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Blog da Bethânia: envolvidos falham em tentar justificar alto custo

Hermano Vianna e Andrucha Waddington dizem que orçamento de blog de poesias é alto por causa da produção de vídeos, mas cachê de Bethânia seria maior que todo montante previsto para realização audiovisual.

Hermano Vianna, o idealizador do blog (ou videolog) da Betânia “O mundo precisa de poesia”, aprovado para captação pelo CNIC e que gerou polêmica pelo orçamento milionário, escreveu um artigo hoje no Globo defendendo o projeto, e tenta explicar o alto custo do Blog:

“Há custos altos sim, e justificados: é trabalho diário de um ano, com 365 vídeos de alta qualidade a produzir, negociações de direitos autorais, contratação de gente para escrever sobre cada poeta, DJs etc. Nada é simples, ou fácil.”, diz o antropólogo.

Quem não leu o projeto pode até engolir, mas depois que o projeto e sua planilha de custos se tornou pública – através deste blog e do blog do Pablo Villaça – é impossível corroborar a informação de Vianna. No projeto não há previsão de verba para direitos autorais, diz que a “Nova Fronteira se encaregará (sic) da liberação dos direitos dos poemas (ela já tem muitos poetas essenciais em seu vasto catálogo).” Também não há previsão de verba para DJ’s, e a “contratação de gente para escrever” sobre cada poeta deve sair dos R$ 120 mil reservados pra “Cooordenação Editorial”, menos de 10% do valor do projeto.

Andrucha Waddington também cita a produção dos 365 vídeos, em reportagem do blog de Bob Fernandes:

“É uma equipe que vai ter fotógrafo, produtor, maquiador, figurinista, equipamentos… Cada programa está custando R$ 3.562. São 365 programas. Um programa por dia. Trabalho de um ano. A gente vai produzir mais de 600 minutos – ou seja, o equivalente a cinco longas-metragens. No Brasil, um longa-metragem está custando entre quatro e sete, oito milhões de reais, tirando “Tropa de Elite”

Chega a ser desonesto comparar vlog de poesia com produções de cinema, que envolve finalização em película, grande elenco, equipe com centenas de pessoa. E a maioria dos longas brasileiros é realizado com menos de 1,3 milhão. Meu último longa, por exemplo, custou R$ 180 mil. Em todo caso, o valor reservado aos vídeos no projeto é de apenas R$ 365 mil reais, incluindo aí – supõe-se pois o projeto não é claro – o cachê de Andrucha.

A verdade é que o projeto é caro porque R$ 600 mil são reservados para pagar Maria Bethânia. Se Bethânia recebesse um valor mais condizente com o mercado e mais proporcional ao que recebe o restante da equipe, digamos R$ 100 mil, o orçamento do blog já cairia quase pela metade. Numa rápida análise com um colega produtor executivo, e utilizando minha experiência em cinema e internet, enxugando todos os cachês – inclusive os R$ 120 mil reservados pra Viana – despesas super-dimensionadas, e fazendo um cronograma de filmagem pra filmar todo material de uma vez, chegamos a conclusão que seria possível realizar o mesmo projeto com cerca de R$ 300 mil reais, pagando todo mundo nos valores de mercado, inclusive os direitos autorais dos poetas declamados.

Mas daí, na ótica de alguns, talvez não valesse a pena para os principais envolvidos, coordenador, diretor e artista, que ganhariam “apenas” cerca de R$ 20.000 reais cada um, pois enquanto eles dizem que o “mundo precisa de poesia”, seu mundinho particular precisa é de dinheiro. E pelo jeito, pouco dinheiro não basta.

O mais triste é ver pessoas defendendo o valor obsceno cobrado por Bethânia. Zé de Abreu me disse: “o mundo artístico tem castas. Ela está no 1o time, merece”. “O cachê dela é esse, ué!”, disse Fábio Porchat, emendando: “Eu acho sim que o cachê da Bethânia é alto. Mas ela cobra quanto ela quiser.”

Não é bem assim, Bethânia não pode “cobrar o quanto quiser”, é dinheiro público que paga o cachê dela. E o cachê de Bethânia é imoral, e se não for irregular pelos critérios de avaliação do CNIC, a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, há algo de muito errado com os critérios do CNIC.

Se os realizadores do projeto desejam mesmo acabar com a polêmica, devem tentar uma abordagem honesta sobre o assunto, reconhecer os problemas do projeto, ao invés de tentar enganar a opinião pública com dados falsos ou meias verdades. Consultada pelo blog, a assessoria de imprensa de Maria Bethânia disse que não irá se pronunciar, ainda, sobre o valor do cachê no projeto.

Muita gente dizendo por aí que o problema não é a Bethânia, é a Lei Rouanet. Concordo em parte, a lei precisa urgentemente de reformas. Mas nesse caso específico, o problema não é a lei. É a ganância. E a cara de pau.

Fernando Marés de Souza

Leia também:

Furtado deveria ler o projeto de Bethânia antes de criticar quem critica

Jorge Furtado pisou na bola ao defender um projeto que não leu e acusar de ignorante e mau caráter  uma crítica legítima à aprovação pelo CNIC de um projeto milionário de vlog de poesias de Maria Bethânia, reduzindo um fato preocupante da nova gestão do Minc e seu recém empossado CNIC, como mero “furor udenista que almeja manchetes moralizadoras”.

Sempre admirei o Furtado como roteirista e pensador da política pública para a cultura, e o celébre cineasta gaúcho já foi meu quase parente, num breve período quando namorei sua sobrinha, coincidentemente chamada Betânia, competente profissional do cinema por quem ainda nutro muito carinho e adimiração.

Mas Furtado erra feio desta vez. Poderia refutar seu artigo em diversos pontos, mas o Pablo Villaça, que vem fazendo a melhor cobertura sobre o Bethâniagate, já fez isso com propriedade no sexto de sete updates sobre o caso. Update: E Furtado respondeu com propriedade alguns deles.

Então faço apenas uma pergunta ao nobre colega Furtado: se eu fizer um projeto de vídeo orçado em 1,3 milhão, e dentro dele reservar um cachê de 600 mil para você, você assina o projeto para enviarmos ao Ministério da Cultura? Ou cachê super inflado só vale pra Maria Bethânia, que afinal é “uma das maiores artistas brasileiras de todos os tempos”?

Ninguém me demove da idéia de que o proponente levar como cachê quase metade da bolada prevista para um projeto cultural, que segundo o diretor Andrucha envolve “uma equipe que vai ter fotógrafo, produtor, maquiador, figurinista, equipamentos”, é imoral e não pode ser aceito como uma coisa normal. O antigo CNIC enxergava isso e havia reprovado o projeto. O novo CNIC aprovou.

O CNIC deve imediatamente rever o projeto do blog de Bethânia. E o Jorge Furtado também.

UPDATE: Furtado ainda não leu o projeto, mas leu as manchetes que relatam o cachê de R$ 600 mil e escreveu novo artigo sobre o caso onde diz: “Na hipótese de ser verdadeira a informação divulgada hoje de que o cachê da Bethânia para trabalhar no blog seria de quase metade do orçamento do projeto, me parece ter havido um erro de avaliação do Minc em aprová-lo nesses termos”

Fernando Marés de Souza

“Participei de um encontro em Gramado para discutir a lei. Foi interrompido por Norma Benguel, aos gritos, dizendo que não aceitava um teto na captação de recursos, que ela queria filmar “O Guarani” e precisava de muitos milhões, uma orquestra e veludo de verdade. Usava em defesa de sua tese um argumento irrespondível: “Eu sou Norma Benguel”. Está provado que era mesmo. A lei foi claramente feita de modo a permitir o uso que dela fazem, seguindo os princípios éticos revelados pela argumentação de Diogo Mainardi: “Se lhe oferecessem 800 000 mil reais, restituindo a metade por baixo do pano, você aceitaria? Aceitaria, claro”. Claro? Mas isso não é crime? Se não é, devia ser. E se devia ser e não é, a lei está errada. Tire estes 50% de “custo-cinema-Brasil” e o preço médio dos nossos filmes já se equipara aos da Espanha. ” – Jorge  Furtado, nao-til 64

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Maria Bethânia cobra R$ 600 mil pra declamar poesia no Youtube

Planilha de custos comprova que do total de 1,3 milhão de reais aprovados, 600 mil iriam para o bolso de Bethânia. Projeto de blog de poesias havia sido reprovado ano passado, mas agora foi aprovado pela nova gestão do CNIC, mesmo sem cortes no cachê da cantora.

