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Álvaro Dias vê apenas detalhes saborosos em indícios de crime de imprensa

UPDATE: 8 meses depois os indícios de crime ficaram mais sólidos e levam até Cachoeira.

Enquanto cresce o escândalo envolvendo a Revista Veja – acusada de plantar ilegalmente câmeras no Hotel Naoum e tentar invadir o domicilio temporário do dirigente petista José Dirceu – líder do PSDB no Senado, Álvaro Dias, diz não ver nenhum indício de ilegalidade na obtenção e publicação das imagens do corredor do Hotel, acredita que são apenas “detalhes saborosos”, e ainda acha que repórter acusado pelo hotel de tentar invadir quarto do ex-ministro “é corajoso”.

Diz o senador sobre a polêmica reportagem: “…traz detalhes saborosos: podemos ver as imagens das “autoridades” que vão até o “gabinete” de Dirceu, montado no Naoum, um hotel de luxo de Brasília…”

O caso Veja/Naoum tem paralelos com o “Watergate” (arapongagem em hotel); Strauss-Kahn (envolve uma camareira); e News of the World (métodos ilegais e invasão de privacidade para conseguir informações exclusivas). Gerente do Hotel Naoum diz que já acionou a polícia e que “alguém vai pagar” pelo crime. Ironicamente foi Álvaro Dias quem propôs criar uma “CPI dos grampos”, baseado em indícios muito menos sólidos, denunciados pela revista Veja.

Leia excertos do que o Senador escreveu em seu blog e Twitter:

Blog do Senador Álvaro Dias (PSDB)”
Minha conversa com o Senador no Twitter.
Jornalista corajoso.

UPDATE: 8 meses depois os indícios de crime ficaram mais sólidos e levam até Cachoeira.

Leia mais sobre o caso:

Alberto Dines: Jornalismo político volta à Era da Pedra Lascada
Ricardo Kothscho: Repórter não é Polícia; Imprensa não é Justiça
Agora é oficial: imagens divulgadas por Veja são fruto de grampo clandestino
Polícia Federal já está no caso Veja/Hotel Naoum
Naoum aciona PF: Veja pode ter feito filme ilegal
Imagens divulgadas por Veja não foram feitas por câmeras do Hotel Naoum
Direção do Hotel Naoum confirma crime de Veja
VEJA passou recibo do crime
“Veja” atenta contra os princípios democráticos
O Poderoso Pastelão
O ponto sem retorno de Veja
Reportagem patética da Veja pode servir para que CEO da Abril inicie faxina interna
Repórter da revista Veja é flagrado em atividade criminosa

PS: No mesmo dia em que o escândalo estourou, o Senador havia publicado um post em seu blog dando conta que um jornalista português publicaria – na revista Visão – denúncias contra Zé Dirceu, mas depois de seis horas no ar, apagou o post porque teria se dado “conta de que poderia prejudicar o trabalho do jornalista”.

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Marcos Guterman erra de novo sobre Flotilha da Liberdade

Em fevereiro demonstrei aqui que o colunista do Estadão Marcos Guterman estava mal informado – no mínimo – ao afirmar que não se sabia “de alguma valente ‘flotilha da liberdade’ despachada para ajudar as vítimas” da guerra civil na Líbia. Guterman passa por cima dos fatos e evidências em um discurso que visa desmoralizar as entidades humanitárias que tentam ajudar palestinos, numa retórica – falsa – de que as entidades que organizaram a flotilha da liberdade agem apenas por motivações anti-israelenses e não se importam com outras catástrofes humanitárias.

Pois bem, seis meses depois, Guterman erra novamente em sua tentativa de deslegitimar as entidades humanitárias que tentam romper o embargo criminoso imposto por Israel na faixa de Gaza – que limita a entrada de ajuda humanitária na região. O colunista usa a mesma retórica que usou para os Líbios em novo artigo intitulado “Os somalis esperam uma “Flotilha da Liberdade”.

Pois bem, não só uma, mas várias flotilhas da liberdade já partiram para a Somália, organizadas pela mesma IHH turca – Foundation for Human Rights and Freedoms and Humanitarian Relief – entidade humanitária que organizou a Flotilha da Liberdade para Gaza, que Guterman tanto gosta de citar em vão.

