho Consultivo Max Malmann Souto Pereira,

Prezada Diretora de Comunicação Sylvia Tereza da Palma de Mello,

Prezado Conselheiro Consultivo Newton Guimarães Cannito,

Prezados membros da Diretoria,

Prezados membros do Conselho Consultivo e Fiscal,

Prezado colega Romeu di Sessa,

Eu não quero falar de Hitler, mas o Presidente insiste em trazer Hitler para o debate. Faço denúncias graves sobre sua conduta e ele vem me dizer que não quer debater comigo, mas quer falar do conceito de “bem comum” de Hitler. Marcílio não abandona as falácias Hitlerianas, um Argumentum ad Nazium.

E eu querendo falar do bem comum e da Classificação Indicativa, e do comportamento que acuso ser antiético da Presidência e da Diretoria da AR.

Peço que leiam tudo o que eu tenho a dizer com atenção.

“A Lei de Godwin conhecida também como A Regra das analogias Nazistas de Godwin (…) tem por base uma afirmação feita em 1990 por Mike Godwin (…)  que diz: “À medida que uma discussão na Usenet cresce, a probabilidade de surgir uma comparação envolvendo Hitler ou nazistas aproxima-se de 1 (100%).” Há uma tradição em listas de discussões e fóruns que, se tal comparação é feita, é porque quem mencionou Hitler ou os nazis ficou sem argumentos.” – http://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Godwin

Eu digo “foda-se o bem comum” de Hitler, ele pode chamar o que ele bem quiser de “bem comum”. O que eu chamo de “bem comum” eu já expressei e deixei claro, é o bem da comunidade, valor da sociedade fraterna, um valor compartilhado por comuns e fundado na harmonia social.

Podemos agora falar desse “bem comum” e da condução do processo dos debates públicos sobre a Classificação Indicativa envolvendo a AR dentro e fora de sua esfera, Sr. Presidente, Srs. membros da Diretoria, Srs. membros do Conselho Consultivo e Fiscal?

Marcílio, quando você disse para todos os membros da AR, como Presidente da entidade que me representa, “foda-se o bem comum”, você não só disse isso da boca pra fora, você apresentou um conceito para “foder” o “bem comum”.

Há quase um mês, você se dirigiu ao Romeu na lista aberta da AR, e diante de todo o seu colegiado pronunciou essas palavras:

Você acha que aos 65 anos, depois de tanta porrada vida a fora, eu vou aceitar que alguém, jovem ou velho, gênio ou babaca, venha me dizer o que é adequado para o público que eu escrevo?” Disse também que a classificação indicativa de faixa etária seriam “normas que algum paspalho resolveu que refletem o bem comum.  Ainda que refletissem: foda-se o bem comum!” e finalizou com pompa “Mais vale a minha consciência individual concreta que qualquer conceito coletivo abstrato”. – http://br.groups.yahoo.com/group/assoc_roteiristas/message/29933 (22/07/2010)

Ou seja, você diz que “sua consciência individual concreta” pode muito bem definir “o que é adequado para o público que você escreve” acima de quaisquer “normas que algum paspalho resolveu que refletem o bem comum”?

É isso que você está dizendo pro Romeu e pra todo mundo que leu sua mensagem. Estou errado?

E você tem a pachorra de ir a público como Presidente da AR dizer que estava sendo censurado porque as “normas de algum paspalho” detectaram que em sua novela há sexo, drogas, e rock’n roll, com direito a assassinato, abuso sexual e prostituição? Enquanto “sua consciência individual concreta” permite que sua emissora diga que sua obra é “adequada para” a minha filha de 7 anos? 

Responda, senhor Presidente, Ribeirão do Tempo é “adequada” para todos os públicos? Sua novela é adequada para a minha filha de 7 anos?

Foi isso que sua emissora – com a sua conivência – disse para o Ministério da Justiça.

Não acredito que Ribeirão do Tempo seja adequada para minha filha, pois não quero que minha filha seja exposta a sexo, drogas, assassinato, abuso sexual e prostituição sem necessidade. E se não tem a porra de um sinal me avisando disso no começo da tua novela, eu não tenho como saber, e corro o risco dela ser exposta a esse conteúdo por irresponsabilidade sua e de sua emissora. E se sua emissora põe um sinal que sua novela é Livre, e diz que sua novela é adequada pra minha filha de 7 anos, “paspalho” é você e a sua emissora.

Me diga em quem eu devo confiar, Presidente:

a) Na porra da tua “consciência individual concreta” que acredita que Ribeirão do Tempo é “adequado para” a minha filha ou simplesmente não se importa?

b) Na merda da sua emissora que diz que Ribeirão do Tempo é “adequada para” a minha filha quando de fato não é?

c) Ou na bosta das “normas que algum paspalho resolveu que refletem o bem comum” e mostram que Ribeirão do Tempo não é adequado para a minha filha por conter sexo, drogas, assassinato, abuso sexual e prostituição, e que classifica a obra como inadequada para menores de 14 anos, o que pelo menos se aproxima um pouco dos valores comuns da minha família, da minha comunidade, justamente porque essas “normas dos paspalhos” visam refletir o bem comum?

“Foda-se o bem comum”?

Vai tomar no meio do cu da tua “consciência individual concreta”.

Você nega o princípio fundador da Classificação Indicativa, e isso é uma tremenda “babaquice”, e contradiz inclusive a posição que você considera oficial da AR, nosso manifesto público que está em nosso site.

A Classificação Indicativa é uma conquista legítima da sociedade brasileira, Marcílio, para se defender de emissoras irresponsáveis iguais a Record, e de “paspalhos” individualistas iguais a você.

E você  botou o “foda-se o bem comum” em prática, levando sua “consciência individual concreta” a público, em detrimento dos interesses da nossa entidade, do bem da nossa comunidade de Roteiristas. Despreparado, desinformado e precipitado, cheio de esqueletos no armário.

Diz o jornalista Daniel Castro “a novela Ribeirão do Tempo teve a reclassificação mais alta: é agora imprópria para menores de 14 anos, inadequada para veiculação antes das 21h. Como nos outros casos, a medida não altera sua transmissão, já realizada em horário apropriado para seu conteúdo (depois das 22h).O monitoramento do Ministério da Justiça detectou na novela de Marcílio Moraes o “consumo repetido de drogas lícitas, linguagem de conteúdo sexual, insinuação sexual, erotização e violência”, além de “violência familiar e abuso sexual”. Segundo o ministério, a Record, que inicialmente autoclassificou a novela como livre, foi advertida em 23 de junho. No último dia 8, alterou a autoclassificação para imprópria para menores de 10 anos, o que o governo não aceitou. A Record, por meio de seu departamento de comunicação, não comentou a reclassificação de seus programas.”  – http://noticias.r7.com/blogs/daniel-castro/2010/07/15/governo-reclassifica-novela-das-18h-ribeirao-e-legendarios/ (15/07/2010)

“A novela “Ribeirão do Tempo”, da Record, viveu um folhetim à parte, o da classificação indicativa. Passou de “livre” para “não indicada a menores de 10 anos” e, agora, imprópria para menores de 14 anos por conter “drogas e erotização”. Para o autor Marcílio Moraes, “esses conceitos são ridículos .(…) Tentam quantificar a subjetividade“. – Folha, Outro Canal (21/07/2010)

Dia 21/07, diz o Marcílio em mensagem para a lista aberta: “CENSURA: (…) A propósito da minha declaração (…) à Folha de São Paulo, hoje, acabo de receber um telefonema do Secretário Nacional de Justiça, Pedro Abromovay. Eu propus fazermos uma reunião com ele. Uma reunião de alguns autores com ele. Ele topou. Poucas pessoas, claro, entre as mais expressivas, aqui no Rio ou São Paulo.” – http://br.groups.yahoo.com/group/assoc_roteiristas/message/29897

E aconsciência individual concreta” do Marcílio com seu exército de Brancaleone particular formado por “poucas pessoas entre as mais expressivas” vai a público, dizendo pra Imprensa, para toda a Sociedade o seguinte:

“Composta por autores como Walcyr Carrasco, Silvio de Abreu e Maria Adelaide Amaral, a Associação de Roteiristas de TV, Cinema e Outras Mídias discute uma reunião com o Ministério da Justiça com o tema “classificação indicativa obrigatória”. Moraes, que é presidente da associação de roteiristas, reafirmou a posição contrária à lei de classificação, mas quer organizar encontro de autores com o secretário. (…) “Qual é o problema? Os critérios? Os critérios não são fechados, vamos debatê-los”, disse o secretário nacional de Justiça.” – http://www.direitoacomunicacao.org.br/content.php?option=com_content&task=view&id=6949 (27/07/2010)

“A Associação de Roteiristas de TV, Cinema e Outras Mídias discutirá em uma reunião com o Ministério da Justiça o tema “classificação indicativa obrigatória”, segundo a coluna Outro Canal da Folha de S.Paulo. O autor de “Ribeirão do Tempo”, da Record, Marcílio Moraes, declarou à coluna que considera “censura” a obrigatoriedade de classificar as obras.” – http://www.adnews.com.br/negocios/106635.html (27/07/2010)

“Moraes reafirmou sua posição contrária à classificação, porém propôs ao secretário a realização de um encontro entre vários novelistas e representantes do MJ para discutirem os critérios adotados. “Sempre fomos contra. O argumento é básico: ninguém tem mais interesse em não ferir o público que nós, autores. O poder do público é fatal. Ele pode decidir desligar a televisão”, diz o autor da Record.” – http://natelinha.uol.com.br/2010/07/29/not_32944.php (29/07/2010

O manifesto da AR publicado em nosso site desde 2007, que você aponta como posição oficial da AR, Presidente, e que é assinado por você, pelo Newton Cannito e por dezenas de membros da nossa entidade diz expressamente que somos “a favor da classificação indicativa” e que sabemos que “que essa classificação é um direito do cidadão”, e você, Presidente da AR, vai na imprensa “reafirmar sua posição contrária à classificação” e dizer que nós “sempre fomos contra”? Nós quem, cara pálida? – http://www.ar.art.br/informateca/escritos/atualidades/janeiro/manifesto.htm

Sua consciência individual concreta” está acima até das normas que algum paspalho resolveu que refletem” a posição oficial da AR sobre a Classificação Indicativa? O que pode ser entendido como um “bem comum” dos Roteiristas da AR?