O diretor Andrucha Waddington chamou de “patrulhamento idiota” as criticas ao projeto de vlog de poesia milionário que ele, a cantora Maria Bethânia, e Hermano Vianna pretendem realizar com recursos da Lei Rouanet.

Grande parte dos ataques podem mesmo ter partido de idiotas usando argumentos idiotas, mas há uma crítica contundente e fundamentada contra o projeto, além de uma acusação séria de ser um projeto irregular aprovado pela Comissão Nacional de Incentivo à Cultura, que não podem ser ignoradas e confundidas com “trollagem” e “schadenfreude”.

Está em jogo a reputação de competência e lisura da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura – CNIC, empossada em janeiro pela Ministra da Cultura Ana de Hollanda, com mandato de dois anos, para o Biênio 2011/2012. Em fevereiro o Conselho aprovou centenas de projetos para captação de recursos oriundos de renúncia fiscal, dinheiro público, por isso o processo deve ser bem transparente.

O projeto de Bethânia, que havia sido reprovado ano passado e foi agora aprovado depois de cortes orçamentários, suscita perguntas ainda não respondidas. O MinC já publicou uma nota de esclarecimento que não esclarece nada. Ainda deve explicações.

Andrucha tenta explicar o alto custo: “É uma equipe que vai ter fotógrafo, produtor, maquiador, figurinista, equipamentos… Cada programa está custando R$ 3.562. São 365 programas.” Diz reportagem do blog de Bob Fernandes: “Ele afirma que não se trata apenas de ‘um blog’. Haverá postagens no YouTube e a divulgação do material, de junho de 2011 a junho de 2012.”

O diretor parece desconhecer o projeto. O escandaloso não é o gasto estimado com a produção dos vídeos, e sim que quase metade do orçamento previsto, R$ 600 mil, iriam para o bolso de Bethânia. É uma desproporcionalidade evidente que não é compatível com os valores de mercado e nem pode ser compatível com os critérios e limites de custos que regem a aprovação de projetos culturais.

O FATO:

Mônica Bergamo publicou na Folha que “Maria Bethânia poderá ter R$ 1,3 milhão para criar blog“, repercurtindo como uma bomba nas redes sociais, com muita desinformação entre detratores e defensores. O blogueiro, crítico de cinema, diretor e roteirista Pablo Villaça fez a melhor cobertura do caso, publicou o projeto original, teve acesso às modificações do projeto aprovado, e concluiu o óbvio que os pareceristas do MinC deveriam ter concluído: o valor de 600 mil reais para Maria Bethânia é inaceitável.

Relata Pablo: “Há várias modificações feitas em função do valor menor aprovado (cerca de 500 mil reais), mas o que mais me chamou a atenção é que o valor destinado à própria Maria Bethânia, inacreditáveis 600 mil reais, permaneceu inalterado. A justificativa apresentada no projeto que recebi:”Segundo resposta à diligência: De forma a readequar o orçamento, propomos novos valores para a remuneração da artista Maria Bethânia (antes designadas somente como direção artística total R$ 600.000,00), da seguinte forma: Direção artística: R$ 100.000,00; Seleção de textos e pesquisa: R$ 135.000,00; Atuação em vídeos (365 videos): R$ 365.000,00; (Total: R$ 600.000,00)”.

E o projeto, que segundo assessoria da cantora é para “divulgar a leitura, a poesia”, ainda falha não especificando qual valor vai destinar para os direitos autorais dos poetas declamados. O projeto é mal elaborado, superautoestimado e superfaturado. A relação custo/benefício do projeto no âmbito cultural precisa ser analisada com imparcialidade.

O que a moralidade pública recomenda é uma revisão imediata da aprovação do projeto, e o CNIC e Ministra Ana de Hollanda devem  explicar se de fato o alto valor aprovado para o cachê de Bethânia está dentro dos “critérios e limites de custos estabelecidos pelo Ministério da Cultura”, previsto na Instrução Normativa. Se o MinC insistir que está, são os critérios e limites que devem ser imediatamente revistos.

Bethânia já disse que não vai falar sobre o caso, direito dela, mas os membros da Comissão do MinC não podem simplesmente se calar. E já está mais do que na hora de se trazer a discussão de uma reforma pra valer da Lei Rouanet. Assim não dá mais.

Fernando Marés de Souza

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O Roteiro de ‘A Rede Social’ e roteiristas na rede

Quando li o livro “Accidental Billionaires: The Founding of Facebook, A Tale of Sex, Money, Genius, and Betrayal“, de Ben Mezrich, já circulava a informação de que Aaron Sorkin e David Fincher estavam adaptando a história para o cinema.

Confesso que deu inveja de Sorkin, era um material incrível para construtores de narrativas, e um veículo perfeito para uma boa estória de revelação de cárater.

Confesso também que não fiquei totalmente satisfeito com o resultado da adaptação, pois pra quem conhece a história em seus detalhes, algumas possibilidades dramáticas foram pouco exploradas, e a opção por criar alguns eventos fictícios – como quando Sean aparece por coincidência na porta de Zuckemberg em Palo Alto, pág 118 – seriam mais eficientes se fossem contados de uma maneira mais próxima da realidade narrada por Mezrich em seu livro.

Em todo caso, a Academia americana achou a adaptação boa o bastante para ser agraciada com um Oscar.

LEIA O ROTEIRO, publicado pela Sony.

O advento das redes sociais, inclusive as anteriores ao Facebook, foi muito positiva para as comunidades de roteiristas diletantes e profissionais. O Roteiro de Cinema está no Facebook, no Orkut, no Twitter, no Yahoo, e em diversos outros lugares que agora se tornaram obsoletos, formando uma rede de mais de 10.000 pessoas.

Há poucos dias criei, com Thiago Dottori e David França Mendes, as contas no Facebook e no Twitter da Associação Autores de Cinema, a mais prestigiosa agremiação de roteiristas do Brasil, da qual faço parte:
http://www.facebook.com/AutoresDeCinema
http://twitter.com/autoresdecinema

Fernando Marés de Souza

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Autores de Cinema apóiam o projeto de Lei dos Direitos Autorais

Autores de Cinema, 03 de março de 2011

No mundo inteiro se entende que roteiristas e diretores são autores das obras audiovisuais. Isso é indiscutível. No Brasil, no entanto, a atual Lei dos Direitos Autorais não contempla esse direito. Tal distorção estava em vias de finalmente ser corrigida com o novo projeto de Lei dos Direitos Autorais.
Fruto de muitos anos de discussão e trabalho sério e democrático envolvendo inúmeras associações profissionais de todas as categorias do setor audiovisual, o Projeto de Lei está sendo desconsiderado, provocando surpresa e indignação de todos nós, roteiristas e diretores de cinema e televisão.

