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Celtx 2.5, o software gratuito de roteiros

por Márcio Massula Jr.

Um programa para formatação de roteiros não vai, nunca, ser o responsável pela qualidade de uma história. Mas ele pode ajudar.

O Celtx começou, na segunda metade de 2005, como um simples formatador de roteiros cinematográficos, mas atualmente, com a versão 2.5.1 saindo do forno, ele já é bem mais do que isso, e as funções que oferece condizem mais com o novo título: mídia de pré-produção.

Já li, algumas vezes, em sites e artigos que falam sobre programas para formatação, a expressão “Final Draft Killer”. O termo, ao mesmo tempo que denota toda a tradição do Final Draft e a suposta superioridade do programa, também evidencia um certo desassossego por um sucessor à altura.

O Celtx ainda tem suas deficiências, mas, pouco a pouco, começa a ganhar espaço nos corações dos roteiristas mundo afora. A questão é que tanto o Final Draft, como seu desafiante direto, o Movie Magic Screenwriter custam por volta de duzentos e cinquenta dólares. Mesmo jogadores novos, como o Movie Outline, tem preços que podem não ser atrativos para roteiristas que ainda não tem na escrita o seu ganha-pão.

A interface do programa é bem clean, e ele é praticamente auto-intuitivo, o que também colabora no primeiro contato.

FREEWARE OU OPENSOURCE?

Ainda existe uma grande confusão entre esses dois termos e convém destacar aqui as diferenças.

Freeware é todo programa cuja utilização é livre de ônus para o usuário, ou seja, você pode baixar, instalar e usar sem ter que tirar dinheiro do bolso. Mas, mesmo assim, pode ser que o produto pertença a alguém. Quaisquer modificações no programa tem que ser feitas pelo seu idealizador, seja um indivíduo, seja uma empresa, que pode, inclusive, mudar de idéia a respeito do da distribuição daquele programa.

Opensource são programas cujo código-fonte é aberto a qualquer pessoa, ou seja, qualquer usuário com os conhecimentos técnicos necessários pode alterar o programa para que este funcione segundo suas vontades. Embora as licenças de uso possam variar, esses programas são, de forma geral, doações dos autores à comunidade.

Então, todo opensource é um freeware, mas nem todo freeware é um opensource.

O Celtx é um opensource, e o exemplo disso é o fato dele ter sido criado sobre a plataforma de outro opensource famoso, o Mozilla Firefox. A partir da versão 2.0, a Greyfirst, empresa que criou o Celtx, liberou o desenvolvimento de extensões por parte de terceiros. E antes disso, alguns tweaks já vinham sendo feitos e mostrados nos fóruns do Celtx.

MULTIPLATAFORMA

O Celtx tem versões para os três principais sistemas operacionais disponíveis: Linux, Windows e Mac OS X.

Isso se chama interoperabilidade. Significa que não há nenhuma barreira para pessoas que tenham computadores com diferentes sistemas operacionais, ou mesmo usuários que possuam mais de um computador nessas mesmas condições, possam trabalhar no mesmo arquivo.

Isso é uma boa, principalmente para a comunidade do Linux, que, por motivos ideológicos e de mercado, foi solenemente ignorada pelos desenvolvedores desse tipo de aplicação. Além de alguma s extensões e templates arcanos para o OpenOffice, o Vim o Emacs e o Tex, houve apenas o GNU Screenplay, abandonado sabe-se lá por qual motivo.

Nota: hoje, para o OpenOffice 2.x em diante, existe um template mais palatável, que pode ser encontrado aqui.

TRINTA IDIOMAS

O Celtx está disponível em cerca de trinta idiomas, o português brasileiro incluso.

CRIAÇÃO DE PROJETOS

Uma das grandes diferenças do Celtx frente a outros programas para formatação de roteiros é que, quando se cria um arquivo, não se cria apenas um roteiro, mas um projeto, que pode abrigar diversos roteiros, assim como outros elementos diferentes, inclusive, arquivos de outros programas, que o Celtx não manipula, mas mantém junto ao projeto.

O legal é que isso permite agregar todas as informações referentes ao roteiro num mesmo lugar, ou melhor, numa mesma interface, e isso ajuda a manter o fluxo das idéias.

SEIS EDITORES DE TEXTO DIFERENTES

O programa conta com seis editores de textos diferentes, sendo um para os roteiros cinematográficos propriamente ditos, outro para roteiros A/V (áudio-visual), que divide o texto em duas colunas, outro para teatro, outro para áudio (rádio), outro para quadrinhos e o último para textos planos.

Um recurso interessante do Celtx é o “Adaptar para…”, que dá possibilidade de converter, rapidamente, um tipo de roteiro para outro.

FERRAMENTAS

O programa conta ainda com diversas ferramentas extras, como um organizador de storyboards, uma ferramenta para criação de esboços, calendário, agenda, hiperlinks e mais de trinta tipos de fichas para descrição detalhada dos elementos que vão compor a obra, sejam atores, objetos de cena ou locações.