“Foda-se o bem comum”?

Vai tomar no meio do cu da tua “consciência individual concreta”. [2]

Uma semana depois, o jornalista bem preparado, que leu nosso manifesto no site e o cita na matéria, Daniel Castro, diz que “os autores fazem questão de frisar que não são contra a classificação indicativa das obras audiovisuais. São contrários, isso sim, à reclassificação indicativa, como ocorreu recentemente com Ribeirão do Tempo (…) Marcílio Moraes defende que o governo não tenha mais esse poder.” – http://noticias.r7.com/blogs/daniel-castro/2010/08/09/autores-de-novelas-pedem-fim-da-reclassificacao-indicativa/ (09/08/2010)

Sério, Marcílio Moraes? E quem você acha que deve ter esse poder de “reclassificar a obra”? Sua “consciência individual concreta”?

Você continuou atacando na imprensa os princípios da Classificação Indicativa pelos quais somos favoráveis e deixamos expresso no documento que publicamos em nosso site e que você indica como sendo posição Oficial da AR.

O que dá ao Governo esse “poder” que o você diz que é contra, é justamente a Constituição Federal, os princípios fundamentais da sociedade brasileira. Nosso manifesto diz que a AR “sabe que essa classificação é um direito do cidadão, garantido na Constituição”, mas a consciência individual concreta” do Marcílio também está acima das normas que algum paspalho resolveu que refletem” os direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, a tal da Constituição Federal, instrumento que visa regular o “bem comum” de toda a sociedade brasileira.

“Foda-se o bem comum”?

Vai tomar no meio do cu da tua “consciência individual concreta”. [3]

Nosso Presidente desrespeita os valores comuns de todos os Roteiristas da AR, e os valores comuns de uma Nação inteira para exercer plenamente a liberdade de sua consciência individual concreta” na imprensa.

Com um discurso incongruente e desinformado, beirando os limites da desonestidade ou da ignorância. Eu venho alertando esse fato há semanas, e ao invés do Presidente se “adequar”, ele se ofendeu e nunca reconheceu que em algum momento esteve errado, e até hoje não sei se sua  consciência individual concreta” está mesmo ciente de tudo que está se passando. Então eu notifico a Diretoria e os Conselhos Consultivo e Fiscal o que está acontecendo. E se ninguém tomar nenhuma providência vou notificar o Colegiado da AR.


E nos últimos dias, como pode ser lido por qualquer um na imprensa, a AR e seu grupo de “poucas pessoas entre as mais expressivas”, fogem do Secretário de Justiça com o rabo entre as pernas, dizendo publicamente estarem muito ocupados para o assunto no momento.

Quando estávamos no “abaixo a censura e a ditadura” todo mundo tinha tempo, mas quando somos convidados a jogar pelas regras democráticas, estamos todos muito ocupados e deixa pro ano que vem.

“Moraes foi recentemente procurado duas vezes pelo secretário nacional de Justiça, Pedro Abramovay, para discutir o assunto. “Vamos deixar para depois das eleições. Agora não é o momento”, diz. Segundo Moraes, autores importantes da Globo, como Silvio de Abreu e Walcyr Carrasco, estão dispostos a irem a Brasília negociar com o Ministério da Justiça. O problema é que os três estão atualmente muito ocupados com suas novelas.” – http://noticias.r7.com/blogs/daniel-castro/2010/08/09/autores-de-novelas-pedem-fim-da-reclassificacao-indicativa/ (09/08/2010)

“O governo federal está disposto a negociar mudanças no sistema de classificação indicativa de programas de TV, filmes e jogos. Em entrevista ao blog, o secretário nacional de Justiça, Pedro Abramovay, afirmou que está disposto a rever critérios e faixas de horário. Abramovay disse também que espera que os autores levem ao governo críticas e propostas bem fundamentadas, e não apenas queixas de que classificação indicativa é censura. O secretário lembrou que já procurou duas vezes Marcílio Moraes, presidente da AR, para discutir o assunto. Moraes, contudo, está muito ocupado escrevendo a novela Ribeirão do Tempo e quer adiar as conversas para depois das eleições.” – http://noticias.r7.com/blogs/daniel-castro/2010/08/10/governo-admite-alterar-regras-da-classificacao-indicativa/ (10/08/2010)

Ontem saiu essa:
“O encontro que seria promovido pelo Ministério da Justiça (MJ) com os novelistas da TV, entre eles Marcílio Moraes, Maria Adelaide Amaral e Sílvio de Abreu, sobre a classificação indicativa, ainda não tem data para acontecer. O motivo é que a maioria dos autores está com suas tramas no ar, o que toma muito tempo e os impedem de encontrar uma data em comum para realizar a reunião.” – http://natelinha.uol.com.br/2010/08/17/not_33393.php (17/08/2010)

Todos nós estamos muito ocupados, Marcílio, isso não é exclusividade dos novelistas de TV aberta, e se me dedico a debater esse tema com responsabilidade, e a estudá-lo com carinho, isso toma muito tempo, e faço isso em detrimento de um tempo que poderia dedicar ao meu lazer, a minha família e ao meu descanso, e até negligencio meu trabalho.

Mas faço isso por acreditar no bem da nossa comunidade, no bem da minha filha e no bem das minhas duas sobrinhas, no bem de suas colegas da escola onde dou aula de dramaturgia para crianças. Pelo bem da nossa Comunidade de Autores Roteiristas que em comunhão enfrentam a questão da Classificação Indicativa em seu cotidiano. E por todos os pais que enfrentam a dúvida de mostrar ou não uma obra audiovisual pros seus filhos antes de assisti-la.

Sua postura vem sendo de uma arrogância tremenda, como se o Secretário de Justiça também não fosse um cara muito ocupado. Como se o pai que se ausenta e deixa os filhos assistindo televisão desacompanhados durante o dia também não fosse um cara muito ocupado.

Você e seu grupo de “poucas pessoas entre as mais expressivas” promoveram um papelão em nome da AR na imprensa. Perderam o debate no Colegiado por não conhecer o assunto. Estão perdendo o debate na imprensa prum Secretário de Justiça em começo de carreira.

Sorte da AR que ninguém na imprensa  abordou o fato de que a reclassificação de Ribeirão do Tempo foi uma presepada sua e da Record. Sorte da AR que nenhum espertinho vazou o teor de suas mensagens mandando o bem comum se foder para imprensa. Sorte da AR que o Daniel Castro não comparou o que diz nosso manifesto com o que diz o nosso Presidente. Sorte da AR que eu não sou o Secretário Nacional de Justiça e não estou escrevendo tudo isso no Observatório da Imprensa.

Quer dizer que a AR vai a público reclamar da Classificação Indicativa, coloca o assunto na pauta, aparentemente liderando um movimento por mudanças, e quando o Governo admite alterar as regras, ou seja, redigir uma nova portaria, chamando os Roteiristas para debater e “receber críticas e propostas bem fundamentadas”, nosso grupo de “poucas pessoas entre as mais expressivas”  foge com o rabo entre as pernas e diz publicamente estar muito ocupado para o assunto no momento melhor deixar pro ano que vem”?

O Mínimo que a Diretoria deve fazer em caráter de urgência é comunicar a imprensa que formou uma Comissão para formular um documento sobre a Classificação Indicativa que represente a visão dos roteiristas, que são “a favor da classificação indicativa” e “sabem que essa classificação é um direito do cidadão, garantido na Constituição”, e que irá apresentar à sociedade e ao governo “críticas e propostas bem fundamentadas” o mais breve possível. O Máximo que a AR pode fazer é apresentar essas “críticas e propostas fundamentadas”. O Irônico seria dizer que não aceitamos negociar porque é censura e somos contra. Desculpa deslavada e vergonhosa é dizer que estamos muito ocupados.

Repito a adjetivação pejorativa que usei lá no começo do debate quando o Marcílio veio com esse discurso de “foda-se o bem comum”:

Nosso Presidente e seu seu grupo de “poucas pessoas entre as mais expressivas” não passam de “garotos mimados”.

“Paspalhos” individualistas.

Tratam como se fosse uma questão individual de alguns autores de novela uma questão pertinente à toda comunidade de roteiristas. Pertinente à toda a sociedade.

A AR é um grupo de “poucos indivíduos mais expressivos muito ocupados” ou uma entidade comum dos roteiristas?