A ministra Ana de Holanda afirma que é objetivo da sua administração defender o direito autoral. Apoiar esse Projeto de Lei, tão amplamente discutido pela sociedade e que visa exatamente garantir os direitos dos autores, é o que esperamos dela neste momento.
Autores de Cinema
Adriana Falcão
Aleksei Wrobel Abib
Bráulio Mantovani
Carlos Gregório
Carolina Kotscho
Claudio Galperin
Claudio Minoru Yosida
Dani Patarra
David França Mendes
Di Moretti
Eduardo Benaim
Elena Soares
Fernando Marés de Souza
Jorge Durán
Juliana Reis
Luiz Bolognesi
Marçal Aquino
Márcio “Alemão”
Marcos Bernstein
Marcos Lazarini
Maria Camargo
Melanie Dimantas
Messina Neto
Nina Crintsz
Paulo Halm
René Belmonte
Thiago Dottori
Victor Navas


rua bela cintra, 1702 cj 41 . jardim paulista . são paulo, SP .  + 55 11  2613 6849

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A Autores de Cinema – AC é uma associação de roteiristas, criada em agosto de 2006, com o objetivo principal de profissionalizar a atividade e assegurar a boa qualidade dos projetos e, por conseqüência, o crescimento da indústria cinematográfica no Brasil.
http://www.autoresdecinema.com.br/

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Genocídio no curdo dos outros é refresco, caro Guterman

Em post no blog que mantém no Estadão – o mesmo veículo que deu lição de mau jornalismo no caso das mentiras sobre censura ao Google – o jornalista e historiador Marcos Guterman reclama:

Procuram-se humanistas de verdade: A propósito de hipocrisia, enquanto Kadafi massacra civis, não há notícia de passeatas na avenida Paulista em defesa da população líbia, nem se sabe de alguma valente “flotilha da liberdade” despachada para ajudar as vítimas desse verdadeiro genocídio.”

A propósito de hipocrisia, o mesmo Guterman reclamava em seu blog há pouco mais de dois anos, do uso da palavra “genocídio” pela opinião pública para descrever as atrocidades de Israel contra civis palestinos. Dizia Guterman:

“Mas que genocídio? Chamar de “genocídio” a morte de 0,05% de uma população (…) numa guerra em que ambos os lados estão armados, é uma clara manobra para demonizar Israel.”[1]

Para Guterman, o genocídio “verdadeiro” é praticado pelos líbios contra os líbios, chamar de genocídio os crimes sistemáticos do estado israelense contra a população civil palestina é “manobra pra demonizar Israel.”

Diferente do que Guterman acredita, os mesmo ativistas que lutam pelos direitos humanos em Gaza, lutam pelos direitos humanos em qualquer lugar. Guterman não “sabe de alguma valente ‘flotilha da liberdade’ despachada para ajudar as vítimas”. Pois eu sei. A ativista pelos direitos humanos Mona Seif, uma das organizadoras da Flotilha da Liberdade para Gaza, heroína da resistência em Tahrir, ajudou a organizar uma “Flotilha” de ajuda médica para os líbios, três dias antes de Guterman publicar sua reclamação.

O blogueiro também não sabe, mas voluntários da ONG turca IHH Humanitarian Relief Foundation, que promoveu a Flotilha da Liberdade para Gaza ao qual Guterman faz alusão, estão nesse momento na fronteira líbia cuidando de civis feridos.

Como visto, se Guterman não sabe da existência de alguma coisa, não quer dizer que ela não exista. E outra flotilha de ajuda humanitária para os líbios é uma das principais reivindicações dos ativistas de direitos humanos pelo mundo. Até a Bianca Jagger já tuitou sobre isso.

Talvez ainda não tenha tido passeata na Paulista contra os crimes de Kadafi – até porque não há quem pressionar, pois diferente do caso do bloqueio Egipcío-Israelense à Gaza, as nações ocidentais estão todas se movimentando rapidamente para condenar o regime e planejar ações – mas a embaixada da Líbia no Brasil amanheceu pixada com frases de protesto e a Líbia é o alvo preferido do momento nas redes sociais. Em diversas cidades do mundo pessoas protestam contra o regime de Kadafi. Até em Gaza centenas de palestinos – inclusive do Hamas – saíram ás ruas em solidariedade aos manifestantes líbios.

As entidades de defesa dos direitos humanos que criticam Israel pelo tratamento aos palestinos – Anistia Internacional, Human Rights Watch, entre outras – tem se posicionado e organizado ações contra violações dos direitos humanos praticados pelo governo de Kadafi.  Anonymous vêm operando a #OpLibya mesmo antes até dos protestos terem começado.

No Egito, grande parte dos organizadores das demonstrações em Tahrir – e principalmente o núcleo duro que resistiu às investidas violentas da polícia de Mubark tentando evacuar a praça – foi formada por cidadãos egípcios acostumados a resistir e apanhar da polícia quando protestavam contra o bloqueio patrocinado também pelo Egito à Gaza, e contra a conivência do seu governo em relação às recentes violações aos direitos humanos cometidos por Israel em Gaza.

As acusações de hipocrisia de Guterman não procedem, e podem ser vistas como “uma clara manobra para demonizar” os ativistas que reclamam da violação dos direitos humanos por Israel. Ou seja, se Guterman não encontra seus humanistas de verdade, é porque não quer encontrar. Ou não sabe procurar.

Procuram-se jornalistas de verdade, os humanistas poderiam devolver.

http://www.facebook.com/oppalestine

Fernando Marés de Souza

PS. Há divergência sobre a definição de Genocídio, mas para mim, todo crime sistemático contra a população civil, contra indivíduos desarmados, por motivos étnicos, religiosos, nacionais, políticos ou econômicos, pode ser visto como Genocídio e deve ser encarado como tal.

Parabéns ao conselho da ONU para prevenção ao genocídio por condenar Kadafi, mas gostaria de ver a mesma disposição para pressionar a investigação e punição dos crimes de guerra praticados pelo exército de Israel em Gaza e pelo exército americano em Fallujah e outras cidades.

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Roteiro final de Caverna do Dragão ilustrado em quadrinhos

Um dos posts mais acessados do Roteiro de Cinema foi quando publiquei aqui o verdadeiro roteiro final de Caverna do Dragão, popular série animada dos anos 80, cancelada sem muita explicação.

Hoje, através de um tweet do DouglasMCT, encontrei este post do blogue Quadro a Quadro, escrito pelo Adalton Silva, que traz o roteiro ilustrado em quadrinhos, desenhado pelo brasileiro Reinaldo Rocha. Apesar da capa, aparentemente o título não foi realmente lançado pela Panini, trata-se apenas de uma “fanfic”.

A série, que teve 27 episódios e foi cancelada em 86, é vítima de um dos mais antigos hoaxes da internet. Desde os anos 90 um boato circula dando conta que o roteiro final da saga continha uma revelação tão macabra, que por isso a série foi cancelada sem ter um episódio conclusivo. Não era verdade, mas o final da série não deixa de ser surpreendente e ambíguo.

Leia a versão HQ no Scribd ou aqui embaixo. O roteiro original de Michael Reaves, Requiem, assim como um prefácio, podem ser lidos no site do autor.

Update: O blogue EvilWill também publicou matéria sobre o tema dias atrás.

Final da Caverna do Dragão por Reinaldo Rocha

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A verdade sobre o Google e a suposta censura de notícias no Brasil

Divulgação de relatório internacional do CPJ mostra que jornalismo brasileiro ainda é livre. Para publicar qualquer besteira.

Argentino Carlos Lauría confunde páginas de Orkut com ataques a jornalistas gerando constrangimento histórico para os grandes veículos que noticiam mito do Brasil recordista de censura jornalística ao Google, num processo que revela a dificuldade da grande imprensa em lidar de forma eficiente com a correção das informações erradas que publicam.

Um exposé involuntário da imprensa brasileira pelo Roteiro de Cinema
Publicado originalmente em 16/02/2011 às 11h05, revisado em 21/02/11 às 21h30

O Estado de São Paulo, a Veja, incluindo o blog do Reinaldo Azevedo, e a Exame noticiaram na manhã de hoje, dia 16, que o Brasil “é recordista de notícias censuradas no Google”, que o “Google foi obrigado por autoridades brasileiras a tirar do ar 398 textos jornalísticos”. Os veículos apresentam como fato que “398 matérias” foram deletadas dos servidores Google por ordem das “autoridades”. Seria um fato escandaloso se fosse verdade, mas não é.
Brasil bate recorde mundial de notícias falsas não corrigidas por falta de senso de Justiça.
No corpo de suas matérias, os grandes veículos de imprensa em suas versões online não “linkam” as fontes em que se baseiam, não permitem que o leitor vá direto ao dado original para checar por si mesmo e interpretá-lo da maneira que bem entender, para inclusive levar adiante novas abordagens e evoluir na análise dos dados, como é o costume entre blogueiros sérios independentes, que constroem um conhecimento coletivo, interligado e dinâmico da informação.  