A vantagem é que todos esses elementos podem ser cruzados e inseridos no roteiro através de uma ferramenta de indexação (que por enquanto, é manual).

FORMATOS

Um dos aspectos mais importantes num programa dessa natureza é o dos formatos com os quais ele trabalha.

Desde a versão 0.996, o formato nativo do Celtx tem sido o .celtx, que nada mais é que uma pasta compactada onde estão inclusos os arquivos menores – roteiros, anotações, fichas, etc., que são, por sua vez, salvos no formato html, assim como os arquivos em outros formatos que são agregados ao projeto. A grande sacada é que um arquivo .celtx pode ser aberto até com um descompactador normal, como o 7zip, por exemplo.

O programa exporta para .txt, .html e também para .pdf, sendo que esta última opção requer, por enquanto, uma conexão com a internet. Muitos usuários, eu incluso, acham que o recurso seria muito melhor se também funcionasse offline.

Ele só consegue importar arquivos .txt, e, invariavelmente, o roteiro importado vai requerer algumas correções na formatação. Mas o .txt é universal, e praticamente todos os outros formatadores conhecidos, assim como os editores/processadores de texto, exportam e editam esse formato, o que torna a migração para o Celtx muito fácil.

PORTABILIDADE

Existe uma versão portátil (e, aparentemente, abandonada) do Celtx, que pode rodar a partir de um pendrive, inclusive junto com a suíte PortableApps.

Contudo, no Windows é possível copiar a própria pasta da instalação do Celtx para dentro de um pendrive, e mesmo assim ele funciona perfeitamente, embora possa deixar rastros no computador onde você está utilizando o programa.

No Linux, que na verdade nem exige instalação, ocorre o mesmo.

Junte isso à interoperabilidade da qual falamos lá em cima e você terá uma ferramenta que – parafraseando um dos membros da comunidade do Celtx no Orkut – nunca o deixará num aperto.

FÓRUM

Um dos diferenciais do Celtx, e talvez o maior responsável pelo seu sucesso, é o seu fator “social- networking”, que nunca deixa o interesse pelo programa arrefecer. O fórum por exemplo já tem quase dez mil participantes inscritos e a tendência é só aumentar. Os moderadores, funcionários da Greyfirst, costumam ser bem prestativos. Na maioria das vezes, as perguntas devem ser feitas em inglês, mas uma seção do fórum é dedicada a outros idiomas e é possível encontrar, ou mesmo criar, se for o caso, tópicos em português.

CELTX STUDIOS

Antes da versão 2.0, o Celtx contava com uma funcionalidade chamada Web Services, onde estavam contidos o Project Central e também um serviço rudimentar de backup e compartilhamento dos roteiros.

No lançamento da versão 2.0, a Greyfirst anunciou que iria descontinuar seus Web Services, substituindo-os pelo Celtx Studios, um novo serviço que, devido a diversos motivos, passaria a ser pago.

Testei o serviço por um curto período de tempo e realmente não vi nenhum atrativo tão grande a ponto de me fazer pagar por ele. Mas convenhamos: numa situação que exija trabalho colaborativo, os 50 dólares anuais são uma pechincha.

De qualquer maneira, é possível emular, com determinadas limitações, o comportamento do Celtx Studio através de ferramentas como o Dropbox, o Mozy ou o Ubuntu One. Os três são serviços pagos, mas tem modalidades gratuitas com capacidade de armazenamento por volta de 2GB, espaço mais do que suficiente para armazenar projetos do Celtx.

CENTRAL DE PROJETOS

Atualmente o Project Central tem bem menos recursos do que já teve, e se limita a ser um espaço onde os usuários podem fazer o uploads públicos dos seus projetos e receber comentários de outros usuários.

Entretanto, ainda continua sendo uma excelente maneira de dar a cara a tapa.

WIKI

O programa não possui um help ou um manual. Ao invés disso, conta com uma página wiki (onde o conteúdo é criado pelos próprios usuários), com versões, até o momento, em inglês, alemão, francês, esloveno, espanhol, sueco, turco e húngaro.

O CELTX POR AÍ

Além do site propriamente dito, da wiki, do fórum e do blog, o Celtx mantém um perfil no Twitter, além de uma página e um grupo no Facebook.

Existe uma comunidade não-oficial do Celtx no Orkut e um tutorial em português, baseado na versão 1.0, escrito pelo guionista português João Nunes.

O FUTURO?

Sinceramente, acredito que num futuro não muito distante o Celtx vai ganhar um irmãozinho Web 2.0. Ele foi baseado num browser, e serviços como o Zhura (cuja interface do editor de roteiros lembra bastante a do Celtx, aliás) e o Plotbot estão aí para provar que existe uma demanda por esse tipo de ferramenta.

RELEMBRANDO

O Celtx pode ser baixado, gratuitamente, aqui. Divirta-se.
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Artigo original escrito por Márcio Massula Jr. em março de 2008 e atualizado e ampliado pelo autor em novembro de 2009. Massula é roteirista, colaborador do Roteiro de Cinema, usuário pioneiro do Celtx, e fundador da Comunidade do Celtx no Orkut.