No dia 27/07/10, antes das recentes declarações do Marcílio na imprensa, o Romeu escreveu: “Marcílio (…) NA MINHA OPINIÃO o encaminhamento pra isso deve, a partir de agora, ser um pouco mais formal. Talvez fazer um grupo de trabalho dedicado ao assunto, talvez fazer uma outra condução do debate. (…) Segundo, se permite dizer isso sem ficar bravo, eu no seu lugar, pelo menos por enquanto, evitaria de expressar a posição da entidade, até que essa nova rodada de decisões chegue ao fim.” – http://br.groups.yahoo.com/group/assoc_roteiristas/message/30072

O Walcyr Carrasco, uma das poucas pessoas entre as mais expressivas” respondeu minutos depois: “Caro Romeu,  Até o momento tenho evitado entrar nessa discussão porque ando ocupadíssimo. Mas não posso aceitar que você queira burocratizar a entidade, criando grupos de trabalho, discussões. Esse tipo de encaminhamento funciona muito bem para grupos estudantis. Mas uma entidade com expressão nacional precisa, sim, ter um presidente e uma diretoria com voz ativa para defender seus princípios.” – http://br.groups.yahoo.com/group/assoc_roteiristas/message/30091

E vocês podem me responder, Sr. Marcílio Moraes, Sr. Walcyr Carrasco, Srs. membros da Diretoria, Srs. membros do Conselho Consultivo, se nosso Presidente e nossa Comissão Extra Oficial formada por poucas pessoas entre as mais expressivas” vem defendendo os NOSSOS “princípios”?

É a Comunidade da AR que deve levar essa questão adiante defendendo fielmente seus princípios, não “poucas pessoas entre as mais expressivas e muito ocupadas”. E do jeito que essas pessoas deixaram o cenário, tudo não passou de uma comédia pastelão roteirizada por eles. Aos olhos da Sociedade, somos uma entidade de discurso vazio e contraditório cujos membros são uns “paspalhos” pomposos e muito ocupados.

A Diretoria vai criar imediatamente uma Comissão Oficial e vai instaurar o debate para formular “críticas e propostas fundamentadas” sobre a Classificação Indicativa, que represente a visão dos roteiristas, para apresentar à sociedade e ao governo, não fazer isso fere um princípio da posição Oficial da AR indicada pelo Presidente e assinada por ele, pelo Newton Cannito e por parte da Comunidade da AR, onde diz que somos “a favor da classificação indicativa [e] que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade.”

A decisão da Diretoria de cercear o debate sobre a Classificação Indicativa é arbitrária e incompreensível, porém muito engraçada e irônica vinda de quem pregava o “abaixo a censura e a ditadura”. A Diretoria deveria também criar uma outra Comissão, do Direito Autoral, que é outra esfera de debate com a sociedade e o poder público onde temos muito a ganhar e muito a perder.

Exijo reconhecimento imediato de que o Romeu, a Graziella, o Cacá e eu – e quem mais quiser entrar na Comissão e debater – fazemos parte de uma Comissão Oficial da AR, aberta a todos os membros interessados, com liberdade para redigir um documento visando um consenso, para apreciação e votação no colegiado, fazendo uma análise crítica do atual modelo de Classificação Indicativa, uma análise estudada e fundamentada.

A única maneira da AR ganhar esse debate é apresentar um documento consistente à sociedade, ao poder público, às emissoras e à imprensa, com “críticas e propostas fundamentadas”. Mas ganhar um debate público seria só o Mínimo. O Máximo é transformar a Classificação Indicativa em algo melhor e mais parecido com o que nós Roteiristas desejamos. Numa tentativa de consenso com as outras Comunidades envolvidas, para o bem de toda a sociedade, procurando um bem comum. Se vocês não desejam nada disso, parem de bloquear o caminho. E se desejam algo, entrem para a Comissão.

Se houve desgaste na lista foi por culpa da condução da abordagem por “poucas pessoas entre as mais expressivas“, questionando a legitimidade de algo que é legítimo, pregando a consciência individual frente aos critérios escritos, mandando o bem comum se foder, defendendo o direito limitado das emissoras como se fosse um direito individual e absoluto do autor, confundindo Classificação Indicativa Obrigatória com vinculação de horário. Tratando a questão como se fosse pertinente somente aos autores de novela, alguns “poucos indivíduos expressivos”.

E colegas da Diretoria – que irônico – vocês estão numa situação de traidores da posição Oficial da AR. Vamos voltar imediatamente a ser “a favor da classificação indicativa” e exercer o “diálogo permanente com a sociedade”. A mesquinhez individualista de alguns autores de novela não podem estar acima dos interesses de toda a Comunidade de Roteiristas que a AR representa, e muito menos acima do “bem comum” de toda a “sociedade”. A consciência individual concreta” não pode estar acima de nenhum “bem comum”, não pode estar acima da Constituição, do Estado Democrático e de suas Leis.

A Diretoria botafogo quando o lance é queimar o palácio contra a censura, mas na hora de debater com lógica e fundamento dentro das regras do estado democrático ela declina?

Eu sou membro da Diretoria e não declino, se o poder público e a sociedade desejam ouvir uma posição da AR sobre como melhorar a Classificação Indicativa, eu, e diversos membros da nossa Comunidade de Roteiristas temos “críticas e propostas fundamentadas” para apresentar, e vamos apresentar essas propostas. Vamos debater sim esse tema. E vamos debater é agora. E vamos corrigir as informações equivocadas passadas pelo Marcílio para a imprensa, indo a público dizer que somos “a favor da Classificação Indicativa”, que sabemos “que essa classificação é um direito do cidadão, garantido na Constituição” e desejamos exercer um “diálogo permanente com a sociedade” para aprimorá-la.

Como membro da Diretoria da AR – em harmonia com a posição Oficial da nossa entidade, desafiando a decisão arbitrária do resto da Diretoria de que a Classificação Indicativa não é “uma questão oportuna para a gente discutir no momento” o que “vem justamente a configurar censura”, digo, não “vem justamente a configurar censura”, mas é uma decisão abusiva, que “acaba prejudicando muitos por determinação arbitrária de alguns”, uma “babaquice de paspalhos”, uma grande ironia, uma piada hilária que fere os princípios indicados como nossa posição Oficial – agindo pelo interesse comum de todo o Colegiado da AR, venho instaurar através deste Ofício a Comissão da Classificação Indicativa proposta pelo colega Romeu di Sessa.

Faço isso para recuperar um “bem comum” que é de toda a Comunidade da AR, e que não pode se sujeitar a  consciência individual concreta” de um grupo de “poucos indivíduos expressivos e muito ocupados” que vem conduzindo um debate público em nome da AR, sem nenhum respeito aos nossos princípios, sem nenhuma legitimidade.

Como membro da Diretoria da AR declaro que a Comissão da Classificação Indicativa é uma Comissão Oficial da AR, instaurada em regime de urgência, e que se comunicará através do lista do Yahoo Grupos que é a mesma plataforma da lista geral: http://br.groups.yahoo.com/group/ar_cci/
 
Como membro da Diretoria da AR declaro que ela será anunciada como uma Comissão Oficial e aberta para todos os membros que desejem participar e opinar, seguindo a vontade da maioria dos membros, que são “a favor da Classificação Indicativa e sabem que essa classificação é um direito do cidadão, garantido na Constituição” e desejam “um diálogo permanente com a sociedade”, visando elaborar um documento com “críticas e propostas fundamentadas” para apreciação do Colegiado e de toda a sociedade.

Se o Marcílio como Presidente não anunciar a criação da Comissão Oficial, ou a Sylvia como Diretora de Comunicação não anunciar a criação da Comissão Oficial, ou o Max como Presidente do Conselho Consultivo não anunciar a criação da Comissão Oficial, ou algum outro Conselheiro não anunciar a criação da Comissão Oficial, minha própria consciência individual concreta” irá anunciar amanhã de manhã a criação da Comissão Oficial com pompa e gala para todos os colegas na lista aberta, acompanhado de duras críticas à consciência individual concreta” de alguns de vocês.

Refleti muito e acredito ser essa a única atitude moralmente aceitável de um membro da Diretoria, cumpro o meu papel de Diretor da AR, defendendo toda a Comunidade da AR, pois a Comunidade da AR está acima da consciência individual concreta” de todos vocês, e a AR precisa resgatar sua dignidade pública e cumprir suas responsabilidades no que tange essa matéria.

Agora vou arrumar minha mala que também sou um sujeito muito ocupado, sorte que penso rápido e metralho um teclado como um bom profissional.

Quero poder ficar um pouco mais com minha filha antes de viajar amanhã para o Rio de Janeiro, pra começar a escrever um roteiro de cinema para o mestre Carlos Manga, sendo que um dos limites impostos pelos meus produtores é de que seja adequado para todos os públicos.

Espero ler uma resposta individual de todos os Conselheiros e Diretores. E se me vierem falar de Hitler, eu mando tomar no meio do cu de suas “consciências individuais concretas”.

Atenciosamente,

Fernando Marés de Souza
Diretor Regional Sul da Associação dos Roteiristas

Curitiba, 18 de Agosto de 2010

Em 08/17/2010 12:52, marciliomoraes escreveu:

Fernando,
Pelo teor da sua mensagem, eu percebo que você sequer teve um vislumbre do que eu estava falando, o que deve ser um sinal dos tempos. E não estou com tempo nem disposição para explicar. Na verdade, não quero debater com você.
Assim que tiver uma folga, vou postar uma mensagem na lista geral colocando melhor minha posição.
Quanto a Hitler, não sou eu, é você que o cita. Confira abaixo:

“O socialismo é a ciência que se ocupa do bem comum. Socialismo e comunismo não são a mesma coisa. O marxismo não é socialismo. Os marxistas se apropriaram do termo e mudaram seu significado. Vou tirar o socialismo dos socialistas. (…) Nossos antepassados compartilhavam terras e cultivavam a idéia do bem comum. O marxismo não tem o direito de disfarçar-se de socialismo. Ao contrário do marxismo, o socialismo não rejeita a propriedade privada. Ao contrário do marxismo, não implica renegar a própria personalidade. Ao contrário do marxismo, o socialismo é patriótico. (…) Exigimos que o Estado satisfaça as justas reclamações das classes produtoras com base na solidariedade racial.” (HITLER. Resposta a George Sylvester Viereck, Liberty, 1932.