Porém, mesmo sem ter acesso direto por hyperlink à fonte que os jornalistas dizem supostamente se basear,  fazendo uma pesquisa rápida, um “fact-check” de rotina,  facilmente se descobre que o “fato” noticiado pelos três veículos – e por mais de cinqüenta outros veículos que foram na onda dos três – não é verdadeiro.

UPDATE: Depois de ler as informações publicadas aqui e conversar comigo pelo telefone na tarde do dia 16, o jornalista responsável pela matéria Gabriel Manzano, corrigiu parcialmente a informação equivocada do Estadão.

UPDATE 2: O jornalismo brazuca online, do “gillette press”, do “ctrl C + ctrl V”, das “matérias kibadas”, foi todo na onda do Manzano e do Lauría, e veículos publicando fatos não verdadeiros sobre “notícias censuradas no google” já se pode contar às dezenas, no mínimo 59, incluindo G1, UOL, Zero Hora, O Estado de Minas, R7
Paraná Online, Gazeta do Povo - clientes da Agência Estado – além de Portal Imprensa, Coletiva Net, Folha de Ibitinga, Rio News, Comunique-se, D24Am, Correio do Estado, entre outras.

A informação reportada é supostamente baseada em relatório elaborado pelo argentino Carlos Lauría, do Committee to Protect Journalists – que não fala em 398 “matérias jornalísticas”, e sim “conteúdos online” – informação que por sua vez é baseada em relatório público do próprio Google, já conhecido pela blogosfera brasileira há algum tempo, e que pode ser facilmente acessado e “linkado” pela URL:

Pois bem, abaixo está o screenshot do relatório. Segundo os dados publicados pelo Google nenhuma “notícia” ou “matéria jornalística” foi censurada ou retirada do site (Google News = 0), o número expressivo de 398 pedidos de remoção de conteúdo dos servidores Google é formado por páginas do Orkut (99 pedidos de remoção por ordens judiciais e 220 extra judiciais, num total de 319), vídeos do Youtube (47 pedidos no total), fotos do Picasa (1 pedido), etc. 

Os pedidos de remoções são baseadas na legislação brasileira de direito de propriedade intelectual, de privacidade, de personalidade, ou outros conteúdos ilegais como pornografia infantil. Nada tem a ver com censura, como bradam os jornalistas desinformados.

Alerta o FAQ do Google Transparency

For Brazil, government requests for content removal are high relative to other countries in part because of the popularity of our social networking website, orkut.
  • In the first six months of 2010, more than 50% of the 398 government removal requests related to orkut. In the last half of 2009, the majority of the Brazilian requests (and Indian, where orkut is also popular) for removal of content from orkut related to alleged impersonation or defamation.
  • However, somewhat atypically for Brazil, in a non-orkut-related lawsuit in the first half of 2010, one court ordered removal of more than 18,000 photos from Picasa. The lawsuit alleged that the photos contained images of pages from copyrighted books.
O fato do Brasil ser recordista em pedidos e remoções de conteúdos dos servidores Google dentre os países cujos dados estão disponíveis – dos chineses por exemplo não constam dados – deve-se ao fato da grande penetração do Orkut no Brasil – mais de 20 milhões de usuários – somado ao esforço do ministério público e do judiciário, além de organizações não governamentais como o Safernet, para coibir pornografia infantil, cyberbullying e outros conteúdos ilegais nesta rede social. 

O dado real é que o Brasil é campeão de pedidos de remoções de conteúdos ilegais e abusivos do Orkut, o resto é fantasia paranóica e mau jornalismo.

    Se os veículos de imprensa que noticiaram o fato fossem realmente sérios e comprometidos com a liberdade de informação e a verdade, se retratariam da afirmação e corrigiriam os dados incorretos veiculados e disseminados nas redes sociais. Vamos ver o que dizem. 

    UPDATE 3: Veja não reconhece publicamente que disseminou informação não verdadeira mas altera texto para versão mais próxima ao texto revisado do Estadão. Veja não emitiu nota de esclarecimento sobre as informações equivocadas que publicou no site durante horas e lançou no Twitter, em mensagem que foi retuitada por centenas de pessoas, como documentado nesta matéria.

    UPDATE 4: Um dia depois da publicação desta matéria, a Agência Estado enviou nota de correção para seus clientes online. Dois dias depois da publicação desta matéria, alguns veículos corrigiram a informação e outros seguem com a informação falsa.

    AFTERMATH: Atualizado às 21h30 de 21 de fevereiro de 2011.

    Dezenas de veículos ainda mantém a informação equivocada, muitos com o logo da Agência Estado, e diversos incautos continuam passando a informação equivocada sobre “censura de textos jornalísticos”, “recorde de censura no google” para frente nas redes sociais, apostando na credibilidade de suas fontes. 

    ESTADÃO corrigiu a informação e publicou nota no final do texto da matéria: “ESCLARECIMENTO: Em versão anterior desta notícia, foi informado equivocadamente que os pedidos de remoção feitos ao Googles se referiam a textos jornalísticos. Essa versão também apontava que 398 textos teriam sido removidos, quando na verdade foram atendidos 270 pedidos de remoção.”

    Mesmo assim, o texto do Estadão ainda falha, afirmando que: “Não se trata, necessariamente, de material jornalístico: muitos se referem a conteúdos abusivos ou ilegais“. Bem, a tabela mostra que NENHUM material se trata de material jornalístico, e se a opinião do Google ou do judiciário valem de algo, TODOS materiais se tratam de conteúdos ilegais ou abusivos”. 

    Outro equívoco é dizer que “Comitê para Proteção dos Jornalistas contou 270 páginas removidas, das quais 177 por ordem judicial na primeira metade de 2010“. Primeiro que o Comitê não contou nada, quem contou foi o próprio Google – e que pela complexidade dos dados alerta que a conta pode estar errada – e o relatório do Comitê só fala de 398 pedidos e nada mais, quem fez a conta sobre os 68% de pedidos atendidos para chegar ao número total de 270 removidos foi o próprio jornalista do Estadão, baseado em informação da tabela do Google, não do Comitê. 

    Segundo, é equivocado dizer que foram 270 “páginas” removidas, a tabela claramente diz que foram “pedidos” e não “páginas”, e alguns pedidos são para remoção de mais de um “item”, ou seja, de mais de uma página. Os pedidos para remover coisas do Orkut foram 99, mas somam 1,045 “páginas”. Um único pedido de remoção para o Picasa computa mais de 18 mil fotos. O Google alerta ainda que podem haver vários pedidos para os mesmos ítens. O total de itens nos pedidos de remoção somam 19.806, mas é impossível precisar, baseado nos dados da tabela, quantos foram de fato deletados. 

    E por fim, em sua conta no Twitter, o Estadão publica uma ERRATA que diz: “ERRATA: Google removeu 270 páginas do Brasil e não 398 conforme havíamos publicado: http://migre.me/3Tj0p“. Hilário. O grave erro do Estadão, que foi disseminado para toda a imprensa, não é o erro numérico, e sim ter tratado como “matérias jornalísticas” o que era na verdade conteúdos pessoais de sites administrados pelo Google: Orkut, Picasa e Youtube entre outros.

    VEJA mudou o texto online mas não publicou nota de esclarecimento sobre o erro anterior, numa postura antiética e desrespeitosa com as centenas de pessoas que reproduziram as informações falsas nas redes socias, confiando na credibilidade do periódico. Por ironia, ficam marcados na URL da matéria o título e gravata sensacionalista: (brasil-mantem-tradicao-de-controle-de-opiniao-e-e-recordista-de-noticias-censuradas-no-google). A Veja não publicou errata no Twitter.