Enquanto Guterman criticava “as entidades especializadas em despachar ‘Flotilhas da Liberdade'” por sua falta de ação na Somália, a IHH estava mantendo campos de ajuda em mais de 70 países, incluindo Somália, Líbia e Síria. E apesar de ter sua ação limitada em território Palestino pelas forças israelenses, vem realizando um trabalho importante no alívio da crise humanitária em Gaza.

Um dos barcos da IHH que parte para a Somália chama-se Gaza.

Agora pergunto: se Guterman não se retratou ou corrigiu as informações – ou a falta de – na primeira vez que errou, será que irá se corrigir desta vez?

UPDATE: Guterman, com citação explícita a este artigo, se retratou em seu blog.

Campo da IHH na Somália em Julho.

PS. Pesquisei e não deu outra: “Where’s your flotilla?” virou uma falácia internacional da retórica pró-israel.

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Anonymous: Os princípios editoriais da Globo não valem o que o gato enterra



“Os princípios editoriais da Globo não valem o que o gato enterra.”
Mensagem de um Anonymous deixada no perfil crackeado do Arnaldo Jabor. https://twitter.com/#!/realjabor/status/104421995994824704 
A mensagem – que reflete o inconsciente coletivo cibernético – é obra de um coletivo chamado “Script Kiddies”, adolescentes ingleses usando tradutor automático movidos “just for the lulz”.



O termo “Arnaldo Jabor” está sendo um dos mais discutidos na rede social chegando aos “trending topics” do Twitter na manhã de hoje, mas foi rapidamente suprimido da lista pela empresa, que costuma censurar este tipo de informação dinâmica quando ela desagrada os seus interesses ou de parceiros.

http://twitter.com/#!/NosTTs/status/104546133145174016

E quem vai romper o espiral do silêncio?

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Jornal Nacional da Globo viola os Direitos Humanos

Publiquei ontem sobre os princípios editoriais das Organizações Globo anunciados e desrespeitados por seus jornalistas numa mesma edição do Jornal Nacional, e inspirado pelo relato que fiz do caso da merendeira suspeita de colocar veneno em comida de alunos, o Antônio Mello, do Blog do Mello, montou este vídeo elucidativo:

Relatei no artigo original: “Em uma matéria sobre a presença de veneno em merenda escolar no RS, a âncora Fátima Bernardes afirma: “Está foragida a merendeira que pôs veneno de rato na comida de crianças e professores de uma escola pública de Porto Alegre” – enquanto mostra a foto da acusada na tela. Mas como pode a jornalista afirmar como fato algo que ainda não foi comprovado? A merendeira é SUSPEITA de ter colocado veneno, ACUSADA de ter colocado veneno, Fátima Bernardes não pode apresentar como fato que a “merendeira pôs veneno de rato na comida de crianças”. Mesmo que haja uma suposta confissão da merendeira, o advogado da acusada afirma que ela não colocou veneno algum e que se apresentará segunda-feira, informação que o Jornal Nacional não traz em sua reportagem. A matéria fere os princípios descritos nos itens 1-v, 1-x, e 1-z dos princípios editoriais, desrespeita o princípio do contraditório e qualquer senso básico de justiça.”

Porém, mais grave que desrespeitar seus princípios editoriais, os jornalistas responsáveis pela matéria – em especial o editor-chefe William Bonner e o diretor da central de jornalismo Ali Kamel – violam os direitos humanos da cidadã brasileira Wanuzi Mendes Machado, violam a Constituição Federal e o Código de Ética dos Jornalistas brasileiros:

É expresso na Declaração Universal dos Direitos do Homem em seu artigo Artigo XI:

1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.  

É expresso na Constituição Federal em seu artigo Art. 5º:

LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

É expresso no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros no Capítulo III:

Art 9º A presunção de inocência é um dos fundamentos da atividade jornalística. 

Art. 12. O jornalista deve:
I – (…) ouvir sempre, antes da divulgação dos fatos, o maior número de pessoas e instituições envolvidas em uma cobertura jornalística, principalmente aquelas que são objeto de acusações não suficientemente demonstradas ou verificadas; 

Então fica a pergunta: até quando o Jornal Nacional e o jornalismo da Globo se sentirão acima de todas as regras, sejam elas públicas ou  privadas?

Vale ressaltar que não está em discussão a inocência ou culpa da cidadã Wanusi, pois isso só será determinado após o devido processo legal. Não é uma questão sobre este caso específico. É uma questão de princípios.

OUTRO LADO:

A Central Globo de Comunicação foi procurada mas ainda não se pronunciou. A resposta será publicada aqui neste espaço.