Abraços. Marcilio

On Ter 17/08/10 20:36 , Fernando Mares sent:

Marcílio,

É ridículo sustentar que Hitler – um cara que promoveu o extermínio de judeus, ciganos, homossexuais, deficientes – também queria o bem comum. O bem comum é o bem de toda a comunidade, é o interesse da coletividade acima dos interesses individuais, é o princípio da fraternidade e da justiça.

O respeito ao bem comum é o valor máximo da ética humana e social, é o respeito ao bem de toda a sociedade, e está acima de sua verdade e interesse individual. O bem comum é de todos e deve ser respeitado por todos, e só pode existir num ambiente de justiça e harmonia social. O respeito ao bem comum me foi passado como valor ético por meus avós religiosos cristãos, e também por meus pais ateus humanistas. Se você não consegue abstrair o que é o bem comum, há algo de muito errado em seus valores éticos.

E lá vem você de novo trazendo Hitler pro debate. Pois bem, segundo a teoria chamada “Lei de Godwin”, todo debate longo na internet vai chegar a um ponto onde uma das partes vai citar Hitler. E se tem uma forma de definir o ganhador de um debate na Internet, uma lei imutável da discussão online, ela é a seguinte: aquele que citar Hitler primeiro para argumentar perde. E você já citou duas vezes.

Você perdeu esse debate Marcílio, e não por citar Hitler, o que só comprova que a Lei de Godwin faz sentido. Você perdeu por sustentar um discurso vazio, incongruente e desinformado sobre a Classificação Indicativa, enquanto eu trouxe um discurso coerente, fundamentado e que não foi refutado por você nem por ninguém, e que foi apoiado por dezenas de colegas.

É óbvio para quem quiser ver que você não se informou sobre o assunto que trouxe a pauta para ser debatido, desconhece os princípios legais e morais que cercam o tema, mas mesmo assim, numa atitude de extrema arrogância, se achou capacitado para falar por todos nós publicamente na imprensa. Ou seja, você impõe seus valores individuais acima dos interesses dessa comunidade chamada AR, e acima dos interesses de toda a sociedade, e mais uma vez, mesmo sem dizer, sua ação foi de “foda-se o bem comum”.

Fico pensando se ainda sustento o que escrevi ontem, que ainda te apoio pra liderar nossa entidade, pois começo a pensar que se suas verdades individuais estão acima dos interesses da comunidade, você não deveria liderar uma comunidade.

E agora – que perdeu o debate – me pede para “não insistir” no debate, pois assim decidiu a diretoria, num “turning point” de extrema ironia para alguém que se dizia censurado.

Abraços,

Fernando

Em 08/17/2010 06:14, marciliomoraes escreveu:

Fernando,
Me surpreende que você tenha entendido tão literalmente minha frase “foda-se o bem comum”. Vou ver se explico o mais literalmente que possa. Eu não quis dizer que sou favorável ao “mal comum”.  Estava querendo dizer que o conceito de “bem comum” é tão frouxo, elástico, subjetivo, impreciso que não serve para nada. Hitler também queria o “bem comum”. Stalin, Mussolini, Getúlio, Médici, etc. Essas abstrações servem a qualquer propósito. Prefiro a minha verdade individual.
Abraços. Marcilio

Fernando,
A diretoria se reuniu semana passada e considerou que a Classificação Indicativa não é uma questão oportuna para a gente discutir no momento
O assunto foi exaustivamente debatido há alguns anos e a tentativa de rediscutir dias atrás acabou provocando desgaste e irritação dos associados. O que pode ser frustrante mas é real.
Por isso eu te peço para não insistir.
Quem sabe ano que vem, como você mesmo aventou.
Abraços. Marcilio
ps. Filhos, eu tenho três

On Seg 16/08/10 23:53 , Fernando Mares sent: 

Caros,

Interessante –  e um pouco frustrante – que ninguém tenha comentado as declarações recentes do Marcílio e do Secretário Nacional de Justiça nas matérias do Daniel Castro há alguns dias. Eu, pra variar, vou comentar.

Segundo a matéria do dia 10/08, o Ministério da Justiça se diz aberto para ouvir “críticas e propostas bem fundamentadas” visando alterar as regras da classificação indicativa.

Fica claro nas declarações do Secretário Nacional de Justiça que eles estão abertos para alterar “as faixas de horário e os critérios”. Aliás, sempre estiveram – a estrutura da Classificação Indicativa foi criada para se adaptar e evoluir – e se a redação dos critérios e mecanismos atuais não contam com nossa influência, é menos por culpa do governo do que nossa, mas não quero voltar a discutir isso. Acho que devemos reavaliar a questão e partir para um embate que vise influenciar na política pública.

Acho que é hora de nos perguntarmos qual modelo de Classificação Indicativa desejamos, quais devem ser seus critérios e mecanismos.

O texto é um pouco extenso, mas espero ao menos que a Graziella, o Romeu, o Décio, o Izaías, o Ratton, o Marcílio, o Tiago, o Walcyr, o Hofsetter, o Cristiano, a Denise, a Sylvia, a Renata, a Lilian, o Cacá, o Estevão, o Kito, o Marcos, o Roberto e a Ana, me concedam o privilégio dele ser lido até o final. Se alguém puder tecer algum comentário sobre ele, mesmo que seja para refutar ou corrigir algo que escrevi, também agradeço.

1. Da Posição Oficial da AR

Segundo o documento indicado pelo Marcílio como nossa posição oficial sobre o tema, a AR é “a favor da classificação indicativa de faixa etária dos programas de televisão. Sabe que essa classificação é um direito do cidadão,  garantido na Constituição. E (…) que a classificação deve ser resultado de um diálogo permanente com a sociedade.”

Muito bom. Eu incluiria “de obras audiovisuais e”, pois além dos “programas de televisão”, a Classificação Indicativa rege sobre todas as obras audiovisuais, e é importante para todos os roteiristas. Quem nunca teve uma obra classificada não deveria se considerar roteirista audiovisual profissional.

Porém, o documento diz também que a AR “é contra a associação entre classificação indicativa e horário obrigatório de exibição do programa.”

Tudo bem ser contra, eu não sou contra, mas se alguns colegas são contra, vamos debater, ou se acham que já está mais do que debatido, vamos votar. Mas não é só uma questão de ser contra ou a favor, o Secretário de Justiça diz ao Daniel Castro que “não abre mão da vinculação da classificação etária a horários, como pedem os roteiristas, porque há decisão judicial dizendo que essa é a interpretação correta da lei.”

É isso que eu vinha dizendo antes, quando fui até acusado de ter “papo parecido com burocrata e jurista” ou de “agente governamental”. O Secretário ainda posa de importante, dizendo que “não abre mão”. Ele simplesmente não pode “abrir mão”. É Lei Federal baseada na Constituição e em convenção internacional, e a obrigação do Secretário – e nossa – é cumprir a lei.

Extinguir a vinculação de horário não é uma decisão do Secretário Nacional de Justiça, nem do Ministro da Justiça, nem do Presidente da República, nem do Juiz, nem mesmo do do Supremo. Assim que se pronunciou o Supremo, rejeitando todas as ações contra a Classificação Indicativa e mandando os ajuizadores atentarem para o caráter infraconstitucional da questão.

Independente da posição que temos, devemos ao menos entender ou admitir que:

I – o espectro eletromagnético onde opera a televisão aberta é um bem da União, um bem comum, sua exploração depende de concessão e deve operar nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, regulação e outros aspectos institucionais (Constituição Federal, Art. 20 e 21)

II – a Classificação Indicativa, mesmo com vinculação de horário e faixa etária, não é censura (Constituição Federal, Art. 220 e 221)

III – o direito de radiodifusão por empresas concessionadas não é sagrado ou absoluto, e não pode ser confundido com direitos individuais de liberdade de expressão ou criação, e esse direito limitado e privilegiado de radiodifusão pode – e deve – ser regulado por Lei Federal (Constituição Federal, Art. 21 e 220)

IV – a mesma União que entrega o bem público em concessão para empresas emissoras de televisão tem o poder de – dentro do estado de direito e mediante processo legal – multar e punir com suspensão temporária as empresas que não cumprirem a regulamentação (Constituição Federal, Art. 221 e 223 e Estatuto da Criança e do Adolescente, Art. 76 e 254.)

V – a Convenção sobre os Direitos da Criança da ONU, do qual o Brasil é signatário, obriga os Estados Partes a promover a elaboração de diretrizes apropriadas a fim de proteger a criança contra toda informação e material prejudiciais ao seu bem-estar e incentivar os meios de comunicação a difundir informações e materiais de interesse social e cultural para a criança. (Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança, Art. 17)

VI – a vinculação de horário e faixa etária é prática da TV aberta na maior parte do mundo, e todos modelos compartilham de alguns aspectos comuns, sendo o brasileiro um dos mais permissivos, pois além de obras de Classificação Livre, permite também obras classificadas como 10 anos em qualquer horário, e tem um “watershed” de 12 anos às 20h, que é até cedo pros padrões internacionais. (Parental control of television broadcasting, Routledge)

Nosso documento oficial da AR diz que “Forçar, por exemplo, um programa a ser exibido em horário avançado, impede o acesso de parte da população e acaba prejudicando muitos por determinação arbitrária de alguns, o que vem justamente a configurar censura [e que a AR] está convicta de que obrigar a exibição de um programa em determinado horário é uma forma de censura.”.

O documento está simplesmente equivocado, e isso não é questão de opinião, é um fato.

Minha opinião pessoal é que uma emissora “forçar” um programa de conteúdo maduro no horário em que a TV é usada também por pré-púberes é que  “impede o acesso de parte da população e acaba prejudicando muitos por determinação arbitrária de alguns”.  Mas isso é só minha opinião – e também a opinião de muitos –  porém, obviamente isso não “vem justamente a configurar censura”, nem preciso dizer que isso, bem, isso não vem nem virá a configurar censura e ponto. Censura é outra coisa. O mesmo artigo da Constituição que proíbe a censura estabelece limites de horário adequado. 