    RICARDO SETTI, colunista da Veja, que escreveu um artigo sobre a “espantosa revelação de que o Google foi obrigado a retirar do ar 398 textos jornalísticos apenas na primeira metade de 2010, por ordem judicial”, simplesmente apagou o artigo e fingiu que nada aconteceu. Mas a existência da coluna ficou registrada em matéria de Sergio Duran para o Knight Center, no cache do google, no arquivo do Twitter do jornalista, e em captura de tela. Um comentarista do blog tentou alertar Setti: “pelo que entendi, pode ser que esteja errado, foram 398 “solicitações” ao Google para retirada de conteúdo.” Setti, com toda a certeza do mundo respondeu: “Não foram solicitações, caro Stocker, foram determinações judiciais“. Para outro comentariasta, afirmou que “quando existe algum tipo de censura à liberdade de informar, ela provém da Justiça.” Às vezes, pelo visto, ela vem do próprio colunista, que numa autocensura, apaga textos sem informar seu público de que passou uma informação errada. Capturas dos comentários. Update: Através de comentário em seu blog, Setti respondeu: “Retirei do ar uma informação que poderia estar errada, ou imprecisa, Fernando. E estou tentando apurar o que de fato sucedeu.” Ricardo Setti apurou, e com muita dignidade admitiu o erro e publicou  esclarecimento em seu blog e em seu Twitter, inclusive citando informações do Roteiro de Cinema e provendo um link para cá. Parabéns, Ricardo Setti, para quem a correção não é mais do que a obrigação de quem tem esse ‘munus’ público“.

    RICARDO SETTI foi o primeiro jornalista que admitiu publicamente estar errado no episódio e que se corrigiu com eficiência, pois Gabriel Manzana, apesar de ter publicado errata, ela continua errada como já foi explicado, principalmente na versão impressa do jornal. A eficiência de Setti é simples: é o único texto sobre este escandaloso assunto dentre milhares de textos - além desse, claro - que coloca um link para a fonte original do google e permite que o leitor possa conferir os dados ele mesmo. 

    EXAME talvez seja o caso mais curioso, coloca um aviso de errata: “A notícia original publicada pela Agência Estado estava errada, e foi corrigida hoje (quinta-feira), às 14h27″, corrige o corpo da matéria “Não são se trata, necessariamente, de material jornalístico”, mas não corrije a gravata, que continua informando no começo da página: “Para se ter uma ideia, o Google foi obrigado por autoridades brasileiras a tirar do ar 398 textos jornalísticos apenas na primeira metade do ano passado”, gerando um conflito lógico dentro da própria notícia. Vale frisar que a matéria foi alterada dia 18, sexta, a data e o horário citados correspondem ao envio de correção pela Agência Estado. Exame não publicou errata no Twitter


    Dentro da EXAME, o blog do Blog do Instituto Millenium continua com uma  matéria com fatos não verdeiros sem correção há dias, citando a Veja como fonte.

    REINALDO AZEVEDO ainda não corrigiu a informação falsa, e Reinaldo não aprovou meu comentário que desmente a matéria publicada. Update: Meu comentário não foi aprovado, talvez por conter link, o que é contra a política da Veja. Muitos comentaristas alertaram para o erro e muitos ainda xingam alguém de “petralha”.

    A AGÊNCIA ESTADO mandou nota de correção para seus clientes dia 17 depois do almoço.  Roberto Lira, editor da Agência, diz que está estudando a viabilidade de colocar nos contratos com seus clientes uma cláusula de exigência de correção quando um erro for detectado e comunicado, num padrão pensado para o ambiente online, que altere a informação equivocada, preservando o link original e alertando sobre o equívoco anteriormente publicado, e vê com preocupação o fato de clientes ainda estarem com matérias não corrigidas em seus portais de notícia usando como fonte a agência.

    Segundo funcionários do Estado de São Paulo, uma errata da versão impressa da matéria saiu na edição do dia 17 na página A11 do jornal, mas a errata diz apenas, em novo erro, que “o correto são 270 textos ou imagens”. E enquanto muitos culpam o erro pela sobrecarga dos jornalistas nas redações, o Estadão anuncia o corte de 22 funcionários para “reduzir custos”. O Estadão não possui Ombudsman nem conselho de Ética, e cada editoria responde por si mesma. 

    O G1 publicou correção um dia depois do erro, dia 17 às 14h, mas mantém a página original sem correção sem nenhum aviso que as informações ali publicadas não são verdadeiras, e a página original foi (e ainda é)  usada  como fonte para diversos blogs e tweets mesmo depois de publicada a correção, como por exemplo um tweet do meu colega roteirista Emerson Abreu

    O PORTAL IMPRENSA ficou com sua matéria cinco dias no ar, mesmo sabendo do erro, pois um funcionário me contou pelo telefone sexta, 18, que eles sabiam que a matéria estava errada, mas que não “tiveram tempo” de corrigir. Depois de conversar com um funcionário do Portal, dia 21 de tarde, que me garantiu que a publicação tinha política definida de correção de informações, e de enviar um e-mail com link desta matéria para o Diretor Editorial Rodrigo Manzano, o Portal tirou a matéria do ar – a original pode ser vista no cache do google, ou em captura de tela – e publicou uma nova matéria com a correção. Parece que a política de correção é essa. É uma política errada, no meu ponto de vista, pois uma correção no mesmo link original desmente as as fontes conectadas, ajudando a esclarecer a verdade. E neste caso específico, muitos pensaram que página removida é culpa da tal censura. Aliás, já pensaram. Vale notar também que a matéria – seguindo o padrão de 16 de fevereiro do Estadão – continua com informações equivocadas.

    O D24AM, do Amazonas, publicou correção dia 18, dois dias depois do erro, mas a exemplo do G1, também mantém a página com informação equivocada sem aviso que as informações publicadas ali estão erradas. A página com informações equivocadas ainda é usada como fonte para pessoas passarem a informação para frente no Twiter, como esse tweet de 22/11.

    A GAZETA DO POVO, em outro exemplo bizarro, corrigiu o texto da matéria mas deixou o título original “Brasil bate recorde de notícias censuradas no Google” e não informou sobre erro anterior. Update: depois de serem alertados por mim, a editoria de tecnologia assumiu o erro, consertou o título e publicou nota sobre erro publicado anteriormente. Porém, não respondeu minha pergunta se o veículo tem política definida – com regras escritas – de correção de informações erradas.

    O BLOG DO NOBLAT, no GLOBO, fez confusão e publicou que “Brasil bateu recorde de notícias retiradas do Google na campanha eleitoral” e também citou o meme  “Google foi obrigado, por autoridades brasileiras, a retirar de seus servidores 398 matérias”. O post continua no ar sem correção. O RIO NEWS publicou link para a matéria do Roteiro de Cinema no Twitter.


    OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA reproduziu texto de Manzano, e citando a errata equivocada da edição impressa – “N. da R.: Lead modificado conforme correção publicada pelo jornal na edição de 17/2″ –  fala em “270 textos ou imagens de cunho jornalístico”. O Observatório publicou também  artigo muito interessante de Venício A. de Lima: O relatório do CPJ. Mais um.

    O portar BRinforme, que diz ter como “princípio básico a qualidade e confiabilidade de suas informações”,  publicou a notícia de censura aos textos jornalísticos e até agora não corrigiu.

    Os demais veículos citados – UOL Portal Imprensa, Zero Hora, R7Paraná Online, O Estado de MinasColetiva Net, Folha de Ibitinga, Correio do Estado, além de Yahoo Notícias, POP, Tudo Agora, Jornale, Grupo de Mídia, Bem Paraná, e centenas de outros veículos, 5 dias após divulgação do erro, ainda não corrigiram a informação ou – até onde sabemos – não publicaram correção até a redação deste Update, às 15h30 do dia 21 de fevereiro.

    Até a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE JORNALISMO INVESTIGATIVO não se deu ao trabalho de investigar o fato e reproduziu a matéria equivocada do Estadão. Guilherme Alpendre, da Abraji, sabe do erro, pois falamos por telefone e trocamos e-mails. Update: Na tarde do dia 21, cinco dias depois de publicada, a Abraji mudou o texto para versão mais atualizada do Estadão, inclusive com a nota esclarecendo que as informações publicadas anteriormente ali estava erradas. 