UPDATE: Apesar de ainda não ter recebido resposta da CGCOM, a edição de hoje do Jornal Nacional trouxe um desdobramento sobre o caso. Os jornalistas deram voz ao contraditório, apresentaram a tese do advogado da merendeira, passaram a chamá-la de “suspeita” e ao final, fizeram uma retratação: “Ao tratar desse caso policial no último sábado (6), por uma falha de edição, o Jornal Nacional não mencionou a alegação do advogado de defesa que contestava a confissão da cliente. Foi, obviamente uma falha, que foi corrigida nesta reportagem.”

Porém, apesar da retratação ser um avanço – apresentando o contraditório e admitindo um erro – o veículo ainda não admitiu que errou ao afirmar que a merendeira “pôs veneno de rato na comida de crianças” sem que esta tese estivesse comprovada.

Fernando Marés de Souza

PS.

FREE BRADLEY MANNING
FREE THE WEST MEMPHIS THREE
Remember José Cleves

E aí Tio? Problem?

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Organizações Globo publicam seus princípios éticos mas não os praticam

UPDATE: Depois da repercussão do vídeo que o Blog do Mello editou baseado nas informações deste artigo, na edição do Jornal Nacional do dia 08/08/2011 William Bonner pediu desculpas e reconheceu o erro ao não apresentar o contraditório no caso da “merendeira do RS”.

—–

Horas antes de ter ser obrigado a pedir desculpas em rede nacional.
https://twitter.com/realwbonner/status/100710116088745984

As Organizações Globo publicaram com alarde em todos os seus veículos um documento onde delineiam os “os princípios e os valores que regem o jornalismo feito por suas empresas de comunicação”.


O documento foi recebido com ironia, ceticismo e críticas nas redes sociais, alcançando rapidamente os “trending topics” do Twitter.

Blogueiros especulam que a divulgação do documento veio em resposta às acusações do jornalista Rodrigo Vianna – ex-funcionário da Globo – de que a direção da emissora emitiu ordem expressa para que seus jornalistas atacassem o novo Ministro da Defesa Celso Amorim. 

O ceticismo e as críticas são baseadas no histórico do conglomerado de mídia, e a ira e ironia dos internautas é pautada principalmente pela eterna proteção ao presidente da CBF Ricardo Teixeira – através do conhecido espiral do silêncio – que acusado de corrupção pela BBC inglesa, desdenhou dos veículos que repercutiram a notícia afirmando que só ficaria preocupado “quando sair no Jornal Nacional”. Obviamente o Jornal Nacional nunca mencionou as acusações. O silêncio da organização sobre as denúncias contra Teixeira pode ser conferido com uma simples busca aos termos “CBF + corrupção + Ricardo Teixeira” no portal de informações do conglomerado.

As ligações de Teixeira com a Globo são estreitas e antigas e as críticas ao monopólio exercido pela Globo na transmissão do futebol brasileiro recorrentes, porém recentemente uma nova denúncia grave surgiu: as Organizações Globo receberam 30 milhões de recursos públicos dos cofres da Prefeitura e do Governo do Rio através de sua subsidiária Geo Eventos para organizar o sorteio das preliminares da Copa mês passado. A escolha da empresa foi feita pelo Comitê Organizador Local, presidido por – surpresa! – Ricardo Teixeira.

Com interesses econômicos diretos na Copa do Mundo do Brasil, o jornalismo da Globo também faz vista grossa para as crescentes denúncias de violação de direitos humanos e ilegalidades cometidas na remoção de famílias para construção de infra-estrutura do evento, relatadas inclusive pela ONU.


É interessante notar que na mesma edição do Jornal Nacional que anunciou os tais Princípios Editoriais, seus jornalistas descumprem flagrantemente o que está escrito no documento. Em uma matéria sobre a presença de veneno em merenda escolar no RS, a âncora Fátima Bernardes afirma: “Está foragida a merendeira que pôs veneno de rato na comida de crianças e professores de uma escola pública de Porto Alegre” – enquanto mostra a foto da acusada na tela.