Dizer que configura censura é incorreto, é equivocado, e sabendo disso, sustentar que vinculação de horário é censura seria desonesto. Censura não é – e se depender de mim nunca será – permitida por essas bandas. É direito da AR discordar da vinculação entre faixa etária e horário, mas discordar da vinculação não a torna menos legítima, constitucional ou moralmente aceitável.

Nosso documento oficial ainda diz que a AR “considera que é direito do cidadão, dos artistas e das emissoras de televisão (que são concessões públicas e democráticas) definir o horário que o programa será exibido, de acordo com critérios de interesse da maioria da população.” Na verdade é mesmo direito de todos, de interesse de toda a população, e justamente por ser um direito de todos, diz a nossa Carta Magna que para resolver os conflitos de interesses e direitos, compete a União regular. E ela regula.

Querem acabar com a regulação ou com a vinculação de horário? O Supremo já disse que não é com ele, as Leis são essas. Tentem mudar a Lei. Simples assim. Mas saibam que a sociedade, sabendo que é um direito constitucional e internacional da criança, vai chiar. Eu vou chiar, sou contra qualquer mudança de lei enquanto as emissoras não se organizarem para se auto-regulamentar e comprovarem na prática que podem se auto-regulamentar. Seria contra por minha filha, seria contra por mim mesmo como roteirista e cidadão. O que deve mudar é a Portaria nº 1.220/07 e seu Manual, não a Lei n° 8.069/90 ou a Lei n°10.359/2001, e muito menos a Constituição de 88.

Repito que o documento dito oficial da AR sobre a Classificação Indicativa está equivocado, independente de opinião, e me parece – salvo engano – que carece da legitimidade de apreciação do colegiado para ser posição oficial. E mesmo que seja um documento que indique uma posição oficial, nada nele proíbe o encaminhamento de novas abordagens e ações com relação ao tema.

2. Da Reclassificação

Segundo o Daniel Castro, na matéria anterior, do dia 09 de agosto, “A novidade agora é a revolta dos autores contra a reclassificação indicativa. Marcílio Moraes defende que o governo não tenha mais esse poder. ‘Se o governo não concorda com a classificação feita pela emissora, ele tem de brigar na Justiça, para que a emissora possa recorrer e para que haja um julgamento’, afirma”.

Não precisa ser o Secretário Nacional de Justiça pra dizer que isso que o Marcílio propõe já acontece. A reclassificação é feita tendo garantido “o contraditório e ampla defesa” (art. 15 da Portaria nº 1.220/2007) quando a emissora pode contestar a reclassificação. Se a defesa não for deferida, e a emissora descumprir a reclassificação, a Lei é clara e impõe “multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da programação da emissora por até dois dias.”

A rica emissora que pague a multa em depósito judicial e recorra ao Juiz para provar que está certa. Como eu já expliquei aqui – e bem explica o Manual nas páginas 57 e 58 – o Ministério da Justiça não pune ninguém, ele identifica o descumprimento da Classificação Indicativa através de monitoramento, envia denúncia ao Ministério Público, que acata ou não, e que envia ao Poder Judiciário que julga a causa. Só um juiz pode aplicar a sanção mediante julgamento, no caso o Juiz da Vara da Infância e Juventude, onde a emissora tem novamente todo o direito a ampla defesa, e ainda pode recorrer até última instância. Mais justo e legal impossível.

E no caso de Ribeirão do Tempo, a  Record perderia qualquer julgamento, em qualquer instância, pois Classificou como “Livre para todos os públicos” uma obra que contem assassinato, relação sexual, consumo de drogas e abuso sexual. Ribeirão do Tempo não é Livre sob os critérios vigentes, nem nunca será sob critério algum. Se a Record não foi punida diretamente por esse ato irresponsável de exibir como Livre algo que definitivamente não é Livre, isso só mostra que a reclassificação cautelar funciona no propósito de ser um cartão amarelo antes do vermelho, antes de acionar um juiz para aplicar a pena.

O Marcílio e a Record deveriam é agradecer ao MJ pela reclassificação de Ribeirão do Tempo, pois sem ela, a emissora teria sido punida imediatamente pelo poder judiciário, com justiça, razão e fundamento. Se o MJ não notificasse o Ministério Público, qualquer cidadão poderia fazê-lo.

Pergunto aos colegas – e não é uma pergunta retórica – quantas multas já foram pagas até hoje pelas emissoras por descumprimento às regras da Classificação Indicativa?

Ademais, como disse pro Tiago, pode-se exibir a obra mediante liminar judicial. Se a obra está compatível com os critérios, pede-se ao Juiz em caráter emergencial uma decisão que sustente a exibição sob a classificação prevista, no horário previsto, sem ônus pra emissora.

Nada impede que haja um julgamento, a Lei prevê que haja um julgamento, e o governo vai brigar na justiça sempre – pois é isso que ele é obrigado a fazer – acionando o Ministério Público, que representa todos os brasileiros, incluindo a minha filha, para denunciar que uma obra foi classificada irregularmente e está fora das normas vigentes. Cabe a um juiz julgar se procede ou não a denúncia.

Por fim, quando o Marcílio diz ao Daniel Castro que o governo “não concorda com a classificação feita pela emissora”, esquece que a obrigação legal de classificar é da União, não da emissora, pois como já citei em mensagem direcionada ao próprio Marcílio, a Constituição é expressa e diz que “compete à União exercer a Classificação Indicativa”. Se existe um processo de auto-classificação, ele é meramente processual, e como disse o Secretário de Justiça na mesma matéria, “se não houver reclassificação, não tem classificação”.

O que fica claro pra mim – e pra diversas pessoas que vem acompanhando as declarações do Marcílio na mídia – é que a AR tem um discurso desinformado e vazio sobre a Classificação Indicativa, sem propostas e sem críticas fundamentadas. Eu – com toda franqueza – me sinto constrangido.

Acho ainda mais constrangedor – e quase ofensivo – quando colegas me acusam de – ao contrário deles que teriam “conhecimento prático” – ter somente “conhecimento teórico” sobre o assunto, quando de fato tenho diversas obras classificadas e pelo menos duas reclassificadas, por culpa e irresponsabilidade das produtoras ou distribuidoras que nem me consultaram . Tratam esse assunto como de interesse exclusivo de alguns autores que escrevem novela para a TV aberta.

Pergunto aos colegas: quem aqui já auto-classificou sua obra baseado no Manual e preencheu a ficha de classificação indicativa? Eu posso dizer que já fiz isso mais de uma vez. Esse assunto é pertinente a todos os roteiristas, aliás, é pertinente a toda a sociedade, e quando luto por uma posição a favor da vinculação de horário, represento também minha filha, que é parte importante dessa discussão. É sobre um direito dela que alguns de vocês querem passar por cima.

Eu tenho conhecimento “teórico” e “prático” sobre a Classificação Indicativa  e o discurso desinformado e incongruente apresentado por alguns colegas vem demostrando que – novamente com toda franqueza – na verdade eles parecem não ter nenhum dos dois.

3. Das Emissoras e da Criatividade Artística

Segundo o que o Marcílio contou ao Daniel Castro, “o rigor da classificação indicativa vem gerando “paranoia” e autocensura dentro das emissoras de TV, podando a criatividade artística”.

Na minha humilde opinião, adequar a obra que se está escrevendo a uma faixa etária específica nunca será “podar a criatividade artística”. Aliás, como bem ensinaram todos os meus professores – Mckee, Truby, Taba, Doc, entre outros – as limitações criativas – de forma, gênero, orçamento ou faixa etária – não podam a criatividade artística, pelo contrário, inspiram-na, assim como as limitações de estrofes, rimas e métrica inspiram a criatividade do poeta. Trabalhar sem limitações criativas seria como “jogar tênis sem rede”, pois são as demandas auto-impostas e artificiais que mexem com a imaginação, dizia o falecido Robert Frost.  “O principio da Limitação Criativa pede uma liberdade dentro de um círculo de obstáculos”, diz Mckee. “Um bom roteirista é aquele que sabe trabalhar dentro dos limites auto-impostos e impostos pelo produtor”, me disse Truby em Londres.

Quanto à “paranoia” e “autocensura” dentro das emissoras de TV, bem, a “autocensura” é um caminho para a tal auto-regulamentação, e se há “paranoia”, então há incompetência. Auto-regulamentar não significa que cada autor com sua consciência individual define o que é adequado ou não para determinada faixa etária ou horário. Auto-regulamentar significa que as emissoras tenham conselhos fiscais e diretrizes escritas que norteiem o que é adequado ou não. Segundo o MJ, 90% das auto-classificações são homologadas, e os 10% restantes? São auto-classificações mal feitas ou há divergências que devem ser dirimidas no processo de reclassificação ou em juízo. Agora, o caso da novela do Marcílio, Ribeirão do Tempo, mostra que algumas emissoras são completamente incompetentes nessa questão, quando auto-classificam uma obra recomendada para o público maduro como sendo Livre para todos os públicos.

Como eu já disse antes, a primeira etapa para resolver o problema é que as emissoras se organizem para se auto-classificar com eficiência, e para – no futuro – poderem se auto-regulamentar plenamente. Os colegas que trabalham para essas emissoras devem exigir isso. A AR como entidade representativa também. Lá no século passado, o então presidente FHC deu um prazo de dois anos para as emissoras se auto-regulamentarem antes de instaurar a Classificação Indicativa com vinculação de horário – o que foi ilegal na visão de muitos – e o que aconteceu? As emissoras se auto-regulamentaram? Não, promoveram um festival de baixarias e sensacionalismo sem precedentes em busca de audiência.