    A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA publicou notícia toda truncada e desinformada sobre o assunto, falando em “censura” e que “270 links foram removidos com base em ações judiciais” que segundo “levantamento do CPJ mostra que a maioria dos pedidos foi feita por meio de ações judiciais, solicitadas por empresários, políticos e funcionários públicos”.

    Em outro claro exemplo que parte da imprensa brasileira tem dificuldades de interpretação de texto, a ÉPOCA em sua coluna Filtro elegeu como a quarta mais importante notícia de 16 de fevereiro a notícia do Estadão que “Brasil bate recorde de notícias censuradas no Google. Pesquisa realizada pelo Centro Knight para o Jornalismo, do Texas, Estados Unidos, concluiu que apenas na primeira metade do ano passado o Google foi obrigado, por autoridades brasileiras, a retirar de seus servidores 398 matérias.”

    A pesquisa pela expressão “notícias censuradas no Google” já gera mais de 30 mil resultados em busca no próprio Google.

    E no dia 18 de manhã o jornal argentino Clarín caiu no conto do Estadão e do Lauría e publica matéria desinformada sobre o assunto.  Brasil fue campeón mundial de la censura en Google. O mais engraçado – ou triste – é o jeito que a matéria começa: “De acuerdo con una investigación…“. Seguindo telefone sem fio, o Impre.com publica que “Brasil fue campeón en 2010 en censura en Google de diversos artículos de opinión e investigación“. Mito se disseminado pela imprensa anglofônica em 3, 2, 1…

    É fato que existem muitas ações na justiça brasileira por conta de conteúdos jornalísticos online ou não, mas para afirmar que a situação no Brasil é diferente ou maior que em outros países ainda precisa de um estudo sério. Lembro que o Estado de São Paulo alega estar há mais de 570 dias sob censura, mas o fato é que o autor já desistiu da ação há mais de 370 dias, e o uso do termo censura é contestado por alguns renomados juristas. E o caso mais famoso de ação judicial contra conteúdos na internet brasileira foi movida justamente pelo maior jornal do país, a Folha de São Paulo, contra blogueiros independentes do Falha de São Paulo

    Vale lembrar também que muitos processos judiciais por conta de conteúdos na internet são movidos pelos próprios jornalistas contra outros jornalistas ou blogueiros, como nos casos Luis Nassif vs. Gravataí Merengue, Diogo Mainardi vs. Luis NassifMauricio Savarese vs. Bodega CulturalFelipe Vieira vs. Marcelo TräselPolibio Braga vs. Nova Corja, Boris Casoy vs. Celso Lungaretti, entre outros.



    Tem também caso de jornal que processa blogueiro por suposta ofensa, como no caso Folha da Manhã vs. Roberto Moraes, e além do já citado Falha de São Paulo, a Folha também ameaçou de processo o blogue Arlesophia. Tem até jornalista que processa pessoas que deixam comentários em seus blogues, como Rosana Hermann vs. comentador anônimo. E pra não dizerem que sou corporativista, tem caso de Roteirista processando blogueiro também.


    Seriam todos esses processos tentativas de censura por parte dos jornalistas? É difícil fazer um levantamento sério do que é ação legítima e o que é abuso da lei. Mais fácil é citar dado pronto e generalizado de tabela do Google para enfatizar que vivemos sob “censura judicial”, não é verdade?

    ERRO FOI INDUZIDO PELO RELATÓRIO DO CPJ

    O ônus da “barrigada” histórica cai na conta do Gabriel Manzano, de sua editora Malu Delgado e do Grupo Estado de São Paulo, porém, o jornalista argentino Carlos Lauría e o Committee to Protect Journalists, “fontes” da matéria, tem uma grande – se não a maior – parcela de responsabilidade pela confusão criada e pela disseminação do mito – que vai perdurar um bom tempo – do Brasil ser recordista de censura jornalística ao Google.

    Por qual razão um profissional coloca em relatório sobre “Ataques à Imprensa em 2010: Brasil“, logo no primeiro parágrafo, uma menção à “Estatística em Destaque: 398 solicitações de remoção de conteúdos online foram feitas ao Google por autoridades brasileiras nos seis primeiros meses de 2010″, conteúdos on-line que qualquer leitor que acessa o relatório do Google em que o dado é baseado, pode facilmente concluir que não tem relação alguma com conteúdos jornalísticos? 

    Por ser ainda de caráter experimental, as estatísticas do Google não são confiáveis, nas palavras da própria empresa: “the statistics are not 100% comprehensive or accurate“. Mas isso não impediu que Carlos Lauría, do CPJ, elegesse a estatística como a “Key Statistic” do seu relatório sobre “Ataques a Jornalistas no Brasil”, e ninguém na imprensa brasileira teve a iniciativa de olhar a fonte original.

    Incompetência ou tentativa artificial de se criar impacto? Saberia Lauría do que se tratavam os dados? Saberia que não são relacionados a conteúdos jornalísticos, que não são precisos nem confiáveis? Será que Lauría realmente fez um “levantamento” dos dados do Google? 

    O relatório do CPJ apresenta o dado num contexto de “ações judiciais” contra “críticas dos jornalistas” e não se preocupa em analisar o dado: Ao longo dos últimos anos, empresários, políticos e funcionários públicos entraram com centenas de ações judiciais alegando que as críticas dos jornalistas eram ofensivas à honra ou invadiam sua privacidade, segundo pesquisa do CPJ. Os demandantes destes casos normalmente buscam sanções que proíbam a imprensa de publicar qualquer matéria sobre eles ou que obriguem a retirada de material online considerado ofensivo. Um relatório elaborado pelo Google em 2010 afirmou que as autoridades brasileiras solicitaram a remoção de conteúdos dos servidores da empresa em 398 ocasiões nos primeiros seis meses do ano, número duas vezes maior que o do segundo país listado, a Líbia. A maioria das solicitações brasileiras foi feita através de recursos judiciais, afirmou o Google.”

    O Knight Center for Journalism in the Americas, usado como fonte para outras informações do relatório de Lauría, já havia noticiado o fato e afirmado que a estatística é alta por causa do orkut, citando matéria da AFP. O popular blog brasileiro de tecnologia Tecnoblog já trazia essa informação ano passado. Ou seja, que a estatística não se refere a jornalismo e é alta por causa do Orkut nunca foi segredo para ninguém. Mas para Lauría é estatística chave para compreender os problemas dos jornalistas brasileiros. E os jornalistas brasileiros apenas disseram amém.

    Mesmo depois da apresentação que Lauría fez do relatório promovido pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, que contou com a presença de Fernando Rodriguespresidente da ABRAJI e jornalista da Folha e do UOL – e de representantes dos principais veículos de comunicação do país, ninguém se interessou em “investigar” a tal da fonte da “estatística em destaque” apresentada pelo CPJ. Coube ao Roteiro de Cinema, um blogue sobre narrativa de ficção, reportar a realidade dos fatos e desmentir os mais tradicionais veículos de comunicação do país.

    Carlos Lauría comemorou no site do CPJ a “expressiva cobertura da mídia” que o relatório recebeu no Brasil, e citou expressamente a matéria equivocada do Estadão, especificamente a questão dos dados do Google: “O Estado published a story announcing the launch on Tuesday, and focused on Google’s 2010 report, which said that Brazilian authorities had demanded that content be removed from the company’s servers on 398 occasions in the first six months of the year,in its Wednesday’s edition.”

    Entrei em contato com o jornalista Carlos Lauría e com o CPJ, e ainda aguardo resposta para ser publicada aqui. 

    Entrei também em contato com a ABRAJI, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo,  co-patrocinadora do evento onde Lauría lançou seu relatório, pedi que “investigassem” a questão, mas recebi a resposta de que por enquanto “a Abraji prefere não se pronunciar”.

    própria matéria do site da Abraji sobre o evento de lançamento do relatório cita o dado dos “398 pedidos de remoção”, e apesar de não afirmar expressamente que se tratam de matérias jornalísticas, cita o dado num contexto de “obstáculos ao trabalho jornalístico”, onde pode-se inferir que a remoção desses “398 conteúdos on-lines” são “censura judicial” e “obstáculos ao trabalho jornalístico”: “Ele [Lauría] destacou a censura judicial como um dos maiores obstáculos atuais ao trabalho jornalístico no país. De acordo com o levantamento do CPJ, apenas nos seis primeiros meses do ano passado, o Google registrou 398 solicitações de remoção de conteúdos on-line feitas por autoridades brasileiras.