Mas como pode a jornalista afirmar como fato algo que ainda não foi comprovado? A merendeira é SUSPEITA de ter colocado veneno, ACUSADA de ter colocado veneno, Fátima Bernardes não pode apresentar como fato que a “merendeira pôs veneno de rato na comida de crianças”. Mesmo que haja uma suposta confissão da merendeira, o advogado da acusada afirma que ela não colocou veneno algum e que se apresentará segunda-feira, informação que o Jornal Nacional não traz em sua reportagem. A matéria fere os princípios descritos nos ítens1-v, 1-x, e 1-z dos princípios editoriais, desrespeita o princípio do contraditório e qualquer senso básico de justiça.

A maneira como o jornalismo da Globo lida com suspeitos de crimes é – sob minha ótica – um dos principais desvios éticos da organização. O veículo tem um caráter justiceiro, se coloca acima do judiciário e do devido processo legal, acima do princípio – não descrito no documento da Globo, mas sim na Declaração Universal dos Direitos do Homem – de que todos são inocentes até que se prove o contrário.

A Globo trata suspeitos e investigados como culpados sentenciados, sem autoridade moral ou legal para isso, assume como verdade inequívoca teses não comprovadas de agentes policiais, provocando tragédias como a do calvário do jornalista José Cleves, vítima de uma reportagem sensacionalista do Fantástico em 2001 que – baseado apenas na palavra de um delegado que queria incriminar o jornalista que investigava a corrupção policial – julgou e condenou o réu por antecedência no caso do assassinato de sua esposa. Cleves ficou anos encarcerado, mas posteriormente foi inocentado pelo STF, após intervenção da Comissão Nacional de Direitos Humanos. A matéria do Fantástico havia sido apresentada como prova pela promotoria. O Fantástico nunca se retratou do erro ou citou novamente o nome de Cleves.

Relata José Cleves: “A maldade da polícia, no meu caso, foi reparada pela Justiça, que me absolveu à unanimidade ao acatar a tese de meu advogado de que a arma, apontada pela polícia (e a imprensa que a copiou) como a do crime, fora plantada no local do assalto para incriminar-me. A mesma reparação não tive da imprensa. O espetáculo jornalístico causou um estrago tão grande na minha família que perdi as esperanças de um dia ficar livre desse pesadelo.”


No último domingo uma reportagem de Rodrigo Alvarez para o Fantástico acusava várias pessoas de cometer crimes ambientais na construção de mansões em paraísos ecológicos, a maioria ainda em processo de investigação, mas de maneira hipócrita e corporativista não citou o caso de um funcionário da casa, o apresentador Luciano Huck, condenado por danos ambientais em sua mansão de Angra e processado por outros crimes ambientais no mesmo imóvel.

Outro caso de hipocrisia, agravado pelo recebimento indevido de recursos públicos, se deu na tragédia da região serrana do Rio. Enquanto os editoriais das Organizações Globo responsabilizavam membros do governo federal e estadual por não terem realizado os investimentos para conter as enchentes, escondiam o fato de que a Fundação Roberto Marinho embolsou parte do dinheiro público do Fundo Estadual de Conservação do Meio Ambiente, que deveria ser destinado para a prevenção de enchentes e contenção de encostas, e usou na construção de um museu na área urbana do Rio.


No quesito “correção”, o documento diz que  “Os erros devem ser corrigidos, sem subterfúgios e com destaque. Não há erro maior do que deixar os que ocorrem sem a devida correção”.

Pois bem, a prática de correção de informações equivocadas publicadas pelos veículos da organização é falha. Quando desmenti sozinho quase toda a imprensa brasileira em fevereiro deste ano no “exposé” investigativo “A verdade sobre o Google e a suposta censura de notícias no Brasil“, relatei que após publicar informações falsas, o G1 publicou uma correção que a Agência Estado enviou aos seus clientes depois de alertada pela minha reportagem, mas mantém até hoje a página original sem correção e sem nenhum aviso que as informações ali publicadas não são verdadeiras, e esta página original foi (e ainda é)  usada  como fonte para corroborar uma informação falsa. Na prática, continua publicando mentiras.

O Blog do Noblat, publicação que faz parte das Organizações Globo e que também reproduziu a informação falsa, nunca se seu ao trabalho de corrigi-la e mantém a informação falsa no ar


Outra vez fica claro que o documento das Organizações Globo é apenas uma vaga declaração de intenções, e não um código de conduta.


Uma afirmação do documento que chega a provocar risos é a de que “As Organizações Globo são laicas”. Isso vindo de uma emissora que transmite a “Santa Missa” católica nas manhãs de domingo – sem ônus para o Vaticano – e que trata como fato o “milagre” de Irmã Dulce.

Oremos…