E mesmo agora, passado mais de uma década, as emissoras ainda não se organizaram, e como muitos aqui criticaram – e com razão – fazem um péssimo uso da liberdade de imprensa radiodifundindo detalhes sórdidos – e irrelevantes – de crimes macabros na hora do almoço. Motivados por quê? Por lucro, que infelizmente parece ser o único valor que norteia algumas dessas corporações, mas que deveriam ser norteadas pelos princípios constitucionais que as regem.

A revolta do Tiago – que alegava estar sendo censurado por sua novela estar indo ao ar mutilada – deveria ser dirigida à Record, que insiste em reexibir sua obra em horário inadequado pelos critérios vigentes. É a Record – e mais ninguém – quem mutila a obra dele. Aliás, se está fazendo isso sem autorização expressa, fere o direito autoral moral do Tiago. E numa nota pessoal, ainda tirou o prazer da minha filha de assistir o Pica-Pau – que é Livre e não precisaria ser cortado. Então pergunto aos colegas: por que ao invés de reexibir “Os Mutantes” mutilado, ou o estrangeiro “Todo mundo odeia o Chis” no horário onde se deve respeitar a Classificação Livre ou 10 anos, a Record não exibe uma boa e inédita novela brasileira dedicada e pensada para o público infantil, juvenil e adulto? Se for encomendada aos produtores independentes, melhor ainda. A resposta é simples e só precisa de um caractere: $

4. Do Conselho Permanente

O Romeu deu uma ideia interessante lá atrás quando falou de um fórum para dirimir as divergências entre a auto-classificação e a classificação recebida antes de se emitir uma reclassificação cautelar ou acionar o judiciário. De fato isso existe em modelos estrangeiros. E talvez até no brasileiro.

Existe um “Conselho Permanente de Classificação”, previsto pela portaria que cria o Departamento de Classificação em cujos assentos a sociedade organizada pode sentar. É esse o Fórum que devemos ocupar, sentar e debater, e serve para dirimir divergências.

5. Da Comissão da AR para a Classificação Indicativa

Convido todos os colegas – em especial a Graziella, que tem experiência e conhecimento do processo de consultas públicas da Classificação em 2007; o Romeu, que apresentou disposição para o debate e boas ideias sobre o tema; e o Décio, que tem conhecimento sobre controle de qualidade de programas de televisão – a pensar em um modelo mais adequado aos princípios dos roteiristas, artistas e técnicos do audiovisual e influenciar na política pública de Classificação Indicativa.

É ano de eleição, e o esfria que do Marcílio deu no Secretário foi muito bom. É no começo do ano que vem que a coisas podem mudar de fato. Todos os candidatos a presidência são a favor da Classificação Indicativa. Todos os candidatos são contra a Censura. Porém, não importa quem for eleito, o próximo presidente vai querer que a Classificação Indicativa se aprimore. É aprimorar a Classificação Indicativa que deve ser a bandeira, e não destruí-la. Mas acho bom elaborarmos a proposta e nos sentarmos nesse Conselho Permanente o quanto antes, para quando tomar posse o novo presidente da nação, o novo legislativo e o novo Ministro da Justiça, estarmos lá dentro antes deles com a proposta em mãos.

Recoloco “na mesa” a proposta do Romeu, de formarmos uma Comissão de membros da AR – como já fizemos várias outras vezes – para que em ambiente diferenciado – mas aberto para todos os membros que desejem participar – possamos discutir e formular uma proposta de aprimoramento da Classificação Indicativa para o novo governo que assumirá em 2011.

Em termos operacionais, é só a Secretaria e a Diretoria de Comunicação criem uma outra lista da AR – como tem a da diretoria – específica para debater o tema. Me coloco a disposição da Irene e da Sylvia para ajudar se for necessário. Não vejo isso como qualquer forma de “burocratização” da entidade e acho muito mais democrático, legítimo e eficiente do que um grupo de “poucas pessoas entre as mais expressivas” se reunindo com o Secretário ou debatendo o tema na mídia.

Essa Comissão da Classificação Indicativa redigiria um documento para apreciação do colegiado que nortearia a política da AR para o tema.

A comissão deveria se concentrar em:

I. sobre critérios de classificação

- estudar os critérios vigentes de classificação no Brasil e os critérios vigentes em outras nações

- pedir aos membros da AR que opinem sobre quais deveriam ser os critérios de classificação

- pedir aos conselhos de ética e controle de qualidade das emissoras pareceres sobre os critérios vigentes e propostas de alteração

- exigir que as emissoras que não possuam conselhos de ética, qualidade ou afins, criem esse conselho, e por fim exigir que todos os conselhos se comuniquem em um conselho unificado das emissoras de TV, pois isso é condição básica para uma futura auto-regulamentação

- pedir opiniões de propostas sobre critérios de classificação para outras entidades representativas de artistas e técnicos do audiovisual

- propor a implementação dos novos critérios de classificação e mecanismos para a gestão pública que começa no próximo ano

II. sobre a vinculação de horário

- fazer uma tabela comparativa da vinculação de horários e faixas etárias pelo mundo

- pedir aos membros da AR que opinem sobre qual deveria ser a grade de horário brasileira, principalmente o “watershed”, ou o horário em que se começa a liberar conteúdos mais maduros

- exigir dos conselhos, programadores e representantes das emissoras que opinem sobre qual deveria ser a grade de horário brasileira

- pedir opiniões de propostas de grade horária de outras entidades representativas de artistas e técnicos do audiovisual

- formular uma nova grade que represente a visão da maioria dos roteiristas, artistas e técnicos do audiovisual

- propor ao poder público uma nova grade de horário que reflita a visão dos roteiristas, artistas e técnicos

- estudar os mecanismos de exceção de cumprimento de horário em outras partes do mundo

- exigir um mecanismo em que o programa possa ir ao antes do horário regular com aviso de não recomendação reforçado

III. sobre a reclassificação cautelar

- exigir que antes de emitir uma reclassificação cautelar ou acionar o Ministério Público, o Ministério da Justiça consulte um parecer do tal Conselho Permanente da Classificação Indicativa, que funcionaria como primeira instância de decisão para dirimir pequenas divergências

Por enquanto é isso.

Se eu escrevi alguma coisa errada por favor me corrijam. Como sempre, terei a humildade de reconhecer.

Abraços,

Fernando Marés de Souza

O Futuro da Associação dos Roteiristas

arAgradeço as mensagens públicas e privadas em solidariedade ao meu desligamento da AR – Associação dos Roteiristas. Pra quem não entendeu o que se passou, minha única resposta pode ser a seguinte: eu também não. O que sei é que me suspenderam arbitrariamente em julgamento sumário à revelia, me acusaram de um monte de mentiras, nunca provaram nada, e não querem responder minha defesa. Preferi me desligar do que fazer parte de uma entidade injusta. Procurarei a justiça na história, se no “areópago” dos roteiristas brasileiros ela me é negada.

Posso dizer que sou um dos fundadores da AR, pois entrei na ARTV em 2002, e estava presente no dia em que a ARTV – que ostentava há alguns meses a sigla provisória de ARTC – se transformou em AR, no dia 31 de Julho de 2006, no Teatro da UniverCidade. Nesse dia fui eleito por aclamação Diretor Regional Sul da Entidade. Marcílio Moraes foi reeleito Presidente por aclamação, ninguém se apresentou para o posto. Começava o terceiro mandato do Marcílio Moraes como presidente da Associação dos Roteiristas, três anos depois do fim do triunvirato – com Lauro Cesar Muniz, Tiago Santiago e Sergio Marques, onde Marcílio ocupava o posto de Presidente de Honra. Irônico é que Honra é o que lhe faltou várias vezes nesses sete anos, desde que lhe tiraram o “de Honra” de seu título, e ele passou a ser definitivamente o “Presidente da AR”.

Em 12 de Julho de 2003, o Roteiro de Cinema noticiava que na Assembléia geral da ARTV – Associação de Roteiristas de TV, Cinema e outras mídias de 2003, os associados “votaram por unanimidade, a mudança da antiga estrutura colegiada (comandada por um triunvirato), que apesar de teoricamente mais democrática, se mostrou ineficiente para dar agilidade na administração da entidade.” Estava criado o cargo de Presidente Oficial da Associação dos Roteiristas Brasileiros de Televisão, Cinema e Outras Mídias. O Presidente eleito por unanimidade foi o roteirista Marcílio Eiras Moraes.

Em Outubro daquele ano, no segundo mês da gestão de um Presidente sem o “de Honra” no nome, um associado da ARTV, o roteirista Wilson Alves, foi expulso da Associação dos Roteiristas por reclamar na lista de discussão do abuso de nudez e sexo numa novela do Gilberto Braga. Saiu até matéria no Estadão, “Roteiristas brigam por sexo em Celebridade”.

No evento da expulsão de Wilson Alves, me posicionei contra a expulsão do associado, exigi que a situação do associado na entidade fosse esclarecida pela Diretoria e regulamentada, e sugeri que fossem criadas regras para a lista de discussão, mensagem ao qual Rene Belmonte respondeu que minhas “observações foram bem colocadas” e estariam “sendo elaboradas regras para mensagens, que irão [iriam] nos guiar daqui pra frente.“

A expulsão de Wilson Alves em 2003 foi injusta. Ele exigiu: “Me mostrem as regras ou me expulsem”. O coro puxado por Tiago Santiago deu o veredito. Expulsaram o associado, nunca mostraram as regras, nunca fizeram as regras, nunca pediram desculpas. A ironia é um elemento sempre presente na Associação dos Roteiristas, nesses sete anos presididos por Marcílio Moraes, um auto-proclamado defensor da liberdade de expressão e da liberdade individual de criação. O próprio site da ARTV havia criticado meses antes um programa de um colega, chamando em matéria de capa como “a pior novela de todos os tempos”.