    E como já citado anteriormente, o site da Abraji reproduziu a matéria equivocada do Estadão. Update: a Abraji corrigiu a matéria 5 dias depois.

    Aos pedidos de Guilherme Alpendre, da Abraji, que insistiu para que eu não citasse a Abraji neste artigo, respondo com a clássica frase atribuída a George Orwell: “Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que seja publicado; todo o resto é relações públicas”. (Nota: a frase é provavelmente mal atribuída). A Abraji tem sua parcela de culpa na disseminação de um mito sobre o jornalismo brasileiro, e deve sua parcela de contribuição para o esclarecimento da verdade.

    Conversei com José Carlos Torves, da Federação Nacional dos Jornalistas, e ele me disse que esse exagero e denuncismo de censura nos países de terceiro mundo por ONGs estrangeiras não é novidade. Há alguns anos a FENAJ teve que se defender na  OEA de acusações infundadas similares, e os grandes veículos latino-americanos, ligados pela Sociedad Interamericana de Prensa, sempre querem pintar um quadro exagerado de Estado permanente de censura no continente.

    A novidade deste episódio, segundo Torves, é que diferente do passado, quando a narrativa dos grandes veículos prevalecia, a difusão de blogues e mídias independentes faz hoje com que as empresas tenham que voltar atrás e se corrigir.

    Ainda segundo Torves, esse episódio pode ser visto como um argumento para a necessidade de regulação dos grandes veículos de imprensa, nos moldes das regras que existem na Europa e em outros países do mundo, posição defendida pela FENAJ, visto que os veículos não são eficientes em coibir a disseminação de informações não verdadeiras, corrigi-las e se retratar delas. Se a vítima da notícia falsa fosse um cidadão comum ou uma empresa, o dano seria incalculável. A sociedade precisa de instrumentos para se defender, conclui Torves.

    Apesar de reconhecer a dificuldade que tem para controlar a informação incorreta que distribui e acaba sendo disseminada por todos os cantos da Internet, Roberto Lira, da Agência Estado, fecha com a posição da empresa, que é contra qualquer interferência externa, seja como regulação, controle social da mídia ou outra denominação.  


    Eu, a priori, não sou contra regras transparentes e democráticas que rejam a atividade da imprensa no Brasil. Minha outra pátria, a Dinamarca, tem uma regulação rígida de imprensa e é considerada pelo Reporters sans frontières como exemplo de liberdade de imprensa no mundo. 

    Os jornalistas tem no CPJ um comitê para protegê-los, mas quem protege o cidadão de jornalistas preguiçosos e mal informados que podem prejudicá-lo? Existe a lei e o judiciário que podem coibir os abusos da imprensa, respondem alguns. Mas diante de qualquer ação do judiciário, o CPJ vê somente “censura” e “obstáculo ao trabalho jornalístico”, e como está documentado aqui, não distingue o que é ação legítima do estado para coibir abusos, de abuso do estado para coibir ações legítimas. Não é um debate fácil, e atitudes como do CPJ e dos grandes veículos brasileiros, disseminado informações irrelevantes ou falsas justamente na cobertura de um relatório que tenta colocar os jornalistas como vítimas do Estado, não contribui em nada para evoluirmos na questão.

    Este artigo continua em construção. Espero falar novamente com o Gabriel Manzano, ouvir sua editora Malu Delgado, a Abraji, o CPJ e o senhor Carlos Lauría. Todos já foram contactados.

    Fernando Marés de Souza
    Roteirista de Cinema e Televisão

    Artigo dedicado ao amigo Giordani Rodrigues, pioneiro do jornalismo investigativo sobre internet, que se estivesse vivo com seu Infoguerra no ar, não teria deixado essa pauta passar em branco.

    Screenshots das matérias com as afirmações incorretas por falta de “fact-check” ou compromisso com a verdade:

    Reinaldo Azevedo, bem, nem precisa falar, né?

    Veja nunca admite estar errada.

    Estadão foi o vagão do trem da desinformação.

    Exame corrige corpo de texto mas deixa informação falsa na gravata da matéria.

    Veja e Exame “esqueceram” de Twittar correção da matéria equivocada.

    G1 publica correção em outra página e deixa a original disseminando desinformção.
    Mais de 2.000 pessoas recomendaram a notícia falsa do UOL no facebook.

    Análise mais séria e completa sobre censura na Internet em 2010, por Atilio Baroni Filho do Global Voices:
    http://pt.globalvoicesonline.org/2011/02/02/brasil-censura-internet-2010/

    Outras matérias que contestam as afirmações dos veículos, inclusive na interpretação de outros dados, como as alegadas “21 ordens de censura”: :
    banksy_bang300_300x400

    Nova posição da AR sobre a Classificação Indicativa é ilegítima

    http://i2.squidoocdn.com/resize/squidoo_images/-1/lens1926335_1231675034obey-giant.jpg Presidente da Associação dos Roteiristas, o autor da Record Marcílio Moraes, não permite o debate interno sobre o tema e transforma sua visão desinformada e contraditória em posição oficial da entidade.

    Está no AR a novela da Posição Oficial da Associação dos Roteiristas sobre a Classificação Indicativa, que  passou do “somos A FAVOR da Classificação Indicativa, sabemos que é um direito do cidadão garantido na Constituição e concordamos que ela deve ser resultado de um debate permanente”, assinado por mais de uma centena de nomes e sustentada há quatro anos, para “somos CONTRA a classificação indicativa, acreditamos que ela é inconstitucional e nos recusamos a debatê-la” assinado apenas pela “Diretoria da AR” e sustentada há quatro dias.

    A decisão de transformar a Associação dos Roteiristas na única entidade da sociedade organizada brasileira que se diz “contra a classificação indicativa”, não foi tomada baseada na opinião e vontade dos roteiristas brasileiros e dos membros da AR, apenas na interpretação da questão por um pequeno grupo de autores de novela da Globo e da Record. Marcílio Moraes, Walcyr Carrasco, Tiago Santiago e outros membros da Diretoria da AR, que de forma arbitrária, apresentam suas opiniões desinformadas, contraditórias e equivocadas como a posição oficial da entidade que comandam, sem legitimidade para tal, pois não tem respaldo dos membros da AR, e ferem decisão anterior do colegiado.

    A decisão da Diretoria de publicar nova posição oficial sobre o assunto foi feita de forma apressada no dia 08/12/2010, no intuito de tentar esconder os equívocos e contradições das declarações de Marcílio Moraes e Walcyr Carrasco na imprensa, revelados por este blog. Na tentativa de confundir a opinião pública, censuram documento contra a censura que eles mesmos assinaram, criam outras contradições e expressam mais inverdades.

    Diz a “nova posição pública da AR sobre a Classificação Indicativa” que “as posições proclamadas em manifesto pela AR, em 2007, contra a assinatura da Portaria que instituiu o chamado “Manual da Nova Classificação Indicativa” pelo Ministério da Justiça, não têm mais validade, já pelo fato da portaria ter sido assinada e estar em vigor (…). O manifesto continuou publicado no site da Associação apenas como referência histórica.”

    E agora o documento não se encontra mais publicado no site nem como referência histórica. Pois então vou contextualizar o documento historicamente nas palavras do Presidente Marcílio Moraes, quando outro associado – não eu – questionou declarações de Marcílio para a imprensa no final de Julho deste ano:

    Diz Marcílio Moraes para os membros da AR em 27/07/2010 sobre o Manifesto de 2007: “Lembrei a posição oficial da AR, corporificada neste manifesto, por causa da tua insinuação de que eu estaria “usando o nome da entidade para lastrear minhas posições e idéias”. (…)  Quanto à posição da AR, está sempre em aberto. Eu dei aquela declaração ao jornal, postei aqui na lista, e algumas pessoas, você entre elas, acharam por bem rediscutir. Nenhum problema. Mas para mudar a posição da entidade, só com votação.”