Algumas semanas antes da Assembleia de 2006, quando foi criada a AR, eu escrevi e enviei para a lista o texto “O Futuro da ARTV”, onde tecia um quadro do universo dos roteiristas brasileiros, fazendo um chamado à união de todos o roteiristas, de todas as mídias.

Newton Cannito respondeu: “Excelente a visão do Fernando E também os dados. Mostra o potencial de termos uma associação unificada!!!”. Marcílio Moraes classificou como o “belíssimo trabalho que o Fernando mostrou numa simples mensagem [que] prova que estamos no caminho certo. Mostra o potencial de termos uma associação unificada!!!”. Iara Regina exclamou: “É perfeito! Ele contextualiza muito bem o campo, traz informações preciosas e propõe uma reflexão mais ampla, capaz de nos ajudar a tomar uma decisão bem fundamentada.” Mauro Alvim refletiu: “Eu também parei para refletir sobre tudo o que o Fernando disse e dou nota dez! O ideal seria se realizássemos uma assembléia com o maior número de pessoas possível.”

No dia seguinte, Patricia Oriolo, fez um chamado a todos os roteiristas que gostariam de manter seus nomes no site, ou seja, que de fato estavam interessados em continuar assumindo publicamente, junto com a Diretoria, fazer parte da Associação dos Roteiristas. Trinta e dois nomes responderam. O meu era um deles. Além disso, o novíssimo site da entidade era – e é até hoje – parcialmente baseado em conteúdos escritos ou pesquisados por mim.

Quem estudar a história da Associação dos Roteiristas através das mensagens trocadas por seus associados através da Internet, verá que a AR, a Associação dos Roteiristas, que visava congregar todos os roteiristas brasileiros, não só um pequeno grupo de autores de televisão aberta, nasce de um e-mail enviado por mim. Essas mensagens se encontram todas arquivadas em meu computador, em centenas de outros computadores pessoais, e nos servidores do Yahoo. Fico feliz de dizer que me orgulho de todas as posições que firmei, de saber que ainda sustento cada palavra que disse, em todas as mensagens que enviei aos meus colegas roteiristas.

Eu disse em 2006: “Creio que a próxima assembléia geral seja o começo de uma nova etapa para a associação. Há muito o que se discutir. Decisões importantes devem ser tomadas. Estarei lá com certeza.”

Em 2010 não vou estar. Não posso estar no Rio na data escolhida, foi marcada muito em cima da hora e tenho compromissos profissionais que preciso cumprir como bom profissional. Há alguns anos que isso acontece comigo, as Assembleias costumavam ser no meio do ano, mas passaram a ser cada vez mais tarde, sem data fixa, sempre atrasadas, marcadas com pouca antecedência, numa inércia comum de quem só precisa de um plebiscito formal de vez em quando para continuar no comando.

Não estaria de qualquer jeito na Assembleia, me desliguei da AR para não atrapalhar o seu futuro. Mas quem é roteirista e puder estar na Assembléia deve estar. Formem chapas e programas. Elejam uma nova Diretoria, discutam maneiras de deixar a AR mais democrática, mais agregadora, para permitir que se possam criar comissões específicas para debater os temas, e que a posição da entidade seja representada por comissões oficiais, não por “poucos indivíduos expressivos” que não respeitam nem os manifestos que eles mesmo assinam.

Talvez seja hora de repensar novamente se o triunvirato – com três conselheiros gerais – com um Diretor Executivo e sua Diretoria Executiva não fosse a melhor estrutura. Ou, no mínimo, ter um Presidente comprometido à cumprir as decisões do Colegiado e o Estatuto da AR, ser corajoso, justo, leal, primar pela verdade e pelo cumprimento das regras escritas, e respeitar os direitos de todos os associados, cidadãos e seres humanos.

O primeiro ato da nova gestão da AR deve ser uma convocação à todo Roteirista Profissional se filiar à AR. Como o mote que ostento há anos em quase toda página do Roteiro de Cinema: “ROTEIRISTA, FILIE-SE À ASSOCIAÇÃO DOS ROTEIRISTAS”. Você que é Roteirista e está lendo este texto, filie-se à AR hoje e compareça na Assembleia, e exija que este seja o primeiro ato da nova diretoria eleita.

O segundo ato da nova diretoria eleita, deve ser um pedido de desculpas público e formal da entidade por ter agido equivocadamente com um colega roteirista. Por ter desrespeitado seus direitos, por tê-lo tratado de forma indigna e desrespeitosa. A AR deve isso há sete anos ao colega roteirista Wilson Alves. Ou se retrata, ou todos os associados terão que se envergonhar por essa mancha em sua história, como a os cristãos devem se envergonhar das excomunhões feitas por seus Papas, como os judeus devem se envergonhar dos “chérems”, censuras religiosas emitidas por seus rabinos. Marcílio Moraes, Tiago Santiago, Ricardo Hofstetter, famosos autores de televisão, que bradam contra a “censura” da classificação indicativa, “excomungaram” colegas da entidade que diz representar todos os roteiristas do Brasil.

O terceiro ato deixo por conta da criação de vocês. Gostaria de ver um compromisso com a liberdade de expressão, com a liberdade de comunicação, com a liberdade de criação, pelo livre acesso à informação. Pelo respeito ao direito alheio, pela fraternidade entre os iguais. Os Roteiristas Brasileiros devem se posicionar em Assembleia se respeitam esses princípios, e se concordam com as atitudes autoritárias e anti-democráticas praticadas pela entidade em seu passado remoto e recente.

E que o brado da AR ecoe novamente, como ecoou em 2006: “Roteiristas de todas as mídias, uni-vos! Vida longa à Associação de Roteiristas de Televisão, Cinema e Outras Mídias! Não importa com que sigla”. O que importa são os princípios.

Abraços,

Fernando Marés de Souza

O FUTURO DA ARTV
Originalmente publicado em 14 de Março de 2006

Caros Colegas,

Apesar de ter escrito que achava que o debate deveria se limitar à
escolha da nova sigla da ARTV, percebo que o debate em torno da
representatividade de nossa associação existe e não vai cessar tão cedo.
Pelo jeito fará parte da ordem do dia da assembléia anual. Percebo
também que este debate pode ser positivo, mas que uma decisão em
particular pode significar um retrocesso. Então, vou tecer minha
opinião, algo como um ensaio para a assembléia. Peço licença à diretoria
para usar a sigla clássica da associação, ARTV, em detrimento da
provisória, ARTC, pois senão o texto não faria sentido.

Sou de uma segunda leva de associados, que conheceu a ARTV através da
internet, no início de 2002, já como associação de roteiristas de
televisão, cinema e outras mídias. Neste mesmo ano a assembléia geral já
discutia a alteração da sigla, por causa do afastamento que ela gerava
nos roteiristas de cinema. Oriundo do universo do cinema, de imediato
concordei, pois eu mesmo havia sentido esse tipo de impressão negativa
ao ler a sigla ARTV. Acredito que quase nenhum roteirista profissional
se limita somente a um tipo de mídia, e uma associação de roteiristas
profissionais só faz sentido se representar os interesses de todos
roteiristas que escrevem para os diferentes meios de comunicação:
televisão, cinema, vídeo, dcine, rádio, quadrinhos, hipermídia
(interativos como hipertexto, jogos eletrônicos e cd-roms), e por que
não, teatro, apresentações, eventos, etc. Todos aqueles que se dedicam a
desenvolver um argumento, próprio ou não, em forma de um documento que
se convenciona chamar de roteiro.

A profissão de roteirista é regulamentada desde o final dos anos 70, mas
com uma clara divisão. A Lei 6.533 e seu decreto 82.385/78 regulamentam
a profissão do roteirista cinematográfico que “cria, a partir de uma
idéia, texto ou obra literária, sob a forma de argumento ou roteiro
cinematográfico, narrativa com seqüências de ação, com ou sem diálogos,
a partir da qual se realiza o filme”. A Lei 6.615 e seu decreto
84.134/79 regulamentam a profissão do roteirista de televisão e de
rádio, que “escreve originais ou roteiros para a realização de
programas. Adapta originais de terceiros transformando-os em programas.”
A Nova CBO – Classificação Brasileira de Ocupações, do Ministério do
Trabalho e Emprego, publicada em 1994, classifica a “Família 2615 -
Profissionais da escrita”, que por sua vez tem como subdivisão o item
“2615-05 – Autor-roteirista”, que diz ser sinônimo de “Adaptador de
obras para teatro, cinema e televisão, Argumentista-roteirista de
história em quadrinhos, Autor-roteirista de cinema, Autor-roteirista de
rádio, Autor-roteirista de teatro, Autor-roteirista de televisão,
Autor-roteirista multimídia, Dramaturgista” ·

Os sindicatos que representam os roteiristas são o SATED – Sindicato dos
Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões – para roteiristas de
cinema, teatro, eventos e circo; e o SINDICATO DOS RADIALISTAS, para
roteiristas de televisão e rádio, e que para alguns, representa também
os roteiristas das chamadas novas mídias ou multimídia. Também o
SINDICINE de São Paulo e o STIC do Rio de Janeiro são entidades que
regionalmente representam o roteirista de cinema. O SBAT – Sociedade
Brasileira de Autores – que no tempo da Chiquinha Gonzaga não conhecia
roteiristas, em seu estatuto atual admite ser procuradora de roteiristas
“audiovisuais ou similares”, pois afinal, são todos autores. Mas entre
tantas entidades é a ARTV quem vem representado com unidade e sem
distinção o que a legislação defasada e a organização sindical
brasileira insistem, na contramão da história, em separar.

Há mais de cinqüenta anos, nos E.U.A, o “Screen Writers Guild”, dos
roteiristas de cinema, se fundiu ao “Radio Writers Guild”, dos
roteiristas de Rádio, e ao “Television Writers Guild”, dos roteiristas
de Televisão. A nova associação passou a se chamar Writers Guild of
America, que é uma das principais referências éticas da ARTV. Se algum
dia deixarmos de ser uma associação de roteiristas de todas as mídias e
passarmos a ser uma associação de apenas um meio desta atividade,
corremos o risco de ter que se fundir no futuro, com associações que
seriam criadas no vácuo que seria deixado pela ARTV. E neste século XXI,
a convergência midiática tornará ainda mais importante a fração “outras
mídias”, presente em nosso nome. Se na atual conjuntura, outras pessoas
desejam criar uma associação exclusiva para roteiristas de algum tipo
específico de mídia, o problema é deles, que estarão também, na
contramão da história.

Acho importante qualquer atitude que vise nos reafirmar como uma
Associação de Roteiristas de Todas as Mídias. Sabemos que representamos
os roteiristas de cinema, mas como bem disse o Marcílio, parte do
público não. E pior, alguns roteiristas de cinema ignoram esta
representatividade e acabam achando equivocadamente que uma associação
de radialistas usurpa um espaço que deveria ser de cineastas. A ARTV
representa os roteiristas de cinema não só no nome da associação e no
corpo de associados – minha presença, a do Bráulio Mantovani e a do
David França Mendes, entre outros, comprova isto – mas representa também
os interesses dos roteiristas de cinema e de outras mídias no seu
estatuto, no código de ética, na carta de direitos, e nas ações. O
reconhecimento do MinC, por exemplo, na interlocução sobre os editais de
concursos de cinema foi um marco positivo, e os interesses defendidos
nestas interlocuções foram sempre os dos roteiristas de cinema.
Profissionais e iniciantes. Associados como eu, o Nixxon e a Denise
Duarte, que freqüentam listas de discussão com roteiristas amadores,
sabem que nestes grupos há centenas de jovens roteiristas diletantes que
agarrariam qualquer oportunidade de escrever para qualquer tipo de
mídia, e que almejam um dia se profissionalizar e fazer parte de nossa
associação. Ao contrário de alguns roteiristas profissionais, esta nova
geração que se forma sabe que uma categoria profissional não se define
por meios e sim por princípios e fins, e sabe também da ampla
representatividade da ARTV.

A corajosa atitude da diretoria de alterar provisoriamente a sigla da
ARTV para ARTC terá sido positiva se significar, não uma ruptura com o
passado, mas o soar das trombetas de uma nova era para a associação. Há
anos discutíamos a alteração, mas nunca conseguimos avançar o debate. Ao
meu ver, é fundamental a alteração da sigla ARTV para algo que não
provoque preconceitos ou mal entendidos, para algo que não pareça
parcial ou excludente. Somos a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ROTEIRISTAS
PROFISSIONAIS DE TELEVISÃO, CINEMA E OUTRAS MÍDIAS e opções de
acrossemia não faltam: ARTC, ARTVC, ARTVCINE, ABR, ABRP, ABROT, ABRARP,
ABRAPROROTVCINEMIDI, ou outras que podemos combinar. Particularmente
acho que se deva manter as letras A+R+T+V, somado a algo que remeta ao
elemento CINEMA, pois a identidade de nossa associação que evoca esta
sigla já foi difundida nestes 6 anos de história, e seria uma pena
perder isto. ARTVC ou ARTVCINE me parecem as mais razoáveis. Porém, se
formos perder a identidade ARTV da sigla, como a atual provisória ARTC,
preferiria que então reduzíssemos a sigla para o menos excludente
possível, não citando nenhum tipo de mídia, nem TV, nem C. Siglas como
ABR ou ABRP são boas, mas contam com a desvantagem de já existirem como
sigla de outras associações. ABROT ou ABRARP pelo que sei são inéditas.
Também deve ser orientado para a diretoria, para os associados e para a
imprensa, que quando quiserem usar um nome mais curto em substituição ao
nome completo da associação, usarem “Associação Brasileira de
Roteiristas”, ou “Associação Brasileira de Roteiristas Profissionais”,
ao invés de “Associação Brasileira de Roteiristas de Televisão” ou
“Associação de Roteiristas de Televisão”. Continuo acreditando que os
associados deveriam ser sondados, mesmo que informalmente sobre suas
preferências de nova sigla, por e-mail, antes da assembléia. E que um
amplo debate acerca desta escolha acontecesse aqui na lista. Porém,
confio na diretoria para encaminhar esta questão da forma que melhor
encontrar.

Mas apenas a alteração da sigla não é o suficiente. Precisamos cooptar
mais roteiristas de cinema para nossa associação, assim como roteiristas
de outras mídias. Temos que admitir que a proporção de membros pende
bastante para a fração TV, por causa do contexto de sua fundação. Porém,
a recente chegada do David França Mendes é uma prova de que se bem
informado, o roteirista de cinema tende a se juntar às nossas fileiras.
Roteirista de cinema é mais desgarrado do que o de tv. Precisamos
apresentar a associação, seu estatuto e seu código de ética, e convidar
formalmente notórios roteiristas de cinema como Fernando Bonassi, Victor
Navas, Hilton Lacerda, Karim Ainouz, Paulo Halm, Patricia Melo, Carlos
Gerbase, Giba Assis Brasil, Marçal Aquino, Marcos Bernstein, André
Klotzel, Anna Muylaert, e Tabajara Ruas, por exemplo. Roteiristas que
jogam nos dois times como Jorge Furtado, Leopoldo Serran e Nelson
Nadotti. Roteiristas prolíficos de curta-metragem como Luis Gustavo
Bayão e Aleksei Abib. Roteiristas de rádio como Fábio Malavoglia e João
Carlos Viegas. Roteiristas de histórias em quadrinhos, como Gian Danton
e Eugênio Colonnese. Roteiristas de hipermídia como Vicente Gosciola.
Autores de manuais de roteiro, como Roman Bruni, Eliane Meadows,
Eveleine Zupardo e Jackson Saboya. Roteiristas de TV que ainda não se
associaram, e assim por diante. Devemos convidar roteiristas de todas as
regiões do Brasil. Eu sei que uma parcela destes não se interessará em
fazer parte, porém, a cada profissional que se agrega, a associação se
torna mais forte. Quanto mais diversidade regional e midiática houver,
mais representatividade a entidade terá. A ARTV foi fundada por 79
roteiristas, hoje, depois de 6 anos, temos algo como 145 membros. Talvez
seja o momento de estabelecer uma política que vise dar um salto neste
número. Crescer num sentido amplo, crescer também em diversidade.

Gosto da idéia dos “braços” específicos para cada uma das mídias, como
definiu o Renê Belmonte, funcionando como as antigas comissões. Comissão
de televisão, comissão de cinema, comissão de rádio, comissão de
quadrinhos, comissão de hipermídia. Anualmente a assembléia pode revisar
estas comissões, criar uma nova ou suprimir uma delas. Com a
popularização das inovações tecnológicas, no futuro teríamos uma
comissão de WebTV, uma comissão de Podcast, uma comissão de Jogos
participativos, etc. Se acharem necessário, não vejo problemas em ter
diretorias ou sub-diretorias, nos moldes das que hoje temos as
regionais, para tipos diferentes de mídia: diretoria de televisão,
diretoria de cinema, diretoria de rádio, diretoria de quadrinhos,
diretoria de hipermídia.

A ARTV passa pela fase mais interessante desde sua criação. Website novo
com ótimo conteúdo, a maratona de roteiros ARTV que foi um sucesso, as
interlocuções com o MinC, o reconhecimento por parte de instituições
nacionais e internacionais, a presença constante na imprensa. O universo
do roteiro brasileiro em si passa por uma excelente fase. Concursos
periódicos, cursos em várias regiões, novas publicações, websites e
grupos de discussão na internet. Para se ter uma idéia, o site
www.roteirodecinema.com.br recebe a
média de 21.000 visitantes por mês, com uma média mensal de 75.000
páginas visualizadas. Só no último mês de março, 880 pessoas baixaram o
roteiro de “Cidade de Deus”, e 550 baixaram o de “Celebridade”. Mais de
3.100 leram algum manual de roteiro online, 600 acessaram o Guia de
Registro de Roteiros, 1.120 procuraram concursos e 700 procuraram
cursos. O grupo de discussão do site é formado por 756 assinantes, e a
comunidade do Orkut conta com 2.234 membros. No RoteirosOnLine, da
Denise Duarte, há 780 no grupo e 1173 na comunidade. Numa outra
comunidade do Orkut, o Roteiros – Cinema e TV, há 12.987 membros. Na
ferramenta de procura google, estima-se que pelo menos 5.000 pessoas
procuram a palavra “roteiro” diariamente. O interesse sobre o tema nunca
foi tão grande. Além disso, tem se produzido uma quantidade razoável de
filmes, o celtx – um software livre de formatação de roteiros em
português foi lançado, canais de TV estrangeiros começam a produzir
conteúdos nacionais, concorrentes da Globo investem em teledramaturgia…

Creio que a próxima assembléia geral seja o começo de uma nova etapa
para a associação. Há muito o que se discutir. Decisões importantes
devem ser tomadas. Estarei lá com certeza.

Roteiristas de todas as mídias, uni-vos! Vida longa à Associação de
Roteiristas de Televisão, Cinema e Outras Mídias! Não importa com que
sigla.

Abraços,

Fernando Marés de Souza