    Dois dias depois, dia 29/07/2010, relatei as propostas de alguns colegas somadas com as minhas e coloquei para apreciação dos membros da AR. Era uma proposta de encaminhamento para uma nova posição oficial da AR sobre a classificação indicativa, que visasse um texto de consenso, que representasse a visão da maioria dos associados sobre o tema, e que foi apoiada por mais de uma dezena de membros – incluindo outros diretores – quando interferiu o Presidente:

    Diz Marcílio para os membros da AR em 29/07/2010: “Amigos da AR, Vocês vão me desculpar, mas não há nada em votação. A proposta do Fernando, que é interessante, deve ser levada à assembléia. A AR já tem uma posição firmada sobre a Classificação Indicativa Obrigatória, difundida no seu site e por seus associados há anos. Não pode ser mudada assim, de sopetão, só porque o Sr. Secretário de Justiça resolveu telefonar para mim para dizer que não gostou do que eu disse à Folha de São Paulo. (…) Conforme for, se a gente detectar que existe real abertura para modificações, aí discutimos o assunto na assembléia e elaboramos uma proposta concreta. Nesse momento,  a sugestão do Fernando será de grande valia. Abraços. Marcilio

    Na mesma data, 29/07/2010, Marcílio é citado na imprensa dizendo que “Sempre fomos contra a classificação indicativa“. No mesmo dia em que o Presidente diz para os membros da AR que “A AR já tem uma posição firmada sobre a Classificação Indicativa Obrigatória, difundida no seu site e por seus associados há anos“, posição claramente “a favor da classificação indicativa”, diz na imprensa, como Presidente da AR, que “nós sempre fomos contra a classificação indicativa.” demonstrando que ele nunca respeitou a Posição Oficial da AR firmada por seus colegas, assinada até por ele mesmo, Marcílio, e por Walcyr Carrasco e Tiago Santiago.

    Duas semanas depois, enquanto os “poucos e mais expressivos” novelistas convocados não atendiam o telefone para marcar a tal reunião com o Secretário, o próprio dá mostra de que há “abertura para modificações” na Classificação Indicativa, dizendo ao Daniel Castro que “Governo admite alterar regras da classificação indicativa.”

    Na qualidade de Diretor Regional da AR, coloquei novamente na mesa a proposta – originalmente de Romeu Di Sessa – de se “criar uma comissão voluntária, ou grupo, para debater o assunto em lista separada e elaborar um documento de consenso para apreciação do colegiado”. A resposta do Presidente foi “A diretoria se reuniu semana passada e considerou que a Classificação Indicativa não é uma questão oportuna para a gente discutir no momento”.

    Tiago Santiago volta a citar o documento que naquela data – segundo sustenta o Marcílio hoje – já estava supostamente “expirado”, pra defender a decisão de não debater internamente a questão: “Concordo com o Marcílio que conversar com esse pessoal do MJ acaba por legitimar o atual trabalho deles. Como resposta ao Secretário, sou a favor de que a AR divulgue à Imprensa imediatamente o manifesto que está no site, contra a censura, contra a vinculação de horário, contra o cabresto que representa o Manual de CI, pura censura, sob pretexto de Classificação Indicativa”.

    Walcyr Carrasco também concorda: “Eu também acho que continuar com essa discussão é inútil. As posições estão configuradas. A AR tem um posicionamento claro enquanto associação. Essa posição deve ser respeitada por todos os membros. (…) No caso dessa posição ser revista, isso deve ser feito dentro dos critérios da AR, com debate amplo em assembléias e votação, quorum e tudo mais.”

    Passei cinco meses tentando criar uma comissão oficial da AR para debater internamente e mudar a posição oficial da entidade sobre a Classificação Indicativa, para que fosse um texto de consenso ainda maior do que o Manifesto de 2007, documento ao qual tenho críticas fundamentadas. Desejava mudar a posição da Associação dos Roteiristas para ela fosse inclusiva da maioria de nós autores-roteiristas do audiovisual, e numa canetada, durante a noite, Marcílio Moraes muda a posição oficial da entidade para uma visão que representa apenas a opinião dele e de alguns poucos mais expressivos autores e novela.

    E afinal, algum roteirista brasileiro, ou membro da AR, concorda com a nova posição da AR? Quem aí, além de Marcílio, Walcyr e Tiago Santiago, é “contra a classificação indicativa”?

     LEIA TAMBÉM

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    Globo não admite beijo gay e autores de novela se calam

    Beijo entre dois homens deveria ter ido ao ar ontem à noite na Globo, mas foi vetado pela Direção da emissora. Diretoria da Associação dos Roteiristas se cala sobre o assunto polêmico.

    Dois dias depois de Walcyr Carrasco – autor da Globo e Vice-Presidente da Associação dos Roteiristas ser flagrado passando informações falsas sobre a Classificação Indicativa e o beijo day, série de João Falcão, Clandestinos, tenta levar ao ar um beijo entre dois homens, mas cena é cortada toscamente pela Globo para não mostrar o beijo.

    A Direção da Globo já havia vetado um beijo gay gravado para América, de Glória Perez. Uma cena em que Bruno Garcia e Guilherme Weber se beijam na série “Queridos Amigos”, escrita por Maria Adelaide Amaral e Letícia Mey, foi ao ar em 2008.

    O Ministério da Justiça já esclareceu há muito tempo que um beijo gay é irrelevante para a Classificação Indicativa,e diz que “comemoraria um beijo gay” em novelas.

    As perguntas que ficam são a seguintes:

    Por qual razão o Vice-Presidente da AR Walcyr Carrasco não admite que estava errado e corrige a informação equivocada que passou para seus seguidores no Twitter e para os leitores do Daniel Castro. E por qual razão a Diretoria da Associação dos Roteiristas, presidida pelo roteirista da Record, Marcílio Moraes, não comenta as declarações de seu vice presidente, e por que não critica as Emissoras de TV pela atitude de proibir certos conteúdos baseado em regras ultrapassadas, obscuras e secretas?

    Marcílio já deu uma dica no blog do Daniel Castro meses atrás, quando anunciava – em nome dos autores – sua decisão pessoal e arbitrária de não debater a Classificação Indicativa:

    “Não tem sentido nós, autores e roteiristas, negociarmos com o governo a classificação indicativa. Em primeiro lugar, porque não aceitamos, por princípio, que outras pessoas, das empresas ou do governo, saibam melhor do que nós o que é apropriado para o nosso público. Em segundo lugar, porque não somos nós os concessionários do Estado e, sim, as emissoras e os produtores. Deles, eventualmente, somos obrigados a aceitar interferências por força dos contratos”, informou ao blog o presidente da AR, Marcílio Moraes, autor de Ribeirão do Tempo.”

    Anteontem, a Diretoria da Associação do Roteiristas censurou documento contra a censura, que mostra contradição na posição pública da AR sobre a Classificação Indicativa.

    CENA COMPLETA INCLUINDO BEIJO CORTADO PELA GLOBO

    CENA QUE FOI AO AR ONTEM NA GLOBO

    UPDATE: NOTA OFICIAL DA GLOBO SOBRE O EPISÓDIO

    Daniel Castro publicou a nota:

    “O episódio exibido ontem em Clandestinos tinha como fio condutor a amizade entre Fábio (Fábio Enriquez) e Hugo (Hugo Leão). Para contar esta história, a Globo utilizou os recursos artísticos que achou mais adequados, incluindo a edição da cena que representou o reencontro dos dois”, diz a nota

    VIDEO ORIGINAL NO VIMEO QUE CAIU

    “Sorry, “Beijo Censurado de Clandestinos” was deleted at 9:57:40 Fri Dec 10, 2010. We have no more information about it on our mainframe or elsewhere.”

    Usuário que postou também se encontra deletado. O video me foi enviado pelo Twitter por um fake.

    Estranho.

    Fontes: CENA G, MIX BRASIL, Maria Quitéria

    COMENTÁRIOS NO TWITTER SOBRE BEIJO GAY

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